O que não deixa de ser surpreendente, até mesmo suspeito: não é preciso ser muito inteligente para perceber que telepatia não tem de necessariamente ser completamente confiável ou não existir.
A questão não é ela ser confiável ou não. Ela por si só, é incapaz de explicar o caso. Gauld sumariza um argumento contra telepatia usando o exemplo de um jogador de bridge (que no nosso caso, é de xadrez):
"Suponhamos, por exemplo, que um certo morto (vamos chamá-lo professor Sharp) tenha sido, em vida, adepto do jogo de bridge. E agora supostamente controla um médium que nada sabe do jogo. O médium consegue jogar várias partidas de bridge com competência. Isto deve valer como evidência da sobrevivência de Sharp. Pois nem todos sabem jogar bridge, e só uns poucos sabem jogar bem, ao passo que o médium não, poderia:
a) mostrar que a influência “Sharp” não pode ser a personalidade normal do médium, e
b) estreitar as origens da influência de modo a incluir o falecido Sharp.
Outras facetas do controle Sharp poderão estreitar a faixa, talvez até o próprio Sharp. Se, por outro lado, a influência “Sharp” era totalmente ignorante quanto a bridge, ou jogou mal, nos daria uma boa dose para pensar que o controle não poderia ter sido o falecido professor Sharp.
Vamos presumir que seja absolutamente certo que o médium nada saiba de bridge. Então podemos perguntar qual seria a explicação de sua súbita habilidade no bridge senão a de que o médium foi controlado ou “incorporado” pelo falecido Sharp ou um de seus falecidos colegas de jogo? Poderia ser sugerido que o médium aprendeu clarividentemente as regras do jogo, lendo um livro de instruções, ou telepaticamente, lendo a mente de jogadores de bridge. Poderia consultar clarividentemente um livro sobre o assunto, ou visualizar telepaticamente um lista prática do que se deve e/ou não fazer da mente de um bom jogador. Mas todo este estudo extra-sensorial permitiria ao médium jogar uma partida competente, assim que fosse controlado pelo suposto professor Sharp? Por certo que não: há muito mais a aprender para jogar bem o bridge, do que só decorar as regras e vislumbrar uma lista de sugestões. O requisito fundamental é praticar, por horas e horas, inteligente e atentamente, contra bons adversários. E ninguém vai sugerir que isso possa ser obtido por PES.
Parece-me, portanto, que mesmo que concordemos que as regras do bridge possam ser aprendidas por PES (e não sei de uma só partícula de evidência que uma PES de tamanho grau já tenha ocorrido), a teoria da super-PES ainda não daria qualquer explicação plausível da capacidade do controle Sharp para jogar uma partida de bridge.
O exemplo, é claro, é hipotético, mas tem grande aplicabilidade. Não nos parece provável que habilidade e competência intelectual ou física possam ser adquiridas por PES. Se um comunicador mediúnico inegavelmente exibe uma habilidade ou competência inusitadas que possuía em vida, e que se sabe que o médium não tem, o fato poderá ser de difícil digestão para a teoria da super-PES. É tempo de perguntar se qualquer caso real nos levará tão longe quanto nosso caso hipotético."
Pergunta: vc discorda de Gauld?
Mais simples do que o quê, e por qual critério?
Mais simples que fraude, que PES, SUPER-PES... Gauld a meu ver, acima, deu bons motivos para as duas últimas. Fraude é tratada nos dois artigos, de 2006 e 2007.
É uma hipótese um tanto carnavalesca, principalmente para se sustentar a partir de algo tão questionável como uma partida de xadrez e vagas alegações de lembranças de outras vidas ou conhecimentos misteriosos.
Esse exemplo é o mais próximo que temos do exemplo hipotético de Gauld. Porque uma partida de xadrez seria questionável? Vc acha que qualquer um pode atingir esse nível de jogo? E mais: acha que qualquer um imita o estilo d ejogo do falecido?
É testável, mas não conseguiu ser comprovada até hoje - a despeito de muitos esperançosos e não poucos fraudadores terem tentado.
Prova em Ciência só existe em matemática, em que vc conhece todas as variáveis envolvidas. Nas ciências naturais essa palavra não existe em sentido absoluto, apenas relativo. Se a prova é suficiente ou não, isso depende de cada um. Vários cientistas acham suficiente. Outros não.
Vamos lá, você sabe tão bem quanto eu que isso não prova nada.
Depende do sentido de prova que vc usa. Se vc quer uma prova absoluta, isso não existe nas ciências naturais.
Perfeitamente. E por que não deixar a discussão sobre existência de espíritos para outro momento também?
Porque é justamente isso que trata o artigo, de mediunidade, espíritoas, não de reencarnação.
Primeiro podíamos demarcar se há algum fenômeno notável aqui, depois especulamos sobre possíveis explicações.
Perfeitamente. Para isso vc precisa não só ler o artigo de 2006, como o de 2007. Já leu?