Eu estava simplesmente dando a "definição" geral de utilitarismo, não dizendo que deve ser seguido à risca até suas últimas conseqüências, como inclusive exemplifiquei. O que não significa que não se possa ter considerações que tendam para o utilitarismo, como também exemplifiquei com o caso das vacinas.
Se o utilitarismo se fundamenta em fazer o que é melhor para a maioria em detrimento de outros, então é isso, pronto. Se isso não é agradável em todos os possíveis desdobramentos, a conclusão é de que o utilitarismo não é sempre, universalmente bom ou o melhor. E não que aquilo que seja utilitarista mas não consideremos como sendo bom, deixe de ser utilitarismo. Da mesma forma que comunismo é o comunismo, e se gostassemos de comunismo, e não é porque não gostamos de stalinismo ou de maoísmo que esses deixam de ser comunismo, ou ainda, anarco-capitalismo é capitalismo, mesmo que achemos que não é o ideal, e gostemos de capitalismo.
Eu acho que isso de que o utilitarismo "ter que se fundamentar na ética" é algo meio óbvio/tautológico (já que o utilitarismo em si é uma perspectiva sobre ética). Só dizer isso ainda não responde coisas sobre o que é ético. O utilitarismo levado às últimas conseqüências, não é, todos devem concordar. Mas ao nível de vacinação obrigatória ao menos, é, muitos concordam. E então temos ainda essas áreas complicadas, como de direitos reprodutivos.
Como disse, se, por alguma razão maluca, dessas que só servem para essas questões hipotéticas para se analisar a moral, só tivéssemos duas opções, esterilização compulsória versus deixar as coisas rolarem soltas até que se tivesse conseqüências das mais lastimáveis e degradantes para um número absurdo de pessoas, eu tenho uma tendência a ver a primeira opção como um mal menor, por mais desagradável que seja de um ponto de vista kantiano. E acho fundamentalmente distinto de, por exemplo, exterminar essas pessoas depois que já tivessem vindo a existir nessa situação calamitosa; é mais parecido com "prisão" do que cadeira elétrica, só que "em outra área" das liberades individuais.
Como eu também disse, ainda bem que não estamos limitados apenas à essas duas alternativas. Não me é ainda claro se direitos reprodutivos devem decorrer imediatamente da capacidade biológica de reprodução, de qualquer forma. As condenações mais fortes que tenho contra isso são de qualquer forma pragmatismo e anti-estatismo/totalitarismo apenas, além de provavelmente a sociedade poder agir para evitar os problemas decorrentes de uma liberdade total desse direito sem fazer uso do estado como instrumento, ou com um uso menos coercivo, sem uma efetiva restrição desse direito.