Puxa!!! Até que enfim fizeram a pergunta que eu estava esperando! Tanta bobagem que se fala e se pergunta e ninguém coloca o dedo na ferida... Eu achava que os céticos fossem mais espertos. Já havia até desistido de continuar esse debate.
Anyway... Como até que enfim apareceu a pergunta que eu esperava, vamos tentar desenvolver o assunto:
Caro Lord Barata,
Para começar, vou citar um trecho de um texto publicado pelo APODman aqui mesmo no Clube Cético em outra ocasião, sobre o racismo e o espiritismo:
2. O RACISMO
O racismo, segundo a acepção do “Novo Dicionário Aurélio” é “a doutrina que sustenta a superioridade de certas raças”. Enquanto sistema de pensamento, o racismo teve as suas primeiras teorizações no século passado, na França. O Conde de Gobineau foi o principal teórico das teorias racistas. Sua obra, “Ensaio Sobre a Desigualdade das Raças Humanas” (1855), lançou as bases da teoria arianista, que considera a raça branca como a única pura e superior às demais, tomada como fundamento filosófico pelos nazistas, adeptos do pan-germanismo.
O racismo caracteriza-se como um sistema segregacionista por natureza, uma ideologia que prega a supremacia de um povo, de uma raça, ou mesmo de uma cultura sobre outras, expressando-se de diversas maneiras: em nível cultural, religioso, biológico. Na concepção de valores, e em nível institucional, legalizado.
É um fenômeno de caráter universal. Os judeus, na Antigüidade, comportavam-se de modo racista ao se considerarem como o povo eleito pelo Deus-Jeová e ao discriminarem os outros povos, chamados por eles de gentios. Para o romano, todo aquele que não participasse de sua cultura era chamado pejorativamente de bárbaro. Os espanhóis, que trucidaram os povos pré-colombianos, consideravam-nos como seres inferiores, o mesmo ocorrendo no Brasil com os bandeirantes portugueses em relação aos indígenas brasileiros.
Apesar de ser um sistema que não se limita somente à discriminação do negro, o racismo é hoje quase sinônimo de perseguição à raça negra, bastando se reportar ao extinto regime racista do apartheid, na África do Sul e o racismo brasileiro, marcante na concepção de valores e escamoteado pelo mito da “democracia racial”.
No Brasil, passados mais de 100 anos da promulgação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, que libertou (legalmente) os negros da escravidão, há muito ainda por ser conquistado a fim de que o negro tenha, de fato, sua dignidade garantida e respeitada.
fonte:
http://viasantos.com/pense/down/Eugenio_Racismo.PDFComo você pode observar pelo texto, o racismo significava originalmente uma doutrina que "sustenta a superioridade de certas raças". Depois, por causa do mau uso dessa doutrina, o racismo passou também a ser sinônimo de perseguição, discriminação e preconceito.
O racismo como doutrina, representa apenas uma opinião e não há nada de reprovável nisso. Como perseguição, discriminação e preconceito, torna-se hediondo. Não existe nenhuma dúvida que Kardec não era racista nestes últimos significados, apesar de alguns opositores mais exaltados o qualificarem de brutal e grosseiro. Entretanto, admite-se a dúvida com relação ao primeiro significado por causa do conteúdo dos seus textos. Contudo, mesmo que fosse constatado que Kardec tivesse sido racista sob o ponto de vista doutrinário, isso não revelaria nem mesmo uma falha moral leve, pois a sua intenção sempre foi a de explorar e dizer a verdade, ainda que nesse processo ele possa ter se equivocado.
Kardec escreveu sobre a inferioridade da raça negra, assim como de outras raças, sob o ponto de vista corporal e sob o ponto de vista espiritual. Então, nada mais lógico que façamos a análise em separado. Será que Kardec era racista sob o ponto de vista espiritual? E sob o ponto de vista corporal?
Kardec sugeriu que a raça negra era constituída de espíritos inferiores no sentido de pouca bagagem de inteligência adquirida (conhecimentos e habilidades) e talvez de moral, mas não inferiores no sentido de que sejam de uma natureza diferente e que não possam nunca adquirir o que lhes falta como espíritos. Já vemos por aí que as diferenças que ele apontou se referem às mesmas que tem um professor universitário formado e experiente em relação a um calouro de faculdade. Os dois não seriam diferentes em potencialidades, mas sim em quantidade de conhecimentos e habilidades acumuladas. Com isso, Kardec não pode ser acusado de ser racista sob o ponto de vista espiritual, pois pregava que as diferenças intelectuais e morais existentes entre os espíritos que habitavam as raças negra e branca eram temporais, e não eternas.
Mas e sob o ponto de vista corporal, Kardec era racista? Bem, antes de questionarmos se determinada doutrina é imoral ou não, devemos antes nos perguntar se ela é verdadeira, ou se pode ser verdadeira. A verdade, doa a quem doer, não pode ser considerada imoral. Se algum dia alguém provar que realmente existem diferenças qualitativas e/ou quantitativas absolutas entre as raças, nenhum racista (no sentido doutrinário) pode ser considerado imoral. Pelo contrário, todos nós é que deveríamos então nos tornar racistas (no sentido doutrinário, desculpe a repetição), pois caso contrário estaríamos seguindo o caminho da mentira e faltando com a verdade.
Sob o ponto de vista intelectual, eu ainda não vi evidências históricas de que essas diferenças entre as raças não pudessem existir, pelo menos até o século XIX. Sob o ponto de vista moral, eu tenho lá as minhas dúvidas, pois toda a humanidade possuia um alto grau de imoralidade. E sob o ponto de vista físico, também há indícios de que algumas raças fossem (ou sejam) mais fortes e resistentes que outras.
Kardec deixou a entender que a raça negra como organização física seria sempre a mesma, sendo perfectíveis em limites mais estreitos com relação à raça branca. Entretanto, com o abastardamento, essa condição poderia mudar, estatisticamente falando. Mas tudo o que ele disse se referia ao ponto de vista intelectual. Kardec não escreveu nada sobre as condições físicas. Kardec não se interessou por elas porque o seu interesse principal era analisar as diferenças sob o ponto de vista espiritual e as condições físicas neste caso não interessavam, pois de que adiantaria um espírito forte e com mais saúde no mundo dos espíritos? Mas sob o ponto de vista corporal, esse aspecto é fundamental levarmos em conta. E nesse sentido, ao contrário, os indícios apontam para uma possível superioridade da raça negra em relação à maioria das outras raças, inclusive a branca. Quem sabe um pouco de história, sabe que os portugueses tentaram escravizar primeiro os índios. Estes não agüentaram o ritmo de trabalho. Então os portugueses os substituíram pelo negros africanos, que eram mais fortes e resistentes. Os elementos da raça negra são os que mais se destacam nos esportes, como o futebol e o atletismo, tanto que Hitler ficou furioso quando perdeu para eles a maioria das medalhas nas olimpíadas de Munique, etc. Vejam que falo de indícios.
Portanto, não há como negar que há indícios de que a raça negra era a mais forte fisicamente falando, e como estamos agora nos referindo ao racismo físico (no sentido doutrinário), e racismo (no sentido doutrinário) se refere à superioridade absoluta de uma raça em relação à(s) outra(s), ou seja, superioridade em todos os sentidos, e como sabemos que a raça negra não é inferior fisicamente à nenhuma outra raça, e como sabemos que Kardec certamente sabia disso, então Kardec não pode ser considerado racista sob o ponto de vista físico.
Há ainda um outro aspecto do racismo doutrinário que Kardec não tinha, e neste caso não há nem motivos para a dúvida razoável. A maioria dos racistas doutrinários considerava a raça branca como pura, e Kardec nunca disse que haviam homens puros na Terra. Pelo contrário, sempre disse que a Terra era um mundo inferior e que todos aqui, sem exceção, estavam nadando na lama da inferioridade em todos os sentidos e que todos precisariam evoluir.
Resumindo: Kardec não era racista no sentido espiritual porque disse que as diferenças existentes entre os espíritos eram somente temporais, como a diferença que existe entre um adulto e uma criança. E Kardec não era racista no sentido material porque nunca sugeriu que uma raça fosse inferior à outra em todos os sentidos.Portanto, se Kardec não pode ser considerado racista no sentido espiritual, nem pode ser considerado racista no sentido corporal e nem tampouco pode ser considerado racista sob o ponto de vista discriminatório e de perseguição, então Kardec não pode ser considerado racista de modo algum. Compreendem? Por isso disse que a acusação era injusta. Mais uma vez: ainda que ele tivesse sido racista sob o ponto de vista doutrinário, mal nenhum haveria nisso. Representaria apenas no máximo uma opinião equivocada. E a doutrina espírita não sofreria com isso. O principal problema neste caso seria a confusão dos significados de racismo doutrinário e discriminatório.
Pelo que já escrevi no passado neste tópico e no tópico "Um espírito pode suicidar-se?", penso que não é necessário me alongar mais, pois a minha opinião está bem clara juntando tudo. É claro que não tenho a pretensão de convencer ninguém e cada um que se obstine nas idéias que quiser. Só deixo a minha contribuição para o assunto.
Um abraço a todos.