Ao criticar os delatores, Dilma admitiu a própria culpa.
Que pataquada aquela entrevista dela. "Eu não respeito delator porque tentaram me fazer ser delatora". Ridícula.
Essas declarações dela são um incentivo ainda maior para o pessoal abrir o bico.
As delações ou "colaborações premiadas" são um instrumento previsto na Lei 12.850 que ela própria sancionou.
Quando achava que o PT tinha tanta cobertura que a lei só seria usada contra adversários.
Sem contar que ela bateu no peito durante as eleições, defendendo a necessidade da delação pra combater o crime.
Governo tosco, patético mesmo.
Cheguei um pouco atrasado nesse debate. Mas ainda é tempo para dois dedos de prosa.
Quando se deu o pronunciamento da presidente, dizendo que não respeita delator, muita gente na imprensa e na população em geral se deteve na conotação de que delator estaria ligado a traição e deslealdade. De certa forma, esse desvio de foco amenizou um pouco a
barbaridade do que falou Dilma em solo americano.
Ora, um delator é aquela pessoa que está desvendando um crime. Delator é justamente a peça do jogo que está trazendo a solução de algo furtivo, delituoso, criminoso e nocivo à sociedade. Ele está justamente fazendo o papel de todos os cidadãos que usam o instituto da Denúncia Anônima, guardando as devidas proporções, claro, ao relatar o que estava (ou ainda está) se passando no submundo do crime. Ou seja, ele está dando resposta às perguntas ainda sem solução, está esclarecendo um mistério.
Ao se posicionar dizendo que não respeita delator, a presidente está passando para o lado do crime cometido e espera que não seja elucidado. Ela está deixando o seu papel de governante, representante da sociedade e guardiã de suas leis, para entrar para as fileiras dos criminosos que foram "traídos". Ela está se
solidarizando com os criminosos, tomando as dores daqueles que estão sendo entregues às autoridades pelos crimes cometidos.
Onde nós chegamos!
Uma presidente da república se solidarizar com criminosos num pronunciamento claro, límpido e público, para redes de TV e jornais do mundo todo.
Quando a polícia recebe uma denúncia anônima, ela tem muito mais recursos de apanhar o criminoso e defender a sociedade.
Quando o Ministério Público recebe uma colaboração premiada, ele tem muito mais recursos de apanhar a quadrilha e defender a sociedade.
Quem, em sã consciência, vai se posicionar do lado da fidelidade ao criminoso pelo seu comparsa?
Quem? Quem?
Uma presidente da república.
Com aquela fala, ela menospreza o que diz o delator, ela diz que não tem respeito pelo que ele está relatando, ela critica o bem que o indivíduo está fazendo ao revelar corredores obscuros dos crimes cometidos, ela desprestigia um gesto de ajuda às autoridades no esclarecimento dos fatos, enfim, ela age CONTRA toda a sociedade e vai se solidarizar com os criminosos.
Impressionante!
Quando alguém delata um crime, esse alguém merece um prêmio, pois está ajudando a sociedade. Tanto é que seu gesto merece algum benefício da lei.
É muito difente de alguém delatar um segredo pessoal, um detalhe da vida privada de um amigo, cônjuge ou alguém de seu círculo social. Aí se pode falar em traição, pois não há crime nem a sociedade está sendo vítima de nada. Mas o delator de um crime? No crime, a sociedade é vítima e as autoridades agradecem. A presidente tem o
dever de agradecer, pois está lá no cargo com todo o peso da responsabilidade de representar e DEFENDER a sociedade e suas leis. Aliás, ela mesma sancionou a tal lei que hoje ela critica e diz desrespeitar o objeto/alvo dessa lei.
E tudo isso sem falar nos contextos totalmente equivocados de misturar os tempos e circunstâncias da Inconfidência Mineira e da Ditadura Militar.
No atual caso dos delatores do Petrolão, existe uma democracia sob o império das instituições, leis e Estado Democrático de Direito.
Numa sociedade civilizada,
trair criminosos deve ser um ato estimulado e prestigiado por toda autoridade.
Com aquela fala da presidente, talvez não seja ainda o caso do Brasil.