O problema é que o "teste" é uma experiência pessoal onde você é o cientista e o paciente ao mesmo tempo pensando com o mesmo cérebro e ambos iludidos pelo livre arbítrio (Lembra do experimento de Libet? ) e pelas interpretações favoritas, pré-concebidas através da leitura e estudo.
E é justamente por isso que "esoterismo" sempre foi, é e será associado a "autoconhecimento". O teste, a experiência, o cientista e o paciente são o mesmo - você e suas faculdades, projeções e camadas das mais superficiais às mais profundas da mente. Descobrir isso é, inclusive, parte do próprio caminho esotérico. Não digo "saber" isso, de forma meramente abstrata e argumentativa, mas efetivamente experimentar, em primeira pessoa, a realidade desse engano.
O que você chama de fatos que podem ser submetidos a testes pressupõe que eles pertençam a uma natureza comum a todos os experimentadores, tanto que existe uma tradição oculta que os descreve e que ajuda a construir a interpretação dos fenômenos de acordo com a visão apropriada do ocultismo.
A natureza comum é justamente todos os experimentos terem, como fim e ponto de partida, a própria mente que descobre a si mesma em suas diversas dimensões. Exatamente por isso, em todos os esoterismos sérios, e até na teosofia não-newager, os planos "superiores" são declaradamente chamados de "mundos internos" ou "planos interiores".
Do mesmo modo que as batidas na madeira são "batidas na madeira" e não "espíritos", os seus "fatos" são suas criações mentais fruto de processos bioquímicos que acontecem no cérebro e não "leis" ou "planos superiores".
Aí entra um erro fundamental. O "processo bioquímico", ou melhor, o que a gente percebe e entende por "processo bioquímico", é uma projeção da própria mente, fruto de um certo estado de consciência. A mente projeta um diferente holograma de acordo com suas próprias ondas, sua própria frequência. Um destes hologramas é a realidade convencional, cotidiana, tridimensional.
Não existe uma realidade mental, só existe pensamento encaixotado no cérebro, incomunicável e incapaz de influenciar o mundo além-caixote.
Ao contrário. O cérebro, visto, percebido e interpretado dessa maneira física, tridimensional, é um holograma projetado pela mente. A mente é o background da experiência, de forma que sem ela não poderia se falar em existência. O "caixote" é percebido por fora, por uma mente que percebe. O conjunto dos sentidos agregados dá a ilusão de se estar em um determinado ponto, a mente não tem localização. O fato de você ver o que está diante dos olhos, escutar o que está ao redor dos ouvidos, etc, dá a impressão ilusória de que nos encontramos "dentro" de nosso corpo, mas isso é um holograma, uma conveniência para a sobrevivência e evolução da espécie. A mente antecede e sucede o tempo e o espaço.
Você acredita que existe um verdadeiro esoterismo. Por que? Verdade pessoal?
"Esoterismo" é apenas uma palavra, um mapa. Como qualquer outra palavra ou conceito, apenas aponta para algo, sem sê-lo efetivamente. Há que trilhar uma senda ou não trilhá-la. O resto são labirintos conceituais que não levarão a nada.
Você também acredita que existe uma senda que pode ser trilhada. Por que? Verdade pessoal?
Basta seguir pela via negativa. Pense em tudo que a verdade "não é". Pense em tudo que a vida "não é". Despindo todas essas artimanhas, articulações, conceitos e jogos de palavras, inicia-se um caminho silencioso rumo ao encontro com a experiência direta. Não experiência ilusória, onírica, fantasiosa, "para dentro", mas justamente o contrário, uma ponte lançada para fora, entre a contemplação mais pura da mente em sua verdadeira natureza e o encontro desta com o Logos que se expressa através da natureza e de todos os seres - o "casamento alquímico" da "anima" com a "anima mundi", a "reintegração" martinista, entre outros termos conforme outras tradições e culturas.
Acredita numa senda séria. Por que? Verdade pessoal?
Não é preciso acreditar em uma senda séria. Basta constatar a existência das sendas falsas. O Esquisoterismo New-Ager propagado para formar seitas e cultos ou vender mandalas e incensos, além de pedir mensalidades e hipnotizar incautos. Tudo isso conduz à ilusão e autoengano. Como disse anteriormente, começamos a busca da verdade pelo que ela Não É, e definitivamente não é nada disso. O que mais a verdade Não É? Fazer essa pergunta já é colocar os pés na senda.
Fornece vários exemplos de sendas que podem ser trilhadas e que começam por uma porção de coisas com as quais você simpatiza. Simpatiza por que? Verdade pessoal?
Todas convergem para o mesmo ponto, apesar de terem sido explicadas com imagens, símbolos e palavras de suas respectivas épocas e culturas. O resto é apenas roupagem.
Aonde você acredita que essas trilhas "sérias" podem conduzir? Verdade pessoal?
A senda conduz ao encontro com a Verdade Una, necessariamente Impessoal, não conceitual e não relativa.
Ma se verdades pessoais não interessam e são contraprodutivas, um obstáculo para trilhar uma senda, qual é o seu objetivo?
Começar uma prática com um objetivo declarado pelo eu é usar os meios certos para os fins errôneos. Todos os objetivos do eu convencional, ordinário, visam a algum tipo de vantagem, lucro, benefício e aperfeiçoamento, o que induz, de todas as formas, à sua perpetuação, sendo que o Eucentrismo é justamente a própria barreira que impede o encontro da mente com sua verdadeira natureza. Todos os que se sentam para meditar com "objetivos" só estão se iludindo. Não se pode trilhar uma verdadeira senda mística com uma meta "do Eu para o Eu", pelo simples motivo que é justamente este Eu que deve se esvaziar, desmascarar, apagar e dissolver até que leve consigo suas falsas projeções e representações do mundo.
Você vai sempre ser vítima do autoengano porque o funcionamento do seu cérebro independe da sua vontade objetiva. O comando dos seus pensamentos é uma ilusão que só acontece para você acreditar que tem tem controle sobre a sua realidade, um recurso evolutivo para garantir a sobrevivência da espécie.
Descobrir isso, por exemplo, também é outra etapa da senda. É por isso que O Aprendiz, antes de ser levado à iniciação ao primeiro grau do Rito Escocês, é vendado e tem uma corda colocada no pescoço, para que entenda que quem realmente o governa é o automatismo inconsciente. Pelo mesmo motivo, as primeiras iniciações no astral servem para que o adepto descubra seu próprio inconsciente, com todas as imagens arraigadas que governam suas supostas decisões e atitudes "voluntárias" conscientes, e, explorando-o, comece a compreender as estruturas profundas de seu próprio ser.
Uma área do seu cérebro foi irradiada por estímulos elétricos nanosegundos antes de você "decidir" se sentar em zazen para "dominar" a sua mente e trilhar a senda do autoconhecimento. Alguma coisa de natureza bioquímica decidiu por você antes e você foi enganado. Chato, né?
Você confunde "Mente" com "Consciência Objetiva". Longe de mostrar a "pequenez da mente", muito pelo contrário, experimentos como estes demonstram que a mente é muito mais vasta e profunda do que a pequena pontinha do iceberg que experimentamos convencionalmente, a qual tolamente tomamos por nossa totalidade. Esse Inconsciente Da Natureza, a Vontade de Schopenhauer, a "Potência" de Nietzsche, o "Trisna" do Budismo Esotérico, é justamente mais uma mostra de todo o mistério e grandiosidade dos processos inteligentes da natureza, que visa a seu próprio fim (e não à moral humana) e, novamente, mais um tapa na cara do humanocentrismo.