A movimentação de quantias expressivas também deve ser comunicada ao Banco Central pelos bancos. Acho que não é o caso da Petrobrás. Existem modos mais sofisticados de se movimentar valores que incluem transferências de títulos e sofisticadas operações que envolvem a triangulação de transferências entre empresas. É um exercício complicado de engenharia financeira baseada em brechas existentes na legislação. Normalmente existe um banco de investimentos fazendo isso com apoio de um ou mais parceiros no exterior. Tudo isso é muito bem articulado e conta com a experiência de instituições que atuam há muitos anos no mercado, muitas envolvidas com fluxo de dinheiro do comércio internacional de armas e do tráfico de drogas. Isso tudo é muito sofisticado e especializado, e acho difícil se achar algum rastro, a menos que tenha a mão de algum amador envolvido.
Pode não ser o caso da empresa, mas isso pode ser aplicado aos funcionários?
Por exemplo, o diretor X tem 73 milhões escondidos no exterior e diz que devolverá em acordo judicial.
Como essa grana saiu da empresa e acabou em uma conta no exterior no nome de um diretor? Ou ele tem alguma empresa de fachada lá fora para receber essa grana?
Colocando de um modo bem simplista.
O dinheiro não sai fisicamente, acontece uma troca. Sempre tem alguém querendo mandar dinheiro para fora e outros querendo receber dinheiro do exterior. A empresa A quer mandar R$ 1 para ser depositada numa conta XXX no exterior e procura um intermediário (doleiro) aqui no Brasil. O doleiro daqui tem um contato, intermediário financeiro no exterior, que conhece uma empresa B que precisa enviar R$ 1 para o Brasil para a conta YYY de um banco daqui. O doleiro daqui pega o dinheiro da empresa A e deposita aqui no Brasil na conta YYY da empresa B. O doleiro no exterior pega o dinheiro da empresa B e deposita na conta XXX da empresa A. Ambos cobram um percentual para realizar a operação. Na prática são muitas empresas em cada ponta e os intermediários só precisam acertar o saldo total da "transferência" e fazer a distribuição dos valores dentre muitas contas. As contas podem ser numeradas, os recursos podem "chegar" e imediatamente "sair" pelo mesmo processo para paraísos fiscais, fundos offshore, ações, commodities, imóveis, etc. e se pulverizarem dificultando o caminho de volta para uma eventual devolução. Existem acordos entre países que obrigam a identificação de contas, o Maluf e família é um exemplo de identificação, mas também existe a possibilidade de uso de laranjas. No caso dessa delação, provavelmente ele sabe que não tem como esconder e já se prontificou a devolver.
Também se usa empresas de fachada e subsidiárias de empresas brasileiras no exterior, isso envolve engenharia financeira complicada e escritórios de advocacia muito competentes para orientar as brechas que podem ser exploradas. Nesses casos as operações podem ser totalmente legais.