Não seria democracia representativa se não tivesse corrupção, não é mesmo? 
Não estou tentando defender o PT, nem a esquerda para falar a verdade, mas qualquer um que decida acusá-los de utilizar discursos populistas para manipular as massas de manobra (acusações, até certo ponto, justas), não pode ignorar que o próprio discurso da maioria esmagadora dos defensores da direita se sustenta em senso comum.
O PT representa um risco? Só se a própria democracia representar. Se de um lado tem discurso populista, do outro tem a alienação da mídia. Fica difícil dizer, independente do partido que esteja no poder, que a vitória nas eleições (ou nas ruas, se for o caso) se deu por uma manifestação democrática de uma população politicamente consciente.
Precisamos de um debate mais conciso entre a população, algo diferente dessa enxurrada de "ad hominens" e "tu quoques", mas fica difícil se o povo fica assistindo Big Brother e novelas no tempo livre, completamente alheio ao cenário político doméstico e internacional, que, por sinal, está pegando fogo. Vale lembrar que não assistem isso por opção, mas sim por falta dela.
Em uma época em que até criança de dez anos tem celular com internet já se foi o tempo em que a Bobo ou outra emissora qualquer tinha algum poder de influenciar a população.
Não estamos mais no tempo em que só existiam meia dúzia de canais abertos.
Só não toma conhecimento do que acontece ao redor quem não quer isso.
Poderia ter colocado até menos de dez anos, eu com sete já tinha e isso foi dez anos atrás, imagina hoje. A questão é que isso não ajuda em muita coisa. A criança ganha o celular, e vai usar o que nele? A mesma coisa que vê os pais usando. Joguinhos para a plataforma mobile, Facebook, Twitter... YouTube? Só Canal Parafernalha, Porta dos Fundos e 5 alguma coisa. A coisa mais profunda é um vídeo de auto-ajuda compartilhado por parentes ou amigos nas redes sociais.
Ou você acha que ela vai ouvir falar de TED, Khan Academy, Veduca, Quora, Clube Cético (do qual eu só recentemente fiquei sabendo por pura sorte) ou uma fonte de notícias um pouco imparcial? No máximo Wikipédia, e só para copiar e colar nas pesquisas escolares.
Os que têm acesso a TV por assinatura também não estão muito à frente. Vão ver teorias conspiratórias no History Channel, alguns documentários interessantes no National Geographic e no Discovery e aprender um pouco sobre reprodução de grandes felinos no Animal Planet.
Os garotos vão usar para assistir MaxPrime depois da meia-noite.
E ainda assim, conteúdo cultural importado de um país que tem uma população cientificamente analfabeta (26% dos americanos não sabem que a Terra orbita o Sol) dificilmente serve de consolo.
Talvez eu tenha feito uma afirmativa um tanto equivocada quando disse que faltam opções. Talvez as opções estejam lá, mas ainda assim, não são utilizadas. Por que?
Infelizmente a gente vive em uma sociedade que cultua a ignorância e a estupidez. Carl Sagan apontou isso, lá em 1997, e quem é que vai negar que é a nossa realidade hoje? O brasileiro vê conhecimento como algo descartável, uma ferramenta que só serve para conseguir um diploma e posteriormente, estabilidade financeira. Depois disso pode jogar tudo fora. Quando se especializa e o trabalho fica mecânico, aprender para que? É triste ver professores de ensino médio dizendo que a importância de ler livros é ter conteúdo para a redação. Mais triste ainda é ver darwinismo ter que dividir uma aula de cinquenta minutos com lamarckismo e criacionismo porque
"tem que correr com o conteúdo, estudar as coisas que caem mais no vestibular".
Acho que a alienação é uma questão muito mais profunda do que
"é ignorante porque quer". Não descarto a possibilidade da ignorância ser auto-infligida, mas tem que ser feita uma análise mais profunda a respeito disso:
Se é auto-infligida, por quê é assim? O que precisamos mudar na educação para resolver esse problema? Não vejo nenhum partido fazendo essa reflexão, ou apresentando soluções radicais para isso. A ignorância das massas é cômoda para os dois lados.