Um pouco sobre o líder do Hezobollah, segundo dizem mais perigoso para Israel do que Bin Laden para os EUA.
Fonte: O Globo

Nasrallah é o secretário-geral do grupo radical Hezbollah (ou Partido de Deus).
O rosto dele é usado como protetor de tela em computadores de muita gente e figura em cartazes em paredes de lojas, escritórios e oficinas mecânicas do Líbano, onde, aliás, a bandeira amarela do grupo extremista está mais presente do que a própria bandeira do país.
O motivo de tal popularidade tem mais a ver com a pobreza do que com o extremismo — embora, em alguns casos uma coisa tenha levado à outra. Para uma boa parcela dos libaneses, o Hezbollah é mais importante (e útil) do que o Estado. Hospitais, clínicas, farmácias, mercearias, orfanatos, escolas — e até mesmo o recolhimento do lixo, em algumas localidades — são administrados pelo grupo. E os preços cobrados são menores que os do mercado.
— Nasrallah é um homem de Deus, das armas e do governo. É um cruzamento entre o aiatolá Khomeini e Che Guevara, um populista islâmico e também um carismático estrategista de guerrilha — define Robin Wright, uma jornalista que o entrevistou recentemente para o livro que está prestes a lançar (“Sonhos e Sombras: o futuro do Oriente Médio”).
Nasrallah estudou política no Iraque e religião no Irã, e é famoso pelo seu dom da oratória. Tido como uma das mais carismáticas figuras do Oriente Médio.
Hábil, Nasrallah — que assumiu a chefia do Hezbollah em 1992, com apenas 32 anos — conduziu a sua tropa com astúcia, criando para ela uma legítima representação: o grupo extremista passou a ser também um partido político. Ele hoje ocupa 14 dos 128 assentos no Parlamento libanês, e tem também um ministério. Nasrallah é respeitado, sobretudo, porque é atribuído a ele — ao poder de sua tropa — o fim da ocupação do sul do Líbano por Israel.
Políticos da região que tiveram contato com ele o definem como culto e inteligente, e mencionam com admiração o fato de Nasrallah ter contado a eles que, com o objetivo de conhecer os seus inimigos, leu os livros de memórias de todos os líderes israelenses.
Há três meses a al-Qaeda, de Osama bin Laden, tentou assassiná-lo. Embora nos Estados Unidos os dois sejam vistos como eventuais parceiros — certamente pelo fato de ambos serem seus inimigos mortais — eles não se afinam bem. Trata-se, basicamente, de uma rixa entre duas correntes islâmicas: de um lado um sunita, de outro um xiita. Nasrallah foi apontado pela al-Qaeda como “inimigo dos sunitas”. Outro fator que os distancia é que, embora acredite que o islamismo possa solucionar os problemas de todas as sociedades, o líder do Hezbollah — ao contrário dos fanáticos de plantão — não tenta impor a religião aos demais.
Nasrallah acredita que apenas os homens-bomba podem garantir a democracia, como ficou claro num discurso que fez no início deste ano:
— Enquanto houver guerreiros prontos ao martírio, este país permanecerá seguro — disse ele.
Suas palavras ganham força perante admiradores pelo fato de ele ter perdido um filho adolescente em nome da causa. Era o primogênito. Morreu em 1997 numa troca de tiros com tropas israelenses no sul do Líbano.
O dilema de Israel, hoje, é que a eventual morte de Nasrallah nos atuais bombardeios poderia, em vez de marcar o fim do Hezbollah, significar a criação de um novo e mais influente mártir para os seus inimigos.