Autor Tópico: Perguntas sem-vergonha sobre física...  (Lida 177309 vezes)

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Offline Derfel

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1200 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:16:20 »
Citação de: Dr. Manhattan
(i) o tempo como uma coordenada, ou seja, algo que permite rotular eventos distintos no espaço-tempo e (ii) o "fluxo" do tempo. Pois é, em Física quase sempre lidamos apenas com o caso (i).

Essa é coisa que sempre me faz ter vontade de arrancar os cabelos nessas exposições. Parece que inevitavelmente ao sugerirem o tempo cmo "iusão" também tem implícito um "outro tempo", ou tempo num outro "nível" -- continuam falando das coisas "como se existisse" tempo. :ira:"

Algumas vezes isso já começa desde o big bang... "o espaço e o tempo surgiram de uma flutuação quântica no vácuo" -- mas uma "flutuação" não é algo que já ocorre "no" tempo, como qualquer coisa que "ocorra"?????????///////////!!!!!!!!!!!11!!!!11111

Acho que até já me responderam isso nesse tópico mas já esqueci.

Você tem que aprender a pensar em 4 dimensões. :)
Pense no Universo como um conjunto de eventos, que podem ser representados como pontos no espaço-tempo. Como posso dizer que um evento não é o mesmo que outro? Basta ver as coordenadas deles. Se uma ou mais forem diferentes, então eles são diferentes. Daí eu posso ter dois eventos com coordenadas (x1, y1, z1, t1) e (x2, y2, z2, t2). Mesmo que os x, y e z's dos dois sejam iguais, se os t's forem diferentes, esses eventos são diferentes. Essa última coordenada a gente chama de "tempo".

A seta do tempo seria evidenciada por uma espécie de assimetria entre eventos correlacionados. É assim: eu sei que os eventos 1, 2 e 3 são correlacionados. Ou seja, digamos, dada uma grandeza que caracteriza esses eventos, o conhecimento dela para 1 e 2 permite conhecer o valor para 3. Uma assimetria seria, por exemplo, se ao saber o valor de 1 e 2 a gente pudesse encontrar o de 3, mas o conhecimento de 2 e 3 não permitisse saber o de 1. Uma ilustração de como isso acontece em um "modelo de brinquedo" pode ser encontrado nos autômatos celulares: existem os reversíveis e os irreversíveis (esse último caso inclui o famoso "Jogo da Vida"). Nesse caso, a irreversibilidade está embutida nas regras básicas do sistema.

Já o fluxo do tempo realmente é problemático. Realmente não sei como seria possível descrevê-lo sem recorrer a um "tempo adicional". Acho que o problema mesmo é que ele é ilusório, da mesma forma que o fluxo do tempo para um personagem de um livro é ilusório.

Com esse avatar, é um expert no assunto. :lol:

Offline Rocky Joe

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1201 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:18:58 »
"Muito boas"* as explicações, Dr. Manhattan.

* É assim que se escreve?

Citação de: Buckaroo Banzai
Mas isso é diferente de dizer que "do meu ponto de vista", a Terra seria chata e o Sol gira em torno dela?

Não. A terra é quase localmente chata mesmo (ainda bem que não é, me sinto mal quando não vejo montanhas no horizonte), e o Sol gira em torno dela do seu ponto de vista mesmo. Não se usa esse referencial, no entanto, porque é bem mais complicado.

Citar
Acho que o problema é que o termo é meio vago e talvez ao mesmo tempo muito imbuído em noções esquisitas de coisas "imateriais". Um pouco como se "hereditariedade" ainda não tivesse "genes" e se falasse de "pré-formacionismo" para tentar explicar, sem no entanto implicar uma cadeia inifinita de seres miniaturizados, mas apenas pelo aspecto de determinação dos caracteres mesmo. Não seria de se surpreender que as pessoas continuassem com essa idéia na cabeça.

É algo vago, mas muito intuitivo.

Mas, gah, esse é o problema mais terrível de todos. Obrigado a escolher alguma coisa, eu escolheria o epifenomenalismo.

Offline Rocky Joe

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1202 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:26:02 »
(...)
Mas sei lá, talvez eu devesse ser multado ao falar disso.

Se o dinheiro for para mim, eu concordo. :P

Citar
Eu arrogantemente/humildemente acho que isso decorre de uma confusão de teoria com realidade, me aproventando da coisa de se dizer sobre confusão entre mapa e território. O "código" de um jogo não é o jogo em si

É claro, mas essa são as regras do jogo (que muitos físicos não gostam). Se a física é como é, como deve ser o mundo para obedecer essas leis?

Supor que o "mapa" é o "território" é a regra básica de tentar criar uma visão realista da física, isto é, em que diga o que existe no mundo.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1203 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:31:59 »
Seria distinguível a inexistência do passar do tempo, e a existência de um "tempo real", haver apenas o "agora", que no entanto tem "informação" suficiente tanto para prever o futuro quantro retrodizer o passado  dentro das mesmas margens de certeza?

O quanto disso da "ilusão" do tempo/"existência 'presente' da eternidade ou de todo o tempo" é ciência, e o quanto é interpretação filosófica?

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1204 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:36:43 »
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Eu arrogantemente/humildemente acho que isso decorre de uma confusão de teoria com realidade, me aproventando da coisa de se dizer sobre confusão entre mapa e território. O "código" de um jogo não é o jogo em si

É claro, mas essa são as regras do jogo (que muitos físicos não gostam). Se a física é como é, como deve ser o mundo para obedecer essas leis?

Supor que o "mapa" é o "território" é a regra básica de tentar criar uma visão realista da física, isto é, em que diga o que existe no mundo.

Lembrei de um episódio d'os Simpsons. O sr. Burns enlouquece, remetendo ao aviador Howard Hughes. Em um momento ele aponta uma arma para o sr. Smithers e manda que ele "entre" na maquete de um avião que ele constriui e que segura em sua mão... :P

Eu particularmente acho que uma visão mais realista é achar que o mapa é o mapa e o território é o território...

Offline Gigaview

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1205 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:55:22 »
Buck, você assistiu o vídeo que postei no outro tópico? Vai de novo abaixo...

<a href="http://www.youtube.com/v/yqzgYRBlslw" target="_blank" class="new_win">http://www.youtube.com/v/yqzgYRBlslw</a>

Uma pergunta:  Essa metáfora espaço-tempo=pão, com a possibilidade de uma fatia oblíqua conter "agoras" do passado e do futuro não obriga a uma concepção determinista do universo? Como se concilia esse "pão" com o futuro incerto? E indo mais além, com o conceito de multos mundos? ( Não sei se usei a terminologia correta, pode me multar também.)
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Rocky Joe

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1206 Online: 27 de Janeiro de 2014, 22:57:43 »
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Seria distinguível a inexistência do passar do tempo, e a existência de um "tempo real", haver apenas o "agora", que no entanto tem "informação" suficiente tanto para preverão o futuro quantro retrodizer o passado  dentro das mesmas margens de certeza?

Não entendi a pergunta.

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O quanto disso da "ilusão" do tempo/"existência 'presente' da eternidade ou de todo o tempo" é ciência, e o quanto é interpretação filosófica?

É ciência e filosofia. A diferença, talvez, seja em que ciência você usa experimentos (de pensamento, às vezes) para corroborar uma visão ou outra.

Citar
Eu particularmente acho que uma visão mais realista é achar que o mapa é o mapa e o território é o território...

Eu quis dizer "realismo" no sentido filosófico, isto é, que existe algo no mundo que é independente de observação ou qualquer outra coisa. Uma visão "realista" da física então seria uma visão em que a física diz como o mundo é, não sendo apenas um "mapa".

Mas é a regra do jogo, e você não precisa jogar.


.... e o que tem a ver esse episódio com o que estamos falando?  :lol:

Offline Gigaview

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1207 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:15:53 »
Citar
É ciência e filosofia. A diferença, talvez, seja em que ciência você usa experimentos (de pensamento, às vezes) para corroborar uma visão ou outra.

Filosofia? Por favor, da próxima vez use um sinônimo. Essa palavra é agressiva demais aqui no CC.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Geotecton

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1208 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:16:34 »
Citar
É ciência e filosofia. A diferença, talvez, seja em que ciência você usa experimentos (de pensamento, às vezes) para corroborar uma visão ou outra.

Filosofia? Por favor, da próxima vez use um sinônimo. Essa palavra é agressiva demais aqui no CC.

Hehehehehe.
Foto USGS

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1209 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:22:09 »
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Seria distinguível a inexistência do passar do tempo, e a existência de um "tempo real", haver apenas o "agora", que no entanto tem "informação" suficiente tanto para preverão o futuro quantro retrodizer o passado  dentro das mesmas margens de certeza?

Não entendi a pergunta.

Se poderiam haver obervações contraditórias a noção de que o futuro "já existe" e não há um passar do tempo (além de experienciarmos esse passar do tempo), ou, algo que refutasse que ele não existe ainda, não é apenas pré-determinado.


Citar
Citar
Eu particularmente acho que uma visão mais realista é achar que o mapa é o mapa e o território é o território...

Eu quis dizer "realismo" no sentido filosófico, isto é, que existe algo no mundo que é independente de observação ou qualquer outra coisa. Uma visão "realista" da física então seria uma visão em que a física diz como o mundo é, não sendo apenas um "mapa".

Sim, entendi. Eu acho que não sou exatamente "realista" apesar de não duvidar do mundo ser independente de observação, só acho que as observações talvez nunca possibilitem uma descrição completa/realista da coisa, embora possam ser suficientemente funcionais para um bocado de coisas bem impressionantes, e até úteis.



Citar
Mas é a regra do jogo, e você não precisa jogar.

Eu não "jogo" mesmo, estou só assistindo, e dando meus pitacos de "técnico", como todo mundo faz... Deviam ter colocado o Hawking no gol, aí sim. :P



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.... e o que tem a ver esse episódio com o que estamos falando?  :lol:

Só tem em comum que a maquete não é o avião... bobagem.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1210 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:37:27 »
Buck, você assistiu o vídeo que postei no outro tópico? Vai de novo abaixo...

Vi sim, por isso mesmo resolvi postar.


Citar
Uma pergunta:  Essa metáfora espaço-tempo=pão, com a possibilidade de uma fatia oblíqua conter "agoras" do passado e do futuro não obriga a uma concepção determinista do universo? Como se concilia esse "pão" com o futuro incerto? E indo mais além, com o conceito de multos mundos? ( Não sei se usei a terminologia correta, pode me multar também.)

Eu já não entendo como é possível falar de "fatias". Não são as "fatias" a "ilusão"? Me parece que seriam só talvez algo como uma "relação causal", mas ao mesmo tempo "salva" dos paradoxos de retro-causalidade por isso requisitar algo com velocidade superluminal ou próxima da luz... acho... e que na realidade, uma visão mais realista que ainda mantivesse isso... talvez nem houvessem bem "fatias", só pequenos cortes menores e mais próximos... e/ou que os cortes mais longos fossem ser sempre do jeito em que a causalidade é do passado para o futuro, como "ver as estrelas"...

Mas acho que seria sim tudo determinista/determinado, é isso que é existir o "pão" em vez de só uma fatia se "mover" para o futuro.

Acho que os muitos mundos todos existem e "não existem" ao mesmo tempo, como o gato de Schrodinger... talvez os "mundos" possam ser vistos meio como uma "linha" no "pão" que vai se ramificando infinitamente. O "não existir" significaria apenas "não ser" o outro ramo. A menos que convergissem, o que acho que ouvi dizer que pode ocorrer também...

Mas, novamente, eu deveria ser proibido de emitir esses achismos/não-entendismos para não corromper o conhecimento público da ciência.

Offline Rocky Joe

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1211 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:47:17 »
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Se poderiam haver obervações contraditórias a noção de que o futuro "já existe" e não há um passar do tempo (além de experienciarmos esse passar do tempo), ou, algo que refutasse que ele não existe ainda, não é apenas pré-determinado.

Se poderiam haver experiências que dizem que não há um passar do tempo? Não sei.

Dizer que ele não existe ainda, você pode interpretar que a mecânica quântica diz isso, já que é uma teoria probabilística, e o futuro é "moldado" quando há uma interação entre um aparato de medida e o sistema, onde há uma aleatoriedade e o elétron assume, por exemplo, algo que não tinha antes: por exemplo ter uma posição bem definida. Como o Dr. Manhattan disse, parece que é uma teoria que desmende o que eu havia falado antes, que o tempo tem uma "direção" e não é "cíclico". Mas aí há todas as diferentes visões da quântica e tudo o mais.

Citar
Sim, entendi. Eu acho que não sou exatamente "realista" apesar de não duvidar do mundo ser independente de observação, só acho que as observações talvez nunca possibilitem uma descrição completa/realista da coisa, embora possam ser suficientemente funcionais para um bocado de coisas bem impressionantes, e até úteis.

Essa é a opção racionalmente correta, né, mas não é a mais romântica! "Descobrir", retirar o véu que encobre a realidade, é uma motivação maior do que "obter um formalismo que é útil aqui e ali, mas é só um formalismo".

Mas é por isso que eu falei de aceitar ou não as regras do jogo, é que eu não acho que seja uma decisão racional, mas sim uma decisão com base na sua preferência pessoal.

Citar
Só tem em comum que a maquete não é o avião... bobagem.

Eu quase não assisto Os Simpsons porque não tenho TV... Pausa. Quando você fala que não tem TV você deve citar essa tirinha do xkcd:



Ahem. Continuando, eu quase não assisto, mas assisti dois episódios em seguida há um tempo atrás, e foram episódios tão geniais. Não sei se foi sorte.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1212 Online: 27 de Janeiro de 2014, 23:58:24 »
Uma vez eu tinha brincado de dizer que as reencarnações poderiam ser não-lineares temporalmente, isso é, você morre hoje e reencarna na Roma antiga em vez de vice-versa, ou talvez já tenha reencarnado do ano 5000 dC. E isso poderia culminar em todos nós, e todos seres, sermos a mesma pessoa, Deus, e o Diabo. Yin a Yang. Todos um só.

Acabo de descobrir que essa teoria é corroborada por J. A. Wheeler, ao menos em suas bases eletro/positrodinâmicas:

Citar
I received a telephone call one day at the graduate college at Princeton from Professor Wheeler, in which he said, "Feynman, I know why all electrons have the same charge and the same mass." "Why?" "Because, they are all the same electron!" And, then he explained on the telephone, "suppose that the world lines which we were ordinarily considering before in time and space - instead of only going up in time were a tremendous knot, and then, when we cut through the knot, by the plane corresponding to a fixed time, we would see many, many world lines and that would represent many electrons, except for one thing. If in one section this is an ordinary electron world line, in the section in which it reversed itself and is coming back from the future we have the wrong sign to the proper time - to the proper four velocities - and that's equivalent to changing the sign of the charge, and, therefore, that part of a path would act like a positron."

http://io9.com/5876966/what-if-every-electron-in-the-universe-was-all-the-same-exact-particle

Offline Gabarito

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1213 Online: 28 de Janeiro de 2014, 08:17:40 »
Falando em tempo, fatias de pão, universo determinístico, futuro de muitos mundos, essas coisas todas, proponho um jogo que podemos fazer aqui para explorar um pouco mais tudo isso.

O comentário acima foi o de número 1212. Esse aqui, é o #1213.
Essa é uma fatia do pão.

Como se dará a fatia correspondente ao instante em que eu passar os olhos no comentário #1250?
Esse comentário já existe? O forista que fará esse comentário será um de nós que participa desse debate sobre o fluir do tempo? Ou será um outro colega que virá com outro assunto? Aquelas coordenadas x, y, z, t em que cada um de nós passarmos os olhos no número 1250 já existe e é uma fatia "à espera" de se mostrar? Ou ela será formada de acordo com as ramificações derivadas do desenrolar "natural" do próprio debate?

O banco de dados do FCC, em seus HDs, SQL e tudo o mais, já armazena aquele comentário #1250? Os átomos que farão parte do campo magnético responsáveis pelos setores do HD que comporão o dado binário do comentário #1250 estão presentes nas proximidades da superfície do disco? Ou eles (no caso os elétrons) serão trazidos para o local ao longo do tempo?

Tudo isso acima pode ser uma tremenda bobagem, fruto da minha ignorância, mas não resisti a propor esse tipo de brincadeira, numa tentativa de melhor ilustrar esse mistério e dificuldade de compreensão que todos experimentamos ao abordar a grandeza tempo, tanto a variável "estática" quanto o fluir dele (aquela história do rio que corre).

P.S.:
Vou ficar atento à ocorrência do comentário #1250.

Offline Gabarito

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1214 Online: 28 de Janeiro de 2014, 08:33:40 »
Ah!
Esqueci de questionar onde fica a ilusão nesse jogo acima?
Ilusão é pensar que o tal comentário já existe? É o próprio comentário #1250 uma ilusão?

E se houver uma hecatombe nuclear antes disso e nunca ser possível ser emitido o comentário #1250?
Ou se o servidor onde fica hospedado o FCC for alvo de um desastre natural ou um atentado terrorista que destrua completamente a base de dados?

Onde está exatamente essa falada ilusão do fluir do tempo? Como ela pode ser melhor exemplificada nesse exemplo do comentário futuro?

Offline Gabarito

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1215 Online: 28 de Janeiro de 2014, 08:42:04 »
Desculpem a insistência, afinal já estou no terceiro comentário seguido, mas ainda quero dizer que essa história de tempo é mesmo um enigma fascinante.
Pois é certo de que daqui a uns dias ou semanas o tal comentário #1250 já será passado e poderá ser lido por qualquer um.

É mesmo uma coisa muito chata (no bom sentido) não poder lê-lo agora!

Os que lerem essas coisas lá no mês de fevereiro já saberão exatamente o que tem naquele comentário.
Pobres almas daqui do passado, ou seja, nós, não temos esse "direito".
Ainda.

Só nos será dada permissão para ler o tal #1250 depois que uma certa majestade tempo resolver fluir.

Offline Dr. Manhattan

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1216 Online: 28 de Janeiro de 2014, 09:27:13 »
Falando em tempo, fatias de pão, universo determinístico, futuro de muitos mundos, essas coisas todas, proponho um jogo que podemos fazer aqui para explorar um pouco mais tudo isso.

O comentário acima foi o de número 1212. Esse aqui, é o #1213.
Essa é uma fatia do pão.

Como se dará a fatia correspondente ao instante em que eu passar os olhos no comentário #1250?
Esse comentário já existe? O forista que fará esse comentário será um de nós que participa desse debate sobre o fluir do tempo? Ou será um outro colega que virá com outro assunto? Aquelas coordenadas x, y, z, t em que cada um de nós passarmos os olhos no número 1250 já existe e é uma fatia "à espera" de se mostrar? Ou ela será formada de acordo com as ramificações derivadas do desenrolar "natural" do próprio debate?

O banco de dados do FCC, em seus HDs, SQL e tudo o mais, já armazena aquele comentário #1250? Os átomos que farão parte do campo magnético responsáveis pelos setores do HD que comporão o dado binário do comentário #1250 estão presentes nas proximidades da superfície do disco? Ou eles (no caso os elétrons) serão trazidos para o local ao longo do tempo?

Tudo isso acima pode ser uma tremenda bobagem, fruto da minha ignorância, mas não resisti a propor esse tipo de brincadeira, numa tentativa de melhor ilustrar esse mistério e dificuldade de compreensão que todos experimentamos ao abordar a grandeza tempo, tanto a variável "estática" quanto o fluir dele (aquela história do rio que corre).

P.S.:
Vou ficar atento à ocorrência do comentário #1250.

Correndo o risco de parecer chato: você precisa aprender a pensar em 4D! Você está falando de eventos no espaço-tempo mas se atendo à noção de uma espécie de "tempo de fundo". Pense nos eventos - e isso inclui você e seus pensamentos, como o texto de um romance. Lá na página 102 os personagens sabem tudo o que se passou nas páginas 98 ou 101, mas não têm informação nenhuma sobre o que ocorre na página 110 e 120. Fora da realidade do livro, as páginas "estão lá", já presentes, de forma atemporal. Mesmo que um suposto leitor resolvesse ler o livro sem seguir a ordem das páginas, a sequência continuaria existindo do ponto de vista dos personagens: lendo a página 41 os personagens já sabem o que acontecerá na página 35, se em seguida o leitor for para a página 22 os personagens agora não saberão o que acontece na página 30 e etc. O "fluxo do tempo" aparece apenas como um epifenômeno, fruto dessa assimetria na informação dos personagens.
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Alan Watts

Offline SnowRaptor

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1217 Online: 28 de Janeiro de 2014, 09:33:37 »
Gostei dessa analogia, Manhattan! Ajuda a pensar "fora da caixa" (Ou do livro :hihi:)
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline Gabarito

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1218 Online: 28 de Janeiro de 2014, 09:35:37 »
Correndo o risco de parecer chato: você precisa aprender a pensar em 4D! Você está falando de eventos no espaço-tempo mas se atendo à noção de uma espécie de "tempo de fundo".

De forma alguma pareceu ser chato.
O aluno, muitas vezes, precisa escutar repetidas vezes a mesma explicação para chegar perto do entendimento.

Mas sobre o livro e os personagens, onde fica a tal ilusão do fluir do tempo?
Como se exemplifica essa ilusão?

E mais: se existe um tempo fora do livro, então já está tudo escrito, Maktub. Não há livre arbítrio, não há ramificações derivadas de decisões. Está tudo pronto e imutável. Resta somente chegar a hora de cada evento.

É isso? Fora da caixa, fora do livro, é um caminho único e conhecido para quem está lá. Somente nós, aqui dentro, é que não sabemos.

Offline SnowRaptor

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1219 Online: 28 de Janeiro de 2014, 09:39:35 »
E mais: se existe um tempo fora do livro, então já está tudo escrito, Maktub. Não há livre arbítrio, não há ramificações derivadas de decisões. Está tudo pronto e imutável. Resta somente chegar a hora de cada evento.

É isso? Fora da caixa, fora do livro, é um caminho único e conhecido para quem está lá. Somente nós, aqui dentro, é que não sabemos.

Não. Isso é levar a analogia muito ao pé da letra.
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
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Offline Dr. Manhattan

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1220 Online: 28 de Janeiro de 2014, 09:51:57 »
Gostei dessa analogia, Manhattan! Ajuda a pensar "fora da caixa" (Ou do livro :hihi:)

Agradeça ao Fred Hoyle. Ele usa uma analogia parecida no seu romance "October the first is too late."
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Alan Watts

Offline Dr. Manhattan

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1221 Online: 28 de Janeiro de 2014, 10:06:45 »
Correndo o risco de parecer chato: você precisa aprender a pensar em 4D! Você está falando de eventos no espaço-tempo mas se atendo à noção de uma espécie de "tempo de fundo".

De forma alguma pareceu ser chato.
O aluno, muitas vezes, precisa escutar repetidas vezes a mesma explicação para chegar perto do entendimento.

Mas sobre o livro e os personagens, onde fica a tal ilusão do fluir do tempo?
Como se exemplifica essa ilusão?

E mais: se existe um tempo fora do livro, então já está tudo escrito, Maktub. Não há livre arbítrio, não há ramificações derivadas de decisões. Está tudo pronto e imutável. Resta somente chegar a hora de cada evento.

É isso? Fora da caixa, fora do livro, é um caminho único e conhecido para quem está lá. Somente nós, aqui dentro, é que não sabemos.

(Sinto que estou viajando um pouco na Metafísica, mas está divertido): Não precisa haver um tempo fora do livro, ou da caixa, ou o que for. Essa é a parte mais difícil de se convencer, mas acredito que é possível que os personagens do livro criem seu próprio mundo mental "por dentro" [1]. Só existiriam os eventos, atemporais, mas as próprias correlações entre os eventos causariam a impressão de um fluxo de tempo na mente dos personagens seres.

Para ficar mais convincente, vamos primeiro supor que seja possível que uma consciência se manifeste como um processo em um computador. Agora imagine que um analista de sistemas resolva dar uma pausa no processamento (digamos, no momento em que essa consciência escuta as primeiras notas de "A day in the life"). Daí, depois de uma semana na escala de tempo do analista, ele resolva continuar o processamento, a consciência artificial continuaria a escutar a música até que, quando Paul fosse cantar "I'd love to" o analista (que, suspeitamos, tem um senso de humor estranho) pausasse novamente o processamento. Dias depois ele, talvez entediado, resolvesse continuar a rodar o programa. A consciência agora ia escutar "tuuurn you onnnn". Pois bem: do ponto de vista dela não teria havido nenhuma pausa. O fluxo de tempo para ela seria contínuo, pois é fruto do seu próprio processo mental. Pois é, o fato é que não precisa haver nenhum analista de sistemas. Não precisa (creio eu) nem mesmo um processador: imagine que cada passo do programa seja executado em intervalos de tempo de dias; agora vá mais longe e se pergunte porque é preciso haver um processamento.


[1] Curiosamente, esse é um argumento usado pelos defensores da chamada "IA forte": não precisa haver uma atividade, um movimento de dados para que possa existir uma mente. Basta que a sequência dos estados mentais esteja registrada.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1222 Online: 28 de Janeiro de 2014, 12:44:37 »
Eu não gosto dessa noção de consciência como uma espécie de "eletricidade" fluindo sobre um universo-circuito-integrado (ou água sobre um leito de um rio se eletricidade for algo já temporalmente esquisito demais), "alguém" lendo um livrro, etc.

Acho que não fica muito distante daqueles animismos de "os átomos sob pressão querem desesperadamente sair do seu recipiente". E não consigo me desfazer da impressão que estaria ao mesmo tempo se sugerindo implicitamente que personagens dos livros "existem mesmo", em "seu mundo", em vez de serem só tinta no papel, ou "idéias", imaginação, quando alguém lê.

A analogia com programa ainda também me parece ter um tempo inescapável na execução do programa, mesmo que "o programa não perceba o tempo real".

Se são só as linhas de código num editor de texto, não tem "programa em execução em seu próprio tempo invisível" ou sei lá o que.


Desculpe se estiver parecendo uma caricaturização das coisas, não devem ser ruins as chances são de que eu não esteja entendendo nada e seja análogo a alguém batendo o pé que a Terra é chata e que o sol gira em torno dela, embora do meu ponto de vista me pareça mais ser o caso de eu estar ouvindo que tem mesmo gente dentro da TV.

Offline Dr. Manhattan

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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1223 Online: 28 de Janeiro de 2014, 13:13:52 »
Não é caricaturização, mas simplesmente o oposto do que estava tentando explicar! Não é preciso haver um "fluido" ou qualquer coisa que implemente a consciência, mas ela aparece simplesmente como consequência das correlações entre eventos. Ela emerge, na minha visão, como se puxasse a si mesma pelos próprios cadarços, por assim dizer. Naturalmente, posso estar errado.
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Re:Perguntas sem-vergonha sobre física...
« Resposta #1224 Online: 28 de Janeiro de 2014, 14:34:00 »
Se nós podemos fazer a analogias como essa do pão ou de um toco de madeira, para explicar o universo "blocado" onde o tempo seria uma ilusão, não poderíamos da mesma forma dizer que o comprimento ou qualquer das três dimensões de um objeto (que também terá estruturas correlatas, "eventos", por sua extensão) já é também um "outro" tempo, e que os famigerados seres uni ou bidimensionais mágicos que lá habitassem/fossem análogos a alguma sub-estrutura, também teriam essa ilusão, da "passagem do comprimento"?

Eu não vejo como se pode fazer uma analogia e não outra, e ao mesmo tempo tudo me parece uma grande petição de princípio(s). Parte da analogia que o futuro "já existe", então "logo" o passar do tempo "é uma ilusão," deixando de lado que tudo que temos por "ilusão" envolve o passar do tempo... seria uma categoria bem "especial" de ilusão essa, nenhuma ilusão trivial.

A maior diferença talvez fosse a da "identidade" das partículas no decorrer do tempo versus a identidade de uma substrutura tridimensional, já que num dado instante uma substrutura 3d não é feita das mesmas partículas "esticadas" no decorrer de uma dessas dimensões. Daí talvez pudesse se dizer que essa "ilusão" decorreria da identidade das partículas, mas acho que é ainda questionável do mesmo jeito, até porque nós mesmos não temos as mesmas partículas o tempo todo.

Ou talvez, algo melhor, pudesse se alegar que para haver essa ilusão do tempo a substrutura 3d teria que ser isomorficamente equivalente a um cérebro no decorrer do tempo. Mas sei lá. :maluco:

 

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