Senhores,
Enquanto se perdem em discussões sobre superficialidades, questões ideológicas e até religiosas, que via de regra, na História, são sempre pretextos e nunca a causa dos conflitos, deixam de enxergar as mais prováveis e lógicas razões para toda essa tragédia que começou na Síria e agora se espalha pela região.
A União Européia já tornou público seu projeto de migrar parte de sua matriz energética ( hoje principalmente a base de urânio, diesel e carvão ) para gás. Mais limpo e mais seguro.
Quem pode fornecer esse gás para este imenso mercado?
A Europa só pode obter de 3 produtores disponíveis. O Qatar, a Rússia e o Iran. Qualquer que seja, o gás tem que passar pela Síria até o porto de Tartus , ou da Síria até a Turquia, e daí até a Europa.
A construção do gasoduto iraniano ( que passa pela Síria ) está em andamento. Disso também se beneficiaria outro adversário dos interesses norte-americanos, a Rússia, que utilizaria também o porto sírio para exportar o seu próprio gás. Tornando, dessa forma, a exportação do gás do Qatar economicamente inviável, ao mesmo tempo fortalecendo Rússia e Iran. Este último uma preocupação também para Israel.
Os Estados Unidos, então, se aliaram às pretensões do Qatar, e tem planos de construir o seu próprio gasoduto para levar o gás do Qatar até a Europa passando pela Síria. Obviamente, para isso, o regime pró-russo e aliado dos iranianos de Bashar Al Assad é um claro obstáculo que precisaria antes ser removido.
Na esteira dos acontecimentos nomeados como "primavera árabe" foi tramada uma insurreição contra o governo síria, acreditando os EUA que as coisas transcorreriam mais ou menos como na Líbia ou no Egito. Ocorre que, ao contrário do que a maioria possa imaginar, o regime de Assad não era tão totalitário, nem tão tirânico e nem tão impopular quanto a grande mídia nos faz querer pensar que é. Há vários bancos privados na Síria, partidos de oposição, relativa liberdade de expressão, governo secular, razoável nível sócio-econômico, educação e saúde pública de qualidade.
A Síria é um país bastante secularizado onde convivem além de xiitas e sunitas um grande número de cristãos e até judeus. Sem conflitos.
Razões estas pelas quais o levante artificialmente tramado de fora pra dentro não teve combustível para decolar. Aí começou a lambança e mais uma tragédia em larga escala, causada não pelo fundamentalismo islâmico, mas sim pela ganância de grandes poderes econômicos do Ocidente.
Porque não havendo apoio popular suficiente dentro da própria Síria para derrubar o regime, Qatar e Estados Unidos foram buscar em organizações extremistas os peões que eles precisavam para desestabilizar o governo de Bashar al Assad. Assim surgiu o ELS. Assim surgiu também a brigada Al-Nusra, que é afiliada a Al-Qaeda que oficialmente seria o inimigo N. 1 dos americanos, mas que é sempre bastante útil para este tipo de coisa.
Estados Unidos, Arábia Saudita, Qatar e alguns países da Europa ( e também com apoio de Israel que tem uma questão própria com o Iran ) começaram a despejar rios de dinheiro, além de quantidades assombrosas de equipamento militar, nesses idiotas fanáticos, perfeitos "inocentes úteis", uma vez que o ELS sozinho, que era basicamente de orientação secular e composto por sírios contrários ao regime, estava levando um pau feio na guerra!
Foi da efervescência desse caldo confuso, com muitas milícias e frentes se formando para lutar contra o regime Sírio, produto principalmente do grande investimento que estava disponível para esse fim, que surgiu o Estado Islâmico. Algo quase que previsível, já que a própria Al-Qaeda estava se beneficiando, recebendo dinheiro e armas como nunca, para mais uma vez atuar como peão para os interesses do Ocidente.
Estes imbecis acreditam que vão criar um califado governado pela Sharia, se opondo ao Ocidente, comprando as armas do Ocidente e com dinheiro financiado pelo Ocidente. Um califado que iria sobreviver do petróleo que iria vender para o.... OCIDENTE. Daí se vê o quão primário são estes idiotas, e o quão incapazes de protagonizar qualquer coisa no complexo jogo geo-político da região. Destinados que são a serem marionetes perfeitas, para essa ou aquela ocasião.
Ora como soldados avançados e descartáveis dos interesses daqueles que eles julgam estar combatendo, ora fazendo o papel de bestas terroristas e fornecendo convenientemente o pretexto e o discurso necessário às desejadas intervenções.