Se há uma área em que o chamado “senso comum” ganha foros de ciência, essa área é a da linguagem. Se alguém dissesse hoje sobre medicina ou astronomia o equivalente ao que se diz por aí sobre a língua, já estaríamos todos mortos pelas ventosas medievais e o Sol giraria poderoso e indiscutível em volta da Terra.
(não sou da área

)
Texto completo:
http://www.cristovaotezza.com.br/textos/palestras/p_linguabrasileira.htmVamos lá: o próprio nome do tópico é equivocado. Já foi postado aqui que o livro não ensina a falar errado. Leiam o capítulo do livro. Esse argumento é uma caricaturização de uma ideia, pra ficar fácil de derrubar. Os criacionistas usam muito esse argumento (p. ex. "os evolucionistas dizem que o homem descende do macaco"). Deve haver um
argumentum alguma coisa pra esse tipo de argumentação falaciosa. Só se precisa ensinar o que não se sabe. Falar
errado o aluno já vem sabendo de casa.
2 - Uma forista escreveu que temos uma unidade linguística por causa do ensino da norma culta, ou então que se não se ensinar essa norma, passaremos a não nos enterdermos. Duvido muito. Todos sabemos que há bem pouco tempo é que conseguimos uma universalização do ensino. E, mesmo com a maioria dos brasileiros sendo analfabeta ou semi-analfabeta, os nordestinos já iam para São Paulo, e se comunicavam lá. Imagine agora, com a comunicação de massa, jornais e novelas da Rede globo em todas as casas, se os brasileiros vão deixar de se entender.
3 - O que é defendido por linguistas, pelo menos nos artigos que li, é que se
deve ensinar a norma culta, ou mais prestigiada, da lingua, mas sem com isso afirmar que os alunos não sabem falar. Mesmo quem é analfabeto, conhece intuitivamente sua gramática.
Ninguem diz: "As homens vão sair ontem", porque sabem das regras de concordância de gênero, etc, embora sem saber explicitá-las.
Por que se deve ensinar essa norma culta? Porque é através dela que as pessoas podem dominar/ter acesso às ciências, ao patrimônio cultural, etc.
Outra questão importante é: o que é essa norma culta. Ora é usada pra designar a forma urbana mais prestigiada que os brasileiros usamos, ora pra designar uma forma artificial, que ninguém, nem aqui, nem em Portugal, fala, e que os gramáticos mais conservadores querem impor, mutas vezes sem a mínima lógica. Por exemplo: Não se deve iniciar uma oração com pronome oblíquo. Quem aqui diz
Dê-me um cigarro? Da mesma forma, o uso do verbo ter com sentido de existir. Drummond errou dizendo que
tinha uma pedra no meio do caminho, quando o certo seria
havia uma pedra...?. (não vou nem falar da mesóclise) Nesses dois exemplos, os falantes cultos brasileiros não seguem a norma culta das gramáticas tradicionais. Mas é a norma culta/prestigiada, que se fala
de fato, que os linguistas defendem que deve ser ensinada.
Queiramos ou não, a língua muda. é dinâmica. Não são as gramáticas normativas, os Napoleão Mendes de Almeida que vão deter a marcha. Não adianta ele dizer que não se deve iniciar uma oração com pronome oblíquo.
4 - Também é defendido pelos linguistas, e até por gramáticos de renome, como o gaúcho Celso Pedro Luft, que o ensino deve ser mais voltado para que o aluno tenha o domínio da leitura/interpretação e produção de textos coerentes etc, do que com
gramatiquices. A alguém aqui tem alguma utilidade prática saber que uma frase, deslocada do texto, é uma oração subordinada substantiva objetiva indireta? Muito mais importante não seria disponibilizar aos alunos textos de todos os gêneros (literários/técnicos/científicos) e incentivá-los a produzir textos, que com as correções eles iriam aumentando sua capacidade, e menos tempo dedicado à nomenclatura gramatical? Não estou falando em abolir a gramática. Sem caricaturização, por favor.