Autor Tópico: PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?  (Lida 23461 vezes)

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Offline -Huxley-

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #400 Online: 21 de Janeiro de 2018, 20:34:59 »



Após as privatizações das telefônicas obviamente apareceram melhores resultados em termos de  preços e ofertas de linhas.  Mas,  tem essa questão do BNDES  que financiou a expansão das telefônicas com dinheiro público, e que não vi nenhum  defensor de privatizações  a ter citado e destacado.  O que é uma omissão conveniente para os apologistas das privatizações.

O Prof. Claudio Henrique destaca isso no vídeo ao invés de omitir.


Uma coisa é você não ver ou não lembrar. Outra coisa, totalmente diferente, é não ter existido essa condenação, que existiu inclusive neste tópico:

Um antigo artigo sobre o tema:

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Sobre as privatizações (Parte 1)
por Leandro Roque, quinta-feira, 18 de março de 2010

Em anos de eleição presidencial, um triste hábito acomete o Brasil: aparentemente, a inteligência nacional, cansada, resolve ir passear por outras bandas, e assuntos que teriam grandes dificuldades em ser levados a sério até mesmo por aborígenes, aqui adquirem um ar de imerecida respeitabilidade, e são debatidos a sério não só por partidos políticos, mas também por intelectuais em colunas de jornal e em mesas redondas.

Nas eleições de 2006, a moda era reestatizar a mineradora Vale (então chamada Vale do Rio Doce).  Mais ainda: foi proibida qualquer alusão à necessária desestatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.  A Eletrobrás, então, nem foi mencionada.  O candidato da "oposição" se viu forçado a sair vestindo camisetas de estatais a fim de confirmar sua inabalável fé no estado, numa das cenas mais patéticas da nossa história eleitoral.

(Em tempo: em 2007, último ano de calmaria econômica e de preços recordes do barril de petróleo, bem maiores que os de 2006, a Petrobras teve uma queda de 17% no lucro em relação a 2006.  Das dez principais empresas de petróleo do mundo, apenas quatro não apresentaram crescimento do lucro: Petrobras, Pemex (México), PDVSA (Venezuela) e Gazprom (Rússia), todas elas estatais)

Quase quatro anos depois, o barulho das passadas dos dinossauros já é ouvido com ainda mais intensidade.  O atraso da vez envolve a reativação da nada saudosa Telebrás, além da quase já confirmada criação da Febrasa, estatal de fertilizantes.

Os governistas podem dizer que a ameaça de reestatização da Vale foi apenas bravata eleitoreira, apenas um balão de ensaio que foi levantado sem maiores perspectivas, o mesmo sendo válido para a Telebrás.  Pode ser.  Mas sempre há outras intenções mais insidiosas.  O fato é que medidas desse tipo servem apenas para deslocar o fiel da balança cada vez mais para o campo estatizante, limitando cada vez mais a amplitude do debate aceitável, restringindo-o totalmente ao campo antimercado.  Se nas eleições de 1989 falava-se com naturalidade na privatização de várias estatais e na redução do estado, nas de hoje o candidato que não jurar de pé junto que não vai vender uma única ação ordinária de alguns desses mamutes irá raivosamente ganhar a pecha de privatista insano, estando automaticamente excluído dos "debates sérios".

Mas por que isso aconteceu?  Como as coisas regrediram a esse ponto?  De um lado, a explicação é fácil: privatizações causam pânico naqueles aspones que ganham salários astronômicos para não fazer... bem, para ser um aspone.  Como estão ali por indicação política, uma vez que estatais são notórios cabides de emprego, é óbvio que um enxugamento dos quadros, a busca por lucros e a exigência de eficiência — medidas básicas adotadas por qualquer empresa privada que queira sobreviver — representa um perigo imediato para a boa vida desses indivíduos, que nunca estiveram acostumados a qualquer tipo de pressão.  Para evitar essa tragédia, eles acionam seus sindicatos — outra categoria repleta de aspones —, organizações poderosas, temidas e de forte peso eleitoral.  Poucos têm a coragem de peitá-los.

Outra explicação, também fácil, envolve a falta de intimidade da população com assuntos econômicos.  O discurso nacionalista sobre "entrega das riquezas nacionais", "espoliação do patrimônio nacional", "o petróleo é nosso", "o minério é nosso", "a telefonia é nossa", "as filas de banco são nossas", tudo isso tem forte apelo popular sobre as massas mais despreparadas (nacionalismo e ignorância andam juntos).  Dizer que o petróleo é nosso e que sua desestatização nos privaria de um produto estratégico, essencial, barato e de qualidade, é algo extremamente fácil e eficaz, que não exige mais do que dez segundos de propaganda televisiva.  Porém, explicar que isso é mentira e que a desestatização e a livre concorrência — em qualquer setor — geram produtos de melhor qualidade e preços mais baixos é algo que exige mais didática, mais preparo e mais paciência.  E principalmente: exige uma platéia atenta e genuinamente interessada em aprender.  Temos isso em maioria democrática no país?  Pois é.

Porém, há também uma terceira explicação para o ressurgimento dessas ideias jurássicas, as quais incrivelmente têm uma boa penetração entre as massas mais cultas e que não necessariamente estão encasteladas em estatais ou trabalhando para o governo: o modelo de privatização adotado no Brasil foi péssimo — algo óbvio, aliás, pois o processo foi conduzido pelo estado.

O que foi privatizado

Antes, é preciso desmistificar algumas coisas.  O consenso (quase) geral é que o governo Fernando Henrique foi o que mais privatizou, o que mais tirou o estado da economia, o que mais desregulamentou, e patacoadas afins.  Mentira.  Qualquer análise básica e desapaixonada irá revelar que as privatizações feitas pelo governo federal no mandato do sociólogo foram ínfimas, embora tenham sido as de maior valor de venda.  Fernando Collor e até mesmo o ultranacionalista Itamar Franco privatizaram mais.  Confira:

Collor:

USIMINAS, CELMA (Cia. Eletromecânica), MAFER S.A., COSINOR (Cia. Siderúrgica do Nordeste), SBNP (Serviço de Navegação da Bacia do Prata), AFP (Aços Finos Piratini), Petroflex S.A., COPESUL (Cia. Petroquímica do Sul), CNA(Cia. Nacional de Álcalis), CST (Cia. Siderúrgica de Tubarão), FÓSFERTIL, GOIASFÉRTIL e Acesita.

Nota-se que as privatizações se concentraram no setor siderúrgico e petroquímico.

Itamar:

CSN, ULTRAFÉRTIL, COSIPA, AÇOMINAS, PQU (Petroquímica União), CARAÍBA (mineração), EMBRAER

Fernando Henrique:

ESCELSA (Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.), Light (vendida para um consórcio no qual as estatais CEMIG e Électricité de France tinham participação majoritária), Companhia Vale do Rio Doce, Banco Meridional, Telebrás, GERASUL (Centrais Geradoras do Sul) e DATAMEC (Sistema de Processamento de Dados).

De todas essas privatizações, as melhores — no sentido de mais bem feitas — ocorreram nos governos Collor e Itamar, em que as siderúrgicas foram vendidas e o governo simplesmente se retirou da área, sem dar palpites nem impor regulamentações.  A privatização da EMBRAER foi quase toda correta, exceto pelo fato de ter havido recursos do BNDES. 

(...)
 


Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #401 Online: 21 de Janeiro de 2018, 20:54:31 »

Após as privatizações das telefônicas obviamente apareceram melhores resultados em termos de  preços e ofertas de linhas.  Mas,  tem essa questão do BNDES  que financiou a expansão das telefônicas com dinheiro público, e que não vi nenhum  defensor de privatizações  a ter citado e destacado.  O que é uma omissão conveniente para os apologistas das privatizações.

O Prof. Claudio Henrique destaca isso no vídeo ao invés de omitir.


Uma coisa é você não ver ou não lembrar. Outra coisa, totalmente diferente, é não ter existido essa condenação, que existiu inclusive neste tópico:

Um antigo artigo sobre o tema:

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Sobre as privatizações (Parte 1)
por Leandro Roque, quinta-feira, 18 de março de 2010

Em anos de eleição presidencial, um triste hábito acomete o Brasil: aparentemente, a inteligência nacional, cansada, resolve ir passear por outras bandas, e assuntos que teriam grandes dificuldades em ser levados a sério até mesmo por aborígenes, aqui adquirem um ar de imerecida respeitabilidade, e são debatidos a sério não só por partidos políticos, mas também por intelectuais em colunas de jornal e em mesas redondas.

Nas eleições de 2006, a moda era reestatizar a mineradora Vale (então chamada Vale do Rio Doce).  Mais ainda: foi proibida qualquer alusão à necessária desestatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.  A Eletrobrás, então, nem foi mencionada.  O candidato da "oposição" se viu forçado a sair vestindo camisetas de estatais a fim de confirmar sua inabalável fé no estado, numa das cenas mais patéticas da nossa história eleitoral.

(Em tempo: em 2007, último ano de calmaria econômica e de preços recordes do barril de petróleo, bem maiores que os de 2006, a Petrobras teve uma queda de 17% no lucro em relação a 2006.  Das dez principais empresas de petróleo do mundo, apenas quatro não apresentaram crescimento do lucro: Petrobras, Pemex (México), PDVSA (Venezuela) e Gazprom (Rússia), todas elas estatais)

Quase quatro anos depois, o barulho das passadas dos dinossauros já é ouvido com ainda mais intensidade.  O atraso da vez envolve a reativação da nada saudosa Telebrás, além da quase já confirmada criação da Febrasa, estatal de fertilizantes.

Os governistas podem dizer que a ameaça de reestatização da Vale foi apenas bravata eleitoreira, apenas um balão de ensaio que foi levantado sem maiores perspectivas, o mesmo sendo válido para a Telebrás.  Pode ser.  Mas sempre há outras intenções mais insidiosas.  O fato é que medidas desse tipo servem apenas para deslocar o fiel da balança cada vez mais para o campo estatizante, limitando cada vez mais a amplitude do debate aceitável, restringindo-o totalmente ao campo antimercado.  Se nas eleições de 1989 falava-se com naturalidade na privatização de várias estatais e na redução do estado, nas de hoje o candidato que não jurar de pé junto que não vai vender uma única ação ordinária de alguns desses mamutes irá raivosamente ganhar a pecha de privatista insano, estando automaticamente excluído dos "debates sérios".

Mas por que isso aconteceu?  Como as coisas regrediram a esse ponto?  De um lado, a explicação é fácil: privatizações causam pânico naqueles aspones que ganham salários astronômicos para não fazer... bem, para ser um aspone.  Como estão ali por indicação política, uma vez que estatais são notórios cabides de emprego, é óbvio que um enxugamento dos quadros, a busca por lucros e a exigência de eficiência — medidas básicas adotadas por qualquer empresa privada que queira sobreviver — representa um perigo imediato para a boa vida desses indivíduos, que nunca estiveram acostumados a qualquer tipo de pressão.  Para evitar essa tragédia, eles acionam seus sindicatos — outra categoria repleta de aspones —, organizações poderosas, temidas e de forte peso eleitoral.  Poucos têm a coragem de peitá-los.

Outra explicação, também fácil, envolve a falta de intimidade da população com assuntos econômicos.  O discurso nacionalista sobre "entrega das riquezas nacionais", "espoliação do patrimônio nacional", "o petróleo é nosso", "o minério é nosso", "a telefonia é nossa", "as filas de banco são nossas", tudo isso tem forte apelo popular sobre as massas mais despreparadas (nacionalismo e ignorância andam juntos).  Dizer que o petróleo é nosso e que sua desestatização nos privaria de um produto estratégico, essencial, barato e de qualidade, é algo extremamente fácil e eficaz, que não exige mais do que dez segundos de propaganda televisiva.  Porém, explicar que isso é mentira e que a desestatização e a livre concorrência — em qualquer setor — geram produtos de melhor qualidade e preços mais baixos é algo que exige mais didática, mais preparo e mais paciência.  E principalmente: exige uma platéia atenta e genuinamente interessada em aprender.  Temos isso em maioria democrática no país?  Pois é.

Porém, há também uma terceira explicação para o ressurgimento dessas ideias jurássicas, as quais incrivelmente têm uma boa penetração entre as massas mais cultas e que não necessariamente estão encasteladas em estatais ou trabalhando para o governo: o modelo de privatização adotado no Brasil foi péssimo — algo óbvio, aliás, pois o processo foi conduzido pelo estado.

O que foi privatizado

Antes, é preciso desmistificar algumas coisas.  O consenso (quase) geral é que o governo Fernando Henrique foi o que mais privatizou, o que mais tirou o estado da economia, o que mais desregulamentou, e patacoadas afins.  Mentira.  Qualquer análise básica e desapaixonada irá revelar que as privatizações feitas pelo governo federal no mandato do sociólogo foram ínfimas, embora tenham sido as de maior valor de venda.  Fernando Collor e até mesmo o ultranacionalista Itamar Franco privatizaram mais.  Confira:

Collor:

USIMINAS, CELMA (Cia. Eletromecânica), MAFER S.A., COSINOR (Cia. Siderúrgica do Nordeste), SBNP (Serviço de Navegação da Bacia do Prata), AFP (Aços Finos Piratini), Petroflex S.A., COPESUL (Cia. Petroquímica do Sul), CNA(Cia. Nacional de Álcalis), CST (Cia. Siderúrgica de Tubarão), FÓSFERTIL, GOIASFÉRTIL e Acesita.

Nota-se que as privatizações se concentraram no setor siderúrgico e petroquímico.

Itamar:

CSN, ULTRAFÉRTIL, COSIPA, AÇOMINAS, PQU (Petroquímica União), CARAÍBA (mineração), EMBRAER

Fernando Henrique:

ESCELSA (Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.), Light (vendida para um consórcio no qual as estatais CEMIG e Électricité de France tinham participação majoritária), Companhia Vale do Rio Doce, Banco Meridional, Telebrás, GERASUL (Centrais Geradoras do Sul) e DATAMEC (Sistema de Processamento de Dados).

De todas essas privatizações, as melhores — no sentido de mais bem feitas — ocorreram nos governos Collor e Itamar, em que as siderúrgicas foram vendidas e o governo simplesmente se retirou da área, sem dar palpites nem impor regulamentações.  A privatização da EMBRAER foi quase toda correta, exceto pelo fato de ter havido recursos do BNDES. 

(...)
 





Especificamente o professor se referiu à recursos posteriores  emprestados pelo BNDES, para as teles, para que houvesse expansão na rede telefônica,  de modo que é diferente do que informado no texto acima,  que além de se referir à recursos para privatização da EMBRAER ,  e não para a sua expansão, além da  Embraer  não ser uma tele, ainda temos que o recurso não foi para expansão.  Há semelhanças entre as ideias, e por extensão poderíamos imaginar que haveria condenação para o uso de empréstimos do BNDES para a expansão das teles, mas não é exatamente a mesma coisa.
« Última modificação: 21 de Janeiro de 2018, 20:57:38 por JJ »

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #402 Online: 21 de Janeiro de 2018, 21:51:23 »

Após as privatizações das telefônicas obviamente apareceram melhores resultados em termos de  preços e ofertas de linhas.  Mas,  tem essa questão do BNDES  que financiou a expansão das telefônicas com dinheiro público, e que não vi nenhum  defensor de privatizações  a ter citado e destacado.  O que é uma omissão conveniente para os apologistas das privatizações.

O Prof. Claudio Henrique destaca isso no vídeo ao invés de omitir.


Uma coisa é você não ver ou não lembrar. Outra coisa, totalmente diferente, é não ter existido essa condenação, que existiu inclusive neste tópico:

Um antigo artigo sobre o tema:

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Sobre as privatizações (Parte 1)
por Leandro Roque, quinta-feira, 18 de março de 2010

Em anos de eleição presidencial, um triste hábito acomete o Brasil: aparentemente, a inteligência nacional, cansada, resolve ir passear por outras bandas, e assuntos que teriam grandes dificuldades em ser levados a sério até mesmo por aborígenes, aqui adquirem um ar de imerecida respeitabilidade, e são debatidos a sério não só por partidos políticos, mas também por intelectuais em colunas de jornal e em mesas redondas.

Nas eleições de 2006, a moda era reestatizar a mineradora Vale (então chamada Vale do Rio Doce).  Mais ainda: foi proibida qualquer alusão à necessária desestatização da Petrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal.  A Eletrobrás, então, nem foi mencionada.  O candidato da "oposição" se viu forçado a sair vestindo camisetas de estatais a fim de confirmar sua inabalável fé no estado, numa das cenas mais patéticas da nossa história eleitoral.

(Em tempo: em 2007, último ano de calmaria econômica e de preços recordes do barril de petróleo, bem maiores que os de 2006, a Petrobras teve uma queda de 17% no lucro em relação a 2006.  Das dez principais empresas de petróleo do mundo, apenas quatro não apresentaram crescimento do lucro: Petrobras, Pemex (México), PDVSA (Venezuela) e Gazprom (Rússia), todas elas estatais)

Quase quatro anos depois, o barulho das passadas dos dinossauros já é ouvido com ainda mais intensidade.  O atraso da vez envolve a reativação da nada saudosa Telebrás, além da quase já confirmada criação da Febrasa, estatal de fertilizantes.

Os governistas podem dizer que a ameaça de reestatização da Vale foi apenas bravata eleitoreira, apenas um balão de ensaio que foi levantado sem maiores perspectivas, o mesmo sendo válido para a Telebrás.  Pode ser.  Mas sempre há outras intenções mais insidiosas.  O fato é que medidas desse tipo servem apenas para deslocar o fiel da balança cada vez mais para o campo estatizante, limitando cada vez mais a amplitude do debate aceitável, restringindo-o totalmente ao campo antimercado.  Se nas eleições de 1989 falava-se com naturalidade na privatização de várias estatais e na redução do estado, nas de hoje o candidato que não jurar de pé junto que não vai vender uma única ação ordinária de alguns desses mamutes irá raivosamente ganhar a pecha de privatista insano, estando automaticamente excluído dos "debates sérios".

Mas por que isso aconteceu?  Como as coisas regrediram a esse ponto?  De um lado, a explicação é fácil: privatizações causam pânico naqueles aspones que ganham salários astronômicos para não fazer... bem, para ser um aspone.  Como estão ali por indicação política, uma vez que estatais são notórios cabides de emprego, é óbvio que um enxugamento dos quadros, a busca por lucros e a exigência de eficiência — medidas básicas adotadas por qualquer empresa privada que queira sobreviver — representa um perigo imediato para a boa vida desses indivíduos, que nunca estiveram acostumados a qualquer tipo de pressão.  Para evitar essa tragédia, eles acionam seus sindicatos — outra categoria repleta de aspones —, organizações poderosas, temidas e de forte peso eleitoral.  Poucos têm a coragem de peitá-los.

Outra explicação, também fácil, envolve a falta de intimidade da população com assuntos econômicos.  O discurso nacionalista sobre "entrega das riquezas nacionais", "espoliação do patrimônio nacional", "o petróleo é nosso", "o minério é nosso", "a telefonia é nossa", "as filas de banco são nossas", tudo isso tem forte apelo popular sobre as massas mais despreparadas (nacionalismo e ignorância andam juntos).  Dizer que o petróleo é nosso e que sua desestatização nos privaria de um produto estratégico, essencial, barato e de qualidade, é algo extremamente fácil e eficaz, que não exige mais do que dez segundos de propaganda televisiva.  Porém, explicar que isso é mentira e que a desestatização e a livre concorrência — em qualquer setor — geram produtos de melhor qualidade e preços mais baixos é algo que exige mais didática, mais preparo e mais paciência.  E principalmente: exige uma platéia atenta e genuinamente interessada em aprender.  Temos isso em maioria democrática no país?  Pois é.

Porém, há também uma terceira explicação para o ressurgimento dessas ideias jurássicas, as quais incrivelmente têm uma boa penetração entre as massas mais cultas e que não necessariamente estão encasteladas em estatais ou trabalhando para o governo: o modelo de privatização adotado no Brasil foi péssimo — algo óbvio, aliás, pois o processo foi conduzido pelo estado.

O que foi privatizado

Antes, é preciso desmistificar algumas coisas.  O consenso (quase) geral é que o governo Fernando Henrique foi o que mais privatizou, o que mais tirou o estado da economia, o que mais desregulamentou, e patacoadas afins.  Mentira.  Qualquer análise básica e desapaixonada irá revelar que as privatizações feitas pelo governo federal no mandato do sociólogo foram ínfimas, embora tenham sido as de maior valor de venda.  Fernando Collor e até mesmo o ultranacionalista Itamar Franco privatizaram mais.  Confira:

Collor:

USIMINAS, CELMA (Cia. Eletromecânica), MAFER S.A., COSINOR (Cia. Siderúrgica do Nordeste), SBNP (Serviço de Navegação da Bacia do Prata), AFP (Aços Finos Piratini), Petroflex S.A., COPESUL (Cia. Petroquímica do Sul), CNA(Cia. Nacional de Álcalis), CST (Cia. Siderúrgica de Tubarão), FÓSFERTIL, GOIASFÉRTIL e Acesita.

Nota-se que as privatizações se concentraram no setor siderúrgico e petroquímico.

Itamar:

CSN, ULTRAFÉRTIL, COSIPA, AÇOMINAS, PQU (Petroquímica União), CARAÍBA (mineração), EMBRAER

Fernando Henrique:

ESCELSA (Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.), Light (vendida para um consórcio no qual as estatais CEMIG e Électricité de France tinham participação majoritária), Companhia Vale do Rio Doce, Banco Meridional, Telebrás, GERASUL (Centrais Geradoras do Sul) e DATAMEC (Sistema de Processamento de Dados).

De todas essas privatizações, as melhores — no sentido de mais bem feitas — ocorreram nos governos Collor e Itamar, em que as siderúrgicas foram vendidas e o governo simplesmente se retirou da área, sem dar palpites nem impor regulamentações.  A privatização da EMBRAER foi quase toda correta, exceto pelo fato de ter havido recursos do BNDES. 

(...)
 





Especificamente o professor se referiu à recursos posteriores  emprestados pelo BNDES, para as teles, para que houvesse expansão na rede telefônica,  de modo que é diferente do que informado no texto acima,  que além de se referir à recursos para privatização da EMBRAER ,  e não para a sua expansão, além da  Embraer  não ser uma tele, ainda temos que o recurso não foi para expansão.  Há semelhanças entre as ideias, e por extensão poderíamos imaginar que haveria condenação para o uso de empréstimos do BNDES para a expansão das teles, mas não é exatamente a mesma coisa.

Isso torna ainda pior a queixa. Existe coisa mais clichê em um típico formador de opinião privatista do que a crítica do uso do BNDES para financiar empresas que poderiam fazer isso no sistema financeiro privado? Quando se fala em defesa da privatização do BNDES é quase impossível não ouvir esse argumento.

A diferenciação do uso do BNDES para privatização ou para expansão de empresas privatizadas não faz sentido algum do ponto de vista prático. Idem para o caso da privatização de uma gigante envolver uma tele ou não. Para o pagador de impostos sem acesso às regalias das oligarquias econômicas, já que há semelhanças estruturais em todos os casos, é tudo a mesma merda.
« Última modificação: 21 de Janeiro de 2018, 22:11:05 por -Huxley- »

Offline Gauss

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #403 Online: 21 de Janeiro de 2018, 22:07:05 »
Que insano. Todos nós entreguistas sempre defendemos a privatização ou extinção do BNDES.
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #404 Online: 21 de Janeiro de 2018, 22:52:00 »
Que insano. Todos nós entreguistas sempre defendemos a privatização ou extinção do BNDES.


Sempre ?  Em 1994  (ou antes) todos   vocês  "entreguistas"  já defendiam a privatização ou extinção do BNDES ?  Pode apresentar provas de que você já fazia isso em 1994 ou antes ?



Offline -Huxley-

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #405 Online: 21 de Janeiro de 2018, 23:18:52 »
A crença "Não privatizar o BNDES contribui para manter o Brasil no atraso" é verdadeira, mesmo que ninguém, em algum momento, acreditasse nela. A verdade não depende das crenças dos indivíduos.

Offline Zero

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #406 Online: 26 de Fevereiro de 2018, 22:13:04 »
Citar
Alckmin diz que privatizaria Petrobras se vencesse eleição
Uma vez um tabu por conta de preocupações com a soberania nacional, a privatização da Petrobras deve se tornar uma questão importante na campanha

Brasília – O governador do Estado de São Paulo e provável candidato à presidência, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), disse nesta segunda-feira que privatizaria a estatal Petrobras se ganhasse as eleições em outubro.

Alckmin disse em entrevista à rede de televisão Band que é a favor de uma gestão privada na Petrobras, maior empresa do Brasil, desde a venda da companhia seja conduzida de acordo com um rigoroso processo regulatório.

Uma vez um tabu na política brasileira por conta de preocupações com a soberania nacional, a privatização da Petrobras deve se tornar uma questão importante na campanha deste ano, conforme o Brasil luta para controlar um insustentável déficit orçamentário.

A esquerda brasileira rejeita fortemente a venda da Petrobras, mas o líder da esquerda nas pesquisas de opinião até o momento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve ser impedido de concorrer devido a uma condenação por corrupção e não há um candidato óbvio para substituí-lo.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, disse ainda neste mês avaliar que a sociedade brasileira não deseja a privatização da Petrobras.

“Sob o ponto de vista da Petrobras, qualquer discussão sobre eventual possibilidade de privatização, neste momento, teria um efeito perturbador”, afirmou Parente a jornalistas em 7 de fevereiro.

https://exame.abril.com.br/economia/alckmin-diz-que-privatizaria-petrobras-se-vencesse-eleicao/

Offline Lorentz

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #407 Online: 26 de Fevereiro de 2018, 22:57:01 »
Que insano. Todos nós entreguistas sempre defendemos a privatização ou extinção do BNDES.


Sempre ?  Em 1994  (ou antes) todos   vocês  "entreguistas"  já defendiam a privatização ou extinção do BNDES ?  Pode apresentar provas de que você já fazia isso em 1994 ou antes ?




https://exame.abril.com.br/economia/devia-ser-proibido-criar-estatal-diz-diretora-do-bndes-de-fhc/

Citar
Landau foi diretora da área de desestatização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso.
"Amy, technology isn't intrinsically good or bad. It's all in how you use it, like the death ray." - Professor Hubert J. Farnsworth

Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #408 Online: 03 de Março de 2018, 06:36:16 »
Que insano. Todos nós entreguistas sempre defendemos a privatização ou extinção do BNDES.


Sempre ?  Em 1994  (ou antes) todos   vocês  "entreguistas"  já defendiam a privatização ou extinção do BNDES ?  Pode apresentar provas de que você já fazia isso em 1994 ou antes ?




https://exame.abril.com.br/economia/devia-ser-proibido-criar-estatal-diz-diretora-do-bndes-de-fhc/

Citar
Landau foi diretora da área de desestatização do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no governo Fernando Henrique Cardoso.



Repare que o  Gauss  digitou :  "Todos nós "


Se ele tivesse digitado:  "algumas pessoas" ,  aí certamente estaria certo.



Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #409 Online: 03 de Março de 2018, 06:38:29 »


Sugiro que tenha cuidado com o uso da palavra todos(as), pois é geralmente fácil falsificar  proposições  com tais palavras, principalmente se elas se referirem à comportamentos humanos.

Offline Gauss

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #410 Online: 03 de Março de 2018, 10:12:00 »
Sugiro que tenha cuidado com o uso da palavra todos(as), pois é geralmente fácil falsificar  proposições  com tais palavras, principalmente se elas se referirem à comportamentos humanos.
Ok. Todos nós 'neoentreguistas' sempre fomos favoráveis...
Citação de: Gauss
Bolsonaro é um falastrão conservador e ignorante. Atualmente teria 8% das intenções de votos, ou seja, é o Enéas 2.0. As possibilidades desse ser chegar a presidência são baixíssimas, ele só faz muito barulho mesmo, nada mais que isso. Não tem nenhum apoio popular forte, somente de adolescentes desinformados e velhos com memória curta que acham que a ditadura foi boa só porque "tinha menos crime". Teria que acontecer uma merda muito grande para ele chegar lá.

Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #411 Online: 03 de Março de 2018, 19:45:37 »
Sugiro que tenha cuidado com o uso da palavra todos(as), pois é geralmente fácil falsificar  proposições  com tais palavras, principalmente se elas se referirem à comportamentos humanos.
Ok. Todos nós 'neoentreguistas' sempre fomos favoráveis...



Basta que eu encontre apenas um "neoentreguista" que não tenha sido sempre favorável, para que esta sua proposição seja falsificada.



Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #412 Online: 03 de Março de 2018, 20:29:33 »
às picuinhas dá se o nome de debate e o que estava sendo debatido era sua informação errada (como provado) de que as estatais eram tão eficientes quanto as privadas.
Como esse seu posicionamento se dá em conjunção com outros tão extravagantes (Lula não sabia de nada, se deve destruir propriedade alheia e produtiva se quem destrói é a esquerda, Dirceu guerreiro do povo, essas coisas) é óbvio que o debate ocorre, e ocorre de uma maneira que você não se mantém, sempre.

E quer saber, eu continuarei debatendo  :hihi:. Faz bem e eu gosto.


Ta bom, para mim deu. Acho que minha paciência com essas infantilidades já acabou. Até algum dia. Regozije-se por ser tão bom em argumentos falaciosos.

E como ultima frase vou deixar para você: Lula e o cara.


O Lula ainda é o cara  ?


« Última modificação: 03 de Março de 2018, 20:34:54 por JJ »

Offline Fabrício

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #413 Online: 05 de Março de 2018, 13:28:38 »
Citação de: JJ
O Lula ainda é o cara  ?

Se você reparar bem no post do Juca, vai ver que não tem assento no "e". Logo, não é Lula É o cara, ele quis dizer Lula "E" o cara. Esse "cara" a quem ele se refere é um amigo do Lula, que paga as contas dele, compra sítios e triplex em seu nome para o Lula usufruir, faz um monte de merda, rouba, e nunca conta nada pro Lula.
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Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #414 Online: 05 de Março de 2018, 14:02:27 »
Citação de: JJ
O Lula ainda é o cara  ?

Se você reparar bem no post do Juca, vai ver que não tem assento no "e". Logo, não é Lula É o cara, ele quis dizer Lula "E" o cara. Esse "cara" a quem ele se refere é um amigo do Lula, que paga as contas dele, compra sítios e triplex em seu nome para o Lula usufruir, faz um monte de merda, rouba, e nunca conta nada pro Lula.


Pois é. Coitado do  Lula, ele se esforçou tanto para chegar no mais alto posto da república  para representar e fazer a vontade do  PT/Nomenklatura   povo, mas infelizmente ele foi traído pelos amigos.

Muito triste isso.  :'(

 

Offline Lorentz

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #415 Online: 05 de Março de 2018, 15:45:40 »
Já apoiei fanaticamente o Aécio. Hoje não mais. Não vejo problema com o Juca apoiando Lula no passado. Só seria problema se ele ainda apoiasse o Lula nos dias de hoje. Não parece ser o caso.
"Amy, technology isn't intrinsically good or bad. It's all in how you use it, like the death ray." - Professor Hubert J. Farnsworth

Offline Fabrício

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #416 Online: 05 de Março de 2018, 16:16:59 »
Já apoiei fanaticamente o Aécio. Hoje não mais. Não vejo problema com o Juca apoiando Lula no passado. Só seria problema se ele ainda apoiasse o Lula nos dias de hoje. Não parece ser o caso.

Depende de até onde vai esse passado, Lorentz. O Juca continuou apoiando o Lula mesmo bem depois de ficar óbvio que ele não era "o cara". Hoje em dia não sei se apóia mais.

Eu também já apoiei (talvez não fanaticamente, mas votei nele) o Aécio. Já até mesmo elogiei a Dilma no início do governo dela  :vergonha:, e até achava que o Lula era honesto quando ganhou a primeira vez para Presidente (como eu era ingênuo), embora nunca tenha gostado dele ou do PT.

É como diz o clichê, errar é humano, permanecer no erro é que é burrice.
« Última modificação: 05 de Março de 2018, 16:19:00 por Fabrício »
"Deus prefere os ateus"

Offline Cinzu

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #417 Online: 01 de Junho de 2018, 19:57:11 »

Debate produtivo. Recomendo.
"Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de acreditar"

Offline _Juca_

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #418 Online: 02 de Junho de 2018, 11:17:40 »
Citação de: JJ
O Lula ainda é o cara  ?

Se você reparar bem no post do Juca, vai ver que não tem assento no "e". Logo, não é Lula É o cara, ele quis dizer Lula "E" o cara. Esse "cara" a quem ele se refere é um amigo do Lula, que paga as contas dele, compra sítios e triplex em seu nome para o Lula usufruir, faz um monte de merda, rouba, e nunca conta nada pro Lula.

 :rola:

Fabricio, você é o melhor.

Offline JJ

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #419 Online: 04 de Julho de 2018, 15:48:41 »

Enquanto Rio privatiza, por que Paris, Berlim e outras 265 cidades reestatizaram saneamento?

Júlia Dias Carneiro

Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

23 junho 2017


Serviços inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes são motivos para a reestatização


Enquanto iniciativas para privatizar sistemas de saneamento avançam no Brasil, um estudo indica que esforços para fazer exatamente o inverso - devolver a gestão do tratamento e fornecimento de água às mãos públicas - continua a ser uma tendência global crescente.

De acordo com um mapeamento feito por onze organizações majoritariamente europeias, da virada do milênio para cá foram registrados 267 casos de "remunicipalização", ou reestatização, de sistemas de água e esgoto. No ano 2000, de acordo com o estudo, só se conheciam três casos.

Satoko Kishimoto, uma das autoras da pesquisa publicada nesta sexta-feira, afirma que a reversão vem sendo impulsionada por um leque de problemas reincidentes, entre eles serviços inflacionados, ineficientes e com investimentos insuficientes. Ela é coordenadora para políticas públicas alternativas no Instituto Transnacional (TNI), centro de pesquisas com sede na Holanda.

'É como dar cheque em branco': privatizar estatal de água para sanar rombo no Rio é medida 'imediatista', diz relator da ONU


"Em geral, observamos que as cidades estão voltando atrás porque constatam que as privatizações ou parcerias público-privadas (PPPs) acarretam tarifas muito altas, não cumprem promessas feitas inicialmente e operam com falta de transparência, entre uma série de problemas que vimos caso a caso", explica Satoko à BBC Brasil.


O estudo detalha experiências de cidades que recorreram a privatizações de seus sistemas de água e saneamento nas últimas décadas, mas decidiram voltar atrás - uma longa lista que inclui lugares como Berlim, Paris, Budapeste, Bamako (Mali), Buenos Aires, Maputo (Moçambique) e La Paz.


Sakoto Kishimoto, coordenadora para políticas públicas alternativas no Instituto Transnacional (TNI)

Privatizações a caminho

A tendência, vista com força sobretudo na Europa, vai no caminho contrário ao movimento que vem sendo feito no Brasil para promover a concessão de sistemas de esgoto para a iniciativa privada.

O BNDES vem incentivando a atuação do setor privado na área de saneamento, e, no fim do ano passado, lançou um edital visando a privatização de empresas estatais, a concessão de serviços ou a criação de parcerias público-privadas.

À época, o banco anunciou que 18 Estados haviam decidido aderir ao programa de concessão de companhias de água e esgoto - do Acre a Santa Catarina.

O Rio de Janeiro foi o primeiro se posicionar pela privatização. A venda da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae) é uma das condições impostas pelo governo federal para o pacote de socorro à crise financeira do Estado.

A privatização da Cedae foi aprovada em fevereiro deste ano pela Alerj, gerando polêmica e protestos no Estado. De acordo com a lei aprovada, o Rio tem um ano para definir como será feita a privatização. Semana passada, o governador Luiz Fernando Pezão assinou um acordo com o BNDES para realizar estudos de modelagem.


Da água à coleta de lixo, 835 casos de reestatização

Satoko e sua equipe começaram a mapear as ocorrências em 2007, o que levou à criação de um "mapa das remunicipalizações" em parceria com o Observatório Corporativo Europeu.


O site monitora casos de remunicipalização - que podem ocorrer de maneiras variadas, desde privatizações desfeitas com o poder público comprando o controle que detinha "de volta", a interrupção do contrato de concessão ou o resgate da gestão pública após o fim de um período de concessão.


A análise das informações coletadas ao longo dos anos deu margem ao estudo. De acordo com a primeira edição, entre 2000 e 2015 foram identificados 235 casos de remunicipalização de sistemas de água, abrangendo 37 países e afetando mais de 100 milhões de pessoas.


Nos últimos dois anos, foram listados 32 casos a mais na área hídrica, mas o estudo foi expandido para observar a tendência de reestatização em outras áreas - fornecimento de energia elétrica, coleta de lixo, transporte, educação, saúde e serviços sociais, somando um total de sete áreas diferentes.


Em todas esses setores, foram identificados 835 casos de remunicipalização entre o ano de 2000 e janeiro de 2017 - em cidades grandes e capitais, em áreas rurais ou grandes centros urbanos. A grande maioria dos casos ocorreu de 2009 para cá, 693 ao todo - indicando um incremento na tendência.


O resgate ou a criação de novos sistemas geridos por municípios na área de energia liderou a lista, com 311 casos - 90% deles na Alemanha.


A retomada da gestão pública da água ficou em segundo lugar. Dos 267 casos, 106 - a grande maioria - foram observados na França, país que foi pioneiro nas privatizações no setor e é sede das multinacionais Suez e Veolia, líderes globais na área.


Estação de Tratamento de Água (ETA) Guandu, em Nova Iguaçu (RJ)
Fácil fazer, difícil voltar atrás


De acordo com o estudo, cerca de 90% dos sistemas de água mundiais ainda são de gestão pública. As privatizações no setor começaram a ser realizadas nos anos 1990 e seguem como uma forte tendência, em muitos casos impulsionadas por cenários de austeridade e crises fiscais.


Satoko diz ser uma "missão impossível" chegar a números absolutos para comparar as remunicipalizações, de um lado, e as privatizações, de outro. Estas podem ocorrer em moldes muito diferentes, seja por meio de concessões de serviços públicos por determinados períodos, privatizações parciais ou venda definitiva dos ativos do Estado.


Entretanto, ela frisa a importância de se conhecer os riscos que uma privatização do fornecimento de água pode trazer e as dificuldades de se reverter o processo.


"Autoridades que tomam essa decisão precisam saber que um número significativo de cidades e estados tiveram razões fortes para retornar ao sistema público", aponta Satoko.


"Se você for por esse caminho, precisa de uma análise técnica e financeira muito cuidadosa e de um debate profundo antes de tomar a decisão. Porque o caminho de volta é muito mais difícil e oneroso", alerta, ressaltando que, nos muitos casos que o modelo fracassou, é a população que paga o preço.


Como exemplo ela cita Apple Valley, cidade de 70 mil habitantes na Califórnia. Desde 2014, a prefeitura vem tentando se reapropriar do sistema de fornecimento e tratamento de água por causa do aumento de preços praticado pela concessionária (Apple Valley Ranchos, a AVR), que aumentou as tarifas em 65% entre 2002 e 2015.


Litígios dispendiosos

A maioria da população declarou apoio à remunicipalização, mas a companhia de água rejeitou a oferta de compra pela prefeitura. Em 2015, a cidade de Apple Valley entrou com uma ação de desapropriação, e o processo agora levar alguns anos para ser concluído.


Satoko afirma que há inúmeros casos de litígios similares, extremamente dispendiosos aos cofres públicos e que geralmente refletem um desequilíbrio de recursos entre as esferas públicas e privadas.


"Quando as autoridades locais entram em conflito com uma companhia, vemos batalhas judiciais sem fim. Em geral, as empresas podem mobilizar muito mais recursos, enquanto o poder público tem recursos limitados, e muitas vezes depende de dinheiro proveniente de impostos para enfrentar o processo."


'Cortei meus pulsos porque não tinha opção': o drama das meninas obrigadas a se casar
Outro exemplo que destaca é o de Berlim, onde o governo privatizou 49,99% do sistema hídrico em 1999. A medida foi extremamente impopular e, após anos de mobilização de moradores - e um referendo em 2011 -, ela foi revertida por completo em 2013. Foi uma vitória popular, diz Satoko, mas por outro lado o Estado precisou pagar 1,3 bilhão de euros para reaver o que antes já lhe pertencia.


"É um caso muito interessante, porque a iniciativa popular conseguiu motivar a desprivatização", diz Satoko. "Mas isso gerou uma grande dívida para o Estado, que vai ser paga pela população ao longo de 30 anos."


Realidade brasileira


Já tem uma década que a Lei do Saneamento Básico entrou em vigor no Brasil, mas metade do país continua sem acesso a sistemas de esgoto.


De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, 50,3% dos brasileiros têm acesso a coleta de esgoto. Para a outra metade do país - 100 milhões de pessoas - o jeito de lidar com dejetos é recorrer a fossas sanitárias ou jogar o esgoto diretamente em rios. Já o abastecimento de água alcança hoje 83% dos brasileiros.


O economista Vitor Wilher afirma que não se pode ignorar esse cenário. Especialista do Instituto Millenium, ele considera que, no Brasil, a privatização seria uma solução do ponto de vista técnico e pragmático.


A apresentadora japonesa que desafia tabu e relata luta contra câncer em blog
Ao deter controle de outras áreas que poderiam ser geridas pela iniciativa privada - como saneamento básico, correios, indústria de petróleo - o Estado brasileiro não consegue oferecer serviços básicos de qualidade, como segurança, educação e saúde, afirma.


"Na situação a que chegamos, porém, é meio irrelevante discutir se o Estado brasileiro deveria ou não cuidar dessas áreas. Porque o fato é que o Estado não tem mais recursos para isso", diz o economista.

Direito de imagemAFP
Image caption


Governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (direita), assina acordo de cooperação técnica com presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, para que o banco faça a modelagem da concessão da Cedae.


"Os recursos estão de tal sorte escassos que ou o Estado privatiza, ou essas áreas ficam sem investimento. Hoje mais de metade da população não tem saneamento básico. Um Estado que gera um deficit primário da ordem de quase R$ 200 bilhões ao ano não tem qualquer condição de fazer os investimentos públicos necessários no setor."


Moeda de troca para austeridade


O caso do Rio, e da Cedae, é semelhante ao de outros países em que a privatização de serviços públicos é exigido por instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial como contrapartida para socorro financeiro.


Satoko lembra o caso da Grécia, onde a privatização das companhias de água que abastecem as duas maiores cidades do país, Atenas e Thessaloniki, era uma das exigências do programa de resgate ao país.



"É um approach absolutamente injusto, porque a companhia de águas é vendida meramente para pagar uma dívida. Mas, com isso, o dinheiro entra no orçamento público e imediatamente desaparece. Depois disso, a empresa já saiu das mãos públicas - ou indefinidamente, ou por períodos de concessão muito longos, que costumam ser de entre 20 a 30 anos", pondera.


No papel, a Cedae é uma empresa de economia mista, mas o governo estadual do Rio detém 99,9% das ações. A companhia atende cerca de 12 milhões de pessoas em 64 municípios.


"No caso específico da Cedae, a entrega da gestão a iniciativa privada é ainda mais justificada", considera Wilher, do Instituto Millenium.


"Além de a situação fiscal do Rio ser crítica, a Cedae não tem serviços de tratamento de água e esgoto satisfatórios há décadas", diz ele, citando como contraponto o caso de Niterói, cidade vizinha ao Rio, em que a desvinculação da companhia pública e a privatização da rede de água levou a bons resultados. "É um dos cases de sucesso nos últimos anos no Brasil."


Apesar das muitas deficiências que costumam ser apontados na qualidade e na abrangência do serviço prestado, a Cedae tem ganhos expressivos: só em 2016 o lucro foi de R$ 379 milhões, contra R$ 249 milhões em 2015 - um incremento de 52%.


Satoko afirma que o argumento da ineficiência de sistemas públicos de esgoto não podem ser uma justificativa para a privatização.


"Seus defensores apresentam a privatização como a única solução, mas há muitos bons exemplos no mundo de uma gestão pública eficiente. Afinal, 90% do fornecimento de água no mundo é público", lembra. "A solução não é privatizar, e sim democratizar os serviços públicos."

O economista Vitor Wilher ressalta, entretanto, que privatizar não significa uma saída de cena do estado. Uma parte fundamental do processo é uma estrutura de regulação sólida, estabelecendo obrigações, compromissos, prazos, políticas tarifária.


"Não se trata de entregar para a iniciativa privada. Os contratos têm que estar muito bem amarrados, senão a empresa poderia praticar os preços que quisesse e descumprir os serviços que lhe foram designados. Isso é um ponto importantíssimo. Não basta só privatizar, é preciso regular."


Na Grécia, privatização de algumas companhias de água era uma das exigências do programa de resgate ao país.


Lógica do lucro 'incompatível' com serviços?


O estudo da remunicipalização de serviços aponta para incompatibilidades entre o papel social de uma companhia de água e saneamento com as necessidades de um grupo privado. Os serviços providos são direitos humanos fundamentais, atrelados à saúde pública e que, pelas especificidades do setor, precisam operar como monopólio.


Satoko considera que grupos privados não têm incentivo para fazer investimentos básicos que não teriam uma contrapartida do ponto de vista empresarial. No caso do Rio, por exemplo, investimentos necessários para aumentar o saneamento em áreas carentes não dariam retorno, considera.


"Com a concessão para grupos privados, a lógica de operação da companhia muda completamente. Os ativos não pertencem mais ao público. Ela passa a ter que gerar lucros e dividendos que sejam distribuídos para acionistas", diz Satoko.


"O risco é enorme. Sistemas de água não pertencem ao governo, e sim ao povo. Se esse direito se perde, torna-se mais difícil implementar políticas públicas."


A discussão necessária, considera Satoko, é como tornar uma companhia de saneamento mais eficiente e lucrativa para a sociedade. Quando a dívida pública se estabelece como prioridade, não há mais espaço para esse debate.


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40379053








Offline Geotecton

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #420 Online: 04 de Julho de 2018, 18:19:05 »
Citar
[...]
"Se você for por esse caminho, precisa de uma análise técnica e financeira muito cuidadosa e de um debate profundo antes de tomar a decisão. Porque o caminho de volta é muito mais difícil e oneroso", alerta, ressaltando que, nos muitos casos que o modelo fracassou, é a população que paga o preço.
[...]

A frase destacada em negrito mostra o grau ou de desinformação (menos plausível) ou de desonestidade (mais plausível) desta tal de Sakoto Kishimoto.

Qual é o caso de corrupção e ou má-gestão de um serviço público estatal em que a população NÃO paga o preço?
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #421 Online: 04 de Julho de 2018, 19:02:32 »
Acho que é no sentido de que, privatização vende a idéia de que será tudo uma maravilha e "nós não vamos pagar nada", como diria Raul Seixas.

Mas muitas vezes pode ser só um esquemão de enriquecimento às custas de dinheiro público ainda assim, e entregar a mesma merda ou pior.

Não está necessariamente implícito (ao menos nessa frase em específico), que na administração estatal não existe qualquer risco; é apenas um alerta contra a ilusão de não haver o mesmo risco de outra forma.

Offline -Huxley-

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #422 Online: 04 de Julho de 2018, 22:13:53 »
Não é demais mencionar que substituir uma empresa estatal por um monopólio privado estabelecido pelo Estado NÃO É desestatização. Digo isso porque o Estado estabelecer monopólio no setor mencionado (água e saneamento) foi justamente aquilo que os policymakers geralmente fizeram ao redor do mundo. E, onde não existiu monopólio na privatização, como no Reino Unido, existiu coisa ruim equivalente: o socialista controle de preços:

Citar
Por fim, a privatização dos serviços de fornecimento de água foi a mais insatisfatória de todas.  De acordo com os livros-texto, esse setor é o que mais se aproxima do conceito de "monopólio natural".  A infraestrutura requerida é cara e altamente especializada.  Qualquer duplicação feita por potenciais concorrentes seria proibitiva, embora possível.  Consequentemente, e sempre de acordo com a teoria neoclássica, essa é uma área da qual não se deve esperar qualquer tipo de concorrência que mantenha preços razoáveis e bons serviços.

Logo, qual foi a solução britânica?  Estabelecer a mais poderosa das agências reguladoras, a Office of Water Services (OFWAT), cuja medida, para não desapontar, foi estabelecer controle de preços e impor punições baseadas em performances relativas para as 25 empresas que atuam no setor, todas em lugares distintos.  E qual é a maior reclamação dos britânicos?  Ora, os preços altos, justamente aquilo que é controlado com mais rigor pela OFWAT.

Fonte: https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=637

« Última modificação: 04 de Julho de 2018, 22:16:44 por -Huxley- »

Offline Buckaroo Banzai

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #423 Online: 04 de Julho de 2018, 23:08:16 »


A sugestão implícita é que seria mais barato sem mesmo o controle de preços?





<a href="https://www.youtube.com/v/nP95Frc0v4k" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/nP95Frc0v4k</a>

Offline -Huxley-

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Re:PRIVATIZAÇÕES...boas ou más ?
« Resposta #424 Online: 05 de Julho de 2018, 00:09:40 »
Controle de preços em setor concorrencial é uma desgraça que leva a efeitos multiplicativos que afeta inclusive a qualidade do bem ofertado. Tudo é caro quando a qualidade é suficientemente ruim.
« Última modificação: 05 de Julho de 2018, 00:12:22 por -Huxley- »

 

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