Independentemente do mito de usarmos só 10% do "corpo" do cérebro, não é sabido exatamente o quanto melhor ainda poderíamos usar mais eficientemente o cérebro com "software" e "instalações" diferentes da que ocorrem mais naturalmente, e ainda que não se possa dizer que só se usa 10% do potencial do nosso cérebro, não sei se temos como saber quanto usamos, muito menos considerar que já estejamos muito próximos dos 100%.
Um exemplo para uma noção disso é aquela coisa já meio batida de crianças poderem aprender mais de um idioma com muito mais facilidade. Outros exemplos mais drásticos são diferenças não neuro-normativas, como dentro do espectro do autismo -- sendo mais famoso o caso do garoto que era capaz de praticamente desenhar uma reproduãço muito fiel de uma cena extremamente complexa duma vista aérea da cidade após um passeio de helicóptero (acertando até número de janelas nos prédios e esse tipo de coisa), mas acho particularmente mais interessante a descoberta mais recente de que eles podem ter "visão de águia", enxergarem com detalhes coisas a distâncias bem maiores do que as pessoas com visão normal costumam conseguir enxergar (se bem me lembro, em torno de 20 vezes, ou algo como a 20 metros, quando normalmente se enxergaria com a mesma definição apenas até 7... lembro vagamente desses dois números, 20 e 7, mas não tenho certeza de nenhum na verdade).
Outro exemplo é acho que com mal de Parkinson ou Alzheimer, uma paciente com uma dessas condições é capaz de, quando você joga uma bola de bêisebol para ela, a pegar e arremessar de volta na sua mão que arremessou a bola para ela - é como se para ela o tempo passasse mais devagar, meio como para o protagonista do filme/hq "wanted", ou como algumas vezes se supõe ser com moscas, ilustrando a situação em que uma pessoa tenta matar uma, mas ela escapa, e do ponto de vista dela, é como se nos movêssemos em câmera lenta.
Essas condições são reflexos de diferenças mais significativas nos cérebros do que a variação normal, mas talvez ilustrem parte do potencial que poderia ser alcançado por pessoas comuns com métodos adequados.
Especulaãço minha só, imagino que talvez possa haver algo como uma "hipótese de Sappir-Whorf anabolizada", isso é, a idéia de que a linguagem afeta na capacidade cognitiva de forma mais significativa. Talvez certos idiomas (os que são adquiridos primeiro) potencializem certas capacidades ou criem tendências de raciocínio. Isso até certo ponto nem é especulação minha, é aparentemente realidade mesmo (ou especulação de gente mais gabaritada do que eu e defendida como aparente realidade); por exemplo, pessoas de idiomas germânicos versus latinos, vão tender a gesticular de forma diferente ao dizer a mesma frase em seus respectivos idiomas, algo como, com uma frase como "escalou até o topo da montanha" uma pessoa que tem como primeira língua um idioma latino vai tender a gesticular imitando a escalada, enquanto que o que tem como primeira língua um idioma germânico vai apontar para cima. Também os falantes de linguagens tonais tem uma taxa muito maior (imagino, mas não sei, perto de 100%, ou seriam "dislexicos") de "perfect pitch", a capacidade de identificar as notas musicais em qualquer som -- embora quanto a isso parece haver suspeita da possibilidade de um componente genético.
Mas eu me pergunto se poderia ser mais que isso, meio como com a analogia de linguagens de computador e como umas são melhores para diferentes coisas que se queira desenvolver (como jogos versus aplicativos de trabalho). Talvez fosse possível então desenvolver idiomas que aproveitassem melhor o potencial do cérebro, ou diferentes idiomas para diferentes potenciais.
Nada que resultasse em qualquer coisa mais fantástica, telepatia, telecinésia nem nada disso. Imagino só capacidades de raciocínio mais afiadas em uma coisa ou outra. Por exemplo, outro cara, que, tanto quanto sei, não tem qualquer condição neurológica excepcional, tem capacidade de fazer contas de cabeça de forma excepcional (acho que vi num programa sobre os recordes do Guiness), mais rápido do que competidores com calculadoras. Ah, e por falar nisso, também se suspeita que diferenças em idiomas confiram alguma vantagem no aprendizado da matemática. Por exemplo, alguns números, como no português, onze, doze, treze, catorze e quinze, são morfologicamente "irregulares" se comparados a "dez-e-seis", "dez-e-sete", etc, cjos significados são morfologicamente mais lógicos, evidentes. Há em alguns idiomas (acho que em algum idioma japonês ou chinês foi o exemplo que vi) algo análogo a esses números serem "dez-e-um", "dez-e-dois", "dez-e-três", etc. Embora possa parecer bobagem, talvez para o cérebro infantil essa irregularidade cause um esforço que pudesse ser evitado e assim resultar numa vantagem no raciocínio matemático.
Artigo da Scientific American meio relacionado e com menos especulações quase de ficção científica:
http://www.scientificamerican.com/article.cfm?id=the-expert-mindhttp://wimse.fsu.edu/media/expert-mind.pdf