Autor Tópico: Fábrica de maus professores  (Lida 19393 vezes)

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Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #100 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:32:50 »
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Medicina não é um caso muito típico.
Eu falo em qualquer profissão... advogado só ganha diploma por demonstrar ser capaz de defender seus clientes. Deu pra entender...
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DEVERIA ser, não é mesmo?
Não, já que o assunto é diploma x formação, eu falo de maneira bem específico... diploma falo como o pedaço de papel independente da formação.
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Sério?  Vou ter de discordar.
Bom, eu não vejo como você vá lembrar de algo que você não usa faz anos.
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O que ilustra uma deficiência do método de ensino, nada mais nada menos.
Sim. É possível melhorar isso?
Educação:
- Para todas as crianças;
- 1 professor para cada 30 crianças, significa que vai ter um profissional para cada 30 crianças;
É algo em larga escala.

Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #101 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:35:35 »
Na verdade, o engano foi meu. Lembro-me de ter visto alguém criticando o ensino de Física de uma maneira geral, não só entropia/entalpia, mas agora não estou achando a postagem...

De qualquer forma, acho que o importante é repensar-se na forma em que os conteúdos são passados e dar ênfase a como aquilo é ou pode ser aplicado no dia-a-dia. Concordo que partes de algumas matérias são inúteis, mas às vezes essas partes que são inúteis por si acabam servindo indiretamente para outro conteúdo. Ex: o cálculo de energia por grama consumida de um combustível é entalpia.
Era a mensagem do Luis Dantas. Mas o erro foi meu mesmo, tanto faz de onde você tirou "física", entropia é algo a ser ensinado, ficou totalmente fora de sentido minhas mensagens. =P

Para mim entalpia é bem específico, e envolve o graficozinho dos copinhos com eletrodos. (eu lembro da foto!!) Eu só penso nisso sendo usado por quem vá construir uma bateria. Os cálculos que uma "pessoa normal" usaria seriam só multiplicação...

Offline Renato T

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #102 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:41:53 »
Na verdade, o engano foi meu. Lembro-me de ter visto alguém criticando o ensino de Física de uma maneira geral, não só entropia/entalpia, mas agora não estou achando a postagem...

De qualquer forma, acho que o importante é repensar-se na forma em que os conteúdos são passados e dar ênfase a como aquilo é ou pode ser aplicado no dia-a-dia. Concordo que partes de algumas matérias são inúteis, mas às vezes essas partes que são inúteis por si acabam servindo indiretamente para outro conteúdo. Ex: o cálculo de energia por grama consumida de um combustível é entalpia.

Nenhum conhecimento é inútil.. nem literatura, física, matemática, biologia, história, geografia, química, filosofia, artes.. nada disso é inútil. Tudo acrescenta um pouco mais pra pessoa que aprendeu.. O problema é quando só querem aprender coisas que são necessárias pra exercer alguma profissão, como se esse fosse o único motivo para se aprender algo.

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #103 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:42:18 »
Eu falo em qualquer profissão... advogado só ganha diploma por demonstrar ser capaz de defender seus clientes. Deu pra entender...

Continuo discordando, em parte porque isso seria aplicar critérios de formação técnica ao ensino superior.

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DEVERIA ser, não é mesmo?
Não, já que o assunto é diploma x formação, eu falo de maneira bem específico... diploma falo como o pedaço de papel independente da formação.

Diplomas "independentes da formação" não deveriam nem mesmo existir.

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Sério?  Vou ter de discordar.
Bom, eu não vejo como você vá lembrar de algo que você não usa faz anos.

Tendo aprendido com a fundamentação adequada na primeira vez, e se deparando com um motivo para recordar.  Não é exatamente raro.  Hoje em dia há intersecções crescentes entre as áreas, por vezes de formas inesperadas.  Por exemplo, a engenharia eletrônica e a medicina começam a demandar um diálogo mais frequente entre si.  O próprio Direito anda tão inflado que cria uma demanda para conhecimentos de outras áreas (inevitável diante da importância que atribuem a ele).

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O que ilustra uma deficiência do método de ensino, nada mais nada menos.
Sim. É possível melhorar isso?
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- 1 professor para cada 30 crianças, significa que vai ter um profissional para cada 30 crianças;
É algo em larga escala.

Não entendi.
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Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #104 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:53:48 »
Deixa pra lá...
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Tendo aprendido com a fundamentação adequada na primeira vez, e se deparando com um motivo para recordar.  Não é exatamente raro.  Hoje em dia há intersecções crescentes entre as áreas, por vezes de formas inesperadas.  Por exemplo, a engenharia eletrônica e a medicina começam a demandar um diálogo mais frequente entre si.  O próprio Direito anda tão inflado que cria uma demanda para conhecimentos de outras áreas (inevitável diante da importância que atribuem a ele).
Eu tenho certeza que quando determinam o ensino universalizado não pensam nisso......

Offline Andre

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #105 Online: 08 de Dezembro de 2008, 13:54:31 »
Nenhum conhecimento é inútil.. nem literatura, física, matemática, biologia, história, geografia, química, filosofia, artes.. nada disso é inútil. Tudo acrescenta um pouco mais pra pessoa que aprendeu.. O problema é quando só querem aprender coisas que são necessárias pra exercer alguma profissão, como se esse fosse o único motivo para se aprender algo.
Não digo que não adicione, mas existem conhecimento específicos demais. Não vejo utilidade prática em sabes as reações da Química Orgânica, adição, substituição, lei de Markovnikov, etc...
Se Jesus era judeu, então por que ele tinha um nome porto-riquenho?

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #106 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:00:05 »
Deixa pra lá...
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Tendo aprendido com a fundamentação adequada na primeira vez, e se deparando com um motivo para recordar.  Não é exatamente raro.  Hoje em dia há intersecções crescentes entre as áreas, por vezes de formas inesperadas.  Por exemplo, a engenharia eletrônica e a medicina começam a demandar um diálogo mais frequente entre si.  O próprio Direito anda tão inflado que cria uma demanda para conhecimentos de outras áreas (inevitável diante da importância que atribuem a ele).
Eu tenho certeza que quando determinam o ensino universalizado não pensam nisso......

Você se refere ao currículo mínimo?  Por que tem essa certeza?
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Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #107 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:05:09 »
Deixa isso também pra lá. Você falou de "deficiência do ensino", existe algum ensino do mundo que consegue fazer com que toda a população do mundo se lembre de coisas específicas das matérias? Tem também questão que aluno não aprende algo que tem repulsa. Existe algum lugar do mundo que conseguiria isso? Eu não quero dizer da escola famosa de tal pais, eu falo para todas as pessoas.

Não sei, eu penso no aluno se focando mais em uma matéria, e as vantagens de aprender muito mais algo supera aprender sobre assuntos que não eventualmente poderiam talvez quem sabe dependendo da situação terem utilidade...
« Última modificação: 08 de Dezembro de 2008, 14:15:17 por Ilovefoxes »

Offline Renato T

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #108 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:07:30 »
Nenhum conhecimento é inútil.. nem literatura, física, matemática, biologia, história, geografia, química, filosofia, artes.. nada disso é inútil. Tudo acrescenta um pouco mais pra pessoa que aprendeu.. O problema é quando só querem aprender coisas que são necessárias pra exercer alguma profissão, como se esse fosse o único motivo para se aprender algo.
Não digo que não adicione, mas existem conhecimento específicos demais. Não vejo utilidade prática em sabes as reações da Química Orgânica, adição, substituição, lei de Markovnikov, etc...

É disso que falo.. Tomarem por irrelevante um conhecimento que aparentemente não tem utilidade prática... Isso é quase um tapa na cara de todos os filósofos..

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #109 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:13:46 »
Deixa isso também pra lá. Você falou de "deficiência do ensino", existe algum ensino do mundo que consegue fazer com que toda a população do mundo se lembre de coisas específicas das matérias?

Ora, essa é a própria idéia do conceito de ensino.

Ou você se refere aos assuntos que não sejam aplicados por anos a fio?  Mesmo esses deveriam ser fáceis de reaprender quando assim demandado.  Ensinar não é mostrar conteúdo para ser decorado, é algo muito mais profundo.  Leia um pouco sobre o método socrático.

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Tem também questão que aluno não aprende algo que tem repulsa. Existe algum lugar do mundo que conseguiria isso? Eu não quero dizer da escola famosa de tal pais, eu falo para todas as pessoas.

O conhecimento é algo tão fabuloso que esse desafio não pode ser visto com tanta acomodação.  Claro que o caminho passa por primeiro dissolver essa repulsa, que tem toda probabilidade de advir de métodos didáticos mal escolhidos.

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Não sei, eu penso no aluno se focando mais em uma matéria, e as vantagens de aprender muito mais algo supera aprender sobre assuntos que não eventualmente poderiam talvez quem sabe dependendo da situação terem utilidade...

Isso já acontece hoje, e os resultados são francamente lastimáveis.  Antes de mais nada, porque essa situação de "assuntos que eventualmente poderiam etc" é basicamente ficção.  Uma ficção difundida, e até mesmo politicamente influente, mas ainda assim uma ficção tão ingênua quanto perigosa.
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Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #110 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:19:08 »
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Ora, essa é a própria idéia do conceito de ensino.

Ou você se refere aos assuntos que não sejam aplicados por anos a fio?  Mesmo esses deveriam ser fáceis de reaprender quando assim demandado.  Ensinar não é mostrar conteúdo para ser decorado, é algo muito mais profundo.  Leia um pouco sobre o método socrático.
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O conhecimento é algo tão fabuloso que esse desafio não pode ser visto com tanta acomodação.  Claro que o caminho passa por primeiro dissolver essa repulsa, que tem toda probabilidade de advir de métodos didáticos mal escolhidos.
Bom, você falou de "deficiência no ensino brasileiro"... é algo que não está presente em qual país?
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Isso já acontece hoje, e os resultados são francamente lastimáveis.
Lastimável em qual sentido?
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Antes de mais nada, porque essa situação de "assuntos que eventualmente poderiam etc" é basicamente ficção.  Uma ficção difundida, e até mesmo politicamente influente, mas ainda assim uma ficção tão ingênua quanto perigosa.
Eu não consigo entender a lógica que todas as matérias podem um dia ser usadas...... você pode ser um investigador criminal de uma vítima de um tiro na cabeça que encontrou a mensagem "um tiro na esperança" o qual poderia ser resolvido caso você tivesse estudado por 2 anos Frenologia... tá certo, meu exemplo foi ruim, mas deu pra entender a lógica...

Offline Renato T

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #111 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:27:20 »
A questão é tomar o conhecimento como algo completamente prático/profissional, Ilovefoxes. Nesse caso, muitos conhecimentos são realmente inúteis e isso é indiscutível. Se você quer conhecimentos úteis você deve excluir o pensamento do tipo "só preciso aprender aquilo que vou usar" e começar a tomar o aprendizado como um todo para você, não só para os "outros".

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #112 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:27:58 »
Bom, você falou de "deficiência no ensino brasileiro"... é algo que não está presente em qual país?

Essas deficiências existem em outros países, sim.  E em outros, como o Japão e certos países europeus, são bem mais raras.  Mas no Brasil acha-se de alguma forma normal que professores sejam mal pagos e mais preparados.

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Isso já acontece hoje, e os resultados são francamente lastimáveis.
Lastimável em qual sentido?

Profissionais despreparados, basicamente.  E também um grau acima do saudável de orgulho corporativista em várias categorias.  Além da simples falta de condição de preparar (ou, quando preparados, reter no país) verdadeiros acadêmicos.

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Antes de mais nada, porque essa situação de "assuntos que eventualmente poderiam etc" é basicamente ficção.  Uma ficção difundida, e até mesmo politicamente influente, mas ainda assim uma ficção tão ingênua quanto perigosa.
Eu não consigo entender a lógica que todas as matérias podem um dia ser usadas...... você pode ser um investigador criminal de uma vítima de um tiro na cabeça que encontrou a mensagem "um tiro na esperança" o qual poderia ser resolvido caso você tivesse estudado por 2 anos Frenologia... tá certo, meu exemplo foi ruim, mas deu pra entender a lógica...

Acontece essa lógica não se aplica na realidade.  Hoje em dia se usa conhecimento de biologia para inspirar técnicas de informática, testa-se os limites do conhecimento de física para projetar equipamento avançado.  Os avanços nas telecomunicações criam demandas de negócios novas, que por sua vez pedem profissionais com perfis ainda mais variados.  E por aí vai.
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Offline FxF

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #113 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:42:46 »
Essas deficiências existem em outros países, sim.  E em outros, como o Japão e certos países europeus, são bem mais raras.  Mas no Brasil acha-se de alguma forma normal que professores sejam mal pagos e mais preparados.
Chama um japonês aê que eu passo umas questões sobre química orgânica para ele......
Profissionais despreparados, basicamente.  E também um grau acima do saudável de orgulho corporativista em várias categorias.  Além da simples falta de condição de preparar (ou, quando preparados, reter no país) verdadeiros acadêmicos.
Seria bom se o Brasil estivesse em uma condição fantástica dessas...
Hoje em dia se usa conhecimento de biologia para inspirar técnicas de informática
Mas não o nome do líder da Guerra dos Canudos...
testa-se os limites do conhecimento de física para projetar equipamento avançado
É óbvio. Eletrônica também precisa de física. Eu não estou dizendo que quem vai aprender robótica não deve ter contato com física... se vai fazer robótica, e precisa de física que aprenda também. Mas não aprenda a matéria mais específica e obscura de matemática.

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #114 Online: 08 de Dezembro de 2008, 14:59:20 »
Chama um japonês aê que eu passo umas questões sobre química orgânica para ele......

O que você acha que aconteceria?  Japoneses aprendem sobre química orgânica na escola, você sabe.

Se por acaso tiver O Mundo Assombrado Pelos Demônios de Carl Sagan à mão, dê uma olhada no início do Capítulo Dois.  Eis um trecho da página 39:

Citação de: Carl Sagan, em [i]O Mundo Assombrado Pelos Demônios[/i]
Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais - o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto - dependem profundamente da ciência e da tecnologia.  Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia.  É uma receita para o desastre.  Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.

Não é algo distante e improvável, muito pelo contrário, já é um problema começando a se manifestar.  Sei de situações em que indústrias se instalaram em Santa Catarina e tiveram de importar mão de obra, porque localmente não havia com a qualificação desejada.

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Profissionais despreparados, basicamente.  E também um grau acima do saudável de orgulho corporativista em várias categorias.  Além da simples falta de condição de preparar (ou, quando preparados, reter no país) verdadeiros acadêmicos.
Seria bom se o Brasil estivesse em uma condição fantástica dessas...

Se a "condição fantástica" é a de ter verdadeiros cientistas, então é melhor repensar com urgência certas metas.  Como, por exemplo, a de ter indústrias e projetos em campos como pesquisa aeroespacial, médica, engenharia nuclear e hidroelétrica.  O que você propõe é basicamente que o Brasil se conforme em ser agropecuário.

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Hoje em dia se usa conhecimento de biologia para inspirar técnicas de informática
Mas não o nome do líder da Guerra dos Canudos...

Aí é que está: por que é díficil lembrar matéria de História?  Ou, por falar nisso, de Matemática ou qualquer outra matéria?

Porque ela é mal ensinada.  Em parte por questões de tempo, mas também de método.  Quando se oferece contexto e técnica didática adequada junto com a matéria, ela é ensinada, e não apenas apresentada para avaliação.

Isso infelizmente não é devidamente apreciado neste país.  Em alguns outros é, e os resultados falam por si.  Acha que é coincidência que a Nokia seja finlandesa, por exemplo?

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Eu não estou dizendo que quem vai aprender robótica não deve ter contato com física... se vai fazer robótica, e precisa de física que aprenda também. Mas não aprenda a matéria mais específica e obscura de matemática.

For crying out loud!

Você acha que física consegue fazer alguma coisa sem matemática avançada?!?
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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #115 Online: 08 de Dezembro de 2008, 15:53:23 »
Eu não estou sugerindo Vestibular que o cara vai escolher uma carreira para o resto da vida......
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O que você acha que aconteceria?  Japoneses aprendem sobre química orgânica na escola, você sabe.
Você sabe o que eu espero que aconteça...
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Você acha que física consegue fazer alguma coisa sem matemática avançada?!?
Foi só um péssimo exemplo, já estou a horas nessa dicussão... volta para os cálculos química orgânica como exemplo...

Offline Luis Dantas

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #116 Online: 08 de Dezembro de 2008, 16:04:00 »
Não, Foxes, eu realmente não sei o que você espera que aconteça quando se cobra conteúdo de química orgânica dos japoneses.
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Offline Zeichner

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #117 Online: 08 de Dezembro de 2008, 18:08:23 »
Estava agora a pouco num conselho de classe da oitava série. Apenas UMA aluna, uma em meio a 30 colegas, conseguiu passar sem exame. 1 apenas que conseguiu média acima de 7. Claro, que esta culpa não são apenas dos professores que estão agora, mas de todo o sistema de ensino dos últimos 8 anos ( ou mais ) pelos quais passaram na escola. Não temos como resolver o problema de todos os alunos agora, mas precisamos começar de algum lugar, para daqui a 8, 9, 10 anos a proporção se inverta.

Em tempo... Esta aluna que passou sem precisar fazer os exames é repetente.

Offline Dodo

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #118 Online: 08 de Dezembro de 2008, 21:38:54 »
Bom, eu precisei pesquisar a nota do ENEM para a esposa de um amigo meu e o que vi me deixou curioso sobre o conteúdo das provas. Só para esclarecer, a média nacional em conhecimentos gerais ficou entre regular e boa, o que compreende uma nota qualquer entre 4,0 e 7,0. A nota média dos estudantes avaliados foi um pouco acima de 4,0.

A curiosidade me fez procurar o tal exame, para eu ter uma idéia da distância que existe entre o que se aprende em sala de aula e o que é cobrado no ENEM ou em testes de vestibular.

Num primeiro momento o que me causou surpresa foi a ausência de questões técnicas que exigissem fórmulas mais elaboradas para sua resolução. Um aluno que saiba as quatro operações básicas, domine o mínimo sobre frações e um pouco de porcentagem pode muito bem responder as questões apresentadas com certa facilidade.

Nas questões relativas a história e geografia, mais importante até do que o fato é o contexto em que estes se deram, o que parece lógico. Pena que só fica no "parece", pois as questões apresentadas são, muitas vezes, apenas desculpas para que seja feito um exercício de retórica social. Para se ter uma idéia, o romance "Vidas Secas", de Graciliano Ramos, é apresentado como sendo um "romance social".

Acho que isso já serve como introdução ao que vou escrever, eheheh.

Ideologias a parte, é muito em voga hoje a noção de que o educador tenha em mente, e coloque em prática sempre que necessário, a interdisciplinariedade; o que me parece correto, dado os inúmeros exemplos que o Luis citou sobre ramos do conhecimento que possuem pontos intecambiáveis. O problema reside justamente onde tal deve ser aplicado e de que maneira, uma bactéria causando uma infecção em um ser humano não é um exemplo a ser usado para que se entenda a revolução francesa.

Num mundo ideal, com alunos interessados e professores preparados, a compreensão dos fatos e sua correlação com outros campos do conhecimento se daria de forma expontânea. A maneira artificial como isso está sendo feito no momento, pelo menos eu tenho essa impressão, é uma visão distorcida do ensino que o coloca como um pressuposto da plena cidadania, ao invés do contrário.
Você é único, assim como todos os outros.
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Offline Eleitor de Mário Oliveira

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #119 Online: 09 de Dezembro de 2008, 00:28:03 »
ILF, você já trabalhou alguma vez na vida? Em todo trabalho que eu já fiz, ter conhecimento geral não era apenas benéfico, mas condição necessária para fazer um bom trabalho.

Offline Renato T

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #120 Online: 09 de Dezembro de 2008, 08:43:30 »

Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=47917

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8 DE DEZEMBRO DE 2008 - 22h54
Leituras de 'Veja': a revista que insiste em não ver

A revista Veja insiste em não ver os professores com bons olhos. Com freqüência, publica matérias e entrevistas com o propósito de criar e enfatizar imagens negativas do professor, especialmente o do ensino público.

 

Por Gabriel Perissé, para o Observatório da Imprensa.


Nas páginas amarelas da edição nº 2088, a ex-secretária de política educacional do MEC dos tempos de FHC, Eunice Durham, afirma que os professores recém-saídos dos cursos de pedagogia não conseguem executar tarefas básicas e, pior, não admitem que "o ensino no Brasil é tão ruim, em parte porque eles próprios não estão preparados para desempenhar a função".

 

Ora, se eles não estão preparados, mas se são eles os profissionais que vêm reforçar os quadros existentes, o que sugere a professora Eunice? Boa parte desses professores formou-se nas faculdades particulares que surgiram nos últimos 20 anos, insufladas pela política contra a qual, diga-se de passagem, ela mesma se indispôs. Palavras dela, em 2001: "O aumento desenfreado de instituições particulares, guiadas pelo mercado e com fins lucrativos, ameaça a credibilidade do ensino no país" (Veja, nº 1713).

 

Muitas faculdades de pedagogia que a professora Eunice propõe serem "repensadas do zero" sobreviveram incólumes apesar das avaliações negativas do MEC ao longo das duas décadas. E são exatamente as que atraem estudantes menos escolarizados. Esses estudantes, em geral, não conseguem ingressar nas, em menor número, faculdades públicas, e não podem pagar as mensalidades cobradas por instituições privadas de medicina, engenharia, odontologia, economia, se é que desejariam freqüentá-las... São pessoas que não almejam as "melhores" vagas do mercado de trabalho, mas a função (mal remunerada) da docência. E não esqueçamos o idealismo, um tanto ingênuo, mas genuíno, na composição do perfil desse futuro professor.

 

Desafios de aprender

 

Se todos os professores tivessem salários melhores e melhores condições de trabalho, além do idealismo haveria aí um atrativo concreto. Novos candidatos, mais bem preparados, se sentiriam interessados pela carreira docente. Que estranha cegueira levará uma antropóloga com tantos anos de pesquisa e reflexão a pensar que aumentos de salário e outras históricas reivindicações dos sindicatos são apenas obsessões de corporativistas, e não questão de justiça, necessidade real para valorizar a arte de ensinar, e mesmo uma forma de exigir, em contrapartida, mais compromisso dos professores? Estará o curso de antropologia social da USP precisando também ser repensado do zero?

 

Que contraste (e que alívio!) ler o artigo Como interpretar o vandalismo nas escolas?, da pedagoga Dagmar Zibas, publicado na Folha de S.Paulo (26/11/2008) e reproduzido pelo site Todos pela Educação. A autora do texto reconhece com serenidade que as reivindicações dos professores fazem parte da solução:

 

    "Entre nós, as soluções para o fracasso do sistema público são conhecidas e se traduzem em antigas reivindicações dos educadores: adequada formação inicial e continuada dos docentes, valorização do magistério, com melhores salários e correspondente responsabilização pelo trabalho realizado, dedicação de tempo integral dos professores a um só estabelecimento, maior permanência diária dos alunos na Escola, recursos didáticos ricos e variados (laboratórios, internet, biblioteca, equipamentos esportivos, dispositivos multimídia)."

 

E que outro contraste (mas agora decepcionante), ao ler, de novo na Veja (nº 2089), o jovem economista Gustavo Ioschpe, já devidamente formato pela pedagogia vejiana (ver "O professorado e a `baboseira ideológica"). Pois volta ele a retratar os professores da pior maneira possível: não estão preocupados com o aprendizado dos alunos, dão "aulas chatas", dedicam-se mais à pregação ideológica do que ao ensino, recusam-se a fazer auto-análise...

 

Não caiamos no erro oposto, generalizando em sentido contrário, como se os professores fossem anjos perfeitos. É sinal de honestidade intelectual admitir que há professores relapsos e irresponsáveis. Mas são a minoria, felizmente.

 

Nesta matéria – Violência escolar: quem é a vítima? –, também afirma Ioschpe que a mídia exagera, que as escolas não estão em situação tão difícil assim com relação à violência, e que "a maior vítima de agressão no nosso sistema escolar é o aluno". Uma agressão "intelectual". O articulista refere-se, logicamente, aos professores. Estes são os grandes agressores, em sua visão.

 

E tenta justificar o que diz, mencionando um "estudo recente da Unesco chamado `Repensando a escola´". É desse alentado estudo que vai pinçar alguns dados em busca de credibilidade e "apoio científico". Trata-se de um livro de 331 páginas, cujo título completo é Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever e cuja coordenação coube a Vera Esther Ireland (da UFPB), orientada metodologicamente por Bernard Charlot. Logo no início, há um esclarecimento importante: o estudo não está vinculado apenas à Unesco. Sendo mais precisos, a publicação é uma parceria da Unesco no Brasil e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP-MEC).

 

Problema complexo

 

Vale a pena ler esse estudo. Acabaremos por descobrir passagens que Gustavo Ioschpe preferiu omitir (até porque dispunha de apenas duas páginas), para não atrapalhar sua argumentação. Diz Ioschpe que os professores querem culpar as famílias pelo mau desempenho dos alunos. O estudo, porém, oferece algumas considerações muito pertinentes a respeito:

 

    Nas entrevistas, professores costumam queixar-se de que ou as famílias não cooperam com as atividades escolares de seus filhos, ou não têm condições de ajudá-los apropriadamente. Não é difícil entender que aí está uma fonte profunda de dificuldades: proporções majoritárias das gerações brasileiras anteriores receberam pouca ou nenhuma escolaridade, e de qualidade precária. Nos grupos focais com os progenitores, isto transparece de modo muito evidente. Têm dificuldade de ajudar; com freqüência nem de tempo dispõem, quando voltam, cansados, do trabalho. Tampouco os domicílios oferecem condições de tranqüilidade para tanto: muita gente convivendo, ruídos, TV ligada em alto volume, outras crianças brincando ruidosamente pela casa. E as escolas não têm espaço ou meios para proporcionar algo que possa suprir essa falta de suporte domiciliar e familiar — ou não há escolas de tempo integral, ou as poucas existentes no local se mostram insuficientes ou pouco eficientes." (pág. 220)

 

Ou seja, o próprio estudo mencionado pelo articulista traz informações que corroboram a complexidade do problema. E a revista Veja, vamos e venhamos, não tem condições de abordar esta complexidade com a necessária competência.

Offline Dodo

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #121 Online: 09 de Dezembro de 2008, 09:51:41 »
Olha, Renato, eu trabalho numa Universidade Federal que ainda possui algumas turmas de ensino médio, isos é devido a ela ser derivada de um antigo CEFET.

A diferença nos resultados obtidos por estes alunos no ENEM, frente a outros alunos da escola pública, só que da rede estadual, é gritante.

O currículo é praticamente o mesmo, porém a média é 7,0 ao invés de 6,0. A diferença mais significativa é com a infraestrutura que estes alunos tem:

Laboratórios para aulas práticas de química, física, informática, desenho, uma biblioteca sempre atualizada, uma "lan-house" a disposição para pesquisas na internet, uma videoteca, projetores multimídia, entre outras coisas.

Os professores possuem, se é que posso chamar assim, a mesma matiz ideológica que encontramos na rede estadual. A diferença é que eles não precisam ficar enchendo linguiça por falta de material de apoio, por isso a diferença entre o conteúdo que os alunos conseguem reter. É mais ou menos o que falei na última frase do meu post anterior: os professores conseguem preparar uma aula de qualidade e os alunos passam a demonstrar um maior interesse.

Existem professores ruins assim mesmo? Sem dúvida.
Todos os alunos, sem exceção, saem melhor preparados do que os da rede estadual? Não. A grande maioria está melhor preparada, mas ainda existe um percentual muito baixo de alunos que não conseguem, ou não querem, aprender.

A minha opinião: para algumas pessoas do governo, giz e quadro-negro são as únicas ferramentas que existem para ensinar os alunos. No meio da caatinga (aquela braba mesmo, descrita pelo Guimarães Rosa) isso até pode ser verdade, mas, num mundo onde você tropeça com computadores vendidos em supermercados e o mundo está a um clique no seu navegador, é muito difícil você conquistar a turma apenas com seu talento para preencher uma lousa com uma letra bonitinha. Some-se a isso a insistência dos técnicos do MEC em criar currículos que pressupõe que todas as escolas tem professores preparados, material de apoio todo o ano e alunos interessados.

É óbvio que alguma coisa vai sair errada. Daí o que acontece? O cara liga o botão de "dane-se", ensina mal e porcamente e é seduzido por um discurso que, idêntico ao daqueles que o criticam, só vê um lado do problema.

Em tempo, o governo está a um passo de aprovar o piso salarial mínimo de R$950,00 para os professores da rede pública. Adivinhe quem é contra? Os governadores.

Assim é fácil botar a culpa no esquerdismo dominante ou no capitalismo selvagem, pois todo mundo erra, mas ninguém assume!
Você é único, assim como todos os outros.
Alfred E. Newman

Offline Zeichner

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #122 Online: 09 de Dezembro de 2008, 09:54:11 »
Sobre a questão da educação mais genérica...

Como é que posso saber, aos 10, 12 anos, qual vai ser minha profissão e quais disciplinas serão importantes para ela? Outra coisa, pragmaticamente, é necessário numa turma de 30, 35 alunos, definir e repassar conceitos básicos de formação cultural que sirvam de base para a vida destas crianças. É uma utopia achar que se vai fazer um ensino verdadeiramente individualizado, porque não se vai, e em nome desta visão utópica, acaba não se ensinando nada, afinal, o aluno precisa "decidir" o que quer aprender, e como a única referência mais ampla de mundo que ele possui é a televisão, com seus recursos audiovisuais, ele, na boa, preferiria estar vendo TV em vez de estar em sala de aula.
É deveras importante ao professor estimular a compreensão da importância deste conhecimento da cultura geral da humanidade, porque isso será útil em qualquer profissão.
Eu sou professor de artes, então, nesta visão,  as ciências seriam inúteis para a minha formação, correto? Acontece que sou apaixonado pela ciência, adoro pesquisar sobre estes assuntos, o que me leva a compreender melhor a física ótica, de Newton, que me ajuda em muito a explicar as teorias das cores para meus alunos. O conhecimento de matemática e das frações me levou a apreciar a Proporção Aúrea e sua infinita beleza dos cálculos nas composições artísticas, como por exemplo os estudos de Leonardo da Vinci e sua bela resolução da proposição de Vitrúvio.
Adorar Biologia, Física, Química me leva a ser um artista melhor e um professor de Arte melhor.
Uma coisa não exclui a outra. Aliás, nada melhor que um engenheiro ter conhecimento de arte para apreciar e desenvolver soluções elegantes para seus projetos.

Offline Renato T

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #123 Online: 09 de Dezembro de 2008, 09:56:20 »
Calma lá... Devagar com o "Renato"... Eu não to fazendo análise nenhuma desse texto, não estou concordando nem discordando com ele no momento. A única coisa que fiz foi jogar um artigo do site "Vermelho"  que foi feito em resposta ao artigo que originou este tópico....

Offline JJ

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Re: Fábrica de maus professores
« Resposta #124 Online: 09 de Dezembro de 2008, 09:57:09 »
A situação sócio-econômica brasileira é tão estranha que acabamos por supervalorizar mesmo o aspecto profissional, e até esquecemos que universidade deveria ser centro de excelência, e não de formação profissional.

No entanto, o uso profissional da formação é talvez o menos importante.  Acima dele há o uso para integração social e formação cultural, e também o uso para formação acadêmica e pesquisa.  Ambos são usos de importância estratégica para qualquer comunidade.

É deveras importante ao professor estimular a compreensão da importância deste conhecimento da cultura geral da humanidade, porque isso será útil em qualquer profissão.
 




Física e química não fazem  nenhuma falta para integração social, conheço várias pessoas  que não sabem nada da  física e química  do EM,  e são  integradas  socialmemte igual a média das pessoas ou até mais do que a média .


Quanto a  alegar formação cultural geral , este é um argumento genérico que vale para qualquer conteúdo, vale para ensinar grego,  aramaico,  vale para ensinar o Alcorão, livro dos Mórmons  ou a Bíblia, vale para ensinar  a história do Cazaquistão,  a história  da Tanzânia, de Malaui.



Certo, o Bill Gates não tem curso superior.  Se não me engano Sílvio Santos também não.  Mas Bill Gates, pelo menos, é o primeiro a dizer que hoje nunca teria as mesmas chances de antes.  

Aqui já virou uma defesa da necessidade de fazer curso superior, isto já é uma outra questão, a questão original  era a não necessidade e a inutilidade de aprender  física  e literaratura (e por extensão outras como química) se estas matérias não forem fundamentais para  a área  profissional  da pessoa.


E embora o mercado de trabalho não tenha acordado completamente para essa realidade, até mesmo ele está demandando cada vez mais preparo, em áreas cada vez mais amplas e diversificadas.  Falta de formação ampla custa caro em todos os sentidos, essa é a pura realidade.  Tanto para os cidadãos individualmente quanto para as organizações de que eles fazem parte.


Existe esse discurso, mas a verdade é que muitas pessoas estão se formando,  em cursos superiores, sem sequer  saber o que deveriam  da sua área específica de conhecimento, nestas condições  esperar  que pessoas venham ter um conhecimento  bem além de sua área  é , ao meu ver, totalmente irrealista.   O que precisamos é de  maior quantidade de  formados que realmente saibam  a teoria e a prática de sua área específica de formação.   Médicos que saibam  medicina (e que não matem pacientes), enfermeiras que saibam enfermagem, advogados que saibam direito,  engenheiros que saibam engenharia, historiadores que saibam história, tecnólogos que saibam a  tecnologia   de sua área, etc.

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Sobre o ensino obrigatório física:


Calcular acelerações de bloquinhos,  calcular associações de resistores e capacitores ( serve para técnicos em eletrônica), dissipação de resistor, calcular distensões de molas, calcular choques de bolinhas,  nada disso faz falta  para vida do dia a dia , nem tampouco para profissionais  que não sejam físicos , engenheiros ou técnicos em eletrônica , mecânica , refrigeração e assemelhados.

Para pessoas da área de humanas nada disso faz falta no exercício de suas profissões ,  para a área de biológicas  muito raramente é necessário ( e no raro caso em  for  necessário algum conhecimento pontual de física,  este pode ser ensinado  numa especialização),  mesmo algumas matérias como biofísica,  que é dada  em cursos de medicina e biomedicina , são totalmente desnecessárias para a esmagadora maioria dos profissionais  da área.  Não passa de encheção de lingüiça.  Se quiser comprovar isso basta fazer uma prova com o conteúdo desta matéria  após cinco anos de formados (ou até menos tempo).   Estou certo de que numa pesquisa estatística  a  quantidade  de pessoas dessas áreas  que irão se lembrar  desses conteúdos será irrisória .  A gente esquece o que não se usa,  o que é inútil !


Acho engraçado isso. Vocês são os primeiros a criticar os charlatães que se aproveitam da ignorância alheia, mas são os primeiro as criticar o ensino de Física no Ensino Médio. Como alguém sem o menor conhecimento das ciências naturais vai saber que uma placa de alumínio roxo não traz 'energia positivas'?



Também  geralmente é inútil no sentido de  dar uma  visão  cética/científica, a grande maioria das pessoas  não diminuem suas crenças e superstições   ao  aprenderem  calcular  acelerações e velocidades de bloquinhos, escalas de temperatura , pressões e volumes de gases,  força magnética,  comprimentos de onda , etc.   Uma minoria  que  se entusiasma com tal conhecimento já tinha tendência para gostar da área .   Por isto a disciplina física  (e outras com química e literatura)   deveria ser opcional  ( uma pessoa me falou que  é opcional nos  EUA).


Se o objetivo for  dar uma idéia do que seja ciência e pensamento cético,  é muito mais eficaz
ensinar um pouco de história da ciência , um pouco de filosofia da ciência e um básico de método científico, mais  um básico  de  lógica e falácias .  Isto inclusive seria útil na elaboração de redações e interpretação de texto.   Seria um  milhão de  vezes mais útil  do que calcular forças em bloquinhos  e os outros exemplos que já mencionei !  Detectar raciocínios falaciosos seria útil até no dia a dia,  ao contrário desses probleminhas inúteis  que os estudantes de EM são obrigados a resolver.  

Prova da inutilidade desses conhecimentos  “técnicos”  de física e química, é que  mesmo os estudantes que aprenderam essas matérias, para passar  em algum vestibular concorrido de algum curso  da área de biológicas ou humanas, após uns três anos já não lembra de praticamente nada daquilo que foi obrigado a estudar  !  Já o que é realmente usado e é útil, não se esquece !




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« Última modificação: 09 de Dezembro de 2008, 10:10:09 por Helder »

 

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