Tem um outro vídeo também sobre um dono de mercado que depois de sofrer vários assaltos ficou emputecido e comprou uma arma e obteve a posse, além de fazer curso de tiro, e que foi assaltado mais uma vez tendo sido morto pelos assaltantes apesar de ter matado um deles. A imprensa (contra armas provavelmente) deitando e rolando com o tal papo de que se não tivesse reagido ainda estaria vivo, em meio a depoimento de familiares inconsoláveis pela perda do comerciante. Como enche o saco essa lenga lenga, ninguém admitindo ou ao menos fazendo menção ao fato de que o cara mesmo tendo sido morto pode ter ficado com a alma lavada de ter levado o bandido junto!
https://videos.band.uol.com.br/16617349/comerciante-armado-reage-a-assalto-e-acaba-morto.html
Quem está morto não experimenta arrependimento ou satisfação.
Mas a questão talvez não seja esta. Talvez o ponto que a matéria pretenda focar seja a discussão de se portar uma arma dá mais segurança ou não ao cidadão. Porque certas correntes pregam que se o Estado não tem condições de proteger seus cidadãos eles podem encontrar esta proteção na posse de uma arma de fogo.
Então aí existe uma questão objetiva: portar arma de fogo lhe deixa mais protegido contra a violência? Ou você passa a correr um risco ainda maior?
Eu tenho impressão que o porte de arma introduz um risco adicional aos que já estamos infelizmente submetidos. Impressão baseada na facilmente demonstrável desvantagem que a vítima tem em relação ao criminoso quando é atacada. Ou seja, a vítima quase sempre vai reagir - se optar por reagir - em condições desfavoráveis, o que vai exigir dela mais perícia e também mais sorte do que aquela que necessita o bandido. E se não reagir, só o fato do bandido encontrar uma arma em poder da vítima já representa um risco a mais. E ainda podemos observar que a arma também faz do chamado "cidadão de bem" um potencial criminoso. Que em uma discussão banal com vizinhos, ou num bar ou no trânsito, pode vir a cometer um desatino facilitado simplesmente por estar de posse de uma ferramenta projetada para matar pessoas da maneira mais eficaz. O que não contribui em nada para aumentar a nossa segurança.
Mas a questão objetiva de se a arma aumenta sua proteção contra o bandido ou aumenta apenas o risco, pode ser respondida também objetivamente. Pelo menos dentro de um contexto estatístico há resposta objetiva, desprovida de viés ou relativismos. Ou seja, discutir se fulano e beltrano estão mais protegidos porque andam armados é uma coisa, mas pesquisar estatisticamente qual o padrão das ocorrências em vítimas armadas é outra coisa e de um ponto de vista técnico não tem nada de subjetivo.
Uma pesquisa do CECCRIM ( Centro de Estudos em Comportamento Criminal ) dá a resposta: já postei essa pesquisa aqui mas no momento vou apenas citar a metodologia de memória. Em 1997 ( ou 99, não lembro ), antes do estatuto do desarmamento, fizeram uma pesquisa na cidade de São Paulo levantando todos os B.O.s de latrocínio registrados na cidade naquele ano. Verificaram então quantas vítimas (óbitos) estavam armadas - o que é muito simples já que essa informação invariavelmente vai constar em um B.O. - e então fizeram uma estimativa do quanto o fato de uma pessoa estar armada influenciava em suas chances de ser morta durante um assalto.
Estatisticamente falando, estar armado mais ou menos dobra a chance de morte de uma vítima de assalto. Por que friso o "estatisticamente falando"? Claro, porque estas chances podem variar muito de um indivíduo para outro. O Rambo, se estiver armado, talvez esteja mais protegido ( ou não! ) mas de uma maneira geral mais pessoas armadas significará também mais vítimas de latrocínio.
A metodologia da pesquisa é inquestionável. Se sabia qual percentual da população possuía uma arma registrada em São Paulo em 1997. Digamos que fosse 18% da população... Então usaram esta taxa para estimar em 18% o número de pessoas andando armadas na cidade. Isto é, foi estimativa "por cima", já que evidentemente nem todo mundo que tem uma arma anda armado. Mas podemos usar 18% como um limite, também chamado "nota de corte", já que se 18% possuem armas não mais que 18% podem estar andando armados pelas ruas...
Então você verifica que percentual de vítimas de latrocínio estavam armadas segundo todos os BOs registrados em 97 e o que você constata é que essa taxa é o dobro da estimativa sobre o percentual de pessoas armadas! Isso significa que portar uma arma aumenta suas chances de morrer em um assalto e aumenta consideravelmente.
O que não deveria causar surpresa, porque geralmente estamos falando de uma situação onde uma pessoa é abordada desprevenida por um criminoso que já a estava observando e dá o bote já de arma em punho e apontada. Mas a pesquisa revelou também um outro dado: o de que o risco aumenta também para as outras pessoas. Porque nos registros de latrocínio em que uma das vítimas estava armada, em média o número de mortes era também maior. Significa que em um assalto onde a vítima reage é maior a chance de ocorrer um tiroteio onde não só ela vem a morrer como acarreta em outras pessoas acabarem
também baleadas.