Esse reconhecimento de que existe variação é essencial para que ela não se sinta um ser excluído da escola. Se um professor diz para um aluno que o modo que ele, os pais dele e os amigos dele falam está errado, ele vai se sentir entre dois mundos.
ZH – Esse tipo de abordagem se justifica em determinados públicos, como alunos do EJA (Educação para Jovens e Adultos)?
Ana Maria – O professor vai receber alunos que estão tentando recuperar o tempo perdido. Acho que faz todo o sentido reconhecer junto com o aluno que a variedade que ele fala existe e é legítima. Eu não estou dizendo certa. É o meio de expressão da maioria dos falantes do Brasil. Faz muito mais sentido acolher o aluno por que é assim que ele construiu a própria identidade no mundo.
Fonte: http://3gbconsulting.blogspot.com/2011/05/lingua-em-debate-no-jornal-zero-hora.html
Imagina pegar uma turma de adultos e mandar esquecer tudo, apagar tudo, tudo que você sabe está errado, repete com a tia: "vovô viu a uva, viva o vovô". É praticamente pedir para o aluno adulto ir embora.
Ou, mais provavelmente, desenvolver o maior problema de auto-estima, desvinculação das suas origens e medo de falar em público.
Ora bolas. É público e notório que falamos de maneiras diferentes no Fórum, no estádio, no almoço de domingo na casa da nonna. Nenhuma delas é "norma culta". Aprendi na escola que norma culta só existe no livro, para servir de parâmetro. Fora do livro, na VIDA, não tem não.
Nós sabemos que não existe "erro de português", existe inadequação do uso. Peça pra nonna, por obséquio, uma porção da perfumosa "lasagna" e elogie o delicioso repasto.
A gente pode saber disso, mas o pobre analfabeto não pode. Porque, se alguém ousar avisar, sai na capa do jornal "LIVRO ENSINA A FALAR ERRADO".
Li um artigo, há uns anos atrás (não estou achando no Google, mas deve ser do Marcos Bagno) em que ele explicava que falar "grobo" e "chicrete" faz todo o sentido.
As palavras do latim tinham L ("sclavu", "plaga", "ecclesia") e, conforme o império se expandia e os bárbaros iam aprendendo a falar latim (e, obviamente, aprendendo tudo errado!), colocavam R no lugar dos L.
Só que mais palavras foram importadas depois. Algumas pegaram o R (prata), outras não (globo, inglês).
O próprio Camões escrevia errado.
Mas em tempo que fomes e asperezas,
Doenças, frechas e trovões ardentes,
A sazão e o lugar, fazem cruezas
Nos soldados a tudo obedientes,
Parece de selváticas brutezas,
De peitos inumanos e insolentes,
Dar extremo suplício pela culpa
Que a fraca humanidade e Amor desculpa.
Nada a ver, mas depois que aprendi isso tive mais qualidade de vida.
