Física e química não fazem nenhuma falta para integração social, conheço várias pessoas que não sabem nada da física e química do EM, e são integradas socialmemte igual a média das pessoas ou até mais do que a média .
A média atual não me parece um parâmetro adequado. Além dos desníveis sociais brasileiros já serem escandalosos, não me consta que haja a intenção de diminuir o avanço científico brasileiro.
Pode sim parecer que não faça falta um certo grau de proficiência em ciências para a integração social. Mas essa é uma falsa impressão, que só se sustenta porque já estamos acostumados a uma situação de virtuais castas sociais. Esse, aliás, é um dos motivos por que há toda a questão das cotas em universidades.
O fato é que hoje já temos uma situação preocupante, com considerável demanda de mão-de-obra qualificada e dificuldade em preenchê-la, associada à decadência do ensino de base. A consequência não pode ser outra a não ser crescentes dificuldades sociais (e a supervalorização das humanas e de áreas acadêmicas não-científicas como o Direito, que não exigem tanta base, mas essa é outra história). Formação de qualidade, creio que há estudos a respeito, é um processo que não apenas não pode ser improvisado, mas também é em algum grau
herdada de uma geração para outra.
Você acha que Física e Química não são importantes para integração social? Ok. Em muitos círculos sociais essa é a pura verdade. Chegam mesmo a ser um obstáculo. No entanto, vá visitar o IME ou o ITA e veja como é a vida social dos alunos. É evidência anedota, mas conheço gente que tem formação realmente boa, como um rapaz que está fazendo pós em Torino neste momento, ou pesquisadores da Embrapa que conheci em meu primeiro emprego. Esse povo não são técnicos instruídos na base do decoreba; são pessoas que
aprenderam a aprender, que assimilar conhecimento em vez de apenas memorizá-lo para passar em um teste com a nota mínima, e que tem por hábito procurar aplicações e relações para o conhecimento que já tem. São pessoas criativas e entusiasmadas com o conhecimento, e não seriam bons acadêmicos (ou mesmo bons profissionais) de outra forma. Elas, de fato,
vivem a proposta de sua própria formação e a expandem sempre que podem.
No dia em que Institutos de verdadeira excelência como o ITA e o IME funcionarem bem com esquema de cotas eu vou ter de repensar muita coisa. Só que isso dificilmente acontecerá.
Quanto a alegar formação cultural, este é um argumento genérico que vale para qualquer conteúdo, vale para ensinar grego, aramaico, vale para ensinar o Alcorão, livro dos Mórmons ou a Bíblia, vale para ensinar a história do Cazaquistão, a história da Tanzânia, de Malaui.
Com a diferença de que a ciência é eminentemente aplicável, além de ser um assunto vivo e em expansão. Fora isso, concordo.
Certo, o Bill Gates não tem curso superior. Se não me engano Sílvio Santos também não. Mas Bill Gates, pelo menos, é o primeiro a dizer que hoje nunca teria as mesmas chances de antes.
Aqui já virou uma defesa da necessidade de fazer curso superior, isto já é uma outra questão, a questão original era a não necessidade e a inutilidade de aprender física e literatura (e por extensão outras como química) se estas matérias não forem fundamentais para a área profissional da pessoa.
Eu poderia ter escolhido um exemplo melhor. Não sou defensor da necessidade de curso superior. Pelo contrário, considero que essa é uma mentalidade danosa porque sugere que
não haja necessidade de reforçar o ensino básico, e pelo contrário, a necessidade existe e é urgente.
E embora o mercado de trabalho não tenha acordado completamente para essa realidade, até mesmo ele está demandando cada vez mais preparo, em áreas cada vez mais amplas e diversificadas. Falta de formação ampla custa caro em todos os sentidos, essa é a pura realidade. Tanto para os cidadãos individualmente quanto para as organizações de que eles fazem parte.
Existe esse discurso, mas a verdade é que muitas pessoas estão se formando, em cursos superiores, sem sequer saber o que deveriam da sua área específica de conhecimento, nestas condições esperar que pessoas venham ter um conhecimento bem além de sua área é , ao meu ver, totalmente irrealista.
Concordo. É completamente irrealista. A demanda continua existindo, porém.
O que precisamos é de maior quantidade de formados que realmente saibam a teoria e a prática de sua área específica de formação. Médicos que saibam medicina (e que não matem pacientes), enfermeiras que saibam enfermagem, advogados que saibam direito, engenheiros que saibam engenharia, historiadores que saibam história, tecnólogos que saibam a tecnologia de sua área, etc.
E por que esse povo não domina suas próprias áreas de conhecimento? Em parte é porque tenta reduzi-las a si próprias, o que simplesmente não funciona. Conhecimento de várias áreas é, de fato, necessário para um bom acadêmico, ou mesmo um bom profissional. Por isso há aquele ditado de que "para quem só tem um martelo, tudo parece prego".