Bom, eu reconheço os mesmos fatos, mas para estes tenho interpretação diferente da de vocês. Às vezes ligeiramente diferente mas para outros difere muito. Mas são interpretações, eu não sou o dono da verdade e apenas procuro chegar a conclusões com base em
TODOS os dados que me são de conhecimento, tentando evitar qualquer seletividade tendenciosa que dificulte tecer hipóteses que pareçam ser as explicações mais simples e prováveis.
Já me desculpo antecipadamente porque sei que uma das minhas muitas deficiências é a falta de poder de síntese, portanto se esse texto se tornar muito extenso não espero que ninguém perca seu tempo com isso.
Seguindo uma ordem cronológica primeiro vou analisar as considerações do Huxley e Fabrício para depois dialogar com o Geotecton.
Essa proposta deles de instituir uma "constituinte" é obviamente uma manobra para limitar o poder de fiscalização sobre eles, aparelhar melhor o Estado, controlar a liberdade de imprensa, etc.
Claro, eles estão muito interessados em roubar, mas também estão muito interessados em controlar a sociedade para de quebra implantar a ideologia tosca deles. Não sei se é prudente descartar isso como devaneios ao estilo Olavo de Carvalho.
Pedro Reis, que história é essa que o comunismo está morto e enterrado? Só na China, existem 1,4 bilhão de pessoas que estão sob o comando do comunismo na política.
Fukuyama deve ter se esquecido de toda essa gente quando escreveu "O Fim da História."
Huxley, sem exagero, a China é mais capitalista que o Brasil. Muitas reformas com as quais você sonha os chineses já implantaram há tempos.
Depois de duas décadas de reformas econômicas, o comunismo na China é apenas de fachada; nem mesmo os integrantes do Partido Comunista acreditam na filosofia implantada no país após a revolução de 1949, liderada por Mao Tsé-tung.
A opinião é do historiador e pesquisador da Universidade de Pequim, Eric Vanden Bussche, um brasileiro que vive há cinco anos na China e, fluente em mandarim, sabe como poucos do que está falando.
Não há mais nada de comunista na China. A China diz que seu regime é um socialismo com características chinesas. Entretanto, as relações de trabalho – e a economia como um todo– abandonaram os dogmas socialistas e hoje a economia chinesa se aproxima muito mais de uma economia capitalista do que de uma economia planificada. Obviamente, ainda há certas diretrizes formuladas pelo governo central, mas não têm o impacto que tinham há 20, 30 anos.
Além disso, hoje nem mesmo os próprios integrantes do Partido Comunista acreditam no comunismo, embora passem por treinamento ideológico, tenham que assistir a cursos de teoria marxista, socialismo científico, estão lá porque é uma obrigação. Os próprios professores que lecionam não acreditam mais nisso, chegam a falar abertamente que não acreditam nos ideais comunistas.
Não foi o comunismo que fez a China ser o país com maior taxa de crescimento econômico no mundo nos últimos 25 anos, com uma I-NA-CRE-DI-TÁ-VEL média de 10% ao ano de aumento do PIB. Porque o sistema comunista, em qualquer medida em que for aplicado, acarreta em lento avanço ou estagnação econômica e tecnológica. Estagnação que a China conheceu durante o período genuinamente marxista sob a liderança de Mao.
E se comunismo não implica em estagnação e pode até mesmo proporcionar este exemplo espantoso de desenvolvimento, então isso é a refutação definitiva
DA SUA PRÓPRIA VISÃO das dinâmicas da Economia, de todos os seus argumentos econômicos, sejam os que você expressa de forma direta ou implicitamente. Portanto alegar que a China é comunista é uma contradição irreconciliável e um tiro no pé que dá qualquer crítico do comunismo.
Mas há uma outra contradição que é mais relevante para o que estamos analisando aqui, e espero ser capaz de leva-lo a uma reflexão sobre isso.
Os "intelectuais" que estão fazendo a sua cabeça, que denunciam com reiterado alarmismo histérico uma insidiosa conspiração vermelha com ambições de alcance global, procuram convencer que há um plano para, primeiramente solapar as bases das sociedades estruturadas no capitalismo e na democracia, para depois, instalado o caos moral e econômico, enfraquecida a base da sociedade que seria a família, disseminada a libertinagem desenfreada que no imaginário conservador resultaria em desordem generalizada, chegar ao poder e pouco a pouco instituir um sistema coletivista autoritário que deverá levar a uma sociedade mais harmoniosa e justa.
Porém incrivelmente eles, assim como você, acusam a China (e muitas vezes também a Rússia) de serem grandes poderes marxistas por trás dessa conspiração. Mas isso é um disparate total porque estes Estados já se encontravam na última etapa desse escabroso plano, com os comunistas controlando com poder absoluto não só estes países mas a metade do mundo. E puderam mesmo tentar todas estas reformas, às vezes com exageros surreais, como foi no caso das revoluções culturais na China e no Cambodja.
Então a suposição
não é a de que o sistema colapsou minado por suas próprias ineficiências intrínsecas, mas a de que os comunistas depois de terem "chegado lá", resolveram dar mil passos para trás e fingir que são capitalistas só para tentar tudo de novo!
Para quem sabe, um dia, retornar ao mesmo ponto que já haviam alcançado?
Seria até um plano brilhante porque ninguém pode negar que conta com todo o fator surpresa necessário para pegar o Ocidente e os Rothscilds desprevenidos. O que fatalmente ocorreria não fosse o gênio Olavo de Carvalho desvendar toda a trama com aquela lucidez que lhe é habitual.
Mas mesmo que você não pertença ao grupo que supõe a China como fomentadora do comunismo gramsciano, está supondo que o acontecimento geopolítico mais impactante dos últimos 30 anos, que foi o súbito desmoronamento do bloco socialista, é completamente ignorado pelas atuais lideranças da esquerda, aqui e lá fora, que continuam simplesmente sonhando - e trabalhando - para voltar no tempo para aquele período em que o comunismo ruía implacavelmente em todo o mundo.
E se conseguirem o que você imagina que eles imaginam que vão poder fazer de diferente dessa vez?
Não Huxley, o PT não é dirigido por maconheiros de DCE. E se fosse você não teria motivos para superestimar nem temer essa gente.
Por mais antipatia que você nutra por Zé Dirceu e Genoíno, é razoável admitir que um dia eles, e muitos outros iguais, já foram estes idealistas dispostos a arriscar a própria pele por uma nobre causa. Porque a maioria eram jovens que levavam uma vida confortável de classe média, e embarcaram em uma aventura onde não tinham nada a ganhar mas provavelmente tudo a perder. Mas os homens pioram com o passar do tempo, e se tornam desiludidos e a desilusão às vezes forja neles o cinismo e a sordidez. O mesmo sacerdote hoje ateu que abusa sexualmente do coroinha, foi um dia o noviço que abriu mão de tudo para dedicar sua vida a Deus.
É inconcebível que homens maduros, vividos, cultos, que participaram intensamente da Política e da História nos últimos 50 anos, que conheceram até os bastidores do poder e tiveram poder, continuem sendo adolescentes ingênuos vivendo por uma utopia.
Então, se assim for, como poderíamos reinterpretar os mesmos fatos de modo que façam algum sentido?
A minha interpretação é a de que, tirando exceções excêntricas, ninguém mais leva a sério a proposta marxista. Portanto os ideólogos da esquerda reconheceram a necessidade da esquerda se reinventar. Entendem que muito do antigo discurso social e econômico, embora ainda cative parte do eleitorado, se posto em prática leva a governos ineficientes ou até desastrosos, dependendo do quê e de quanto for implementado. E um governo que não dá resultado é um governo que, se eleito não se reelege, se imposto não se sustenta.
Mas o quê alguém com uma mente política faria? Admitiria que esteve errado o tempo todo, que sempre foi um imbecil completo e correria para se filiar ao primeiro partido liberal onde ele não teria espaço? Ou se aproveitaria dessa demanda eleitoral que ainda existe por um discurso assistencialista e estatista, no entanto sabendo que se estas demandas forem atendidas além de um certo ponto, vai significar um tiro no próprio pé?
É aí que surge a "
política de substituição", que está sendo utilizada pelos adversários conservadores da esquerda para atacar seus antagonistas, disseminando uma teoria da conspiração que interpreta a política de substituição como uma estratégia para (RE)implantar o comunismo em escala global. Quando na verdade
é o oposto, é fruto do reconhecimento da falência de alguns aspectos das antigas proposições do discurso da esquerda, que precisaram ser substituídas por novas proposições que diferenciassem estes partidos de outros mais centrais ou de centro-esquerda. Caso contrário se tornariam indistinguíveis dos chamados neo-liberais e perderiam grande parte de seu capital político conquistado.
Mas conquistado em grande parte com promessas que eles já
NÃO TINHAM A MENOR INTENÇÃO DE CUMPRIR!Bom, eu já pus várias vezes aqui no CC gráficos e dados que mostram como o PT situação traiu aquele que sempre foi o cãozinho mais fiel do PT oposição: o MST.
Foi inevitável porque já sabem que uma reforma agrária total, no mundo de hoje, não vai tirar os camponeses da quase miséria e a maioria dos assentados não será capaz de manter suas propriedades.
Também já sabem que não podem manter o mesmo modelo de previdência social de 70 anos atrás e muito menos amplia-lo. Já acham que não podem manter um modelo trabalhista extremamente protetor e ainda assim gerar empregos. Já duvidam que um país como o Brasil possa gerar recursos para dar saúde universal a todos com qualidade e gratuita, não acreditam mais que possam fazer de todas as empresas estatais modelos de eficiência, etc, etc, etc...
Qual foi o esforço de investimento sério que o PT, em quatro mandatos, fez em reforma agrária, Saúde e Educação? Meninas dos olhos de qualquer governo socialista.
Como consequência o PT, à medida que foi se tornando governo, viu uma debandada na sua base, totalmente desiludida e decepcionada com o partido.
De lá surgiram o PSTU fundado em 1994, o PSOL fundado em 2004 e o REDE da candidata Marina Silva, outra dissidente do PT. Este último fundado em 2013.
Justamente quando o PT começa a ganhar eleições essa gente não quer mais pertencer ao partido.
Antes de tornarem-se o PSTU, os integrantes da sigla faziam parte em sua maioria de um braço do Partido dos Trabalhadores chamado de “Convergência Socialista”.
O PSOL foi fundado em 6 de junho de 2004, após a expulsão dos parlamentares Heloísa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro do Partido dos Trabalhadores (PT).
"Política de substituição" não é um termo inventado por mim e acho que já vi ser usado até pelo Ciro Gomes. Consiste exatamente em substituir antigas demandas de uma classe proletária (que já não se sabe mais nem se existe) e que já não consideram viáveis de serem atendidas, por outras exequíveis que deem uma cara de alternativo e social a partidos de esquerda como o PT. Que pareça o distinguir ideologicamente de outros, como o PSDB por exemplo. Assim se colocam como voz e defensores das minorias: dos negros, dos índios, dos quilombolas, das feministas, das mães solteiras, das prostitutas, dos sexualmente diversos...
Ironicamente grupos que foram solenemente ignorados ou reprimidos nos antigos Estados marxistas.
Claro, foi só uma questão de tempo para seus adversários políticos começarem a atacar estas políticas e estes grupos, mas na verdade com o objetivo estratégico de atingir a própria esquerda. Como parte dessa estratégia inventaram essa teoria da conspiração maluca que vê em levantar a bandeira destas causas, um plano maquiavélico para instaurar o comunismo em todo o planeta.
Só que esse nível da propaganda é direcionado para quem se impressiona com Ursal, com os illuminatis maçons, com os reptilianos, com a Terra plana...
Não deveria fisgar uma pessoa com seu nível intelectual, Huxley.
Bom, eu vou dar uma pausa aqui. Mas gostaria de retomar depois com os pontos abaixo levantados pelo Huxley.
- Conselhos populares
- Asilo a terroristas como Cesare Batisti
- Financiamento de ditaduras bolivarianas ( esse é particularmente interessante )
- Lula escolhe não fugir do Brasil
Para mostrar que estas elucubrações podem ser muito mais facilmente explicadas FORA de uma hipótese de conspiração comunista em grande escala. Incluindo o caso do financiamento de um certo governo esquerdista latino-americano, que, analisados todos os fatos, vai se revelar muito mais claramente como mais um episódio ordinário de corrupção sem nenhuma motivação ideológica.