Autor Tópico: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking  (Lida 55274 vezes)

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Offline Sklogw

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #250 Online: 04 de Maio de 2008, 20:50:31 »
Um reparo, Ramires. Fico feliz que você tenha ficado fã do ilustre curitibano Cesare Mansueto Giulio Lattes, talvez o maior físico brasileiro de todos os tempos, o brazuca que chegou mais perto de ganhar o prêmio Nobel em Física, talvez o caso mais escandaloso de injustiça da Academia Sueca de todos os tempos. Lattes descobriu o méson pi em emulsões nucleares (raios cósmicos), mas o prêmio ficou com Powell, descobriu novamente o méson pi no cíclotron de Gardner, que morreu logo depois. Mais do que tudo, Lattes escolheu o caminho das pedras, poderia ter feito carreira brilhante nos Estados Unidos. Mas não... voltou pro Brasil, comeu o pão que o diabo amassou mas deixou pra nós um legado precioso: o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (SP). o INstituto de Física da UNICAMP, e ainda mais: o respeito da comunidade internacional. Pouco importa que depois da senilidade ele tenha falado muita merda, nós o amamos profundamente pelo que ele fez ANTES dessa discussão boba sobre Einstein.
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Offline Tupac

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #251 Online: 13 de Março de 2009, 21:31:23 »
Isso aqui é verdade???

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— No princípio, Deus criou os céus e a terra.
— Os céus e a terra, está bem? E depois criou as águas. Continue lendo...
— A terra era informe e vazia. As trevas cobriam o abismo e o espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas.
— Tinha o céu, a terra e as águas. Então, o que Ele disse?
— Deus disse: ‘Faça-se a luz’.
— Ele estava no escuro...
— E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. Deus chamou ‘dia’ a luz e às trevas, ‘noite’. Assim surgiu a tarde e em seguida a manhã. Foi o primeiro dia.
— Está bom? Então você queria saber sobre a origem do Universo? Está aqui a origem do Universo. Você conhece, já ouviu falar desse livro?

Foi assim que começou o diálogo entre a repórter Tatiana Fávaro do Jornal da Unicamp e o físico Cesar Lattes, professor emérito da Unicamp, na manhã de 19 de julho. O peso do livro do Gênesis foi maior que o dos livros todos reunidos na Bíblia pousada sobre o sofá, lida pela jornalista a pedido do cientista.

Aposentado desde 1986, Lattes diz aceitar a Bíblia como a origem da matéria. “Sou judeu, católico apostólico romano, stalinista, cristão, ortodoxo, animista e maometano”, brinca, ao ser questionado sobre religião.

Jornal da Unicamp – O que o senhor acredita ser aceitável para explicar a origem do Universo?
Cesar Lattes – A realidade objetiva, a realidade no duro, é a resultante da superposição de todas as vontades: animais, vegetais, minerais e objetos manufaturados. Tudo tem alma. Até esse fósforo que acabei de acender. Vamos falar de Universo: cada ser é um Universo. Dizem que existem infinitos Universos. Eu não consigo conceber o conceito de infinito. Então, da origem de qual deles vamos falar? Das galáxias? Olha, eu acredito nesse livro aqui (bate na capa da Bíblia). Professo acreditar no que o cientista fala – porque é assim que ganho dinheiro como professor –, mas eu não acredito, acredito na Bíblia. As galáxias, dizem eles, está na moda, e o Big Bang, o traque enorme há 18 bilhões de anos, originou o Universo. Mas apareceu onde? No espaço e no tempo. Deus criou a matéria. Então, a origem do Universo, de acordo com os bobocas dos astrônomos, foi há 18 bilhões de anos. Só que o Sol existe apenas há 5 bilhões de anos... Eles dizem também que o Universo está em expansão. É o que dizem.

JU – E o senhor, o que diz?
Lattes – (Bate cinco, seis vezes sobre a Bíblia)

JU – Se a teoria do Big Bang ainda é aceita, não em sua essência, mas em algumas nuances, podemos questionar de onde veio a matéria antes da grande explosão...
Lattes– Deus criou. E eu não brigo com astrônomos por isso, porque eu não os levo a sério.

Este é um pequeno trecho da entrevista realizada pelo Jornal da Unicamp com o físico brasileiro César Lattes(leia a entrevista completa no blog da jornalista: www.tatianafavaro.kit.net/jornaldaunicamp_lattes.htm).

César Lattes foi um dos físicos que trabalharam na grande descoberta experimental, de uma nova partícula atômica, o méson pi. Tal descoberta rendeu um prêmio Nobel à Cecil Frank Powell, líder do grupo de pesquisa . Lattes figura como um dos poucos brasileiros na Biographical Encyclopedia of Science and Technology de Isaac Asimov, como também na Enciclopédia Britânica.

César Lattes é um dos mais importantes físicos brasileiros, portanto decidi que minha 1° postagem seria sobre ele. Na entrevista acima, Lattes deixa claro a sua opinião a respeito da origem do universo, afirmando que o Gênesis é o verdadeiro relato da criação universal.

Para Lattes, "o estudo só é válido se houver observação. Só teoria é conversa". Ele diz , por exemplo, que a teoria do Big Bang fala de uma explosão criadora há 18 bilhões de anos, mas o sol tem "apenas" 5 bilhões de anos. Então de onde teria surgido a matéria? "Deus criou. Eu não brigo com os astrônomos por isso porque eu não os levo a sério", disse o físico. Para ele, a explicação para o surgimento do universo está no primeiro livro da Bíblia.

Ele também critica o constante uso da intuição na física, a maneira como os cientistas teorizam de forma indiscriminada sem se importar com qualquer tipo de empirismo ou comprovação. Afinal, isso também não seria um tipo de fé?? Ou então ocorre o contrário, tais "pesquisadores da verdade" apelam para o dogmatismo e recuam diante do abismo que se encontra por baixo da superfície do conhecimento e se agarram a seus paradigmas e modelos favoritos tentando domesticar a "voz da ciência".

Por favor, tentem parecer menos religiosos...
http://odivinoeaciencia.blogspot.com/2007/10/no-princpio-deus-criou-os-cus-e-terra.html
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Offline HFC

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #252 Online: 15 de Março de 2009, 12:54:19 »
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Isso aqui é verdade???

Tomara que não seja verdade ... Se for, lamento enormemente pelas doenças neurológicas relacionadas a senilidade que atingiram o Prof. Lattes. :susto: :susto: :'(
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Offline Hold the Door

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #253 Online: 15 de Março de 2009, 15:13:33 »
Isso aqui é verdade???
Sim. É o começo da entrevista dele para um jornal da Unicamp.
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Offline Tupac

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #254 Online: 15 de Março de 2009, 16:49:29 »
Po, achei que o Lattes fosse alguém mais esclarecido... aí o cara vem falar de 18 bilhões de anos e literalidade biblica... tsc tsc tsc...
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Offline O Grande Capanga

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #255 Online: 18 de Março de 2009, 20:58:19 »
Se não me engano, numa entrevista à Superinteressante, perguntado sobre Deus, ele deu uma resposta típica de quem não acredita, alguma coisa do tipo: "Como um ser onipotente deixa acontecer tanta coisa ruim?".

Offline Dr. Manhattan

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #256 Online: 18 de Março de 2009, 21:01:31 »
Triste saber que essa entrevista é legítima...
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Offline Fayman

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #257 Online: 18 de Março de 2009, 21:38:25 »
Olá, Pessoal!  Dando uma passada, mas não foi possível não postar neste tópico, pois já discuti muito a respeito desta desastrosa entrevista. Contudo, a coisa não começou aqui, e é bem mais triste do que aparenta. Vamos ver se consigo esclarecer:

OBS: o que segue, são fatos históricos.

1- POINCARÉ: o nobre matemático NUNCA (eu disse NUNCA) compreendeu um dos aspectos MAIS BÁSICOS da Relatividade. Em 1909, ou seja 4 ANOS depois de Einstein ter apresentado seus trabalhos, Poincaré deu uma série de conferências em Goettingen. A última intitulava-se “La Mécanique Nouvelle”, ou Nova Mecânica, onde ele expunha suas idéias sobre as questões de Relatividade.

Nessa apresentação, não havia NENHUMA referência a Einstein, por um simples motivo: ele NÃO descrevia a Teoria de Einstein, e sim, outra coisa (o mesmo trabalho que foi apresentado em 1905).

Esse trabalho baseava-se em TRÊS Princípios e não dois, como o trabalho de Einstein. Os Princípios eram:

a) Velocidade da Luz como limite.
b) As Leis Físicas são as mesmas para todos os Referenciais Inerciais.

Estes dois, são os mesmos da Relatividade de Einstein. Mas então, ele apresenta o TERCEIRO PRINCÍPIO, nas palavras de Poincaré:

c) Um corpo em movimento de translação sofre uma deformação na direção em que se desloca (!!!!).

Este terceiro é nada menos que a famosa Contração de Fitzgerald/Lorentz, e mesmo em 1909, ele DESCONHECIA que tal efeito era DEDUTÍVEL dos outros dois princípios, coisa que somente Einstein apresentou.

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Segundo o professor waldyr, são iguais

Então, o Waldyr está errado! Já foi dito que, na teoria de Poincaré/Lorentz, os efeitos eram DINÂMICOS, enquanto que na de Einstein, são CINEMÁTICOS. Além disso, por Einstein, se observarmos réguas, em uma espaçonave que se afasta da Terra, veremos elas se encolherem. Contudo, podemos dizer que é a Terra que se afasta e que a astronave está parada, então, se observarmos as réguas na Terra, veremos o mesmo efeito.

Contudo, se repetirmos tal exercício mental, agora sob o prisma dos conceitos da teoria de Poincaré/Lorentz, na segunda situação, quando observamos as réguas na Terra, o que vemos? NADA!!!! Não há encolhimento porque, sob a ótica deste trabalho, como já foi dito, os efeitos eram FÍSICOS, e não dependentes do observador. Em Poincaré/Lorentz, os elétrons das réguas “sabiam” quando estava em movimento (na espaçonave) e se “encolhiam”; e “sabiam” quando NÃO estavam (na Terra) e, portanto, ficavam “quietinhos” em seus lugares, ou seja, NADA acontecia!

Portanto, NÃO são iguais. Talvez o Waldyr tenha... se esquecido deste detalhe. Por sinal, Waldyr, que foi vizinho de Lattes, é um defensor/pesquisador de... Ondas Supraluminais (!!), e escreveu um livro de Matemática, em 2007, sobre umas idéias de 1999, no qual, nas palavras dele, “reescreve as equações que fundamentam três campos da Física, o eletromagnetismo (Maxwell), a teoria dos elétrons (Dirac) e da gravitação (Einstein) de modo que possam ser representadas por objetos da mesma natureza matemática”.

Ao que parece, tal livro não deu em nada, nem causou o estardalhaço que os autores imaginaram.

2- LATTES: antes de tudo, respeito o trabalho, mérito e importância de Lattes. Não há como não fazê-lo e que isso fique bem claro. Ainda assim, não o considero o maior físico brasileiro. Se fosse para citar, fico com José Leite Lopes e Mário Schenberg.

Muitos aqui disseram que Lattes, à época desta entrevista, estava senil, mas imagino que poucos saibam, é que talvez sua senilidade tenha começado muito mais cedo. Eu vivenciei, em meados da década de 70, este senhor dando entrevistas (quase que diariamente era publicado algum comentário nos jornais) e fazendo um estardalhaço (motivo de vergonha para quem conhecia Física!!) de como ele iria “provar” que Einstein estava errado, e de que havia chegado a esta “brilhante” conclusão, por que o CACHORRO dele (sim, você não leu errado, era ao CACHORRO dele que ele estava se referindo!!) NÃO SABIA LER HORAS!!!!!!!

Nem é preciso ir longe para deduzir o final destas declarações bizarras, que aconteceu um ou dois meses depois do início, com sua retratação de que havia “cometido um erro”. Depois deste fato lamentável, só vim ouvir algo a respeito de Lattes nesta entrevista, onde as bobagens só pioram.

Disso tudo, apenas consigo concluir que não foi só Poincaré, que nunca compreendeu um dos aspectos mais básicos da Relatividade; Lattes também! E pelo visto, inclua-se o ex-vizinho Waldyr!!
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Offline Fayman

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #258 Online: 18 de Março de 2009, 23:11:46 »
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A glória de Poincaré acabou sendo salva por seu amigo holandês Hendrik Antoon Lorentz, prêmio Nobel de Física (1902). Em 1921, após o triunfo do eclipse do sol de 1919, o comitê Nobel se reuniu com um primeiro pensamento: “Nós devemos dar o prêmio Nobel a Einstein, pela relatividade". Lorentz protestou: “Não é justo!”.

Isto é MENTIRA, jamais aconteceu. Basta ver os registros das indicações do Prêmio Nobel. Fora o FATO de que Lorentz convidou e quase convenceu Einstein a aceitar um posto permanente na Holanda!! Einstein já havia ficado um tempo por lá, a convite PESSOAL de Lorentz, à época. E Einstein sempre se referiu a Lorentz como o pai da Relatividade, basta ver inúmeras cartas.

Isso sem comentar o FATO de quem escreveu esta IMBECILIDADE, possivelmente não sabe História, pois a partir de 1916, as propostas para contemplar Einstein com o Nobel, envolviam muito mais a Relatividade Geral, do que a Restrita, a qual nada tem a ver com Poincaré. Fora o FATO de que, em 1921, NÃO HOUVE OUTORGA DO NOBEL DE FÍSICA(o comitê NÃO SE REUNIU neste ano para discutir este assunto)!!!! O prêmio relativo ao ano de 1921, ganho por Einstein, foi concedido apenas em 1922. O de 1922 foi outorgado a Bohr. Os dois prêmios foram concedidos no mesmo ano.

Querem reescrever a História, criando o mito de uma guerra que nunca existiu, entre cientistas de primeira linha. Por que o texto não se atém a FATOS HISTÓRICOS COMPROVADOS, e mostra, por exemplo, que Poincaré RECOMENDOU Einstein, quando foi consultado, por autoridade do ETH, a respeito de uma vaga de professor a ser oferecida a ele (Einstein)?

TEXTOS PULHAS iguais a este, dando vazão a mentiras ridículas, apenas lançam lama sobre as verdadeiras conquistas de Lattes, e realçam as bobagens que ele afirmou.
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Offline ramires

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #259 Online: 25 de Março de 2009, 13:54:35 »
A permissão foi dada. Apresento aqui a íntegra da resposta do Professor Waldyr Rodrigues:


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Caro Daniel,

 

Obrigado por sua mensagem.  Apesar de estar muito ocupado  agora e durante todo o próximo mês, visto que estou finalizando alguns artigos (que já deveriam estar prontos) e organizando na UNICAMP a VIII International Conference on Clifford Algebras and their Applications[1], não resisti a tentação de ler os artigos sobre o “possível plágio de Einstein” no site do seu fórum (www.clubecetico.org.) e resulta que tenho alguns esclarecimentos pertinentes a fazer. Antecipadamente peço desculpas a você e  a qualquer outro membro do fórum que não se sinta confortável com minhas ponderações.

 

a) Primeiramente, devo dizer que infelizmente (ao que tudo indica, salvo melhor juízo) os autores de todos os artigos publicados no seu  fórum (e que tive a oportunidade de ler) simplesmente não se encontram preparados para discutir o assunto em debate, quer do ponto de vista de conhecimento dos fatos históricos quer do ponto de vista dos fatos científicos. Para que um cidadão possa discutir se Einstein plagiou ou não Poincaré (e também se plagiou ou não Hilbert[2]) é necessário que dito cidadão tenha lido (e obviamente compreendido)  no mínimo o conteúdo dos livros e artigos citados abaixo. A simples leitura da biografia de Einstein de A. Peres[3]  “Sutil é o Senhor” não habilita ninguém a esta tarefa.

Entre os artigos sobre a gênese da teoria da relatividade especial que necessariamente precisam ser lidos encontram-se os de Poincaré  [20,21]. Estes dois artigos encontram-se traduzidos (e comentados) para o Inglês por Logunov[4]  e podem ser encontrados na Internet [14]. Estes artigos devem ser comparados com o artigo de Einstein [6].[5] Se o leitor se dignar a realizar este exercício[6] (ao invés de simplesmente confiar nos biógrafos de Einstein) realizará imediatamente, que de duas uma: ou Einstein ao escrever seu famoso artigo conhecia todos os trabalhos de Poincaré ou  ele podia ler a mente do matemático francês.

A primeira hipótese é mais provável de acordo com a farta documentação exibida no livro de Leveugle [13]. Neste livro e também em [12] se aprende que no ano de 1905 Einstein escreveu 21 resenhas para o suplemento Beiblätter zu den Annalen der Physik (entre eles artigos publicados nos  Comptes Rendus de L’Académie de Sciences) e teve com quase absoluta certeza oportunidade de ler a nota  [22] de Poincaré apresentada à Academia de Ciências da França em 05 de Junho de 1905 e impressa em 08 de Junho de 1905 e enviada aos assinantes da revista em 09 de Junho  do mesmo ano[7] (!) . È bem verdade que Einstein ao tomar conhecimento da nota de Poincaré trabalhou arduamente para escrever sua versão da teoria, e o fato de não ter citado Poincaré é  de fato imperdoável, razão pela qual Whittaker[8] deu o título “The Relativity Theory of Poincaré and Lorentz” ao capítulo 2 do volume II de seu memorável livro [26] . Em particular, contrariamente ao que Einstein afirmou em diversas oportunidades, ele e seus amigos da Academia Olímpia leram “La Science e l’Hipothése” [22][9] de Poincaré onde muitas idéias que depois apareceram nos artigos [23,24] de Poincaré (entre outros). Esta afirmação encontrá-se no livro de M. Solovine, um dos amigos de Einstein e  membro da Academia Olímpia.

 

b) Alguns dos membros do fórum pensam que as versões de Poincaré e de Eisntein da teoria da Relatividade são distintas. Um dos membros chegou a afirmar que na versão de Poincaré os efeitos relativísticos seriam dinâmicos enquanto que na teoria de Einstein eles seriam cinemáticos. Esta afirmação errônea é infelizmente típica tanto por parte daqueles que só teve um breve encontro com livros textos elementares com até por parte de muitos físicos  que dominam (ou pensam dominar) conceitos sofisticados usados em versões matematicamente mais elaboradas da teoria da relatividade. A estes, aconselho que leiam artigos de Einstein  posteriores a [7], como por exemplo [10] e estudem, também as referencias [25,26].

 

c) A um dos membros do fórum, que sem me conhecer e saber exatamente o que penso sobre a polemica, diz que prefere ficar com A. Peres, recomendo fortemente  que reveja o significado do seu ceticismo. Quem desejar conhecer-me um pouco melhor e consultar meus trabalhos está convidado a consultar minha homepage em http://www.ime.unicamp.br/~walrod

 

d) Para aqueles que pensam que a teoria da relatividade aboliu o conceito de éter sugiro que leiam o artigo [9] de Einstein.

 

 e) Finalmente, afirmo que o Prof. Cesar Lattes  não estava senil ao dar a entrevista                   mencionada no fórum. Contudo é fato que a edição da entrevista está ruim e contém alguns enganos lamentáveis. Lattes foi meu professor na USP, também fomos colegas no Instituto de Física da UNICAMP[10], e mais importante Lattes foi meu amigo e meu vizinho por mais de vinte e cinco anos. Discutíamos sempre sobre os mais variados assuntos sobre os quais na maioria das vezes discordávamos profundamente, mas aqui não é o lugar para entrar neste assunto. Nas vésperas de sua morte eu o visitei e ele tinha talvez lucidez maior do que quando o conheci em 1967.

 

Um abraço,

Waldyr

 

1 - M. Allais, Albert Einstein, Un Extraordinarie Paradoxe, Editions Clément Juglar, Paris, 2005.
2 - C. Jon Bjerknes, Albert Einstein, The Incorrigible Plagiarist, XTX Inc., Downers Grove, USA, 2002, http://home.comcast.net/~xtxinc/MainPage.htm
3 - C. Jon Bjerknes, Anticipations of Einstein in General Theory of Relativity, XTX Inc., Downers Grove, USA, 2003, http://home.comcast.net/~xtxinc/MainPage.htm
4 - N. N. Bogolubov, A. A. Logunov and I. T. Todorov, Introduction to Axiomatic Quantum Field Theory, W. A. Benjamin, Inc., Reading MA., 1975.
5 - M. Born, Einstein’s Theory of Relativity, (revised edition), Dover Publ., Inc., New York, 1962.
6 - L. Corry, J. Renn, and J. Stachel, 'Belated Decision in the Hilbert-Einstein Priority Dispute, Science 278, 1270-1273 (1997)
7 - A. Einstein, Zur Electrodynamik bewegter Köper, Ann. der Physik 17,  891-921 (1905)
8 - A. Einstein, H. A. Lorentz, H. Weyl, H. Minkowski, The Principle of Relativity, Dover Publ. Inc. , New York, 1952.
9- A. Einstein, Ether and the Theory of Relativity (translation of a lecture delivered by Einstein at the Univ. Leyden, 1920), http://www.mountainman.com.au/aether_0.html
10 - A. Einstein, , Autobiographical Notes (page 59), in P. A. Schilpp (ed.) Albert Einstein: Philosopher-Scientist, Oen Court, La Salle, Illinois, 1970
11 - J. Fric, Henri Poincaré: A Decisive Contribution to Special Relativity. The Short Story, http://www.everythingimportant.org/relativity/Poincare.htm
12 - E. Giannetto, The Rise of Special Relativity: Henri Poincaré Works Before Einstein, Atti del XVIII Congresso di Storia della Fisica e dell’Astronomia, Hadronic J. Suppl. 10, 365-433 (1995) http://www.brera.unimi.it/sisfa/atti/1998/Giannetto.pdf
13 - R. Hazellet and D. Turner (eds.), The Einstein Myth and the Ives Papers, The Devin-Adair Company, Publ., Old Greenwich, Connecticut, 1979.
14 - J. Hladik, Comment le Jeune et Ambitieux Einstein s’est Approprié la Relativité Resterinte de Poincaré, Ellipses Édition Marketing S.A., Paris, 2004.
15 - J. Leveugle, La Relativité, Poincaré et Einstein, Planck, Hilbert. Histoire Véridique de la Théorie de la Relativité, L. Harmattan, Paris, 2004.
16 - A. A. Logunov,  Henri Poincaré and Relativity Theory (book 253 pages), arXiv:physics/0408077v4
17 - A. A. Logunov, On the Article by Henri Poincaré “On the Dynamics of the Electron”, H. Journal 19, 109-183 (1996). http://www.annales.org/archives/x/marchal2.doc
18 - A. A. Logunov, The Theory of Gravity (book 256 pages) arXiv:gr-qc/0210005
19 - A. A. Logunov, M. A. Mestvirishvilli, V. A. Petrov, How  Where the Hilbert- Einstein Equations Discovered?, arXiv:physics/0405075
20 - C. Marchal, Henri Poincaré: A Decisve Contribution to Relativity, http://annales.org/archives/x/Relativity.doc
21 - A. I. Miller, Albert Einstein’s Special Theory of Relativity, Addison Wesley Publ. Co., Inc. Reading MA, 1981.
22 - H. Poincaré, Science and Hypothesis, Dover Publ., New York, 1952 (originally published in French with title: La Science et l’ Hypothèse, Flamarion, Paris, 1902).
23 - H. Poincaré, Sur la Dynamique del’Electron, Comptes Rendus de L’Académie de Sciences  140, 1504-1508 (1905)
24 - H. Poincaré, Sur la Dynamique del’Electron, Rediconti del Circolo Matematico di Palermo 21, 129-175 (1906).
25 - H. Reichenbach, The Philosophy of Space&Time, Dover Publ., New York (1958).
26 - W. A. Rodrigues Jr. and M. A. F. Rosa, The Meaning of Time in the Theory of Relativity and “Einstein’s Latter View of the Twin Paradox”, Found. Phys. 19, 705-724 (1989).
27 - W. A. Rodrigues Jr. and E. Capelas de Oliveira, The Many Faces of Maxwell, Dirac and Einstein Equations. A Clifford Bundle Approach. Lecture Notes in Physics 722, Springer, Heidelberg, 2007.
28 - M. Solovine, Albert Einstein. Lettres à Maurice Solovine, Gauthier-Villar, Paris, 1956.
29 - E. T. Whittaker, A History of the Theories of Aether and Electricity, vols. I and II, Humanities Press, New York, 1973 (first published in 1953)
30 - E. T. Whittaker and G. N. Watson, A Course of Modern Analysis (fourth edition), Cambridge University Press,  Cambridge, 1927 ( first edition published in 1902)
31 - F. Winterberg, On “Belated Decision in the Hilbert-Einstein Priority Dispute”, published by L. Corry, J. Renn, and J. Stachel, Z. Naturforschung   59a, 715-719 (2003).
 

 



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[1] ICCA8. Veja: http://www.ime.unicamp.br/~icca8/

[2]  Consulte alguns dos artigos e livros da lista de referencias abaixo.

[3] Concordo com Hadlik (ver  ref. [12], página 94) que  A. Peres é um autor extremamente parcial (e possivelmente desonesto).

[4] A. A. Logunov é um dos mais respeitados físicos teóricos russos, tendo sido reitor a Univ. de Moscou e presidente da Academia de Ciências da  (ex)União Soviética. Também é um dos autores de um livro clássico sobre teoria quântica de campos [4]

[5] Traduções do artigo de Einstein para o Inglês encontram-se em [7] e [19]. A tradução de Miller [19] é muito melhor.

[6] O exercício requer conhecimento de Matemática compatível com aquele de um bom aluno da área de exatas da UNICAMP após o termino do segundo semestre letivo.

[7] Observo ainda que naquela época uma correspondência enviada de Paris até qualquer uma das principais cidades alemães ou suíças demorava no máximo dois dias (!).

[8]  Sir Edmund Whittaker foi um brilhante matemático inglês, um dos autores de um livro [27] que foi usado por gerações de pretendentes a se tornarem físicos teóricos.

[9] Este livro também faz parte da leitura obrigatória. Existe, se não me falha a memória uma tradução em Português  da editora da Univ. de Brasília.

[10]  Antes de transferir-me para o Instituto de Matemática.
Pois é. Resolvi ler meu mail e vi que esse papo tinha voltado.
Mais um grande físico defendendo einsten e atacando lattes.  O sonho da viajem no tempo continua.
O texto do waldir esta ai. Conteste os pontos onde ele compara os trabalhos e depois mande para o waldir  responder, já que nenhum físico famoso aceitou defender einstein nessa pendenga.



Offline Contini

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #261 Online: 24 de Março de 2010, 08:53:27 »
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Lattes foi meu professor na USP, também fomos colegas no Instituto de Física da UNICAMP[10], e mais importante Lattes foi meu amigo e meu vizinho por mais de vinte e cinco anos. Discutíamos sempre sobre os mais variados assuntos sobre os quais na maioria das vezes discordávamos profundamente, mas aqui não é o lugar para entrar neste assunto. Nas vésperas de sua morte eu o visitei e ele tinha talvez lucidez maior do que quando o conheci em 1967.

Ok, não tenho bagagem para discutir assuntos de física de alto nível, mas essa citação não parece a opinião de alguem emocionalmente envolvido? Pelo menos nessa declaração ele não pareceu muito científica, ou ele tinha conhecimentos de neurologia e psquiatria que lhe permitiram concluir isso?.
"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

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Offline Dbohr

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #262 Online: 24 de Março de 2010, 09:13:25 »
Eu comentaria ponto a ponto, mas já que o ilustre professor considera que ninguém aqui tem gabarito o bastante para responder às ponderações feitas, deixo o assunto para lá. Já faz um ano, afinal.

Offline O Grande Capanga

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #263 Online: 24 de Março de 2010, 14:29:55 »
Isso aqui é verdade???
Sim. É o começo da entrevista dele para um jornal da Unicamp.

Cientistas costumam ter uma relação conturbada com a religião. Como você lida com a fé?

Não tenho ligação com a religião. Tenho em casa algumas bíblias que ganhei. São livros bonitos, mas com os quais eu não tenho qualquer relação. Não sei como religião e ciência se aproximam. Como um Deus onipotente deixa acontecer um maremoto que mata centenas de milhares de pessoas?

http://super.abril.com.br/ciencia/premio-nobel-foi-quase-445613.shtml

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #264 Online: 24 de Março de 2010, 16:23:31 »
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Lattes foi meu professor na USP, também fomos colegas no Instituto de Física da UNICAMP[10], e mais importante Lattes foi meu amigo e meu vizinho por mais de vinte e cinco anos. Discutíamos sempre sobre os mais variados assuntos sobre os quais na maioria das vezes discordávamos profundamente, mas aqui não é o lugar para entrar neste assunto. Nas vésperas de sua morte eu o visitei e ele tinha talvez lucidez maior do que quando o conheci em 1967.

Ok, não tenho bagagem para discutir assuntos de física de alto nível, mas essa citação não parece a opinião de alguem emocionalmente envolvido? Pelo menos nessa declaração ele não pareceu muito científica, ou ele tinha conhecimentos de neurologia e psquiatria que lhe permitiram concluir isso?.

E o Fayman tem qualificação para diagnosticar senilidade a distância? Não defendendo um tu quoque, mas são o tipo de coisa que deveriam ser deixadas de lado.

Offline Buckaroo Banzai

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #265 Online: 24 de Março de 2010, 16:25:38 »
Eu comentaria ponto a ponto, mas já que o ilustre professor considera que ninguém aqui tem gabarito o bastante para responder às ponderações feitas, deixo o assunto para lá. Já faz um ano, afinal.

Deveriam fazer um vídeo de rap do Einstein versus Poincaré.

Offline Derfel

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #266 Online: 25 de Março de 2010, 15:14:07 »
Dbohr, você leu os trabalhos que ele indicou?

Offline Dbohr

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #267 Online: 25 de Março de 2010, 16:37:49 »
Alguns poucos, antes mesmo deste tópico ser aberto. Estudei um bocado de Relatividade na graduação e não me considero um não-iniciado.

Offline Hold the Door

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #268 Online: 25 de Março de 2010, 17:51:10 »
Enquanto isso, do outro lado do mundo...

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Closing in on Einstein: Frame-Dragging Clearly Visible

The accuracy of the GP-B experimental results has improved seventeen-fold since our preliminary results announcement at the American Physical Society annual meeting in April 2007. At that time, only the larger, geodetic effect was clearly visible in the data. Over the past two and one half years, we have made extraordinary progress in understanding, modeling and removing three Newtonian sources of error—all due to patch potentials on the gyroscope rotor and housing surfaces. The latest results, based upon treatment of 1) damped polhode motion, 2) misalignment torques and 3) roll-polhode resonance torques, now clearly show both frame-dragging and geodetic precession in all four gyroscopes.
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Offline Derfel

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #269 Online: 25 de Março de 2010, 18:12:38 »
Achei essa outra entrevista do Lattes no Jornal da Unicamp:
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Os físicos e a Bíblia

 

JU – Qual sua avaliação sobre o Big Bang?

Danhoni – É uma questão atual e complicada, porque uniu várias físicas, desde a cosmologia até a relatividade e criou uma estrutura que não pode ser testada. Tem sido um paradigma que está se tornando um dogma quase religioso da criação: “Existiu, há 15 ou 20 bilhões de anos, um momento onde só havia trevas e tudo virou luz...”.

Lattes – Isso é frescura do George Gamow (físico norte-americano, 1904-1968, a quem se atribui a teoria do Big Bang). O que possui o Gamow, além do Big Bang? A penetração das barreiras de potencial. Isso acontece em qualquer noite de núpcias. Esse é o George Gamow...

Danhoni – Ele ficou até chateado com Penzias e Wilson (Arno Penzias e Robert Wilson), que ganharam o Nobel (em 1978) pela descoberta da radiação fóssil, por não terem lembrado dele.

Lattes – Mas a radiação fóssil é uma descoberta experimental, não precisa se encaixar numa teoria...

Danhoni – Gamow, numa carta que enviou ao Penzias, fala: “Eu perdi uma moeda e vocês a encontraram”.

Lattes – Modesto...

Danhoni – Mas a história do Big Bang tem essa questão da bola de fogo, do Gamow, que ganhou força.

JU – Lemaître (Georges-Henri Lemaître, padre e cosmólogo belga, 1894-1966) foi o primeiro a propor um modelo específico para o Big Bang, a estudar modelos teóricos que deram origem à teoria de Gamow...

Lattes – Espera, vamos com calma. Lemaître escreveu “O átomo primitivo”. O abade era respeitável.

Danhoni – Tinha o Friedmann (matemático e meteorologista russo Alexander Friedmann, 1888-1925, que descobriu soluções das equações da teoria da relatividade geral, a teoria de gravitação que suplantou a de Isaac Newton, 1643-1726)...

Lattes – O Friedmann era bom também.

Danhoni – A história do Big Bang, de que foi Gamow quem propôs esse modelo, utilizando até os estudos do Friedmann e do Lemaître, é tida como oficial. Mas a predição da temperatura da radiação fóssil é uma coisa do final do século retrasado, de quando havia gente que acreditava em um modelo estático de Universo. Como o Guillaume (C. Guillaume), que ganhou o Nobel (em 1920).

Lattes – Você também está aderindo a essa história de predição? No meu tempo era previsão. Sabe por que eu não ganhei o prêmio Nobel? Em Chacaltaya, quando descobrimos o méson-pi, se publicou: Lattes, Occhialini (Giuseppe Occhialini) e Powell (Cecil Powell, físico britânico que ganhou o Nobel em 1950 por fotografar os núcleos atômicos e pela descoberta do méson). E o Powell, malandro, pegou o prêmio Nobel pra ele. Occhialini e eu entramos pelo cano. Ele era mais conhecido, tinha o trabalho da produção de pósitrons em 1933. Depois fui para a Universidade da Califórnia, onde foi inaugurado o sincrociclotron em 1946. Já era 1948 e estava produzindo mésons desde que entrou em funcionamento em 46, tinha energia mais que suficiente. Então, detectamos, Garden (Eugene Garden) e eu, o méson artificial, alimentando a presunção de retirar do empirismo todas as pesquisas que se relacionassem com a libertação da energia nuclear. Sabe por que não nos deram o Nobel? Garden estava com beriliose, por ter trabalhado na bomba atômica durante a Guerra, e o berílio tira a elasticidade dos pulmões. Morreu pouco depois e não se dá o prêmio Nobel para morto. Me tungaram duas vezes.

JU – Professor Marcos, qual a teoria defende para a origem do Universo?

Danhoni – Não acredito num Universo que nasce. Acredito, diferentemente do professor Lattes, num Universo infinito, que não tem origem, que sempre existiu.

Lattes – Concordo com você, mas não chamo de infinito, chamo de indefinido.

Danhoni – Pode ser. Minha idéia é quase uma idéia Bruniana.

Lattes – Sabe o que Giordano Bruno disse quando estava ardendo, morrendo queimado pela Inquisição (acusado de conspiração contra a Igreja)? “O Sol é uma estrela como as outras!”.

Danhoni – Giordano é mesmo um monstro universal, mas ainda pesa sobre ele essa censura. Ele falava em pluralidade dos mundos infinitos: que o Universo é infinito e Deus está em todas as coisas, portanto, em lugar algum. É um Universo aninimista. A estrela tem origem, desenvolvimento e morte. Ela vira uma fábrica atômica, produzindo elementos pesados como hélio, oxigênio, ferro e aí implode, explode e lança isso, que vai semear vida ou destruir vidas em outros sistemas. Assim talvez o Universo fosse contínuo, perpétuo dentro de sua infinidade. Agora, toda essa história do Big Bang explica a interpretação de uma coisa única: você tira o espectro de uma galáxia, o Universo está se expandindo e um dia ele esteve num ponto singular. E eu faço uma pergunta: todos nós sabemos que, pela Teoria da Relatividade, nada pode escapar de um buraco negro...

Lattes – Isso é uma bobagem. O buraco negro do Gamow (risos), uma bobagem, só tem o dele.

Danhoni – Mas a pergunta: se nada pode escapar de um buraco negro, como pôde o Universo nesse ponto singular se expandir? Ou seja, é uma coisa muito fantasiosa.

JU – Pois é. Mas permanece a dúvida: de onde teria vindo a matéria para explodir e originar o Universo, no caso do Big Bang? E que vale também para a teoria de um Universo infinito. De onde veio a matéria?

Danhoni – Eu acho que jamais conseguiremos uma resposta para isso. E isso dará emprego aos físicos (risos).

Lattes – Deus pode ter criado a matéria, pode até ter criado o espaço, mas o tempo, não. O tempo é uma variável termodinâmica, que cria a si mesmo, pelo fato de tender para a desordem. (Pára, pensativo). Mas ainda estou aprimorando isso no meu tratado. Fica para a próxima sessão. Vai haver próxima sessão?... Acho que ainda leva tempo.

JU – O senhor é um crítico ferrenho da Teoria da Relatividade e do próprio Einstein (Albert Einstein, físico alemão, 1878-1955).

Lattes – Coitadinho, a culpa não é sua, foi assim que te ensinaram. Mas você sabe de quem é o princípio de relatividade?

Danhoni – Não nasce com o Poincaré (Jules Henri Pincaré, físico, matemático e astrônomo francês, 1854-1912)?

Lattes – Mesmo antes, mesmo o Galileu (Galileu Galilei, físico, matemático, astrônomo, filósofo, literato italiano, 1564-1642), o próprio Newton (Isaac Newton, físico, matemático e astrônomo inglês, 1642-1727) certamente falaram em relatividade. Mas quem anunciou corretamente e colocou em ordem foi o Poincaré, em 1900. Lá já aparece que o movimento retilíneo uniforme não pode ser detectado num laboratório. Admitindo como postulado (algo que não pode ser demonstrado) que o movimento retilíneo uniforme não altera os fenômenos de um laboratório fechado, e chamando a isso de princípio da relatividade – como eles falam –, mesmo que mais tarde viesse a ser provado o contrário pela experiência, Poincaré queria ver quais seriam as conseqüências lógicas. É assim que ele começa seu trabalho. Tudo o que Einstein diz, sobre dilatação do período dos relógios em movimento, variação da massa com a velocidade, isso é Lorentz (Hendrik Antoon Lorentz, físico holandês, 1853-1928). Einstein é uma bobagem. Eu não acredito na relatividade. Mas se ela fosse verdadeira, numa espaçonave que está em repouso em relação às galáxias ou em movimento retilíneo uniforme – o que não é possível porque o espaço está cheio de radiação –, você observaria os mesmos fenômenos, tanto num laboratório parado quanto num em movimento. O princípio do movimento retilíneo uniforme é do Poincaré. Einstein confundiu medida de grandeza física com grandeza física, que é uma coisa objetiva. O metro dele encolhe dependendo da velocidade. Depois, ele fez uma teoria da gravitação fajuta, que chamou de relatividade geral. Não tem relatividade geral. A teoria é furada. O movimento de aceleração é absoluto. Einstein é um palhaço, plagiador! Um século de tapeação e ninguém desmascarou.

Danhoni – É essa adesão ao modelo tido como real. Quem fez a fama do Einstein foi o Arthur Eddington (astrônomo e físico inglês, 1882-1944).

Lattes – Esse é um palhaço puro.

JU – O Eddington é o inglês...

Danhoni – O Eddington mandou uma equipe para o Brasil em 1919, em Sobral, e outra acompanhou na Guiné os melhores pontos para se observar um eclipse. É só durante um eclipse que você vê as estrelas de fundo e pode comparar se elas estão no mesmo ponto ou se a luz delas está defletida ou não. Só que ele pegou as chapas com desvio acima ou abaixo do previsto por Einstein e desconsiderou. Fez uma análise estatística de erros observacionais e experimentais e aquilo se encaixava dentro do previsto por Einstein. Isso fez a fama de Einstein.

JU – Como vocês avaliam a física no Brasil?

Danhoni – A ciência brasileira está muito condicionada pela Califórnia, que tem um indexador de revistas científicas, o ISI, “Institute for Scientific Information” (Web of Cience), um grande truste que indexa revistas do mundo inteiro – oito mil dentre cerca de 150 mil publicações, pouquíssimas no Brasil. E se você não publica nessas revistas, não faz ciência séria. A ciência séria, portanto, está atrelada à ciência que é feita no primeiro mundo.

JU – Danhoni, você é doutor em Educação e se mostra didático ao falar dos fenômenos astronômicos em “O Mago que veio do Céu”, um livro para crianças...

Danhoni – No livro de criança quero algo de ciência informal e tento recuperar o sistema referencial geocêntrico. Não por crença, mas porque é o que a gente vive inicialmente.

JU – O “Memórias do Invisível” enfoca um pouco dessa sua postura contra a doutrina educacional seguida atualmente...

Danhoni – O “Memórias...” tem vários livros dentro dele. É uma reunião de minha produção em 15 anos, sempre enfocando essa questão da não dogmatização da ciência, para estimular de alguma forma o pensamento divergente. Só que infelizmente a academia, no mundo, trata mal os divergentes, ela está interessada em comércio. E se você começa a questionar a física do estado sólido, a cromodinâmica quântica, fica meio de lado porque não vai produzir tecnologia. Você começa a incomodar.

JU – O que resta ser descoberto?

Danhoni – Tudo. E tudo o que for descoberto será reinterpretado no futuro.

Lattes – O que era aceito já não é mais.

Danhoni – A maioria das vezes a gente vê o que o nosso esquema teórico pede para a gente ver.

Lattes – Eu não vou nessa, não.

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/ago2001/unihoje_ju165pag11.html

O que me passa ao ler a entrevista é que ele ficou muito magoado por não ter recebido o Nobel que achava que teria direito. Quanto à relatividade, me parece que ele não entendeu a teoria, daí o que ele fala da confusão de grandeza física com medida de grandeza física. Não tenho qualificação para falar isso, mas é o que me pareceu.

Offline Hold the Door

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #270 Online: 25 de Março de 2010, 18:33:57 »
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Danhoni – Mas a pergunta: se nada pode escapar de um buraco negro, como pôde o Universo nesse ponto singular se expandir? Ou seja, é uma coisa muito fantasiosa.
Isso que dá matar as aulas de relatividade para ficar jogando truco... ::)
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Offline Derfel

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #271 Online: 25 de Março de 2010, 19:15:48 »
Artigo interessante sobre o assunto (ainda estou lendo): http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-11172005000100003

Offline Feynman

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #272 Online: 02 de Abril de 2010, 23:17:05 »
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A glória de Poincaré acabou sendo salva por seu amigo holandês Hendrik Antoon Lorentz, prêmio Nobel de Física (1902). Em 1921, após o triunfo do eclipse do sol de 1919, o comitê Nobel se reuniu com um primeiro pensamento: “Nós devemos dar o prêmio Nobel a Einstein, pela relatividade". Lorentz protestou: “Não é justo!”.

Isto é MENTIRA, jamais aconteceu. Basta ver os registros das indicações do Prêmio Nobel. Fora o FATO de que Lorentz convidou e quase convenceu Einstein a aceitar um posto permanente na Holanda!! Einstein já havia ficado um tempo por lá, a convite PESSOAL de Lorentz, à época. E Einstein sempre se referiu a Lorentz como o pai da Relatividade, basta ver inúmeras cartas.

Isso sem comentar o FATO de quem escreveu esta IMBECILIDADE, possivelmente não sabe História, pois a partir de 1916, as propostas para contemplar Einstein com o Nobel, envolviam muito mais a Relatividade Geral, do que a Restrita, a qual nada tem a ver com Poincaré. Fora o FATO de que, em 1921, NÃO HOUVE OUTORGA DO NOBEL DE FÍSICA(o comitê NÃO SE REUNIU neste ano para discutir este assunto)!!!! O prêmio relativo ao ano de 1921, ganho por Einstein, foi concedido apenas em 1922. O de 1922 foi outorgado a Bohr. Os dois prêmios foram concedidos no mesmo ano.

Querem reescrever a História, criando o mito de uma guerra que nunca existiu, entre cientistas de primeira linha. Por que o texto não se atém a FATOS HISTÓRICOS COMPROVADOS, e mostra, por exemplo, que Poincaré RECOMENDOU Einstein, quando foi consultado, por autoridade do ETH, a respeito de uma vaga de professor a ser oferecida a ele (Einstein)?

TEXTOS PULHAS iguais a este, dando vazão a mentiras ridículas, apenas lançam lama sobre as verdadeiras conquistas de Lattes, e realçam as bobagens que ele afirmou.


Grande Fayman, pena não ter mais tempo disponível para grandes debates.
A propósito, também não posso deixar de corroborar: Lattes foi um grande nome de nossa ciência. E isto não muda o fato de que seus devaneios chegaram às raias do absurdo devido às suas catarses com a ciência sólida de Einstein, Eddington e Gamow. Em relação ao Marcos Cesar Danhoni Neves, posso acrescentar que tem vários estudos sobre episódios vários da física, e muitos muito bons. Mas ele NÃO é pesquisador da área de cosmologia e, infelizmente, parece ser entusiasta do Universo Estacionário de Fred Hoyle, e suas versões otimizadas por Halton Arp e Jayant Narlikar. Existe muito material "sério" (de intenções realmente científicas, mas de pouco sucesso heurístico) destes autores, mas é bom que se diga que o "modelo inflacionário lâmbda de matéria escura fria" (conhecido mais popularmente e genericamente por Teoria do Big Bang) não tem concorrentes à altura. Os sucessos deflagrados com o satélite COBE em 1989 (cujos dados analisados em 1992 por George Smoot o levariam ao Nobel de física de 2006), e mais tarde ratificados pelo satélite WMAP, produziram um conjunto de evidências que apóiam fortemente a teoria do Big Bang que, por sua vez, tem imensas dívidas com a Relatividade Geral de Einstein, sendo praticamente uma previsão desta.
« Última modificação: 02 de Abril de 2010, 23:19:42 por Feynman »
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline ramires

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #273 Online: 05 de Abril de 2010, 16:07:50 »
Eu comentaria ponto a ponto, mas já que o ilustre professor considera que ninguém aqui tem gabarito o bastante para responder às ponderações feitas, deixo o assunto para lá. Já faz um ano, afinal.

Salve Dbohr. Vamos combinar, vc é um gêncio e eu um idiota.
Voce comentaria... faz-me rir. Porque não comentou?  vc como um gênio é humilde né?
Seja ético cara. Comente, compare os textos e depois mande uma carta ao professor para ele te contestar. Vc não sabe nada. Se soubesse já teria dado sua versão.
Quer voltar ao debate sério? sem crenças ou ídolos?
Uma certeza vc pode ter. Cada vez mais as pessoas estão entendendo que einstein foi construido como cristo. Vc acredita em cristo?

Offline ramires

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Re: Entrevista em que o físico César Lattes fala mal de Einstein e Stephen Hawking
« Resposta #274 Online: 05 de Abril de 2010, 16:09:16 »
A permissão foi dada. Apresento aqui a íntegra da resposta do Professor Waldyr Rodrigues:


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Caro Daniel,

 

Obrigado por sua mensagem.  Apesar de estar muito ocupado  agora e durante todo o próximo mês, visto que estou finalizando alguns artigos (que já deveriam estar prontos) e organizando na UNICAMP a VIII International Conference on Clifford Algebras and their Applications[1], não resisti a tentação de ler os artigos sobre o “possível plágio de Einstein” no site do seu fórum (www.clubecetico.org.) e resulta que tenho alguns esclarecimentos pertinentes a fazer. Antecipadamente peço desculpas a você e  a qualquer outro membro do fórum que não se sinta confortável com minhas ponderações.

 

a) Primeiramente, devo dizer que infelizmente (ao que tudo indica, salvo melhor juízo) os autores de todos os artigos publicados no seu  fórum (e que tive a oportunidade de ler) simplesmente não se encontram preparados para discutir o assunto em debate, quer do ponto de vista de conhecimento dos fatos históricos quer do ponto de vista dos fatos científicos. Para que um cidadão possa discutir se Einstein plagiou ou não Poincaré (e também se plagiou ou não Hilbert[2]) é necessário que dito cidadão tenha lido (e obviamente compreendido)  no mínimo o conteúdo dos livros e artigos citados abaixo. A simples leitura da biografia de Einstein de A. Peres[3]  “Sutil é o Senhor” não habilita ninguém a esta tarefa.

Entre os artigos sobre a gênese da teoria da relatividade especial que necessariamente precisam ser lidos encontram-se os de Poincaré  [20,21]. Estes dois artigos encontram-se traduzidos (e comentados) para o Inglês por Logunov[4]  e podem ser encontrados na Internet [14]. Estes artigos devem ser comparados com o artigo de Einstein [6].[5] Se o leitor se dignar a realizar este exercício[6] (ao invés de simplesmente confiar nos biógrafos de Einstein) realizará imediatamente, que de duas uma: ou Einstein ao escrever seu famoso artigo conhecia todos os trabalhos de Poincaré ou  ele podia ler a mente do matemático francês.

A primeira hipótese é mais provável de acordo com a farta documentação exibida no livro de Leveugle [13]. Neste livro e também em [12] se aprende que no ano de 1905 Einstein escreveu 21 resenhas para o suplemento Beiblätter zu den Annalen der Physik (entre eles artigos publicados nos  Comptes Rendus de L’Académie de Sciences) e teve com quase absoluta certeza oportunidade de ler a nota  [22] de Poincaré apresentada à Academia de Ciências da França em 05 de Junho de 1905 e impressa em 08 de Junho de 1905 e enviada aos assinantes da revista em 09 de Junho  do mesmo ano[7] (!) . È bem verdade que Einstein ao tomar conhecimento da nota de Poincaré trabalhou arduamente para escrever sua versão da teoria, e o fato de não ter citado Poincaré é  de fato imperdoável, razão pela qual Whittaker[8] deu o título “The Relativity Theory of Poincaré and Lorentz” ao capítulo 2 do volume II de seu memorável livro [26] . Em particular, contrariamente ao que Einstein afirmou em diversas oportunidades, ele e seus amigos da Academia Olímpia leram “La Science e l’Hipothése” [22][9] de Poincaré onde muitas idéias que depois apareceram nos artigos [23,24] de Poincaré (entre outros). Esta afirmação encontrá-se no livro de M. Solovine, um dos amigos de Einstein e  membro da Academia Olímpia.

 

b) Alguns dos membros do fórum pensam que as versões de Poincaré e de Eisntein da teoria da Relatividade são distintas. Um dos membros chegou a afirmar que na versão de Poincaré os efeitos relativísticos seriam dinâmicos enquanto que na teoria de Einstein eles seriam cinemáticos. Esta afirmação errônea é infelizmente típica tanto por parte daqueles que só teve um breve encontro com livros textos elementares com até por parte de muitos físicos  que dominam (ou pensam dominar) conceitos sofisticados usados em versões matematicamente mais elaboradas da teoria da relatividade. A estes, aconselho que leiam artigos de Einstein  posteriores a [7], como por exemplo [10] e estudem, também as referencias [25,26].

 

c) A um dos membros do fórum, que sem me conhecer e saber exatamente o que penso sobre a polemica, diz que prefere ficar com A. Peres, recomendo fortemente  que reveja o significado do seu ceticismo. Quem desejar conhecer-me um pouco melhor e consultar meus trabalhos está convidado a consultar minha homepage em http://www.ime.unicamp.br/~walrod

 

d) Para aqueles que pensam que a teoria da relatividade aboliu o conceito de éter sugiro que leiam o artigo [9] de Einstein.

 

 e) Finalmente, afirmo que o Prof. Cesar Lattes  não estava senil ao dar a entrevista                   mencionada no fórum. Contudo é fato que a edição da entrevista está ruim e contém alguns enganos lamentáveis. Lattes foi meu professor na USP, também fomos colegas no Instituto de Física da UNICAMP[10], e mais importante Lattes foi meu amigo e meu vizinho por mais de vinte e cinco anos. Discutíamos sempre sobre os mais variados assuntos sobre os quais na maioria das vezes discordávamos profundamente, mas aqui não é o lugar para entrar neste assunto. Nas vésperas de sua morte eu o visitei e ele tinha talvez lucidez maior do que quando o conheci em 1967.

 

Um abraço,

Waldyr

 

1 - M. Allais, Albert Einstein, Un Extraordinarie Paradoxe, Editions Clément Juglar, Paris, 2005.
2 - C. Jon Bjerknes, Albert Einstein, The Incorrigible Plagiarist, XTX Inc., Downers Grove, USA, 2002, http://home.comcast.net/~xtxinc/MainPage.htm
3 - C. Jon Bjerknes, Anticipations of Einstein in General Theory of Relativity, XTX Inc., Downers Grove, USA, 2003, http://home.comcast.net/~xtxinc/MainPage.htm
4 - N. N. Bogolubov, A. A. Logunov and I. T. Todorov, Introduction to Axiomatic Quantum Field Theory, W. A. Benjamin, Inc., Reading MA., 1975.
5 - M. Born, Einstein’s Theory of Relativity, (revised edition), Dover Publ., Inc., New York, 1962.
6 - L. Corry, J. Renn, and J. Stachel, 'Belated Decision in the Hilbert-Einstein Priority Dispute, Science 278, 1270-1273 (1997)
7 - A. Einstein, Zur Electrodynamik bewegter Köper, Ann. der Physik 17,  891-921 (1905)
8 - A. Einstein, H. A. Lorentz, H. Weyl, H. Minkowski, The Principle of Relativity, Dover Publ. Inc. , New York, 1952.
9- A. Einstein, Ether and the Theory of Relativity (translation of a lecture delivered by Einstein at the Univ. Leyden, 1920), http://www.mountainman.com.au/aether_0.html
10 - A. Einstein, , Autobiographical Notes (page 59), in P. A. Schilpp (ed.) Albert Einstein: Philosopher-Scientist, Oen Court, La Salle, Illinois, 1970
11 - J. Fric, Henri Poincaré: A Decisive Contribution to Special Relativity. The Short Story, http://www.everythingimportant.org/relativity/Poincare.htm
12 - E. Giannetto, The Rise of Special Relativity: Henri Poincaré Works Before Einstein, Atti del XVIII Congresso di Storia della Fisica e dell’Astronomia, Hadronic J. Suppl. 10, 365-433 (1995) http://www.brera.unimi.it/sisfa/atti/1998/Giannetto.pdf
13 - R. Hazellet and D. Turner (eds.), The Einstein Myth and the Ives Papers, The Devin-Adair Company, Publ., Old Greenwich, Connecticut, 1979.
14 - J. Hladik, Comment le Jeune et Ambitieux Einstein s’est Approprié la Relativité Resterinte de Poincaré, Ellipses Édition Marketing S.A., Paris, 2004.
15 - J. Leveugle, La Relativité, Poincaré et Einstein, Planck, Hilbert. Histoire Véridique de la Théorie de la Relativité, L. Harmattan, Paris, 2004.
16 - A. A. Logunov,  Henri Poincaré and Relativity Theory (book 253 pages), arXiv:physics/0408077v4
17 - A. A. Logunov, On the Article by Henri Poincaré “On the Dynamics of the Electron”, H. Journal 19, 109-183 (1996). http://www.annales.org/archives/x/marchal2.doc
18 - A. A. Logunov, The Theory of Gravity (book 256 pages) arXiv:gr-qc/0210005
19 - A. A. Logunov, M. A. Mestvirishvilli, V. A. Petrov, How  Where the Hilbert- Einstein Equations Discovered?, arXiv:physics/0405075
20 - C. Marchal, Henri Poincaré: A Decisve Contribution to Relativity, http://annales.org/archives/x/Relativity.doc
21 - A. I. Miller, Albert Einstein’s Special Theory of Relativity, Addison Wesley Publ. Co., Inc. Reading MA, 1981.
22 - H. Poincaré, Science and Hypothesis, Dover Publ., New York, 1952 (originally published in French with title: La Science et l’ Hypothèse, Flamarion, Paris, 1902).
23 - H. Poincaré, Sur la Dynamique del’Electron, Comptes Rendus de L’Académie de Sciences  140, 1504-1508 (1905)
24 - H. Poincaré, Sur la Dynamique del’Electron, Rediconti del Circolo Matematico di Palermo 21, 129-175 (1906).
25 - H. Reichenbach, The Philosophy of Space&Time, Dover Publ., New York (1958).
26 - W. A. Rodrigues Jr. and M. A. F. Rosa, The Meaning of Time in the Theory of Relativity and “Einstein’s Latter View of the Twin Paradox”, Found. Phys. 19, 705-724 (1989).
27 - W. A. Rodrigues Jr. and E. Capelas de Oliveira, The Many Faces of Maxwell, Dirac and Einstein Equations. A Clifford Bundle Approach. Lecture Notes in Physics 722, Springer, Heidelberg, 2007.
28 - M. Solovine, Albert Einstein. Lettres à Maurice Solovine, Gauthier-Villar, Paris, 1956.
29 - E. T. Whittaker, A History of the Theories of Aether and Electricity, vols. I and II, Humanities Press, New York, 1973 (first published in 1953)
30 - E. T. Whittaker and G. N. Watson, A Course of Modern Analysis (fourth edition), Cambridge University Press,  Cambridge, 1927 ( first edition published in 1902)
31 - F. Winterberg, On “Belated Decision in the Hilbert-Einstein Priority Dispute”, published by L. Corry, J. Renn, and J. Stachel, Z. Naturforschung   59a, 715-719 (2003).
 

 



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[1] ICCA8. Veja: http://www.ime.unicamp.br/~icca8/

[2]  Consulte alguns dos artigos e livros da lista de referencias abaixo.

[3] Concordo com Hadlik (ver  ref. [12], página 94) que  A. Peres é um autor extremamente parcial (e possivelmente desonesto).

[4] A. A. Logunov é um dos mais respeitados físicos teóricos russos, tendo sido reitor a Univ. de Moscou e presidente da Academia de Ciências da  (ex)União Soviética. Também é um dos autores de um livro clássico sobre teoria quântica de campos [4]

[5] Traduções do artigo de Einstein para o Inglês encontram-se em [7] e [19]. A tradução de Miller [19] é muito melhor.

[6] O exercício requer conhecimento de Matemática compatível com aquele de um bom aluno da área de exatas da UNICAMP após o termino do segundo semestre letivo.

[7] Observo ainda que naquela época uma correspondência enviada de Paris até qualquer uma das principais cidades alemães ou suíças demorava no máximo dois dias (!).

[8]  Sir Edmund Whittaker foi um brilhante matemático inglês, um dos autores de um livro [27] que foi usado por gerações de pretendentes a se tornarem físicos teóricos.

[9] Este livro também faz parte da leitura obrigatória. Existe, se não me falha a memória uma tradução em Português  da editora da Univ. de Brasília.

[10]  Antes de transferir-me para o Instituto de Matemática.
Pois é. Resolvi ler meu mail e vi que esse papo tinha voltado.
Mais um grande físico defendendo einsten e atacando lattes.  O sonho da viajem no tempo continua.
O texto do waldir esta ai. Conteste os pontos onde ele compara os trabalhos e depois mande para o waldir  responder, já que nenhum físico famoso aceitou defender einstein nessa pendenga.



Vai que é sua Dborhr.

 

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