Eu particularmente prefiro minha parte de abuso estatal em só impostos mal-aplicados em outras áreas do que incluindo também em tortura, homicídio, e cerceamento de liberdade política e civil, embora ainda esteja muito distante de ser realmente algo desejável.
Em termos porcentuais, você diria que as chances de um cenário similar ao nosso último período da extrema direita seriam de quanto, aproximadamente?
Não acho que qualquer um tenha capacidade de falar disso em termos percentuais, seria só um verniz de cientificidade.
O mais próximo disso seria um "checklist" de autoritarismo, no qual Bolsonaro e muitos ao redor dele falham em alguns ou todos os pontos.
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Os autores trazem uma tabela importantíssima, uma espécie de “teste do autoritarismo”. São quatro pontos principais, e identificar um deles em um candidato já mostra o risco de estar lidando com um autoritário. Primeiro, Levitsky e Ziblatt falam da “rejeição das regras democráticas do jogo (ou compromisso débil com elas)”: se um candidato diz que não vai aceitar o resultado de uma eleição, se menciona golpes e mudanças de governo e se planeja mudar ou violar a constituição sem seguir as devidas regras, ele atende esse requisito.
O segundo, explicam, é a “negação da legitimidade dos oponentes políticos”: falar dos adversários políticos como subversivos e ameaçadores à segurança nacional ou descrevê-los como criminosos ou agentes estrangeiros sem nenhuma fundamentação. O terceiro é a “tolerância ou encorajamento à violência”, vislumbrado na existência de gangues armadas, no incentivo (ou falta de condenação efetiva) a ataques contra oponentes ou no elogio a atitudes violentas de governos e partidos no passado – elogiar torturadores da ditadura militar, como faz Bolsonaro, se encaixa nesse critério.
Por fim, o último elemento da tabela é a “propensão a restringir liberdades civis de oponentes, inclusive a mídia”. Aqui, Levitsky e Ziblatt falam da ameaça de restrição de liberdade civis, de perseguição com a justiça e o elogio a medidas desse tipo, como a censura, no passado.
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https://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/literatura/noticia/2018/10/03/livro-como-as-democracias-morrem-e-recado-importante-para-o-brasil-356974.php
Não sei o quão grande é o "poder preditivo" desse rudimentar teste, definitivamente não é algo que possa ser tomado como "científico", mas ao mesmo tempo é quase tautológico, no sentido de que não é de se surpreender se as pessoas no poder agirem de acordo com os valores que anunciavam, especialmente se tratando de valores negativos, não dos melhores ideais.
... Quando um político exibe um ou mais desses traços de comportamento, os cidadãos deveriam se preocupar, e, o mais importante, não deveriam elegê-lo.
O teste identifica corretamente a maioria dos autocratas contemporâneos. Putin, Chávez, Erdogan, Duterte, Correa e Evo Morales teriam todos sido identificados pelo teste, quando candidatos. ...
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/steven-levitsky/2018/08/bolsonaro-ameaca-a-democracia-brasileira.shtml
Possivelmente limitar a esses casos já sabidos enviesa positivamente o desempenho do teste, havendo casos de falastrões que se mostram mansos (com sorte o nosso caso), e alguns que não tivessem um discurso abertamente anti-democratico.
https://www.uol/eleicoes/especiais/steven-levitsky-democracia-jair-bolsonaro-eleicoes-2018-fernando-haddad.htm
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"Um governo Bolsonaro poderia ser parecido com o de [Fernando] Collor [1990-1992]. Mas é muito difícil saber o que esperar de um governo dele. Bolsonaro poderia mostrar-se politicamente inapto e isolar-se, sendo politicamente derrotado pela oposição", analisa Levitsky.
"Outro cenário, muito pior, é se Bolsonaro decidir realmente começar a atacar as organizações criminosas, como o PCC, por exemplo. Isso pode significar uma erupção da violência. E Bolsonaro pode usar esta violência como desculpa para começar a suspender ou evitar liberdades constitucionais e mover-se em uma direção autoritária, usar a crise como uma justificativa para concentrar e abusar do poder. E isso seria bem feio."
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