Daí digamos que eu, Diego, esteja servindo o exército quando estoura a 2ª guerra mundial. E, digamos ainda, que alguns judeus foram os responsáveis por absolutamente todos os problemas do meu país. Tu acha mesmo, nem que seja por um instante, que isso me faria estar em um campo de concentração, olhar uma criança judia, e dizer "alguns judeus foderam meu país, já para a câmara de gás!"?
Você ainda falha em levar consideração coisas como lhe ter sido martelado na sua cabeça que "os judeus são como uma praga, uma raça inferior, parasitas por natureza; que sua raça é pura e motivo de orgulho por te colocar um degrau acima do resto da humanidade, e vários degraus acima dos porcos judeus, que além de conspirarem para ferrar tudo, são literalmente asquerosos, vivem opcionalmente na imundice, mal se enquadram dentro daquilo que se considera "humanidade". Onde já se viu, homens menstruarem? Isso é uma outra espécie, não um ser humano. Hitler faz a vontade de Deus. O mesmo Deus que te deu tudo aquilo que você é grato na vida, e o mesmo Deus que os judeus
mataram". Imagine
realmente crer nisso. Ao mesmo tempo, e tão ou mais significativo, você não está lá em sua posição de livre e espontânea vontade, mas dentro de uma hierarquia, dentro de uma máquina em funcionamento, você é apenas uma peça substituível numa engrenagem. Qualquer insubordinação sua não terá efeito algum, você será punido, possivelmente aprisionado ou executado, e substituído por alguém que possivelmente vê menos problemas nisso do que você, que te considerava apenas um traidor, violador do juramento de fidelidade ao grande fuhrer. Ao violar o juramento, você não é só um traidor de sua raça, de sua nação, você também demonstra que sua palavra não vale nada. E não será bem visto aos olhos dos superiores, não é algo que passa batido.
Qualquer pessoa sã e não-alienada vê o absurdo da situação. Porra, é como se o RS quebrasse, a taxa de desemprego estivesse em 80%, nosso orgulho esmagado, e alguém colocasse a culpa nos paulistas, estourasse uma guerra, e eu passasse, do nada, a achar OK executar crianças paulistas somente pelo fato de serem paulistas.
Que eu saiba, não existe uma ideologia "anti-paulistana" secular análoga ao anti-semitismo, nem isso vem se expandindo em interpretações biológicas de como os paulistas são inerentemente inferiores e parasíticos, subumanos. Nem há toda uma visão dos gaúchos como dotados de algum direito divino especial, ou como o ápice da humanidade e etc. Em vez disso, todos cresceram num contexto "politicamente correto" que possivelmente em grande é uma reação à Segunda Guerra Mundial e ao holocausto.
Antes disso, os alemães estavam conduzindo genocídios um pouco menos famosos na África, e os EUA e vários outros países estavam conduzindo programas de eugenia que vieram a ser inspiração aos nazistas.
Não importa o contexto, meu caro, índole é índole. Você não executa milhões de pessoas inocentes, incluindo mulheres e crianças, simplesmente por racismo e acha que isso pode ser explicado por algum contexto distorcido da época e, ainda por cima, dizer que qualquer outro faria a mesma coisa na situação. Nessa caso, é tão óbvio que você só pode falar por si mesmo, que eu nem sei como sequer chegamos a discutir isso.
Em psicologia, isso é chamado de "
erro de atribuição fundamental", supor que as pessoas são o que são por uma "essência" individual e desprezar o contexto/ambiente. Ironicamente, é justamente parte da explicação psicológica do racismo. Será que os "genes do mal" dos alemães já estão seguramente extintos?