Agora, se temos as leis, que definem o que é certo e errado (não que elas sejam perfeitas, podem sempre ser melhoradas) - desde que devidamente obedecidas - cada um que se submeta as próprias medidas. É um direito.
Você está confundindo lei com moral e ética. A lei define o que é aceitável e o que é passível de punição, mas não o que é certo ou errado.
Eu sei que lei, moral e ética são coisas diferentes, não estou confundido – o que estou dizendo é que moral e ética são conceitos relativos a cada pessoa, enquanto a lei se aplica a todos. E desde que suas condutas sejam legais, ainda que me pareçam imorais ou anti-éticas, você está no seu direito. Entende?
Se posso impor aos góticos a minha moral pessoal, que direito eu tenho de não me submeter à moral cristã, por exemplo, já que vivo em uma sociedade predoinantemente cristã?
Impor uma moral a outra pessoa não é sequer possível. Não sei do que você está falando aqui.
Impor moral aos outros depende apenas da dinâmica de grupo. Basta que um intolerante levante a sua voz e os outros respondam em uníssono a seu apelo. O que é ilegal, mas infelizmente, aceito, algumas vezes.
Considero uma grande hipocrisia, querer impor a minha medida aos outros sem me submeter a medida alheia.
Seria sim. E é essa a crítica que faço ao casal. Esse argumento serve ao meu ponto, Luz.
E a minha crítica é ao moralismo, que considero anti-ético, quando não se submete igualmente ao moralismo alheio.
Eu entendo que, por mais que me desagrade, tenho que respeitar o direito dos góticos de sair na coleira,
Sem dúvida. Eles, porém, também tem de respeitar os transeuntes e as autoridades. Como em qualquer questão de direitos individuais, não há como fugir da constatação de que concessões são necessárias de ambos os lados.
Concordo – tanto que defendo o direito do motorista de barrá-los por não ter retirado a coleira, visando a segurança dos passageiros e inclusive, acredito, como coloquei, que possa ter havido um certo preciosismo por parte do casal.
Agora, não concordaria de forma nenhuma que o casal fosse impedido de entrar no ônibus por um julgamento moral do motorista ou dos passageiros – porque é tão anti-ético quanto, além de ilegal.
assim como, por mais que desgrade os cristãos, eles têm que respeitar o meu direito de não professar o seu credo.
Um paralelo bem forçado esse, Luz.
Não acho forçado, sinceramente - a maioria dos ateus não tem coragem sequer de sair do armário, como os góticos, por exemplo, fazem - sujeitando-se ao moralismo religioso.
Pessoalmente, considero o moralismo desrespeitoso, para não dizer, preconceituoso - grande parte das vezes.
No sentido de querer impor valores, certamente é. Mas isso não tem muito a ver com o assunto.
Eu já acho que tem tudo a ver - a postura moralista quanto a opção de expressão do casal não difere em nada da postura moralista quanto a opção de descrença publicamente assumida.
Quero dizer, assim como alguns defendem que góticos deveriam se comportar convenientemente diante da sociedade, deixando seus acessórios para usar na sua intimidade, muitos defendem que ateus deveriam se comportar convenientemente, guardando suas opiniões para expressar na intimidade. (afinal, como é que mães cristãs vão explicar o que consideram uma extravagância às suas crianças?) Entende a semelhança?
É claro que para tudo deve haver limites e esses devem ser discutidos, pois cada caso tem sua própria questão, mas ainda que eu discorde do uso de coleiras, e discordo, acho inconveniente, degradante e uma afronta ao feminismo, defendo o direito dos góticos de usá-la - respeitando a lei e a segurança.