Parece que encerramos, não é. Não há nada de novo que ainda não tenha sido discutido.
Pensei melhor e mudei de idéia. Talvez ainda possamos desenvolver um pouco mais a questão.
Leafar, o que você considera que é a religião em si? A doutrina escrita, ou a compreensão, inspiração e vivência dos que tem a intenção de segui-la?
Qual das duas é mais válida?
Por que?
Para mim, o que tem valor em uma religião é o seu corpo doutrinário. Em outras palavras, o que tem valor é o que está escrito. Inspiração e vivência eu posso conseguir sem religião alguma. Já para adquirir a compreensão, eu preciso da doutrina escrita.
Pois para mim é exatamente o contrário; qualquer doutrina tem exatamente o valor que lhe for emprestado pela inspiração que seus adeptos consigam obter. Nenhum mais. Assuntos espirituais são muito melhor traduzidos nos corações e mentes dos religiosos sinceros do que em meros textos de letras mortas.
Isso me lembra que é o que dizem a maioria dos mistificados quando confrontados em seus fundamentos: É uma crença do bem... Qual o problema da crença, se no final prega o bem...? É só uma justificativa tola para não precisar confrontar a razão. É como dizia Jesus: "têm olhos e não vêem, têm ouvidos mas não escutam...". Que fazer? É um direito assim pensar e agir.
Ainda que suas bases não possam ser comprovadas ceticamente, como diriam os nossos amigos, mas que ela tenha pelo menos uma estrutura sólida, lógica e não contraditória.
O que, aliás, não acontece no caso da DE, que se contradiz a toda hora, principalmente sobre questões como a existência de Livre-Arbítrio ou a confiabilidade dos "espíritos superiores".
A questão do livre-arbítrio é clara para nós, isto é, ele existe. Não há contradição sobre este ponto dentro da DE. Alguns espíritos é que ditam sistemas querendo interpretar aquilo que já está claro. Mas não é nem sequer levado em consideração pela maioria dos espíritas.
Quanto à confiabilidade dos Espíritos Superiores, ela está no grau da sua superioridade. Por exemplo: "um aluno de segundo grau é considerado superior pelo aluno do primário, mas considerado inferior pelo formando da faculdade. Não dizemos que os espíritos superiores são necessariamente superiores em tudo. Todos têm as suas limitações em alguns pontos. Você, com todo o respeito, é que não enxerga que a doutrina ensina isso e entende que as contradições dos espíritos representam as contradições da doutrina.
Se ela tem esses atributos, é uma crença válida. Se não tem, é uma crença inválida.
Não está faltando a etapa de confrontá-la com a realidade dos fatos? A história da Terra-Média ou a narrativa de Pokémon são mais sólidas e menos contraditórias do que a DE, mas não são válidas só por isso.
Sim. Está faltando essa etapa. Mas se ela for vencida, deixa de ser crença para virar realidade (se comprovada) ou ficção (se comprovada falsa). Eu, por exemplo, enxergo o Espiritismo como realidade. Alguns o enxergam como crença. Outros como ficção. Os atributos que citei apenas validam ou não uma certa doutrina como crença.
Existem, entretanto, outros que são cegos voluntários, pois, enxergam a falsidade patente, mas preferem ainda chamar de crença aquilo que não pode nem ser crido (não me refiro a você diretamente).
Lamento que você prefira dar mais crédito a estórias de Pokémon, que são comprovadamente falsas do ponto de vista de realidade do que à possibilidade de veracidade das comunicações espíritas, que são relatadas às milhares e são, no máximo, supostamente todas falsas.
Na verdade, é ao questionar os princípios que se aprende seu verdadeiro escopo e se aprende a estendê-los de forma adequada. Nenhuma verdadeira religião encoraja seus adeptos a fugir para o texto da escritura. Cada adepto _TEM_ ou deve buscar desenvolver as condições de acrescentar seu próprio grão de areia, inclusive à doutrina.
Concordo e fazemos isso com relação à DE. Às vezes até demais... E a retirar o grão de areia colocado indevidamente, a "verdadeira religião" encoraja a fazê-lo? Pode a verdade conviver bem com o erro?
Pode-se tentar explicar o universo sob os diferentes pontos de vista, mas é mandatório que uma explicação não desminta a outra. Caso isso aconteça, temos que escolher em quem acreditar. A teoria da criação e da evolução é um típico exemplo. As duas se contradizem, as duas se consideram a palavra final sobre o assunto, mas só uma pode ser verdadeira (ou nenhuma).
Na verdade não. Nada impede, em tese, que um hipotético Criador escolha dar origem à vida pela abiogênese e às espécies pela seleção natural.
Dialética é uma arte valiosa, sabe.
Na verdade não?! Então você diz que uma teoria que diz que a vida surgiu
somente do acaso confrontada com outra que diz que que pelo menos uma parte da vida foi criada podem estar ambas certas? É impossível. Alguém um dia vai ter que ceder ou será superado. Quanto à sua suposição, se fosse verdade, tanto a ciência quanto a religião teriam que afirmar um dia, caso contrário uma delas seria superada. Se a religião não puder se associar à ciência, não há religião possível.
O universo é um só. Não podemos ter uma explicação religiosa, outra filosófica e outra científica para o mesmo universo.
Por que não? Explicar, por exemplo, os princípios das ligações químicas de alguma forma esvazia a religião ou a filosofia? São campos que se completam, porque atendem a questões distintas, ainda que relacionadas.
Concordo com você. Você não entendeu o que escrevi? Uma não pode é desmentir a outra, caso contrário pelo menos uma estará em erro. Não vejo aonde que a religião ou a filosofia podem desmentir o princípio das ligações químicas.
As pessoas escolhem em quem acreditar e ignoram o outro lado. Confusão feita: de um lado teremos incrédulos, do outro teremos fanáticos e no meio uma multidão de indiferentes.
Não, Rafael, não é preciso escolher _qual tipo de fundamentalista_ se deve ser. É possível escolher NÃO SER fundamentalista.
Isso não é fundamentalismo. Entre duas opiniões contraditórias, o fato de escolher uma, não é fundamentalismo. Fundamentalismo seria olhar só para um lado e ignorar o resto. Às vezes o não querer tomar partido por lado nenhum pode parecer uma demonstração de humildade. Na minha opinião é uma demonstração de falsa humildade. Você também é indiferente à doutrina nazista ou você toma um partido a favor ou contra? Por que seria diferente com o resto?
Quando dizemos, por exemplo, que o espiritismo é ciência, religião e filosofia, você pode ter certeza que, embora podendo discordar de seus princípios, você não encontrará contradições entre esses aspectos da doutrina.
Nesse caso falsificaram TODAS as cópias dos livros da Codificação que eu já vi...
Viu?! Você já tomou um partido... Do Contra. Sinal que você não deve ser um falso humilde.
E mais: aceitamos todas as descobertas da ciência aonde ela já deu a palavra final.
Ciência não dá "palavra final". Isso é dogma, que não interessa à ciência.
Será que a ciência ainda está indecisa sobre o motivo da gravidez da mulher? Será que ela ainda duvida que possa ser resultado da união de um espermatozóide com um óvulo? Será que ainda consideram a possibilidade de "cegonha", "espírito santo", e outros? A ciência já deu a palavra final em alguns assuntos sim. E podem ser considerados dogmas, pois são realidades incontestáveis. Nenhum problema nisso.
Aonde ainda há controvérsias, estamos aguardando o resultado, mas nos permitimos defender hipóteses que ainda não foram desmentidas.
E muitas que já foram, também...
Cuidado com o Ônus da Prova!!! Quem afirma que é verdadeiro tem que provar, lembra? Mas quem afirma que é falso, também tem que fazer o mesmo, ou seja, demonstrar a impossibilidade. Nessa base, até o dragão da garagem, como brinca o APODman, é hipótese válida.
E também nos permitimos opinar sobre pontos em que a ciência ainda não se manifestou. Por essas razões o espiritismo é aceito por "seres humanos com discernimento", como você mesmo disse: Atende a razão e não é contraditória com os fatos e entre si.
Na minha experiência, a partir de um certo ponto o discernimento leva esses seres humanos a descartar o Espiritismo. O que não é nada surpreendente. Apesar do que você parece crer, a DE é até particularmente frágil enquanto doutrina. Se contradiz praticamente a cada capítulo, não tem solidez moral, nem lógica, nem estética. Só sobrevive porque oferece muitas respostas prontas a uma comunidade que tem muito desejo por elas.
Quanto a isso, só podemos esperar o tempo fazer o trabalho de descartar ou não. Eu já li toda a obra de Kardec, desde a codificação até todos os 12 anos da Revista Espírita e não identifiquei nenhuma contradição, nem falta de solidez moral, nem lógica. Talvez tenha problemas estéticos, como nos textos polêmicos. Mas ninguém disse que a verdade tem que ser bonita, esteticamente falando.
Você tem opinião oposta à minha com respeito DE. Um de nós está errado. O tempo dirá... Até lá, faça a sua propaganda que eu faço a minha.
Um abraço.