Não é à toa que um cético precisa fazer um esforço mental consciente para descartar, mesmo que provisioramente, respostas aparentemente fáceis e intuitivas sem bases empíricas.
Ainda hoje existe muitas questões que ficariam em aberto com essa posição cética e por causa dessa conformidade com a ignorância que a maioria das pessoas não se sentem confortáveis em serem céticas com os conhecimentos que possuem .
Desculpe-me, mas não consegui entender exatamente o que você quis dizer com essa frase.
Isso vale um pouco para os céticos tambem,já que é algo muito dificil ser 100% cético sobre todo o conhecimento adquirido e por essa razão a pessoa acaba cultivando um dogma ou outro,no sentido de uma ideia em que ela evita questionar .
Isso na verdade nos remete a Descartes, que foi quem primeiro propôs que a verdade pode ser alcançada partindo-se da dúvida. Ele mesmo não resistiu à tentação de postular a existência de deus. Mas note que essa postura não nos impede de aceitar alegações sem bae empírica - contanto que estejamos cientes disso e que reconheçamos que elas podem ser questionadas. Podemos aceitar um postulado sem evidências como um axioma, a partir do qual outras conclusões fluem logicamente.
Porém, se estivermos lidando com proposições acerca do mundo físico, a confirmação experimental das alegações obtidas a partir dos seus aximoas é imprescindível. É também possível utilizar conceitos não-mensuráveis como instrumentos de cálculo, contanto que tenhamos em mente que é isso que eles são.
Note que em ciência, o que se faz é: observa-se eventos
e
. Em seguida você pode elaborar a hipótese: Supondo que o princípio A seja verdade, resulta que o princípio B é verdade, e de B resulta que C é verdade. A partir de A podemos prever que os seguintes eventos devem ser observados:
e a partir de B prevemos que
serão observados. Com isso, a suposição de A não só explica os resultados já obtidos (índices 1 a 3) mas prevê novos resultados (índices maiores que 3). Não só isso, mas ela também pode prever
, que é uma classe de eventos que não foi estudada ainda.
A diferença entre esse esquema e o que os gregos faziam era que se dispensava a verificação experimental. Começava-se com o princípio A, talvez por ser esteticamente agradável ou por combinar com as preferências pessoais do autor. Daí que, se B e C resultassem, e se estes combinassem com o senso comum e com a observação casual*, então aceitava-se A.
Voltando ao ceticismo científico: um cético então deve ter humildade para aceitar que os princípios que estão na base de suas hipóteses têm de passar pelo crivo do experimento. E se não passarem, devem ser descartados.
*Por exemplo, a ideia aristotélica de que uma força é necessária para manter um objeto em movimento é confirmada pelo senso comum e por observações casuais. No entanto, ela é refutada por um estudo experimental mais elaborado.