Não sei se às vezes eu é que não estou entendendo direito mesmo alguma coisa mas sempre que vejo alguém se declarar contra a pena capital e arranjar mirabolantes justificativas para sustentar essa "posição" eu tenho a impressão de que o que se estaria propondo com a pena de morte é decidir, volta e meia, matar alguém por aí meio a esmo, assim, não como se não fosse por nada mas por algo 'mais ou menos' que, potencialmente, não justificaria tanto tão "tamanha atrocidade". O que eu entendo é que não há "posição" a tomar quanto a questões como essa. Isso não é questão de escolha. Assassinos não vão deixar de matar vítimas por causa disso. Eu não tenho preocupação na vida quanto a falhas. Falhas são uma parte inerente à realidade. Argumentar pelas falhas para se deixar, peremptoriamente, de se fazer qualquer coisa é total absurdo. Isso não é argumento; é só disfarce para uma ideologia pessoal. Meu medo não é ser condenado à morte injustamente por um sistema legal falho que preveja tal lei. Meu medo é viver num mundo em que só bandidos matam; um mundo em que um bandido pode me matar agora e continuar vivo sobre meu cadáver, tendo sua vida defendida por pessoas que se dizem de bem. Numa situação como essa, do meu ponto de vista de defunto, qualquer um que defenda a continuidade da vida desse bandido é seu conivente. Pessoas inocentes MORREM AOS MONTES, todo dia, toda hora, todo minuto, ASSASSINADAS por bandidos que não serão mortos depois. E eu vou temer falhas no sistema legal? Realmente, acho que alguma questão muito fundamental, muito crucial precisa ser esclarecida nesse mundo de ideias da espécia humana...
Para responder ao tópico:
Estendendo para, mais ou menos, os últimos 30 anos, mudei de ideia sobre mudar de ideia. Num rápido intervalo de tempo em minha juventude, muito de leve, quase me deixei levar pela besteira bonitinho-ideologicóide do "mudar é tão belo e nobre". Mas, como é da minha natureza, mais essa falácia não conseguiu me pegar. Bonito é estar certo, ser coerente com a realidade. Mudar é só uma necessidade secundária da qual se deve lançar mão apenas para corrigir-se. Agora, se parte-se do princípio de que todo e qualquer um precisa se corrigir porque "ninguém é melhor que ninguém e o mundo é lindo e maravilhoso com todo mundo errado mas prontinho para se corrigir mudando o tempo todo de ideia" eu tenho uma sugestão melhor que viver nesse estado de idiotice coletiva: não se tenha ideias, ao menos, que não possam ser minimamente confirmadas. Na dúvida, não tenha ideia nenhuma; deixe que as ideias tenham você. É muito fácil saber a diferença entre uma ideia que "tem você" e está errada e uma que *tem você* e está certa -- a primeira é o tipo de ideia com a qual você concorda (ou seja, ela é sua mesmo, ainda que não tenha sido você a "tê-la tido"); a segunda é o tipo de ideia da qual você não pode fugir.
Muitas pessoas acreditam que podem ter ideias sobre certas questões sem perceber que não se trata de questões ideológicas. É assim com a chamada pena-de-morte, por exemplo, que não é uma escolha que se possa fazer, é uma circunstância e uma necessidade de sobrevivência que se impõe -- o predador que te aguarda na esquina VAI TE MATAR de livre alvitre sem dar a menor atenção às suas ponderações filosóficas a respeito do "tema" e ainda vai botar a "culpa" em você para justificar a plicação "legal" da pena do sistema de leis dele (em que existe até ética!). Tema... eu acho apenas muito engraçado quando vejo pessoas discutirem sobre pena de morte como se fosse realmente algo discutível.
É que o mundo da fantasia nunca me desceu bem. Palavras de Gandalf? Faz-me favor!