Pedrão, olha só a historinha... qualquer semelhança NÃO é mera coincidência.
"Era uma vez uma raposa que gostava de inventar coisas. Certa vez a raposa inventora reuniu os animais mais ricos da floresta para lhes falar como havia inventado uma máquina que podia funcionar para sempre, produzindo mais energia do que consumia. Os outros animais retrucaram dizendo que a ciência havia provado que isso era uma coisa impossível, mas a cada objeção a Raposa respondia com termos muito bonitos e muito impressionantes como "harmônicos quádruplos", "desintegração elétrica", "tríplices atômicos" e "hidropneumática de pulsação à vácuo", que deixavam todos de boca aberta. Ela lhes falava de como sua máquina retirava energia dos átomos fazendo-os vibrar em únissono. Esta força a Raposa chamou de "força etérica" e segundo ela bastava um dedal de água para gerar uma força 40 vezes maior do que a do sr. Cavalo. O Cavalo duvidou mas os outros bichos aplaudiram.
E havia a demonstração é claro: a raposa colocava um copo d'água dentro do reservatório e sua máquina (ou melhor, uma miniatura dela) roncava, rangia, fazia fumaça e vergava barras de ferro como nem o leão conseguia.
Os animais ficaram extasiados. Aquela era uma grande época para se investir em invenções mirabolantes; um macaco recentemente havia inventado o telefone, um outro o fonógrafo, e um terceiro (como eram espertos esses macacos!) o cinema. E ainda havia os carros, as estradas de ferro, as máquinas à vapor e as siderúrgicas! Todos estavam à cata da próxima maravilha tecnológica que mudaria o mundo. E ali, na frente deles, estava a Raposa, tão eloqüente, e com tantas palavras difíceis na ponta da língua. Ela devia saber o que falava! E assim os bichos atiraram à raposa mais dinheiro do que ela tinha sonhado conseguir.
Com tanto dinheiro a raposa abriu uma escritório no ponto mais nobre da floresta e passou a levar um estilo de vida condizente com sua posição na empresa que fundara, a Fox Motor Company: casas enormes, carros luxuosos, tudo menos casacos de pele tinha a raposa que agora, além de inteligente, era muito rica. O dinheiro que sobrava a raposa usava para construir máquinas mais e mais complexas, mas que, estranhamente, nunca ficavam completamente prontas. Sempre havia necessidade de mais dinheiro e toda vez que ele estava acabando a Raposa reunia seus investidores, apresentava relatórios que esbanjavam daquelas palavras bonitas e difíceis, prometia que estava chegando perto de revolucionar o mundo e acabava por convencer os animais a lhe darem ainda mais dinheiro.
Os anos foram passando e os animais ficando cada vez mais impacientes, afinal todos os que haviam investido nos macacos inventores estavam ganhando muito dinheiro, mas até agora a Raposa não tinha dado nenhum retorno. Quando os investidores ficavam mais exaltados e ameaçavam pular fora, lhes falava a Galinha, um dos animais mais empolgados com a invenção da Raposa e insistia para que mantivessem firme sua confiança na inventora Raposa.
Um certo dia a Raposa reuniu seus investidores e lhes apresentou um aparelho que chamava de "Ressonador Móvel", um amontoado de arames, fios, e condutores dentro de uma esfera de aço que parecia muito com o sr. Porco Espinho. A Raposa radiante explicou que o ressonador "comportava sete diferentes vibrações, cada uma delas capaz de uma divisão infinitesimal". Ninguém entendeu nada, como usual, mas a magia daquelas palavras lhes pareceu uma coisa muito certa. "Maravilhoso! mostre-nos como funciona" disse o Tamanduá. E a Raposa pôs a máquina para funcionar tocando seu violino (mas ela também podia ter seu movimento iniciado por uma harpa ou um diapasão comum, explicou a Raposa). "Fantástico!, vamos patentear esta máquina agora mesmo" disse o Guaxinim. "Nunca!" retrucou a Raposa muito ofendida. "A máquina ainda não está pronta e patenteá-la seria revelar seu funcionamento aos urubus, bichos que, como se sabe, só fazem agourar e roubar as idéias das outras pessoas.
E assim o tempo ia passando até que um dia a Coruja, um animal muito cético e que escrevia para uma revista famosa chamada "O bicho científico", escreveu um artigo junto com alguns castores, bichos engenheiros por natureza, desmentindo a Raposa e dizendo que tudo o que a máquina dela fazia podia ser feito com uma fonte de ar-comprimido escondida. A Raposa ficou furiosa e disse que aquilo era tudo inveja e que a Coruja e os castores só tinham escrito aquilo porque não eram capazes de se medir com ela. Lembrou a todos como tinham sido perseguidos e caluniados os bichos com idéias revolucionárias, como aquele que disse que o mundo era redondo e também aquele outro que descobriu a América. E para apaziguar os ânimos, que ameaçavam escapar do controle, a Raposa distribuiu aos seus agoniados e agora mui abalados investidores os diagramas de funcionamento da sua máquina. Claro que tanto fazia estar em grego ou em língua de bicho porque ninguém foi capaz de entender nada.
Vinte e seis anos se passaram e a Raposa nunca aprontou sua máquina de energia éterica, nunca patenteou um único invento e nunca deu nenhum retorno aos animais, seus investidores. Um dia a Raposa morreu.
Passado um tempo morreu também a Galinha, a fã número um da Raposa. Seu filho, o Pinto, alugou o escritório da Raposa defunta e pôs-se a procurar pela máquina ou por pistas de como ela funcionava. Encontrou o que queria: no sotão havia um grande globo de aço e dentro dele um dispositivo de ar comprimido e de dentro dele tubos e canos que iam em direção ao laboratório, tudo como a Coruja e os castores haviam dito na revista "O bicho científico". Estava resolvido o mistério; a Raposa era uma impostora e tinha enganado geral a bicharada durante mais de vinte e cinco anos.
O que aconteceu em seguida foi engraçado... Estranhamente os bichos que haviam investido milhares e milhares de dólares mantendo o estilo luxuoso de vida da Raposa por 26 anos sem ter recebido um centavo em troca, se recusaram a acreditar que tinham sido enganados. Na opinião deles o Pinto estava amargurado porque sua mãe investira todos os seus bens na Fox Motors Company e isto distorcia seu julgamento a respeito da genial Raposa, que deus a tenha.
E assim todos os bichos seguiram acreditando, e muitos acreditam até hoje (especialmente as tartarugas, que vivem um bocado), que se a Raposa não tivesse morrido teria revelado ao mundo uma nova e revolucionária forma de energia".