Olá,
Certa vez fui a um terreiro de umbanda – que, sei, é claro, que não é propriamente ‘espírita’, mas usa médiuns e gostaria de falar sobre um médium que conheci lá.
Cheguei ao terreiro levado por uma amiga. Ouvimos uma palestra e depois haveria uma sessão de consultas.
As consultas ocorriam do seguinte modo, em uma ampla sala havia uns 5 banquinhos enfileirados. Sentado em cada banco um médium e de pé, atrás do médium, um tipo de assistente.
Nos sentávamos num banquinho ainda mais baixo diante do médium que ouvia uma pergunta nossa e dava sua resposta.
O médium se sentava curvado para a frente, com o rosto virado para o lado e uma mão apoiando a cabeça. Olhava para baixo, fazia um bico e franzia as sobrancelhas. Mexia a cabeça e balançava um dos joelhos.
Sinceramente, estava lá mais para conhecer e não tinha nenhum problema grave para levar lá, mas como tava brigado com meu irmão (tamos brigados há uns 15 anos), falei desse “terrível drama familiar”.
O médium então começou a falar.
Ele disse: “Vosunçê ZZZ ZZZ ZZZ ZZZ”.
Juro que não ouvi o que ele disse. Ele falava baixo, com “voz e sotaque de preto velho” (não consigo definir de outra maneira), e o ambiente era meio barulhento.
Perguntei: Hem?
Ele: “Vosunçê ZZZ ZZZ ZZZ ZZZ”.
Eu: Desculpa, mas não ouvi.
Ele: “Vosunçê ZZZ ZZZ ZZZ ZZZ”.
Eu: Desculpa, mas o senhor pode falar mais alto.
Ele: “VOSUNÇÊ zzz zzz zzz zzz”.
Eu: (chegando mais perto) hem?
Ele: (parou de tremer o joelho, virou a cabeça para mim, ergueu a coluna, perdeu a voz e o sotaque) Olha aqui, você precisa de religião. Procure uma igreja qualquer e compre os seguintes livros (listou uns três títulos).
Bem, alguém mais crédulo e com melhor capacidade auditiva que eu poderia até cair nessa. Mas a encenação de “incorporação” era óbvia – e o tal “médium” ainda era impaciente. Uma representação melhor enganaria mais gente, mas, mesmo assim, o terreiro estava cheio.
Aparentemente, nem se precisa ser muito bom em leitura à frio e outros truques para atrair clientela.