As pesquisas foram a grande derrotada, assim como a soberba do já ganhou de Lula Percepção equivocada sobre preferência do eleitor contribuiu para erros de avaliação pelas campanhas de Dilma e de Serra As eleições não foram o que os institutos de pesquisas diziam que seriam: um passeio para o PT, com Dilma Rousseff se elegendo fácil em primeiro turno. E o presidente Lula não teve a consagração que esperava, refletindo os quase 80% de aprovação ao seu governo.
Dilma obteve 47,6 milhões de votos, 46,91% dos votos válidos. Ela precisava de 50% mais 1 voto para se eleger sem repeteco. Os dois postulantes imediatos conseguiram 52,7 milhões, 52% do total. José Serra, 33,1 milhões (32,61%); Marina Silva, 19,6 milhões (19,33%).
A possível premiação de Lula foi adiada para o dia 31, ainda com mais chances para Dilma que Serra, mas, agora, ambos mais sujeitos a dividir espaços políticos e o governo com o fisiologismo típico dos partidos que os apóiam - como ocorreu com Lula mesmo em 2002, sobretudo depois do escândalo do mensalão, e na reeleição em 2006.
Ganhe Dilma, ganhe Serra, ambos terão maioria parlamentar nominal na Câmara e no Senado para governar só abrindo o governo para cada um dos partidos camaleão, sobretudo ao PMDB, o maior. E assim será porque seus partidos originais, PT e PSDB, respectivamente, mais o núcleo duro da coalizão que lideram – PC do B e PSB, num caso, Dem e PPS, no outro, por exemplo – seguirão minoritários no Congresso.
O segundo turno eleitoral tem tal sequela: enfraquecer o poder de governabilidade do presidente eleito, aumentando a sua dependência dos aliados, muitos, no extremo oposto de sua visão ideológica, ou de mundo, como queiram, caso do PR, do campeão de votos Tiririca – eleito deputado federal –, em relação ao PT. Ou do conservador PP, que ficou neutro na eleição mas é da base de Lula, e o PC do B.
O grande derrotado, contribuindo para os erros de avaliação pelas campanhas de Dilma e de Serra, foram os institutos de pesquisas e suas sondagens de intenção de voto, associando a popularidade real de Lula ao favoritismo supostamente incontestável de Dilma, dando os procedimentos de marketing político e resultados que se viu.
Para ela, aplicou-se a campanha da menor exposição direta, e Lula foi para a linha de frente. Para Serra, pelo mesmo motivo, tiraram tudo o que tivesse de críticas e até a figura de Fernando Henrique dos palanques. Foi como se Lula fosse o sujeito oculto da campanha do adversário, no pressuposto de que o eleitor o percebesse como o autêntico pós-Lula, no confronto com Dilma, e não o anti-Lula.
Pesquisas desafiadasQuando Serra acordou, era tarde. Aliás, tarde para ele e Dilma. A ex-PT Marina, do nanico PV, com ralo 1 minuto de propaganda na TV, mas com a exposição certa, um programa que tocou certos anseios da sociedade, especialmente entre os jovens, e nenhuma concessão à popularidade Lula, foi a grande surpresa. Inicialmente, como opção a Serra. Depois, aos valores representados por Lula, como a origem simples e a vida também vitoriosa, que ela encarna mais que Dilma.
Marina desafiou o cientificismo das pesquisas, ao negar o nexo de causa e efeito entre popularidade e transferência de votos.
O que desequilibrouMas Serra também descobriu depois da contagem dos votos que PSDB e Dem não estavam mortos, como diziam as pesquisas. As vitórias em Minas, São Paulo, Tocantins e Paraná, e do Dem em Santa Catarina, em primeiro turno, as desmentem. Não houve onda vermelha, mas o PT, como a base aliada, ficou maior na Câmara e Senado, enquanto a atual oposição encolheu. E o papel do PMDB como árbitro aumentou.
Cabe analisar quanto disso se deve à votação em regiões nas quais o eleitor sente mais perto as políticas públicas, como o Norte e o Nordeste, em contraponto ao Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde o Estado é menos percebido. Nestas regiões, Serra e Marina se saíram melhor, ele, parando de minguar, ela, crescendo, após os ataques de Lula à imprensa e do escândalo que levou à demissão de Erenice Guerra, ex-braço direito de Dilma, da chefia da Casa Civil.
Reação mal calibradaMuitas explicações vão rolar. O provável é que eleitores de Dilma migraram para Marina, e Serra parou de sangrar, pela mal calibrada reação de Lula para abafar o caso Erenice atendendo apelo do PT. O voto, digamos, de censura mais que a polêmica sobre a legalização do aborto, o último tiro da mídia contra Dilma, é que deve ter influenciado parte dos eleitores a levar a decisão para o dia 31.
Caminhos de cada umA eleição ir para segundo turno não tira de Dilma nem os méritos da economia nem os avanços sociais conquistados pelo governo, mas a força a ser mais convincente, além de expor-se mais, fazendo ela mesma o embate político, que agora é direto. A Lula cabe avalizar a escolha. Os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, no papel de guardião da estabilidade, e do BNDES, Luciano Coutinho, que reflete melhor que qualquer outro o desenvolvimento e o “novo Brasil”, poderiam ser acionados a narrar o país que vislumbram.
A Serra o roteiro será mais difícil, se instado a ter de revelar o que discorda na condução da economia e como pretende financiar o acréscimo de benefícios sociais que prometeu. No seco, sem dizer a fonte financiadora, parece oportunismo. E sem ter o envolvimento de fato do senador eleito Aécio Neves, ou convidá-lo a chefiar sua campanha, politicamente continuará do mesmo tamanho, mesmo que sua votação cresça sobre o primeiro turno. Quanto teve chance igual em 2006, o tucano Geraldo Alckmin acabou menor em seu repto a Lula.
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