Di, veja este trecho de uma página de um sítio Zen falando sobre Bodhichita:
Desenvolvemos eqüanimidade, em primeiro lugar, dando-nos conta de que todos os seres, igualmente, desejam a felicidade. Ninguém quer sofrer. Em segundo lugar, contemplamos o fato de que todos os seres, em uma ou outra ocasião, ao longo de incontáveis vidas, já foram nossa própria mãe. O Buda Sakiamuni e outros Budas e bodisatvas, que removeram o barro da natureza cristalina de suas mentes e se tornaram oniscientes, ensinaram que não há um único ser que não tenha sido nossos pais, algo que nós também poderíamos perceber, se assim purificássemos nossa mente. Cada ser — não importa quão antagónico a nós possa ser agora — já foi tão bondoso e importante para nós quanto nossos pais nesta vida. Uma pessoa que agora desempenha um papel aparentemente insignificante ou mesmo ameaçador em nosso drama pessoal, foi outrora amorosa e prestativa.
O que te parece mais provável? Que via de regra nós budistas literalmente acreditemos que todos somos ou fomos mães uns dos outros, ou que essa seja uma alegoria para atingir um certo efeito de mensagem?
Rotineiramente se comenta nos centros budistas, sem grande alarde ou choque, que não faz sentido que tenha havido incontáveis milhões de Buddhas em alguma época, ou que um cão tenha natureza búdica.
Da mesma forma com a emanação de Thulkhus para outras vidas, ou com a suposta existência de Brahma e outros Devas: acredita quem quer, usa para a sua prática quem quer. Não é possível nem desejável convencer a todos os praticantes, muito menos "cobrar" que "tentem". Não é assim que funciona.
Um Budista, de qualquer escola,
não tem por que tentar acreditar em Brahma, muito menos por que tentar provar que ele exista de alguma forma. Na verdade, mesmo no Hinduísmo isso provavelmente já seria verdade. Essa atitude de ostentar a "fé na existência de Deus" como se tornasse alguém mais digno de alguma forma é um tanto rara nas religiões dármicas.
Religião
não é epistemologia.
Eu acho que é preciso muita credulidade para acreditar em Brahma e reinos celestiais. Tanta credulidade quanto para acreditar em espíritos, não? A não ser que você ache que o fato dos devas serem mortais inspire alguma credibilidade...
Eu acredito em Devas um pouco menos do que acredito em Homem-Aranha, e por muitos dos mesmos motivos. E não estou particularmente convicto a própria existência do príncipe Sidharta tampouco. Nem preciso. E nisso eu não sou diferente de ninguém no Budismo, exceto talvez por algumas linhas exóticas como a Soka Gakkai.
Não é coincidência que eles (os Devas) tenham sido praticamente esquecidos pelas linhas budistas que não tem muita influência hinduísta (ou seja, atualmente, todas que não são tibetanas). A crença em Devas é opcional até mesmo nessas linhas, e acessória o suficiente para ser abandonada pelas demais em prol de sincretismos com o Taoísmo, com os Kami do Xintoísmo, ou de nada em particular.
Crença não sustenta prática religiosa, embora possa fazer muita diferença na forma dessa prática.