De outra forma já afirmei simplesmente que existem comportamentos eficazes para conquistar e manter o poder, e por outro lado existem comportamentos ineficazes para conquistar e manter o poder, caso alguém queira manter ou ampliar o seu poder é aconselhável que adote os comportamentos eficazes. E estes comportamentos eficazes muitas vezes não estão de acordo com determinados sistemas éticos, especialmente sistemas éticos do dever .
Engraçado, não sei se você já leu O Príncipe, mas Maquiavel diz umas coisas assim a Lorenzo de Medici, o homem para quem ele escreveu este livro.
Mais de uma vez já pensei que O Príncipe deveria ser leitura obrigatória para todo cidadão deste planeta, para que todas as pessoas se dessem conta de como e por qual tipo de gente esse mundo é governado. Consequentemente não discordo dessa sua percepção de que boa parte da elite política não se pauta pelos mesmos princípios éticos das pessoas comuns. Imagino que a maioria de muitos daqueles que detém o real poder econômico também não.
Eu iria até além: no meu íntimo questiono se grande parte dos que constituem a elite do poder, seja político ou econômico, não são meramente sociopatas e psicopatas. Justamente porque estas pessoas são as que reúnem os melhores atributos para se tornarem bem sucedidos nos tais "jogos de poder", e também porque muitas vezes a História mostrou que os poderosos frequentemente tomam decisões como se fossem totalmente desprovidos de empatia e escrúpulos.
A psicopatia não é uma condição tão rara, está presente em 1 por cento da população mundial. Hoje um exame tomográfico pode revelar se alguém tem o cérebro de psicopata, e uma pesquisa feita com a população carcerária norte-americana mostrou que entre presidiários a frequência do padrão psicopático é 10 vezes maior do que no resto da população. O que não deve ter sido exatamente uma surpresa para os pesquisadores mas para pelo menos um destes cientistas, um cara chamado James Fallon, a pesquisa revelou uma grande surpresa: descobriu-se ele próprio psicopata!
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/12/131223_psychopath_inside_mvUm cara "normal", casado, 3 filhos, bem ajustado social e profissionalmente, e era um psicopata! Estas pessoas estão simplesmente por aí, em todos os lugares, profissões e posições sociais, insuspeitas, mas em condições propícias podem fazer uso desse lado mais sombrio que carregam já por determinação da própria carga genética.
Veja só que coisa interessante - ou assustadora, não sei: o ex-presidente Bill Clinton, quando se viu as voltas com uma confusão o envolvendo em um caso extra-conjugal com uma de suas secretárias, aceitou ser submetido a um teste de polígrafo e mentiu enganando a máquina com a maior facilidade. Dificilmente uma pessoa normal consegue isso, já a maioria dos psicopatas pode enganar o polígrafo sem esforço, porque simplesmente no cérebro destes as áreas responsáveis por gerar padrões de empatia e moralidade apresentam baixa atividade, ou estão completamente "apagadas" mesmo.
O assustador é que, se comparado a certos presidentes republicanos, o Bill Clinton até parece um sujeito legal. Mas se o cérebro do Clinton apresenta um padrão compatível com uma condição de sociopatia, não preciso nem ver os exames do Bush ou do Trump para tirar certas conclusões sobre estes...
Não é nem um pouco absurdo imaginar que o próprio processo do jogo político, da forma como é, funcione como um filtro selecionando com eficácia aqueles que, já por condição endógena, não possuem nem atributos éticos nem capacidade de sentir empatia por seus semelhantes. Homens com extrema facilidade para mentir com grande desfaçatez, para serem cínicos, demagogos, frios, calculistas, capazes de aceitar qualquer acordo escuso sem o inconveniente do peso na consciência... Temo até que este processo seja como um funil, que por sua própria natureza só permite chegar ao topo da pirâmide de poder os piores indivíduos. "Piores" se os avaliarmos apenas por seus padrões morais.
Também inquietante é perceber que assim como o James Fallon, a maioria dos psicopatas não sai por aí esquartejando pessoas sem motivo, mas são cidadãos pacatos e razoavelmente ajustados, contudo facilmente podem se valer de uma estrutura mental e emocional muito peculiar se submetidos a circunstâncias onde estas condições se provem vantajosas. Porque o único fator que inibe o comportamento malévolo em um psicopata são as possíveis consequências desfavoráveis de seus atos. Mas se, ao contrário, envolvido em circunstâncias onde estas consequências são geralmente vantagens pessoais, este indivíduo é 100% estimulado ao comportamento nocivo à coletividade pois ele não tem nenhum "freio" interno; agir ou não criminosamente é para ele essencialmente mera questão de cálculo entre custo e benefício. Daí o tradicional jogo da política pode não só ser um seletor darwiniano de indivíduos com características psicopáticas, mas até servir para exacerbar e sofisticar estas características em indivíduos já com estas tendências.
O que eu estou conjecturando é que, se o Lula por exemplo, nunca tivesse entrado para a política, talvez hoje fosse apenas mais um metalúrgico aposentado cumpridor dos seus deveres e pagador de seus impostos, que viveu a sua vida sem causar maiores danos a ninguém. Mesmo que possivelmente ele tenha nascido, como o James Fallon ou o Bill Clinton, um psicopata.
Assim como nos presídios verificou-se uma taxa de incidência de psicopatas dez vezes maior, que frequência desta condição encontraríamos se fizéssemos semelhante pesquisa nos congressos mundo a fora e nos mais altos poleiros dos partidos políticos?
Porém, se estas hipóteses que devaneio aqui fossem confirmadas, deveria servir para a conscientização sobre um problema grave das sociedades, a percepção de um desajuste decorrente do tipo de processo competitivo responsável por selecionar lideranças políticas e empresariais, que necessitaria ser melhor compreendido para que suas consequências negativas pudessem ser minimizadas. O que não faria sentido, especialmente do ponto de vista do cidadão comum, seria esse tipo de argumento seu, aparentemente sugerindo que reconhecer a existência do problema deve ser razão para a sociedade se conformar com ele.
Porque o que parece que você está dizendo é: "Bom, eu reconheço perfeitamente que tipos como Lula, Cunha, Temer, Collor, e tantos outros, são psicopatas e se chegaram onde chegaram é porque são psicopatas. Logo, não há problema algum em a Câmara ter 513 psicopatas como deputados!"
Se isso não te parece um problema, então o que é um problema pra você?
É um problema, mas a boa notícia é que talvez seja possível para um sistema democrático minimizar estes "defeitos" das democracias. Porque algumas sociedades que já foram profundamente corruptas, estruturalmente corruptas, dando como exemplos o Japão e alguns países no norte da Europa, puderam reverter esse quadro de completa degeneração na classe política.
Mas isso, claro, não foi porque o eleitor se conformou com uma suposta especifidade para os valores éticos da política, mas porque passou, progressivamente, a exigir do Estado o mesmo padrão ético que o Estado exige dele. Lembre-se que, no final das contas, será o eleitor a decidir que comportamentos serão
"eficazes para conquistar e manter o poder".