Em nenhum momento disse que sua fé ou argumentos estão equivocados nem que os meus estão corretos e verdadeiros , apenas passo por uma crise existencial entre a fé e o ateísmo procurando me reencontrar, por tanto espero que não tenha desistido de me ajudar tentando contra argumentar, que esteja refletindo mais sobre nossa discussão como uma forma de exercitar a razão e assim podermos continua-la!
Beleza!
Veja a Nosso Lar do espiritismo que deve conhecer. Até prova em contrário (i.e.: que ela de fato esteja chumbada em cima daí...) ela "existe" num universo metafísico bem análogo ao platônico. Pois pros crentes no modelo, essa cidade é bem um arquétipo duma República Teocrática que eles claramente gostariam que fosse o modelo vigente cá no universo físico.
É interessante notar que, no plano onírico, as coisas se "plasmam" de uma maneira muito parecida com a forma na qual são descritos os mundos espirituais nas psicografias. Quem já teve experiências com o
sonho lúcido (ou
projeção psíquica, para esotéricos) percebe que, quando se está neste plano, e se sente raiva, por exemplo, todo o ambiente ao seu redor muda e você é imediatamente transportado para um lugar turbulento, podendo também invocar personagens que tenham afinidade contigo. O mesmo ocorre com relação a qualquer sentimento ou pensamento. Você, pode, com pensamento concentrado, criar um objeto, mover as coisas estilo
star wars ou, com concentração e "
willpower" suficiente, distorcer e manipular o próprio cenário. Além disso, se um grupo de pessoas compartilhar do mesmo background de crenças e hábitos, cultivam a possibilidade de experimentar um campo onírico compartilhado, isto é, passar pelas mesmas experiências, o que é muito cuidadosamente manipulado por sociedades esotéricas no intuito de impressionar os neófitos, que depois correm para contar uns aos outros dos mesmos mestres e entidades que viram, quando na verdade tiveram as sugestões e gatilhos plantados desde os primeiros estudos, como se tudo criasse um "espaço" dentro da sua mente onde a experiência pode acontecer. Depois de coletadas e relatadas as experiências, os círculos espíritas vão filtrá-las de acordo com a maneira como atendem ou não os interesses da instituição. As "autênticas" sempre serão aquele clichê clássico. O resto, vão chamar de imaginação, claro.
O sonho lúcido, como experiência mística, já era explorado há milênios por algumas tradições específicas. No Budismo Esotérico, era explorado por meio da "Yoga dos Sonhos". No Taoísmo, era considerado uma visita ao mundo dos fantasmas e demônios. Das duas formas, era considerado algo de natureza ilusória, onírica, útil apenas para explorar a própria mente, visualizar as imagens interiores e interagir com o próprio inconsciente. As primeiras experiências de magnetismo e sonambulismo na França trouxeram a hipnagogia e o onirismo para os ocidentais que, ingenuamente empolgados, acreditaram estar desbravando cientificamente um mundo espiritual objetivo. O ambiente de centro espírita, com suas crenças e atmosfera, induzem experiências oníricas compartilhadas e reafirmadoras do conteúdo, provocando nos adeptos uma espécie de loop hipnótico que desencadeia experiências cada vez mais confirmadoras da doutrina.
Eu, contando pela primeira vez uma de minhas experiências, visitei uma "colônia"
fora do corpo. As pessoas estavam de branco, andavam pra cá e pra lá como formigas, trabalhavam, oravam, etc. Contei muito empolgado minha experiência para diretores da casa e colegas de centro, cuja reação positiva te faz sentir como tendo absolutamente confirmado sua crença para si, fazendo com que os espíritas sejam tão sinceros defensores de sua doutrina como são. Foi estudando e me autoconhecendo que percebi que todos os gatilhos para a experiência haviam sido plantados ao longo de meses de leituras, palestras, estudos, entre outros.
A esfera platônica é metafísica. Realmente mesmo com toda mega tecnologia, medições @ laser e tudo, é impossível se fazer uma esfera.
Isso... no caso, nenhuma das esferas individuais do mundo fenomênico é realmente esférica. São todas imperfeitas, transitórias, defeituosas, efêmeras... só a razão (nosso
logos interno) consegue, através das formas fenomênicas do mundo sensorial, contemplar padrões e formas arquetípicas subjacentes ao mesmo. Dessa forma, apesar de sermos, em corpo, tão imperfeitos e efêmeros como as outras coisas materiais, algo em nós não compartilha da mesma natureza. Nosso logos interno é capaz de reconhecer a atuação do logos universal através das coisas e fenômenos, e, a partir disso, conceber Matemática, Música, Geometria, Razão, Filosofia etc.
Gostaria que me esclarecesse S/postura em relação ao martinismo lionês. Es decir: PARECE-ME que não adota a crença na Queda
Gorducho, o martinismo, assim como o budismo ou o pitagorismo, não devem ser entendidos como religião ou conjunto de crenças no sentido convencional do termo. São, ao invés disso,
sendas que propõem métodos para conduzir o candidato a uma realização - especificamente, uma transformação interior, em sua natureza, neutralizando seu ego, extinguindo seus desejos e ilusões, despertando-o para a unidade essencial de todas as coisas e cavando
masmorras aos vícios e templos à virtude. As crenças e escrituras, com suas imagens literais e aparências, não são um fim em si, como na religião institucionalizada, mas, ao invés disso, apenas um meio para apontar para a própria mente do adepto, como um espelho. O esoterismo autêntico (radicalmente avesso ao esquisoterismo new ager e marketeiro, o qual repudio) é uma transmissão especial fora das palavras e escrituras, de mente para mente. A
queda martinista não é uma fábula fantástica a ser interpretada de maneira literal e supersticiosa, mas, ao invés disso, uma referência a um acontecimento cósmico - a individualização da consciência, que, voltada para si mesma de maneira centrípeta, experimenta o mundo de maneira fragmentada, como uma gota que, se separando do fluxo na queda da catarata, cai lentamente e com muita dificuldade em uma jornada rumo ao reencontro com a correnteza ao final de seu decaimento. O martinismo refere-se às quatro etapas da jornada humana:
I - o Homem da Torrente, plenamente arrastado por seus desejos, vícios e paixões, e completamente identificado com os mesmos.
II - o Homem de Desejo, tendo tomado consciência de sua condição existencial, sente-se apartado de algo maior do qual deveria fazer parte, e anseia por libertar-se do sofrimento e escravidão inerentes a seu atual estado de ser.
III - o Novo Homem, que se empenhou ativamente na construção, em seu coração, do
templo interior da divindade, cultivando a virtude, a razão, o amor à sabedoria e ao conhecimento, entre outros.
IV - o Homem-Espírito, que conquistou livre-acesso ao
logos em si, de maneira semelhante ao monge budista que obteve
samadhi permanentemente, ou ao pitagórico que obteve a gnose, o místico católico que obteve a
contemplatio, etc. A diferença entre as sendas místico-iniciáticas autênticas se encontra muito mais nos diferentes contextos e culturas dos povos e raças do que na trajetória em si. É como se vestisse diferente roupagens para diferentes perfis psicológicos.
Como diz Buda no Sutra de Lótus -
"em resposta às necessidades dos homens, ensino-lhes várias doutrinas"...