BS
Acho que existem coisas meio oligarcóides e camaradagens, algumas talvez até tendo essas roupagens de sociedade secreta mais declarada (onde talvez seja até algo menos sério, meio como "escoteiros", comparados a "religiosos"), mas não acho que todos beneficiários tenham objetivos em comum rígida e claramente definidos e um poder absoluto, como se a história seguisse um roteiro que eles estabeleceram há muito tempo.
São mais coisas como mensalão, petrolão, favoritismos em admissões de faculdade, etc.
Bom, eu levantei esta questão porque estou lendo um livro de Carlos Lacerda.
Na verdade é um depoimento de Carlos Lacerda, colhido por um grupo de jornalistas em 1977, durante 3 fins de semana seguidos em sua casa em Petrópolis. Fazia parte de um projeto que pretendia registrar depoimentos de importantes figuras da História do Brasil, com a condição de que só seriam publicados depois da morte dos entrevistados.
Lacerda morreu logo depois, e o depoimento foi publicado. O livro: " Carlos Lacerda - Depoimento" - Editora Nova Fronteira 2ª Edição.
Em tempo, Carlos Lacerda foi um dos políticos mais importantes do Brasil. Oriundo de uma família sempre envolvida com política ( seu pai foi político, seu avô ministro do Supremo ), Lacerda foi vereador, deputado, governador da Guanabara ( hoje RJ ), um dos líderes da UDN, um dos 3 principais partidos até o golpe de 64, e eternizado na História especialmente por ter sido o pivô do famoso episódio do suicídio de Getúlio Vargas, resultado de um atentado fracassado contra a vida do próprio Carlos Lacerda.
Carlos Lacerda também era fundador e dono do jornal Tribuna da Imprensa, e amigo íntimo de muitas personalidades importantes do país, como a família Mesquita, dona do jornal Estadão, Roberto Marinho, Assis Chateubriand ( talvez o homem mais influente do Brasil na época ), e inúmeras personalidades políticas, de presidentes, a ministros, lideranças partidárias, passando por embaixadores, diplomatas, enfim, desde os anos 20 até ser cassado pelos militares, atuou ativamente na política e era um profundo conhecedor dos meandros e dos bastidores da política nacional, além de homem de excepcional inteligência, apesar de controverso.
Também foi um dos conspiradores para o golpe de 64, segundo ele mesmo conta em seu depoimento, cooptado pelo Júlio Mesquita ( do Estadão ) que já conspirava há 2 anos com os oficiais do 2º Exército, segundo relata o próprio Ruy Mesquita ( ex-diretor do Estadão e filho de Julio Mesquita Filho ) no prefácio do livro.
Esse prólogo tem o objetivo de demonstrar que Lacerda era um sujeito que, pelo menos, tinha condições de saber do que estava falando.
Há um capítulo deste livro que é dedicado à "Bucha", uma sociedade secreta que teria sido fundada na Faculdade de Direito de São Paulo, mas que também atuava na Faculdade de Medicina, e que cooptava jovens de famílias importantes para formar a liderança do Brasil e ocupar postos chaves no Legislativo, Judiciário e no Executivo. Lacerda afirma que todos os presidentes até Getúlio ( com exceção de um ) pertenceram à Bucha. E que ninguém ocupava nenhum cargo importante sem a aprovação da Bucha.
Ademar de Barros, que foi interventor em São Paulo do todo poderoso Getúlio Vargas teria conseguido uma lista ( através de suborno ) de alguns integrantes da Bucha e entregou a Getulio. O ditador teria ficado muito espantado ao ver os nomes e disse: " Olha, não tenho como governar o pais sem estas pessoas, o senhor, Ademar, trate de entrar para a Bucha".
Bucha é um apelido que deriva de uma palavra alemã, origem desta instituição, e dizem que o túmulo do fundador da Bucha no Brasil está na Faculdade de Direito de São Paulo, apesar deste alemão jamais ter sido estudante, professor ou mesmo sequer funcionário nesta instituição.
No momento não tenho aqui comigo o livro, mas pretendo colocar aqui o capítulo porque o livro conta esta história bem melhor do que eu.