nikolakoHalk já respondeu bem os outros argumentos. Então eu só gostaria dizer, que de acordo a nobre verdade do budismo vida é sofrimento, e acredito que está correto. Nós estamos privados a todo momento de nossas vidas e isso é sofrimento. É necessário alimento, abrigo, entretenimento, etc.. Nós não podemos ser felizes mas nós nos tornamos felizes momentaneamente- já que nós estamos em necessidade contínua de um estado de privação que nunca termina.
Se for mencionar o Budismo, ao menos cite-o de maneira adequada. Mesmo com a interpretação
mais pessimista do significado da Primeira Nobre Verdade - a que Dukkha é Sofrimento, e não Mudança ou Impermanência - ainda existem outras três Nobres Verdades que afirmam que o sofrimento tem origem nos 3 desejos e nas 3 emoções inadequadas/incorretas danosas (A Nobre Verdade da Origem do Sofrimento), que as causas de nosso sofrimento podem ser combatidas e o sofrimento pode ser extinto (A Nobre Verdade da Cessação do Sofrimento) e que existe um caminho que guia humanos à cessação do sofrimento: o Nobre Caminho Óctuplo.
Então, não, o Budismo não reitera o pessimismo que alega - ao contrário, ele reconhece a existência e realidade do "sofrimento" para combatê-lo, reduzi-lo e se suas crenças forem verdadeiras, extingui-lo. Diga-se de passagem, esse é um erro primário quanto ao Budismo, comparável a alegar que Ateus são Satanistas ou Cristãos são canibais que consomem o "Corpo e Sangue de Cristo".
Eu era o único em defesa dessa questão quando eu comecei esse debate há alguns anos atrás. Me parece que muitos ateus são otimistas incorrigíveis e possuem uma intolerância muito grande ao pessimismo, além de apresentar sinais de panteísmo e idolatria a natureza.
É curioso como acusar Ateus de serem "religiosos" e "idólatras" é algo comum - ainda mais por quem tende a considerar tanto religião quanto crença como características positivas.
Com a mesma facilidade pode-se afirmar que ateus são pessimistas incorrigíveis, sem esperança em uma Salvação final ou na Cessação de seu sofrimento, presos a um universo destinado ao seu fim entrópico, onde a Morte é o único fim possível, a moralidade é relativística e dependente de condições sociais e nem mesmo há espaço para decisão individual, pois o livre-arbítrio é um fábula em um universo Determinista. Dessa forma, ateus não tem o menor espaço para o Otimismo e escapatória para o Sofrimento e Morte. Sem contar que como nada tem de Sagrado, pois não há uma noção de Deus, do Imanente e "Ground of Being", a Natureza não apresenta em si uma dimensão transcendente - por isso ateus fogem tão fácil ao Industrialismo e Tecnofetichismo.
HalkPorque uma pessoa teria que sofrer tanto ao ponto de cometer suicidio para que nós consideremos que a criação da vida dessa pessoa foi um erro moral?
Porque como foi dito antes, isso é um erro de atribuição de causa. Conforme você menciona tanto o sofrimento, aparentemente ignora que ele possui diversas causas possíveis. Ele pode ser fruto da lenta acumulação de problemas anteriores, ou de uma súbita catástrofe. Pode ser o resultado de eventos distantes no passado ou pode ser o resultado de um evento aparentemente trivial. Pode ter causas compreensíveis ou não. Dessa forma, dada a diversidade de possíveis causas de sofrimento e do fato que ele pode ser superado ("Resiliência psicológica"), eu considero bastante limitado levar em conta apenas um evento (nascimento/existência) para julgar algo como erro moral ou não. Em uma analogia limitada, você está afirmando que o fato que alguns Notebooks apresentarem defeitos, que a empresa fabricadora deveria ser responsável por isso - enquanto eu vejo que esses problemas pode ter se originado durante o armazenamento, transporte, venda, cuidado de uso da máquina.
O fato de um não-suicida que sofre intensamente desejar não ter nascido já não é suficiente?
Talvez. Não cabe a mim fazer o julgamento de um caso
particular - mas como eu já afirmei que isso não parece ser válido para um amplo universo de pessoas.
Com relaçao a estas pessoas que eu conheço mais intimamente que preferiam não existir, possuem histórias de vida muito difíceis. Sofrimento crônico, inúmeros problemas. O que é mais certo que essa situação não mude. Mas não se pode negar que há uma possibilidade de mudar, e alguém que hoje odeia a vida, amanhã pode gostar de viver. E o oposto também ocorre. Amanhã, uma condição miserável e permanente pode cair sobre uma pessoa que hoje é feliz, e ela pode desejar não existir. Mas estou ciente que algumas pessoas poderiam ter apenas " Angústia adolescente", e problemas momentâneos, o que mais tarde se resolve.
Certo, aqui concordamos em geral. E como algo extra, existência evidências quem
em geral pessoas não tendem a alterar significativamente seus níveis mensurados de felicidade/satisfação, seja com eventos trágicos ou positivos, algo conhecido como
adaptação hedônica.
O que eu posso dizer é que nós vivemos em uma cultura que afirma vida com ferocidade. Nós já possuímos vieses naturais para otimismo e isso é ainda reforçado pela sociedade intensamente. Pessimismo e negatividade são condenados nessa sociedade. As pessoas são condicionadas a enxergar a vida como um presente, uma benção não importa o quão difícil ela seja. Eu penso que nessa "ditadura da felicidade" muitas pessoas disfarçam o seu sofrimento, o seu desejo de nunca ter nascido por medo ou vergonha. Eu mesmo sou um deles. É um fingir ser feliz por medo de ser condenado por uma sociedade que afirma vida á qualquer custo.
Okay, mas veja por outro aspecto - essa reiteração do valor da vida e da felicidade podem ser maneiras que sociedades/grupos de pessoas encontraram para minimizar o impacto da dor, tristeza e sofrimento, e ao combater essa"ditadura da felicidade" você poder abrir ainda mais espaço para o sofrimento, algo que você alega combater.

Aí que não se pode afirmar que "quase todo mundo" é feliz e gosta da vida... Eu acredito que as pessoas que gostariam de não ter nascido não são tão raras.
Novamente, eu estou aberto a essa possibilidade - mas eu gostaria de saber como você evidencia essa sua crença e como eu posso "falseá-la". Eu estou tentando mostrar evidências que suportem minha posição, mas você tem se limitado a criticar ou evitar as evidências, ao invés de contrapô-las.
Quantas pessoas são felizes genuinamente?
Não sei. Mas talvez mais relevante que isso, você abre espaço para outra pergunta: Quantas pessoas são genuinamente infelizes?
