Como você encara a atual situação que está passando e o fato de você ser cristã evangélica?
Se isso não é uma auto-ilusão, acredito que seja um problema médico ocorrido durante a gestação que me deixou com características de ambos os sexos (corpo de um e cérebro de outro) e pelo qual não tenho responsabilidade moral nenhuma - quero dizer não é pecado. E que Deus permitiu que isso acontecesse comigo por - sei lá - algum motivo. Pra me ensinar alguma coisa... Vai saber.
Achei muito interessante sua forma livre pensar sobre isso e de lidar com a possível consciência de culpa. Gostaria que a maioria dos cristãos pensassem assim também, embora acho essa postura incompatível com o cristianismo (leia mais abaixo), se tornando um paradoxo.
Pois pela grande parte da fé cristã(incluindo as variadas vertentes do catolicismo e protestantismo) você não estaria sofrendo de um "problema espiritual" ou algo do tipo?
Nunca vi nada disso de "problema espiritual" na Bíblia nem vi gente na minha igreja falar - diretamtente. Me parece mais uma superstição.
Mas já vi em programas de rádio de outras denominações, especialmente pentecostais. Meu irmão me contou que ouviu um radialista/pastor atender o telefonema de uma mulher que dizia que o casamento ia mal porque ambos estavam perdendo interesse um no outro, e já saiu diagnosticando "Isso é um encosto!".
Considero essas posturas totalmente absurdas.
Bom, sem querer entrar num debate bíblico, deve ser de seu conhecimento que a bíblia é cheia de passagens que condenam veementemente qualquer tipo de interação ou simples desejo sexual que não seja estritamente "homem - mulher"(e vice-versa) e somente no casamento, incluindo o homossexualismo etc etc etc, sim?
Em praticamente todas as igrejas evangélicas que freqüentei, desde as mais históricas até as mais pentecostais, é praticamente unanimidade que o desejo de pertencer ao sexo oposto trata-se de um problema espiritual e algo a ser "tratado" espiritualmente, no sentido de fazer a pessoa "curar-se" ou algo do tipo, a fim de livrar sua alma do inferno e, inclusive, basta lermos nas bíblias (católicas e protestantes) as várias passagens que tratam disso.
Sua maneira tranqüila de pensar nesse sentido, levando em consideração o fato de você ser evangélico(a), continua me surpreendendo muito, de uma forma positiva.
Espero que essa mesma liberdade de pensamento que você tem, face ao notório moralismo da cristandade, se aplique a outros aspectos da vida também.
Enfim, como você concilia isso com o fato de ainda ser "crente"(se é que ainda o seja)?
Sempre o uso da palavra "ainda", hehehehehe.
O que me incomoda de verdade não é "virar mulher", mas virar "lésbica"...
Diante de tudo, você pode ser realmente ainda "crente", mas apenas no sentido de acreditar em Deus e em Jesus, de uma forma nitidamente bem livre, nada convencional. Não consigo visualizar um cristão convencional confesso que possa admitir o desejo de se tornar do sexo oposto sem o menor problema com consciência de culpa e outras implicações do moralismo cristão.