As idéias defendidas por Buckaroo (e pelo meio científico) são:
1- Ascendência comum de todos os seres vivos, ou “macroevolução”, ou “evolução irrestrita”, ou “evolução com ganho de informação” (usando a terminologia criacionista). Todas as espécies atuais possuem um parentesco, ou seja, descendem de um ancestral ou ancestrais comuns. É possível e factual o surgimento, ao longo muitos milhões de anos, de espécies, gêneros, famílias, ordens, classes e filos a partir de outras preexistentes.
Uma nota que eu considero importantíssima:
a evolução defendida pela ciência não é de forma alguma irrestrita, é restrita pelo que é possível com diversos tipos de mutação, seleção, e genética populacional, etc... é bastante restrita dessa forma.
A não-restrição que ela têm é somente quanto a não ter uma "âncora" fenotípica para modificações no genoma. É a restrição do gradualismo.
Fazendo uma analogia, a evolução científica é como dizer que os humanos colonizaram todos os cantos do mundo por meios naturais de locomoção, passando por "macro distâncias" com o acúmulo de "micro distâncias". (há uma diferença um pouco significativa na analogia no fato de que provavelmente na maior parte do tempo nos seres vivos não houvesse algo fortemente análogo à a aviões e grandes navegações, mas analogias são sempre meio imperfeitas).
E os criacionistas dizem, por outro lado, que os humanos foram colocados já em suas populações e posições atuais, porque só se observa cotidianamente microlocomoção, as pessoas indo para os mercados, e para os trabalhos, etc; para ir para mais longe há vários problemas, como o idioma ser possivelmente diferente; mesmo considerando que a menor distância entre dois pontos é uma linha reta, há muitas dificuldades como haver muitos rios e oceanos que nem mesmo campeões de natação cruzariam à nado; montanhas difíceis e um número muito pequeno de alpinistas para cruzá-las, etc. Logo as pessoas ficam mais ou menos em algumas dezenas de km de raio de onde nascem, o que significa que as populações foram postas ex-nihilo onde estão hoje.
Isso não significa que os "evolucionistas" negassem muitos desses problemas, que dissesem que qualquer um pode começar a andar em linha reta e chegar no Japão sem se cansar. Ainda que por exemplo, não se saiba exatamente como todos foram resolvidos exatamente. Há por exemplo, alguma controvérsia quanto as primeiras colonizações da América, algumas parecendo viagens meio improváveis para a tecnologia do tempo. Mas de modo geral, a despeito de eventuais problemas, a "micromigração" parece dar conta da macro, sem precisar de meios sobrenaturais.
(... alguns criacionistas prontamente objetariam à analogia dizendo que migração é inteligente... espero que não ocorra aqui porque é sinal de não entender a analogia absolutamente, ams ter uma fixação compulsiva em dizer o que é feito inteligentemetne e o que não é

)
2- Origem da vida de forma natural e sem nenhum tipo de “interferência inteligente”, ocorrida a partir da organização química aleatória e gradual de moléculas orgânicas nas condições do mundo pré-biótico com base unicamente em suas propriedades físico-químicas.
A aleatoriedade não é necessariamente algo tão importante... química e formação de moléculas não é como um monte de bolas de bilhar que batem umas nas outras aleatoriamente, e acontece de umas ficarem mais perto das outras... há "vícios" nos dados e mecanismos que aumentam esses 'vícios"... a própria vida é uma série de mecanismos que fazem isso de forma bastante consolidada, e não algo mágico, que viola as leis da física ou química.
Deadlock contesta estas duas proposições citadas. As únicas alternativas lógicas às mesmas são (se houver outras, favor citá-las):
1- Todos os atuais filos, classes, ordens, famílias e gêneros (favor me corrigir se eu omiti ou exagerei algo) surgiram de forma independente. Não há parentesco ou ascendência comum entre os mesmos. Não é possível o surgimento de filos, classes, ordens, famílias ou gêneros a partir de outras preexistentes. È possível a variação restrita internamente a estas categorias, inclusive especiações; mas nunca o surgimento de outras ordens, classes ou filos a partir de outras preexistentes em milhões de anos.
2- Origem da vida a partir de uma “intervenção inteligente”.
São duas (no mínimo) questões separadas. Se admite-se que a vida só pode ter surgido de forma não natural (seja lá como se prove isso), então isso a princípio não tem nada a ver com o parentesco entre os seres... (que talvez seja o que sugere com o número 2...)... ou seja, a vida pode ter surgido por um fenômeno mágico qualquer, inteligente ou não, e evoluído conforme as evidências de parentesco indicam.
Pode ainda (falando de possibilidaddes lógicas, a despeito dos problemas técnicos) não haver parentesco entre os seres, mas a vida ter surgido naturalmente; as evidências de parentesco seriam apenas coincidência ou plantadas por um ser inteligênte, ou ainda, resultado de propriedades mágicas inerentes ao fenômeno da vida, ou qualquer coisa que se invente, como um "DNA-fantasma".
outras possibilidades também existem, a vida pode sempre ter existido: pode ser que nunca tenha ocorrido big-bang, o universo seja eterno, e a vida de certa forma "sempre" existiu ou teve tanto tempo para se formar que por mais improvável que fosse, e mesmo que fosse completamente aleatório, com tempo infinito eventualmente ocorreria... aí poderia evoluir, ou não, conforme as alternativas já mencionadas...
outra possibilidade é ainda mais desconcertante, a vida ter sempre existido de maneira mais ou menos como é, um relativo fixismo, no planeta Terra, etc, que sempre existiu, e todas as evidências em contrário são falsas.
Pode ser ainda que a vida não exista na verdade, e que sejamos simulações num universo onde só existe o que chamamos de "inteligência artificial", ou algo assim.
e acho que podem haver mais possibilidades ainda...
Com base no exposto, eu faço as seguintes perguntas aos defensores de ambas as idéias:
1- Que observações, evidências, situações ou fenômenos, caso ocorressem, contradiriam e portanto provocariam a modificação ou o abandono das teorias por vocês defendidas?
Quanto a
ancestralidade comum universal: diversas observações teoricamente possíveis seriam extramamente conflitantes com isso (algumas apenas num nível bem menor, que na prática daria quase na mesma coisa para os fins desse tipo de debate), na verdade, dentre todas as observações possíveis, as que seriam contraditórias com a ancestralidade comum universal, seriam mais prováveis, ou seja, esperadas em imensa maior quantidade do que as favoráveis. Explico as coisas um pouco mais detalhadamente
nesse tópico recente, em alguns outros, e no site do talk origins, no artigo
+29 evidences for macroevolution, resumido, porém bem mais extenso, há diversas evicências e suas respectivas possíveis refutações, o que seria de se esperar se os caracteres dos seres vivos não fossem restritos por reprodução biológica e descendência de um ancestral comum universal.
Essas são algumas das coisas possíveis, há outras que se pode imaginar, mas mais improváveis, como as mutações terem um sistema desconhecido que as ativamente limita não causarem modificações fenotípicas que justificariam classificações em táxons muito distantes. Algo assim pode ser desconsiderado tendo em consideração as evidências que citei anteriormente, e o parentesco entre raças de cães, por exemplo, que apesar de não constituírem espécies diferentes, se fossem simplesmente classificados de acordo com diferenciação morfológica, poderiam ser considerados espécies ou gêneros distintos, em alguns casos. Há restrições circunstanciais na evolução possível dos organismos, mas nada que sugira que os organismos apenas pareçam ser aparentados, por coincidência ou algum outro mecanismo misterioso - coisas que eu desconsidero por causa da plausiabilidade também.
quanto à
origem da vida a partir de química mais simples: 1) apresentação de mecanismos mais plausíveis para a origem da vida, de forma diferente, como observação de fenômenos, ou apresentação de modelos plausíveis, de geração espontânea de seres complexos. Se por algum motivo a geração espontânea desses seres calhar de criar ou justificadamente prever que seriam gerados apenas seres que pareçam por coincidência (ou não) serem aparentados com outros seres pré-existentes, também teria que reavaliar parte da idéia de ancestralidade comum universal, fazer um reexame a luz desse novo fenômeno.
Nesse caso, a coisa fica um tanto "irrefutável" em si mesma, no sentido de que é a única coisa que eu conceberia logicamente como possível, sem que fosse mostrada uma alternativa melhor, mais plausível. Porque assumo que a vida existe, e que parece improvável ter sempre existido, ou ter surgido altamente complexa por algum mecanismo desconhecido. A ancestralidade comum universal tem um pouco a vantagem de poder ser mostrada falsa mesmo sem necessariamente se fornecer qualquer explicação alternativa, mas no caso da origem da vida a partir de formas mais simples de organização química, não sei como isso seria feito. Porque me parece que qualquer afirmação de que isso seria impossível, de modo geral, é um apelo à ignorância, simplesmente. Teorias específicas podem ser refutadas, como as de abiogênese do século XIX, ou mesmo a teoria de Oparin, se ele esperava que algo como o experimento de Úrey e Miller já produzisse vida logo de cara, em vez de ser apenas parte do processo.
Agora para os defensores da “macroevolução” e abiogênese (Buckaroo e outros):
1- Cite um ou alguns mecanismos plausíveis (no sentido que eu expliquei) para o surgimento de espécies, gêneros, famílias, ordens, classes e filos a partir de outras espécies, gêneros, famílias, ordens, classes e filos preexistentes.
O mecanismo para o surgimento de diferentes grupos taxonômicos é essencialmente o mesmo: acúmulo de modificações hereditárias entre popoulações. Eventualmente as populações se isolam, e mais ou menos gradualmente vão acumulando diferenças, e mais ou menos gradualmente, vão se tornando reprodutivamente incompatíveis (devido à diferenciação), até que a prole entre as duas é primeiramente estéril, eventualmente até inviável.
Só existe especiação; praticamente inexiste algo como "generação", "familiação", etc... esses grupos e os mais "elevados", são produto da acumulação de diferensas por tempos bem maiores, porque a classificação deles só foi feita depois de muita evolução já ter ocorrido.
Não apenas por isso, mas também "produtos da história". Quero dizer, não vão continuar surgindo novos grupos, com um mesmo grau de diferenciação, "numérico", num ritmo constante, como se a evolução fosse produzir um fractal perfeito... em vez disso, o grau de diferença entre plantas e animais, por exemplo, não necessariamente seria facilmente "duplicado" novamente dentro das plantas, ou dos animais, mesmo com o passar de muito tempo. As linhagens vão adquirindo características gerais que restringem a sua evolução futura. Pode ser um pouco comparado com um jogo de xadrez, que no início tem um monte de possibilidades de movimento, mas no decorrer do jogo perde-se peças, ou coloca-se em lugares onde elas não podem se mover mais, etc. Um exemplo um pouco mais claro disso, seria por exemplo, a evolução de neotenia em algumas formas é mais viável do que em outras. Existem salamandras neotênicas, isso é, que ficam adultas mantendo a forma larval. Acho que o mesmo poderia ocorrer, por exemplo, com lagartas de borboletas (se não me engano, há uma espécie em que a fêmea nunca vira borboleta, mas não tenho certeza), e isso representa um relativo salto de diferença morfológica, ao menos potencial. Agora, o mesmo tipo de coisa é mais improvável na maioria dos vertebrados terrestres, porque o feto e estágios anteriores são extremamente dependentes do desenvolvimento no ovo, no marsúpio, ou no útero. Isso restringe a maioria dos vertebrados terrstres a evoluir de acordo com essa restrição, e conseqüentemente, em algo muito próximo daquilo que ele já é - um vertebrado, com a maioria das características de seus anecstrais imediatos, em vez de algo como um verme, um cogumelo, inseto ou planta.
No caso de todas as transformações de desenvolvimento (de qualquer grupo, mais ou menos restrito dessa forma), ainda há as restrições adaptativas diversas.
2- Faça o mesmo em relação à origem da vida.
Eu não sei como surgiu a vida, ninguém sabe ao certo. Mas desde que se concluiu que a vida não é especial, não há uma "força vital" que anima os seres vivos, a idéia geral é de que alguma forma a matéria acabou se organizando em coisas vivas. Hoje pensa-se que são necessários vários estágios, gradualmente passando por coisas que não chamariamos de propriamente vivas nos estágios primários ou no meio termo. Por exemplo, vírus e príons, uns chamam de vivos, outros não (eu não); há ainda o caso especial dos mimivirus, que a despeito de serem "principalmente" vírus, e não-vivos na maioria dos conceitos, fazem algumas coisas que só seres vivos "deveriam" fazer.
Existem diversas teorias, mas de modo geral compostos e estruturas que tenham alguma semelhança em funcionalidade (ainda que inferior) às "usadas" nos seres vivos atuais teriam sido produzidas abioticamente e se combinado formando "vida" primitiva; com a "sobrevivência" garantida por desequilíbrio termodinâmico menos controlado que nas células atuais, fornecido apenas por alguma estrutura geológica ou química que se formasse natuarlmente, e de reprodução rudimentar. Alguns supoem que o "genótipo" primitivo e o fenótipo fossem coisas praticamente independentes, ou seja, que a informação reproduzida de forma mais análoga À reprodução genética não tivesse inicialmente grande controle sobre as características da sua "célula" primitiva, que poderia até se reproduzir por um processo independente, pouco relacionado com o que ocorre com os proto-genes. De certa forma, seria como a relação entre vírus e células hospedeiras. E daí teria evoluido uma espécie de simbiose dessa "célula" com seus gene-vírus, devido à vantagens relacionadas ao poder dos "genes" sobre o "fenótipo".
Acho eu que as primeiras formas de proto-vida seriam extremamente dependentes do seu meio ambiente, que idealmente, seria muito hospitaleiro. Esse "hospitaleiro", de qualquer forma, não é relativo à qualquer forma de vida atual (acho que foi o criacionista Duane Gish que inclusive mencionou que a suposta atmosfera da Terra primitiva "mataria embriões", o que é duplamente irrelevante, já que as primeiras formas de vida não seriam embriões de qualquer forma atual, o que talvez ele imaginasse devido à influências de teorias antigas como de que a "ontogenia recapitula a filogenia").
Seria hospitaleiro especificamente para os proto-seres, o que quer que eles fossem, e o que quer que fosse ser hospitaleiro para eles. Hoje em dia por exemplo, há os chamados extremófilos, seres diversos (na maioria micróbios) que vivem em meios que são nocivos para a maior parte dos seres vivos em geral . Muitos cientistas consideram que alguns extremófilos atuais possam inclusive ser meio que "remanescentes" das primeiras formas de vida propriamente dita.
Não significa que a Terra toda fosse hospitaleira, poderiam haver abrigos naturais, com margens mais ou menos claramente delimitadas. Conforme a vida ou proto-vita tenha se consolidado nesses abrigos, iriam evoluindo formas menos dependentes desses abrigos, tão mais facilmente quanto menos drástica for a delimitação entre o abrigo e o não-abrigo. Se bem que dependendo da mudança necessária para viver fora do abrigo, é ao menos teoricamente possível que ela pudesse ser adquirida não de forma extremamente gradual, mas em uns poucos passos, de forma mais ou menos análoga à que em alguns casos apenas uma única mutação em uma bactéria já representa vantagens adaptativas bastante drásticas.
Depois disso, e/ou durante isso, a proto-vida evolui gradualmente até o que hoje se chama de vida, passando por coisas que ainda não se sabe exatamente o que seriam, mas grosseiramente, poderia-se dizer que são meio como mimivirus, micobatéria (numa versão dependente de ambiente, em vez de hospedeiro), e bactérias, se adaptando a diversos ambientes.