Minha análise rasa e ligeira:
O PSDB mereceu a derrota.
Apesar de Aécio ter se mostrado muitas e muitas vezes ser a melhor opção, faltou a ele ter se lançado mais cedo a ser um nome nacionalmente conhecido.
O PSDB passou 12 anos "encostado", acomodado, latindo fino, com medo de chatear o governo.
Quem está à frente do país desde 2002 é um partido de vigaristas profissionais. Não são amadores nem amarram ponta sem nó.
Se alguma liderança se candidata a enfrentar o PT e sua trupe precisa saber que vai enfrentar cachorro grande.
O PSDB descansou na sombra e água fresca todo esse tempo.
Onde estava a oposição de Aécio Neves no Senado nesses últimos anos? Eu quase não o vi. Quando tinha alguma fala de oposição, eu só me lembro de Álvaro Dias ou Agripino Maia. E Aécio? Estava na sombra, estava descansando.
Resultado: ficou ausente, não marcou terreno, não foi visto, não passou a ser conhecido.
Por outro lado, a população brasileira que pedia e esperava (espera) por mudanças é um grupo de pessoas muito, mas muito diferente do petista típico. O mote aqui é ativismo.
Nesse aspecto, o militante petista está anos-luz à frente do restante da população. O militante petista é, para início de conversa, um apaixonado. É aquela pessoa que possui sangue eletrificado correndo nas veias quando o assunto é o seu partido. É aquela pessoa que grita, urra, se assanha, se movimenta freneticamente e vibra com todas as suas frequências quando o seu partido está no palco. Ele dá a sua alma, ele é fiel ao extremo, ele vende a mãe pelo seu querido PT.
Esse é o melhor soldado que um grupo pode ter.
E lutar contra um exército assim, fica quase impossível ganhar. Muito menos o brasileiro típico, pacato, pacífico, complacente com muito de errado que já existia e que aumentou de 2002 para cá e também aquele tipo do famosíssimo "jeitinho brasileiro", malemolente e gente boa. Com a chegada das tais redes sociais, pronto! Temos o quadro perfeito para o oposto do militante petista, que se rasga, que vai às ruas, que invade universidades, que usa e conhece a fundo um megafone, que faz reuniões em sindicatos, que aglutina pessoas insatisfeitas com o patrão, com o salário ou com as condições de trabalho, carga horária e essas coisas. Enquanto o brasileiro comum foi fazer um sanduíche para folhear e responder os seus contatos do Facebook, sentado numa boa poltrona em casa, o militante petista vestiu vermelho, desembrulhou a sua bandeira com estrela, prendeu um broche com o sorriso do Lula no peito da camisa e foi às ruas, às favelas, aos grotões, aos sindicatos, às fábricas, às universidades, ao comércio,... foi à luta.
O brasileiro manso, achando que se compartilhasse muito material de Aécio Neves entre seus amigos e familiares, conseguiria fazer que seu candidato Aécio superasse a criatura de Lula. Quanto despreparo...
O PT, debaixo de um mar de lama gigantesco como o que ora se apresenta, com muitos membros da cúpula presos, mas tidos como heróis, com o maior assalto já visto na história do país a um patrimônio que é a Petrobras, que vem sendo ordenhada sistematicamente desde o tempo do Mensalão, com a economia despencando assustadoramente, com a inflação sempre fora do centro da meta e subindo, com a carga tributária nas nuvens, com os índices de educação sempre aparecendo na rabeira e lanterninha de qualquer ranking educacional entre os outros países do mundo, com o setor elétrico administrado de forma irresponsável com vem sendo, com a gestão equivocada dos preços de combustíveis anos a fio, com a maquiagem geral e enganosa de tudo quanto é índice de política de Estado, enfim, com tudo que seria um prato cheio para a oposição criticar construtivamente e apontar melhores caminhos, não o fez devidamente, não trabalhou de forma eficiente para mostrar com clareza ao eleitor o desastre que essa administração tem sido. Cochilou.
O PT entregou o prato para que qualquer oposição viril pudesse subir no palanque e fazer a sua campanha, honesta, mas firme e com vitória. Cochilou.
Tem ainda a questão dos movimentos anexos ao PT que constumam sequestrar o país, como é o caso do MST, MTST e afins, que vez por outra está ameaçando, fechando rodovias, invadindo, destruindo plantações, quebrando pesquisas, fazendo o diabo. Esses movimentos todos, que são inúmeros, ficaram quietinhos nessas eleições. Ninguém ouviu falar nada deles. Que também recebem dinheiro público em boa quantidade para continuar a prestar fidelidade ao partido para o que der e vier. As oposições não abordaram em nada a existência e participação desses movimentos que sempre viveram sob as asas do PT. Nem mesmo um debate nacional sobre o assunto. O PT os deixou quietinhos, pois a lembrança deles poderia atrapalhar os planos de reeleição.
Resumo: mesmo com tudo isso, uma montanha de fatos que podiam ter sido bem explorados para mostrar o mal que esse partido faz ao país, mesmo com tudo isso, com tanto argumento, a oposição não soube aproveitar o momento. Aécio se ausentou do debate nacional para só aparecer no final, as oposições foram raquíticas em suas ações, o brasileiro que quer mudança e alternância de poder se sentou na poltrona e o PT jantou todo mundo.
Some-se a todos esses problemas o aparelhamento de toda a máquina governamental. Os bancos estatais aumentaram em muito suas diretorias, as empresas estatais todas também. Há companheiro em todos os níveis hierárquicos de qualquer organização governamental, recebendo gordos DAS's somente para marcar presença, todos fiéis e obedientes às ordens emanadas do partido.
Some-se ainda os carimbos de "SIGILOSO" em tudo quanto é empréstimo a países amigos da ideologia, nomeação de ex-advogados do partido ao STF (Toffoli) e STE (Admar Gonzaga), quando não pessoas de confiança para cargos de Estado como esses dois tribunais, marcando espaço em tudo quanto é lugar na República das Bananas. Preparem-se para a nova safra de ministros do STF... Tem aposentadorias à vista.
Some-se a isso, a enorme lista de imprensa chapa-branca, toda ela muito bem paga com dinheiro nosso para badalar e bajular o papai Lula e a mamãe Dilma, e as maravilhosas realizações do governo petista do coração. Imprensa suja e violenta, que só canta afinado com quem lhe paga. Lacaios.
E ainda mais o novo escândalo das paradas de sucesso, o famoso Petrolão, beirando a semana das eleições, mas que foi cuidadosamente abafado como sendo tentativa de golpe.
O que o partido fez: acionou sua militância fiel e ativa, que não fica em poltrona nem somente em Facebook, e saiu a campo a espalhar uma chuva de mentiras sobre Bolsa Família, sobre arrocho salarial, sobre isso, sobre aquilo, num ação coordenada de norte a sul, que envolveu comitê de ex-ministra, quando menos. Assombrou a população que não tem conhecimento de temas mais elaborados da situação nacional e plantou o medo geral. Plantar o medo geral em pessoas que não entendem de taxa de juros, crescimento econômico é acertar na mosca. Aquele trabalhador humilde quer garantir o leite das crianças e se estão falando que o outro candidato vai acabar com isso, "cruz-credo, eu voto na Dilma, que é mais certo".
Ou seja, o PT é profissional. O PT é aguerrido. O PT é apaixonado. O PT vai à luta. O PT não se acomoda. O PT se mexe. O PT é articulado. O PT se organiza.
O brasileiro médio é pacato, paciente, apolítico, acomodado, desarticulado e desorganizado politicamente.
Para o PT sair do governo, com o nível de aparelhamento do Estado e cooptação da população desinformada e amedrontada, é necessário um gigantesco movimento nacional de conscientização, numa campanha limpa e honesta, mas dura e denunciante, crítica e também profissional, com o PT já é.
As oposições foram tudo o que o PT quis ao longo desses 12 anos: um movimento fraco, tímido e
O rolo-compressor do governo faz o que quiser com uma oposição como essa. Tomemos como exemplo as CPIs da Petrobras. Tudo apontando a roubalheira desenfreada na estatal e as CPIs fazendo leituras de horas e horas de linguiça para esgotar prazo e não dar nada em nada, abafar tudo e "vamos esquecer isso".
Oposição assim não é oposição. O PT sempre teve a faca e o queijo.
Faltava ao brasileiro esse gosto mais intenso pela política, sair de sua zona de conforto, apontar o caminho do que deseja e espera dos governantes.
Talvez tenha sido bom perder. Muitos despertaram e viram o profissionalismo do PT.
Pode ter sido a semente desse novo horizonte para o país.
Portanto, contra a minha vontade eu reconheço: o PT mereceu* ganhar. Fez o dever de casa, mesmo que tenha trapaceado muuuuiiiito!
*"mereceu" no sentido de que os fins justificaram os meios (sujos e desonestos), e não no sentido de ter tido méritos para isso.