Manuelzão e Miguilim
João Guimarães Rosa
“Diante do pai, que se irava feito um fero, Miguilim não pode falar nada, tremia, soluçava; e correu para a mãe, que estava ajoelhada encostada na mesa, as mãos tapando o rosto. Com ela se abraçou. Mas dali já o arrancava o pai, batendo nele, bramando.”
A primeira novela deste volume, “Campo Geral”, é sobre a infância de um menino da roça, com suas descobertas do mundo e da vida. A segunda, “Uma estória de amor”, fala da velhice de um vaqueiro que sempre andou largado pelo mundo e começa a sentir, aos sessenta anos, a saudade da estabilidade doméstica que nunca teve. Sobre esses dois temas, o autor tece uma teia de narrativas, de casos, de histórias do Campo Geral e dos boiadeiros, com a linguagem que lhe é peculiar, e que levou muitos a considerarem esse volume como o mais elaborado dos que compõem a obra de Guimarães Rosa.
O caminho do ouro – Uma nova bandeira pela trilha do Anhangüera
João Garcia Duarte Neto
“Quando Saint-Hilaire passou por aqui, em 1819, Franca não tinha movimento nenhum, mas ele previu para a cidade o mesmo destino de Campinas: crescer. '... Não havia ali (em Franca) à época de minha viagem, mais do que cinqüenta casas, mas já tinho sido demarcado o local para a construção de várias outras. Era fácil ver que Franca não tardaria a adquirir importância.'”
Em comemoração aos 25 anos da rede EPTV (retransmissora da Globo no interior de SP) em 2004, a equipe de reportagem da EPTV resolve fazer uma reportagem pela trilha histórica de Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera II: sessenta dias a cavalo pelos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Ao longo do trajeto de 1650 km, partindo do Pátio do Colégio em São Paulo e indo até Cidade de Goiás, aparecem os costumes, as lendas, a riqueza do folclore e a exuberância da natureza. Sem falar nas revelações: além de encontrar os últimos trechos originais da estrada do Anhangüera, a expedição fotografa bichos que já se supunha extintos nessas regiões pelas quais os três cavaleiros passaram. Além disso, o livro é recheado com diversos fatos históricos da época das bandeiras e dos diversos locais aonde a expedição passou. O resultado, mais que uma aventura, é um documento de literatura de viagem do século XXI, repleto de personagens ímpares, belas paisagens, e o contraponto entre o que foi e o que é uma de nossas primeiras grandes estradas nacionais.
Eugênia Grandet
Honoré de Balzac
“– É muito interessante esse rapaz – disse ele, apertando-lhe o braço. – Acabaram-se as vindimas, adeus, ó cestos! A senhora terá que despedir-se da Srta. Grandet, Eugênia será do parisiense. A menos que esse primo se tenha apaixonado por uma parisiense, seu filho Adolfo vai encontrar nele o rival mais...
– Não pense nisso, senhor abade. O rapaz não tardará a perceber que Eugênia é uma pateta, uma rapariga sem viço. Prestou-lhe bem atenção? Esta noite estava amarela como um marmelo.”
O primeiro grande livro de Balzac, considerado por muitos sua obra prima, conta a história de Eugênia – a bela e sensível filha de um negociante extremamente avaro –, moradora de uma pequena cidade provinciana, cuja mão é disputada por membros de duas das famílias mais importantes da cidade, mas que acaba se apaixonando por seu primo que chega inesperadamente à sua casa, vindo de Paris.