Deixe-me repetir: Não sou budista.
Sou agnóstico meio em cima do muro, teísta na maior parte do tempo e ateu em algumas ocasiões, tenho interesse no budismo mas nem sou tão entendido assim em budismo como aparentam ser o Luis Dantas (esse sim um budista) e o Maurício Rubio.
Me acusar de ser religioso e por isso interpretar minha religião de forma tendenciosa não é um bom começo, pois foge do assunto budismo e passa a discutir minha pessoa.
Quanto a questão de se estamos discutindo o budismo ou os budistas, o caro agnóstico insiste em discutir o comportamento dos budistas e cristãos e não o budismo e o cristianismo.
Qualquer texto pode ser mal interpretado, mesmo textos bons.
Já vi gente interpretando o "Penso, logo existo" de Descartes, como sendo a afirmação de que só existimos por pensarmos, sendo assim o pensamento precede a existência.
Não são incomuns discussões sobre o que esse ou aquele filosofo queriam ou não dizer em determinada obra.
Já citei mil vezes o "quem somos nós?" e suas interpretações e usos de conceitos da fisica quantica.
O Budismo tem textos modernos, a base do budismo eu mesmo aprendi lendo textos modernos, todos muito lógicos, estruturados e coerentes.
Os suttas on-line do canoni pali só fui começar a ler um anos atrás e são bem chatos por serem repetitivos. Mesmo assim, alguém com interesse na filosofia budista como eu, os lê numa boa, sem má vontade ou preconceito a linguagem usada.
Existe o contexto e a didática, sem mencionar o problema da tradução.
A imagem budista que postei, por exemplo, foi criada para ser colocada na frente dos monastérios, para assim facilitar a instrução dos analfabetos. (intuito similar ao dos vitrais.)
Atacar as idéias de Buda, afirmando que os textos que os próprios budistas não dão grande importância, são de baixa qualidade, textos que não foram escritos por ele e sim por terceiros a muitas mãos, que escreveram em uma linguagem que na visão deles é a mais adequada, não diz nada a respeito das idéias e conceitos apresentadas por Buda.
Tente levar um livro do Nietzsche, muito lógico e escrito em linguagem empolada, para alguns desses fulanos quase analfabetos funcionais aos quais você clama pela forma como eles interpretam a bíblia ou os suttas, veja o resultado e depois me conte.
Em nenhum momento eu usei da falacia do escocês de verdade que você por duas vezes citou, mas você usa do apelo a multidão, quando clama pela forma como a multidão interpreta os textos religiosos.
Não se discute uma filosofia com base em como os outros podem ou não interpreta-la.
Se em algum lugar budistas fazem sei lá o que e se é que usam de interpretações malucas dos suttas para justificar seus atos, isso não diz respeito aos conceitos e idéias apresentados, já que as coisas mais fortes no budismo são justamente questões como o desapego, a ilusão, a atenção plena e a conduta correta.
Quanto a crenças agnóstico, você as tem si:
Eu não considero meditação util. Você considera porque você acredita no budismo. Mais uma vez, você coloca uma verdade budista como sendo uma verdade absoluta.
Se a mente após a meditação fica mais clara, sagaz, etc.. me mostre provas, com referências por favor, de alguém que tenha mostrado evidências disso. Inventores usam? Pessoas de alta performance usam?
(...)
Não disse isso. Falei que o contexto moral é rigido. O budismo vende auto-ilusão o tempo todo. Fim do sofrimento, paixão como ilusão, a verdadeira paz, a verdadeira justiça.
(...)
Nope, crença é dar como certo algo que não tem fundamentos nem evidências.
Eu tenho crença apenas se careca for um tipo de cabelo.
E porque as crenças fazem parte da vida? E quais crenças eu possuo?
Mais uma vez não tenha dúvida, eu menosprezo crenças.
Você acredita que a meditação é inútil e não conhece seus benefícios, mas isso até neurocientistas já conhecem:
http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/iluminacao_neuronal.htmlVocê acredita que o budismo vende auto-ilusão, mas acredita nisso sem ao menos conhece-lo, já que faz até comparações entre Papa e dalai lama.
O Budismo fala sobre desapego e sobre não se deixar levar por sentimentos, não se deixar levar pelo humor.
Isso é fácil de se evidenciar, basta notar como umas pessoas são mais possessivas que outras, mais irritáveis que outras, etc...
Você acredita que isso é besteira, mas é um fato não muito difícil de se notar, principalmente ao olhar para si e perceber que quando não nos deixamos levar por essas coisas, quando não damos muito importância a elas, aos humores e idéias negativas, elas logo se vão e levamos a vida com maior leveza.
Isso é fácil perceber, assim como é fácil perceber a paz profunda proporcionada por uma boa meditação.
O Budismo é claro leva essas idéias a níveis muito mais extremos, não pratico o budismo o bastante para saber se isso é papagaiada ou realidade, mas o budismo fala sobre se libertar completamente de ser levado por esses sentimentos e humores, fala também sobre manter permanentemente a paz da meditação.
Como disse, não sei se isso é verdade ou não, mas sei que a idéia é logica e tem sua base no real e observável.
Como não sou budista nem mesmo praticante de meditação (apesar de já ter praticado por algum tempo), não posso ir alem disso, mas ao menos sobre o que eu vi eu posso falar, e funciona muito bem na prática... só que é como exercício, eu sei que funciona e faz bem, mas tenho outras prioridades.
Uma crença não é algo simplesmente sem fundamentos, é uma idéia que pode ou não ser verdadeira e que se baseia em subjetividades ou mesmo em raciocínio não muito bem desenvolvidos, mas uma idéia que carece de comprovação.
E crenças tem sua utilidade, sem elas não poderíamos nem ao menos afirmar que estamos acordados e que as pessoas a nossa volta são reais, mas tomamos isso por certo, já que sem isso não podemos levar uma vida sã.
Crenças como a crença em vibrações e em atrair para si pessoas e acontecimentos em vibração energética semelhante, parecem pura baboseira misticuloide, mas tem intuitivamente um fundo de verdade. Quando estamos em um determinado estado de espirito (um estado mental de humor), deixamos isso transparecer via linguagem visual, o fazemos na forma em que nos vestimos, em nossos gestos, cortes de cabelo, tom da voz, etc... Além disso, em determinado estado de espirito buscamos certos lugares, ouvimos determinadas musicas, lemos livros específicos e acabamos buscando lugares e pessoas compatíveis ao nosso humor nesse momento.
Grande parte desse processo é inconsciente e assim acabamos sim de certa forma atraindo determinadas coisas e pessoas segundo nosso humor, nos metemos em situações segundo nosso humor.
Então simplesmente fazer pouco de crenças e idéias com as quais você especificamente não concorda, principalmente ao fazer isso sem um questionamento mais profundo, não é uma atitude muito adequada, parece mais a postura de alguém que se julga um grande sabedor de tudo.
Muitas crenças são fruto de intuição fruto da vivencia, algo que a pessoa não entende logicamente, mas que aprendeu ao lidar com a vida.
Conheço gente pouco racional, mas muito sabias e vividas, tem idéias corretas mas as tem como crença, já que não são lógicas o bastante para racionalisar tais entendimentos de uma forma mais profunda.
Como eu já disse, o budismo a meu ver tem papagaiadas, mas posso até estar errado sobre o que penso ser papagaiada. O grande ponto é que ele tem lógica, se baseia em coisas não muito difíceis de se observar e parte sua filosofia destas, além de ter praticas funcionais.
Agora, se essa ou aquela pessoa age dessa ou daquela forma e é um budista ou um cristão, isso se relaciona muito mais ao individuo em si que a religião.
A sua crença mais enganosa de todas é achar que pode avaliar uma filosofia com base no comportamento de religiosos de um país e de uma instituição.
Eu tenho uma formação cientifica, estudo bastante a filosofia ocidental, e um pouco de budismo e até um pouco de confucionismo.
Amanhã posso sair e matar alguém, posso iniciar uma revolução liberal armada ou qualquer coisa do gênero.
Meus atos não dizem nada a respeito daquilo que aprendi ou interpretei ao ler os filósofos ocidentais ou orientais.
Não é olhando o comportamento das pessoas que você vai poder analisar o budismo, para fazer isso é preciso estudar o budismo, seus textos, seus conceitos, suas idéias, sua filosofia. Claro, não basta ler, é preciso olhar a sua volta e analisar o mundo para identificar nele aquilo sobre o qual os textos falam e então avaliar se baseiam-se em fatos ou bobagens. Não gosta da linguagem dos suttas não os leia, existem bons textos modernos na net com uma linguagem muito mais próxima a da filosofia ocidental, assim como existem bons livros para iniciantes.
Acho que o ponto é esse, se quisermos que o tópico flua, vamos ter que analisar os conceitos budistas e a que eles se referem, mas sem apelar a como outros podem fazer bobagem ao intepreta-los de forma errada.