Sobre os qualia. Pensei agora numa maneira de explicitar melhor o problema. Pulando um pouco para o outro lado do debate.
Vamos supor que alguem produza uma arquitetura de rede neural que consiga emular precisamente um cérebro humano. Digamos que
seja então possível "copiar" um cérebro individual nesse sistema. Note que não se trata de um hardware, mas do projeto de hardware.
Pois bem, todo computador pode (em princípio) ser emulado por uma máquina de Turing Universal. Por sua vez, essa máquina de Turing
pode ser implementada nos mais diversos substratos diferentes.
Vamos supor que nosso cérebro virtual seja implementado numa máquina de Turing baseada em um autômato celular, tal como o Jogo da
Vida [1]. Uma máquina de Turing já foi realizada nesse tipo de sistema:
Nesse caso, o input é um padrão de células acesas ou apagadas.
Ok, com tudo pronto, vamos agora interrogar esse "cérebro": você, o entrevistador, envia um padrão de bits correspondente a uma
imagem (digamos, de uma maçã
). Você em seguida pergunta: "Mr. BB, o que você está vendo?"
BB: "Ora, vejo uma maçã!"
Você: "Mas você realmente sente que é se trata de uma maçã?"
BB: "Claro! Que tipo de pergunta é essa?"
O problema é: todo esse diálogo. Todo essa sequência de pensamentos, são apenas padrões de células (da autômato, não simulações
de neurônios) apagando e acendendo. Então fica a questão de onde está
acontecendo a vida interior desse cérebro.
Apesar de todo esse argumento ser baseado na hipótese materialista, não deixa de haver a sensação de que falta "algo"
nessa simulação. Um substrato físico onde esse mundo realmente acontece.
O que Eu afirmo, puramente em virtude de não existirem evidências concretas do contrário, é que devemos tomar as alegações
de BB (a simulação, no caso) com seu valor de face. Por mais estranho que pareça...
A propósito:
http://xkcd.com/505/[1]
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jogo_da_vida