A partir do momento em que os fenômenos fisicos investigados se mostraram como fatos reais aos observadores, mas, sempre sob a acusação de fraudes, mais nada pode ser feito.
Você ainda não entendeu. Uma materialização de espírito, uma clariaudiência ou uma mesa girante não são fenômenos físicos. São interpretações pré-concebidas e motivadas para fenômenos físicos. Ouve-se uma voz: o som é o fenômeno no físico. No momento em que você diz que a voz é do espírito, de um falecido, que está se comunicando, etc etc, tudo isso são atribuições mistificadoras. Médiuns se sentam em torno de uma mesa e ela começa a girar. O movimento do objeto físico, este sim, é o único "fenômeno" acontecendo, a única coisa objetiva. Todo o resto, pensar que são espíritos agindo, whatever, é atribuição, é especulação metafísica. É mistificar.
Mas, isto de provas materiais e de que espíritos existem foi ponto de honra para Kardec, e se observarmos bem, em O Livro dos Espíritos isto sequer é mencionado... sim, há o Livro dos Médiuns, voltado exclusivamente para os experimentadores, como está no prefácio; não é obra para a divulgação da DE.
Vou te dar um exemplo prático - eu te digo que espíritos existem e que batem na madeira. Te levo até uma sala. Te mostro sons de batidas na madeira. Digo que são os espíritos. Logo, espíritos existem? NÃO! Batidas na madeira são batidas na madeira - só isso é o fenômeno. O fenômeno não prova toda a carga e falsas premissas que eu atribuí a ele.
Finalmente a grande parte dos Espíritas compreendeu que fenômenos somente interessavam aos céticos e aos que buscam por espetáculos e milagres. Não é a essência do Espiritismo.
Pois é impossível ser espírita e simultaneamente cético, comprometido com a razão e a verdade. Digamos, por exemplo, que um médium venha me contar que minha vó falecida se comunicou com ele. Ele pode estar mentindo, me enganando. Ele pode estar, ele mesmo, enganado. Pode ser que um espírito esteja o enganando. Pode ser que minha vó esteja enganada. Pode ser que um fenômeno completamente outro esteja acontecendo, e sendo interpretado erroneamente. É impossível tirar qualquer conclusão precipitada! E por que, para espíritas, isso é possível? Simples! Porque seu raciocínio e observação dos fenômenos é motivada, tem um fim em si - já se destina, desde o princípio, a validar e reassegurar a doutrina em que acreditam. Muito antes de Kardec, a mediunidade já era praticada há séculos no budismo esotérico tibetano (Vajrayana) e há milênios no taoísmo esotérico e nunca, nenhuma vez, os espíritos de lá falaram em cristo (não era o espírito mais evoluído de todos?), no valor da razão (lógico, pois é um valor ocidental, europeu e moderno!), nos "ideais de igualdade e fraternidade" (claro, pois vieram dos socialistas franceses apreciados por Kardec e Denis!), etc etc. Ao invés disso, os espíritos de outras culturas e tradições relatavam somente aquilo com o que tinham afinidade, pois era tudo o que poderiam conhecer e projetar mentalmente.
A evolução moral do homem pelas vias da Palingênese - reencarnações sucessivas - é o propósito da DE.
É tosco pensar dessa forma - extremamente antropocêntrica, europeucêntrica, cheia de valores ocidentais e modernos. A
onda de vida humana é uma parcela muito pequena, ínfima, se comparada às outras fases da
evolução microcósmica. "Moral" é um conceito humano, um valor ocidental para dizer de forma mais específica. É muita egocentricidade do homem para tomar a si mesmo como fim último e supremo do cosmo. O planeta e a natureza, com todas as catástrofes e selvageria necessárias para a manutenção da ordem cósmica, desmascaram o tempo inteiro o pretenso orgulho humano de se colocar como Fim Último da Criação e massacram seu egocentrismo toda vez que escancara a fragilidade, insignificância e efemeridade da vida humana no esquema cósmico. A
onda de vida mineral levou bilhões de anos de desenvolvimento, desde sua formação nos
corpos solares dos astros. A onda de vida vegetal do período terrestre, surge há menos de um bilhão. A vida animal há milhões e, disso tudo, uma pequena parcela do esquema cósmico, o homem (que, por sinal, cumpre também nela um papel fundamental) coloca a si mesmo como fim máximo da existência, apesar de ter que conviver com a velhice, sofrimento, doença, morte, guerra e catástrofes que o recolocam, meio à berros e birras, em seu devido lugar existencial. Não é o homem que cresce através de sucessivas reencarnações. É a consciência cósmica que, como microcosmo, experimenta, cresce e se expande através do homem - apenas uma das inumeráveis fases de sua jornada estupenda e eônica.
Quanto ao uso frequente por parte do Babuíno, da expressão "mistificadora", embora muito se ridicularize a Teoria da Conspiração, ele parece ser um adepto inconsciente.
Não é conspiração. Os médiuns são, eles próprios, vítimas de sua ignorância acerca das faculdades ocultas da mente e das leis dos planos superiores.
A tacanhice faz com que só se veja espíritas querendo enganar, fraudar, lucrar...
De forma alguma. Pelo contrário, os espíritas estão, eles mesmos, enganados. Até por suas próprias visões e fenômenos, o que é gravíssimo e se torna um perigoso e poderoso ciclo hipnótico.