http://www.youtube.com/v/rahhLokLRNQ
Uma coisa importante a se mencionar é a origem deste vídeo. Ele foi produzido sob a demanda da CNA para a sua campanha "Vamos Tirar o Brasil do Vermelho". A CNA é um órgão que representa ruralistas, agroempresários, latifundiários ou qualquer um que possa se sentir ameaçado por reivindicações dos movimentos sociais do campo. Aliás, o órgão foi criado justamente como resposta à existência do MST e similares.
Naturalmente, isso não diz nada acerca da veracidade das informações e dos dados passados no vídeo de forma geral. Isso diz apenas que o vídeo certamente não será algo neutro e que tomará um lado nesta disputa. Ele não irá se preocupar em olhar o outro lado da questão, não se preocupará em entender quais são as reivindicações naquela área nem a origem dos problemas que levam milhares de pessoas a acampar na fazenda em questão. Ele irá se focar basicamente nos exageros cometidos pelas pessoas durante ocupações, bem como buscará ressaltar falhas de caráter de eventuais pessoas do movimento que encontrar. Isso é algo perfeitamente esperado e nem se pode recriminar a CNA por isso, já que eles possuem uma postura clara e não tentam fingir que são neutros. Entretanto, é importante ter ciência disso ao assistir o vídeo.
Como era completamente natural de se esperar, existem algumas informações que não são passadas:
* A questão da produtividade da Fazenda Guerra (ou Fazenda Coqueiros, como também é chamada) é algo polêmico e em disputa. Os donos juram que o lugar é produtivo e os movimentos alegam que não é produtivo. Existe uma longa disputa para mostrar quem tem razão nessa história. Que eu saiba, essa disputa não chegou ao fim ainda.
* Considerar área de plantação de eucalipto como "floresta" é piada.
* A cidade de Coqueiros, onde fica a Fazenda Guerra, tem problemas por causa da extensão da fazenda. Imagine estar em uma cidade, onde 30% de toda a área disponível é ocupada por um único latifúndio. Esses 30% da área total empregam somente 11 pessoas em empregos temporários. Na região, cerca de 20 prefeitos já se manifestaram desejando que uma parte da fazenda seja expropriada para que possa gerar um desenvolvimento maior na região por meio de mais geração de empregos. Já foram feitas tentativas de negociação no passado e já foram feitos pedidos judiciais de expropriação, já que a extensão daquilo estava chegando ao cúmulo de prejudicar o município. Isso nos leva mais uma vez à questão de se regulamentar e botar ordem na casa com relação à propriedade da terra, incluindo um limite nelas. Latifúndios individuais ocupando a maior parte da área produtiva de uma cidade é demais.
Com relação às denúncias feitas de mortes de animais, destruição de veículos, não sei se todas são verdadeiras ou não, mas acho que o importante não é isso. Eventuais exageros que aconteçam durante ocupações (matança de animais, destruição de veículos, ...), são bastante ruins e infelizmente tem um risco inerente de acontecer quando se organiza uma ocupação. Assim como um protesto urbano pode sair do controle e vidraças ou carros podem ser destruídos dependendo de quem resolva se juntar ao grupo. A questão que acho relevante nessa história é que, a meu ver, o melhor e principal modo de se combater isso é fornecendo justiça. O MST é um movimento que nem precisaria existir se reforma agrária já tivesse sido feita no nosso país. Se a lei e fôsse eficiente e valesse para todos, acabaria-se também com a justificativa da existência de movimentos mais drásticos para pressionar o governo e a justiça. Aí eu até concordaria com vários argumentos colocados pelo Fernando e Arcanjo.