A diferença, Videomaker, é que você classifica as crenças, para você a sua crença em deus é "mais legítima" do que as outras crenças em entidades fantásticas. Tudo bem, talvez o papai noel não seja o melhor exemplo, mas milhares de pessoas já acreditaram em dragões, os hindus acreditam em centenas de deuses, etc. O que faz a sua crença melhor que a deles? Ah, já sei, sua imensa vontade de crer.
Deus é a causa primeira de todas as coisas.
Temos um princípio elementar que se julgue uma causa por seus efeitos, mesmo quando não vemos essa causa. Assim, se um pássaro é atingido por um chumbo enquanto voa, julga-se que um hábil atirador o feriu, ainda que não se veja tal atirador.
Um outro princípio também elementar, passado ao estado de axioma, por força de verdade, é que todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. Perguntando-se sobre o construtor de um engenhoso mecanismo, o que se pensaria daquele que respondesse que se fez por si mesmo? Do contrário, diz-se, corretamente, que isso deve ser o produto de um homem de gênio, porque uma alta inteligência deve ter presidido a sua composição. Não obstante, julga-se que um homem deveu fazê-lo, já que não está além da capacidade humana; não ocorrendo a ninguém dizer que trata-se do trabalho de um animal ou mero produto do acaso.
Verifica-se a existência dos homens nas épocas mais remotas da humanidade não só pelos fósseis, mas também, e com igual certeza, pela presença nos terrenos dessa época, de objetos trabalhados por eles: um fragmento de vaso, uma pedra talhada, uma arma bastarão par atestar sua presença. Pela grosseria ou perfeição do trabalho se reconhecerá o grau de inteligência e adiantamento daqueles que o realizaram.
Pois bem! Lançando os olhos ao redor de si, sobre as obras da natureza; observando a previdência, a sabedoria e a harmonia que regem a tudo, reconhece-se que isso tudo está além de qualquer capacidade humana de criação. Sendo assim, é um produto de uma inteligência superior à humanidade, a menos que se diga que há efeitos sem causa.
Mas a isso pode se opor o seguinte raciocínio: as obras da natureza são o produto de forças naturais que agem mecanicamente, em conseqüência de leis de atração e repulsão. As moléculas de corpos inertes se agregam e se desagregam sob o império de tais leis. As plantas germinam, crescem e se multiplicam em virtude dessas mesmas leis; cada indivíduo é semelhante àquele do qual saiu; o crescimento, a floração, a frutificação e a coloração estão todos subordinados a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. Os astros se formam pela atração molecular e se movem em suas órbitas pelo efeito da gravitação. Essa regularidade mecânica no emprego das forças naturais não denota uma inteligência livre. O homem movimenta seu braço quando quer, e como quer; mas aquele que o movimentasse, no mesmo sentido, desde o seu nascimento até a morte, seria um autômato. Ora, as forças da natureza são puramente automáticas.
Tudo isso é verdade; mas essas forças são efeitos que devem ter uma causa. São materiais e mecânicas, não são inteligentes por si mesmas, ainda é verdade; mas são postas em ação, distribuídas e apropriadas para as necessidades de cada coisa, por uma inteligência que não é a dos homens. A apropriação útil dessas forças é um efeito inteligente que denota uma causa inteligente. Um pêndulo se move com uma regularidade automática, e é essa regularidade que lhe dá o seu mérito. A força que o faz agir assim é toda material e nada inteligente; mas o que seria desse relógio se uma inteligência não houvesse combinado, calculado e distribuído o emprego dessa força para fazê-la caminhar com precisão? Do fato que a inteligência não está no mecanismo do relógio, e de que ela não é vista, seria racional concluir que não existe? Ela é julgada por seus efeitos.
A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo atesta a inteligência e o saber do relojoeiro. Quando o relógio nos dá, no momento próprio, a informação de que temos necessidade, jamais vem ao nosso pensamento dizer: eis um relógio bem inteligente.
Ocorre o mesmo com o mecanismo do universo. Deus não se mostra, mas se afirma pelas suas obras.