Do que pude apurar com gente mais entendida no assunto:
Fatos: A delação da JBS é atípica em relação às demais, não porque tenha concedido perdão aos Esleys, previsto em lei (*), apesar da indignação geral, mas devido a urgência, justificada pela natureza dos crimes, em andamento ou por serem cometidos e não já consumados, como nos demais casos. Quanto à relatoria, tudo certo, já que a Companhia Energética Âmbar, pertencente ao grupo, tem contrato com a Petrobrás, estando no centro do episódio da mala - a propina seria uma contraparte a favorecimento por intermédio de Loures, indicado por Temer, no CADE. A falta de periciamento dos áudios é uma falha, mas nada que possa por tudo a perder, podendo, no máximo, ser invalidada, total ou em parte. Mesmo que os Esleys tenham fraudado o sistema acionário e/ou de câmbio, após delação, isso não anula o acordo, apenas retira os benefícios, caso sejam condenados, sendo preservado todo o restante.
(*) Os benefícios previstos vão desde redução da pena até perdão, de acordo com a presteza do colaborador, quantidade e qualidade dos crimes e envolvidos apontados e materialidade das provas. Tudo dentro dos conformes, portanto, levando em conta o volume do material e suas possíveis implicações.
Especulações: As denúncias contra Fachin, por hora, não passam disso. É o tipo de coisa esperada, embora melhor que não houvessem dúvidas, devido a posição dos denunciados. Tem feito, desde que assumiu o cargo, mas principalmente a relatoria da Lava Jato, um bom trabalho.
Mais preocupante do que isso são as dúvidas que pairam sobre a postura, já ha algum tempo, assumida por Gilmar Mendes, o tom de suas críticas e declarações sobre à Lava Jato, várias decisões, tanto no STF quanto no STE (**), além do teor da conversa vazada com Aécio que não condiz com a posição que ocupa.
(**) Antes do julgamento veio a público declarar que não é função do tribunal resolver crise política, apenas julgar os fatos, mas no seu voto, fez justamente o contrário, valendo-se do argumento de instabilidade, para justificar a exclusão de provas, desconectando o processo da realidade, ignorando os fatos.
Quanto a tal "aula de delação", nada anormal. São comuns encontros prévios entre advogados e procuradores antes das tratativas propriamente, para só então ser assinado acordo de confidencialidade, dando início ao processo.
Dificilmente os Esleys sairão impunes como possa parecer. Este acordo está longe de esgotar seus problemas com a justiça e não só no país, que são muitos.
Por fim, embora o vazamento da conversa de Reinaldo Azevedo com Andreia Neves, assim como de Gilmar e Aécio, não devesse ter ocorrido, nada indica que foi intencional e levando em conta a urgência do processo, deve ser considerada a possibilidade de falha. O que, apenas repetindo o que ouvi, não anula sua má qualidade jornalística.