O curioso no fenômeno Bolsonaro é que ele tem um índice de rejeição altíssimo. 39% antes do atentado, segundo as pesquisas.
Era uma figura extremamente impopular, mas que se elegia há duas décadas deputado fazendo um discurso para um nicho minoritário. E a estratégia de ser impopular frequentemente funciona quando se pleiteia uma posição de deputado, porque quando você diz coisas que nenhum político ousaria dizer, mas que são justamente o que uma pequena minoria gostaria de ouvir, essa pequena minoria acaba direcionando todos os seus votos para aquele candidato, o que muitas vezes é o suficiente para se chegar a deputado federal.
Mas para as posições executivas ( prefeito, governador e presidente ) não tem jeito: é preciso agradar a maioria. Ou pelo menos a maioria dos que irão depositar votos válidos na urna.
Um exemplo clássico é o do Dr. Enéas: deputado federal mais votado da história, mas que tinha desempenho pífio quando se candidatava à presidência.
Quando Gauss escreveu o post acima citado, o Bolsonaro era esse tipo extremamente impopular entre os eleitores mais politizados mas um personagem meio desconhecido entre os um tanto alienados.
Boçalnato se elege pelo RJ, e eu me lembro de em 2013 estar em uma avenida no Rio de Janeiro, uma avenida imensa ( a Pres. Getúlio Vargas ) que deve ter uns 8 kms de extensão, e estava apinhada de gente do início ao fim com aquelas manifestações. Tudo muito pacífico, sem gente de partido político no meio, ninguém quebrando nada nem fazendo bagunça. As pessoas estavam tão civilizadas que ninguém nem pixava as paredes, traziam de casa cartazes de cartolina já prontos e colavam nos muros com fita adesiva. Nesses cartazes dois personagens eram os mais citados: o Pr. Marco Feliciano e o Bolsonaro. E não era para tecer elogios! As pessoas estavam execrando estas duas figuras, como se fossem ícones do que de pior existe na política no Brasil.
O que aconteceu de lá pra cá é que a partir de 2016 começaram a investir na imagem do Bolsonaro com essa ofensiva memética, que acabou fisgando justamente aquela parcela alienada, que antes mal sabia quem era Bolsonaro.
E quem não gostava continua não gostando: são os 39%, o que fazia, em 2016, parecer que esse era um personagem tremendamente impopular.