Interessante esse conceito popular de genialidade. No caso de Niemayer é óbvio que de gênio ele não tem nada e as evidências que o Lobão apontou estão aqui no tópico. É constrangedor ver tanta gente inteligente e culta elogiar aquelas obras de gosto duvidoso e atribuí-las a um gênio. Fico me perguntando porque isso acontece. É como o Lobão falou e tem mais. Parece que é chique se submeter aos caprichos de um chato como João Gilberto e se você não reconhece o gênio, o problema está com você. Tudo que Tom Zé diz, por definição também é genial, apesar de não falar coisa com coisa. Os palavrões de Dercí Gonçalves ainda são considerados geniais por certos intelectuais e tem até tese de doutorado sobre ela. Temos Gabriel, o pensador e sua obra de genialidade incontestável. Jô Soares, um gênio que fala diversas línguas mas que só diz bobagem. E por aí vai...
O que é ser genial? Tipo, qual o contexto sócio-cultural disso? O conceito mais aceitável de genialidade que eu já tive é o da sensibilidade, e não tem necessariamente a ver com criatividade. Marx, Frida Kahlo, Einstein, Weber, Mary Shelley, João Gilberto, Picasso, Andy Warhol, todxs elxs, são talentosxs sim, mas são geniais pela sensibilidade que tiveram.
Explico, Marx e Weber não tiraram fundamento e inspiração de suas teorias da sua própria imaginação, Einstein não foi responsável por todos os conceitos de sua teoria, Picasso não desenvolveu sua técnica de perspectiva sozinho, Mary Shelley não revolucionou a literatura por causa de motivações puramente pessoais e Andy Warhol não é considerado gênio por nada. Todxs elxs, sem exceção, fizeram parte de um contexto cultural que permitiram que elxs desenvolvessem suas ideias e, mais que isso, o que diferencia Marx de outrxs hegelianos de esquerda, Picassos e Warhol de outrxs artistas contemporâneos é a sensibilidade delxs de expressar o espírito de sua época com maior expressão possível. Todxs elxs representam marcos sócio-históricos e daí sua importância. Marx melhor representou o ideário revolucionário moderno e melhor analisou a infraestrutura, em oposição a Weber que teve a sensibilidade de trazer a tona a discussão sobre o fim do encantamento na modernidade diante das luzes, assim como melhor analisou a superestrutura. O mesmo vale para Warhol, que para os semióticos melhor representou o contexto das relações imagéticas na pós-modernidade/modernidade tardia, onde surge o contexto de hiper-real, valor simbólico-cultural da criação da imagem publicitária, entre outras coisas.
Na minha opinião, clássico e gênio são puramente contextuais socialmente, longe de qualquer objetividade.