Autor Tópico: Revolta Árabe  (Lida 71038 vezes)

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Offline DDV

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #500 Online: 05 de Janeiro de 2012, 16:22:47 »
Só uma duvida que me passou pela cabeça à esses dias . Suponha que você tem a escolha de viver em 2 países diferentes . O primeiro é uma democracia nos moldes do Brasil,aonde você recebe 3 Salários minimos,a qualidade da educação e da saúde são ruins e o crime organizado já foi banalizado de tão comum que é,mas ainda é "livre" para protestar contra essa situação . O segundo é uma ditadura,aonde você não pode protestar contra o governo e nem falar mal dele . Mas o salário que você receberá lá é duas vezes maior pelo mesmo trabalho que você faria no "Brasil",a qualidade da educação e da saúde são de primeiro mundo e crime organizado é quase inexistente . Em qual dos dois você prefere viver?

"Aquele que abre mão da liberdade em troca de uma segurança temporária não merece nenhuma delas e acaba perdendo ambas" (Thomas Jefferson)

A proposta de abrir mão da liberdade em troca de uma promessa de melhorias, quaiquer que sejam, é um completo tiro no escuro. A história mostra que em 99% das vezes a troca não valeu a pena.

Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

"O maior vício do capitalismo é a distribuição desigual das benesses. A maior virtude do socialismo é a distribuição igual da miséria." (W. Churchill)

Offline DDV

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #501 Online: 05 de Janeiro de 2012, 16:25:52 »
Pelo que entendi,a maioria prefere viver uma vida mais dificil,por causa da fé de que pode mudar o sistema . Por acaso,vamos planejar uma revolução para eliminar as oligarquias do poder,se é o que desejam?

A maioria é esperta* e prefere ter um controle mínimo sobre suas próprias vidas e sobre o estado do que ficar subordinado completamente à vontade e capricho de terceiros.



*Esperto no sentido de, "perspicaz", "inteligente".
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline _Juca_

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #502 Online: 05 de Janeiro de 2012, 17:33:32 »
Pelo que entendi,a maioria prefere viver uma vida mais dificil,por causa da fé de que pode mudar o sistema . Por acaso,vamos planejar uma revolução para eliminar as oligarquias do poder,se é o que desejam?

É como o Di disse, não é nem mesmo uma escolha. Numa democracia as mudanças podem ser pequenas e lentas mas elas existem, no totalitarismo não. E os maiores e melhores índices de proteção e de justiça social estão com países democráticos, porque escolheríamos uma ditadura que de acordo com as amostragens atuais só alcançaria isso numa exceção?

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #503 Online: 05 de Janeiro de 2012, 20:18:31 »
Só uma duvida que me passou pela cabeça à esses dias . Suponha que você tem a escolha de viver em 2 países diferentes . O primeiro é uma democracia nos moldes do Brasil,aonde você recebe 3 Salários minimos,a qualidade da educação e da saúde são ruins e o crime organizado já foi banalizado de tão comum que é,mas ainda é "livre" para protestar contra essa situação . O segundo é uma ditadura,aonde você não pode protestar contra o governo e nem falar mal dele . Mas o salário que você receberá lá é duas vezes maior pelo mesmo trabalho que você faria no "Brasil",a qualidade da educação e da saúde são de primeiro mundo e crime organizado é quase inexistente . Em qual dos dois você prefere viver?

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A proposta de abrir mão da liberdade em troca de uma promessa de melhorias, quaiquer que sejam, é um completo tiro no escuro. A história mostra que em 99% das vezes a troca não valeu a pena.



Essa frase do Jefferson me faz lembrar dos pára-raios nas igrejas.

Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #504 Online: 06 de Janeiro de 2012, 21:24:53 »
Pelo que entendi,a maioria prefere viver uma vida mais dificil,por causa da fé de que pode mudar o sistema . Por acaso,vamos planejar uma revolução para eliminar as oligarquias do poder,se é o que desejam?

É como o Di disse, não é nem mesmo uma escolha. Numa democracia as mudanças podem ser pequenas e lentas mas elas existem, no totalitarismo não. E os maiores e melhores índices de proteção e de justiça social estão com países democráticos, porque escolheríamos uma ditadura que de acordo com as amostragens atuais só alcançaria isso numa exceção?

Escolher ninguem escolheria mesmo . Ditadura só serve como medida reativa para uma guerra mesmo(não é à toa que a mudança da democracia para a ditadura é um direito do governo garantido pela constituição). E mesmo no totalitarismo,as mudanças existem,a diferença é que a maioria não é informada quando as mudanças são negativas(mudanças no sentido de progresso econômico e social,não no sentido de dar liberdade ás pessoas para falarem o que quiser,já que essa é a base desse sistema).
« Última modificação: 06 de Janeiro de 2012, 21:31:53 por genjikhan »
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Offline _Juca_

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #505 Online: 07 de Janeiro de 2012, 09:56:02 »
Pelo que entendi,a maioria prefere viver uma vida mais dificil,por causa da fé de que pode mudar o sistema . Por acaso,vamos planejar uma revolução para eliminar as oligarquias do poder,se é o que desejam?

É como o Di disse, não é nem mesmo uma escolha. Numa democracia as mudanças podem ser pequenas e lentas mas elas existem, no totalitarismo não. E os maiores e melhores índices de proteção e de justiça social estão com países democráticos, porque escolheríamos uma ditadura que de acordo com as amostragens atuais só alcançaria isso numa exceção?

Escolher ninguem escolheria mesmo . Ditadura só serve como medida reativa para uma guerra mesmo(não é à toa que a mudança da democracia para a ditadura é um direito do governo garantido pela constituição). E mesmo no totalitarismo,as mudanças existem,a diferença é que a maioria não é informada quando as mudanças são negativas(mudanças no sentido de progresso econômico e social,não no sentido de dar liberdade ás pessoas para falarem o que quiser,já que essa é a base desse sistema).

Mudanças num país totalitarista somente se atender aos desejos exclusivos dos governantes. Não que a democracia seja diferente, mas aqui os governantes são obrigados a prestar contas à população, e portanto tem que levar os anseios dela em conta também. É certo que funciona mais ou menos dependendo da situação social e educacional do país, mas é assim.

Offline Daniel_1993

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #506 Online: 07 de Janeiro de 2012, 18:41:47 »
A CIA recrutou mais de 1.500 mercenários afegãos para lutar na Líbia.

"A Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos recrutou mais de 1.500 homens da região de Mazar-e-Sharif, no Afeganistão, para lutar na Líbia. Fontes militares disseram ao jornal The Nation que “A maioria dos homens foram recrutados do Afeganistão. Eles são uzbeques, hazaras e persas” Segundo a TV Al-Jazeera, diversas imagens de “rebeldes” mostram combatentescom vestimentas afegãs, e não líbias.

http://realismopolitico.blogspot.com/2011/08/cia-recrutou-mais-de-1500-mercenarios.html


A "Revolução" da OTAN

O avanço das "forças rebeldes" é proporcional ao aumento dos crimes da OTAN, a destruição de infraestrutura e o massacre do povo líbio que vem ocorrendo nos ultimos quatro meses. Isso quer dizer que quanto mais avança a peste mercenária, maior o desprezo do povo líbio por ele e maior seu apoio a Kadafi, maior sua fibra de resistência.

A "Revolução" na Líbia nada mais é que tribos mercenárias massacrando o povo por terra e aviões estrangeiros fazendo isso pelo ar. A resistência permanece, com ou sem Kadafi - e já não é a primeira vez que a Líbia enfrenta opositores somados a bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

http://www.google.com.br/#sclient=psy-ab&hl=pt-BR&source=hp&q=A+%22Revolu%C3%A7%C3%A3o%22+da+OTAN+&pbx=1&oq=A+%22Revolu%C3%A7%C3%A3o%22+da+OTAN+&aq=f&aqi=&aql=&gs_sm=e&gs_upl=57940l57940l1l58014l1l0l0l0l0l0l0l0ll0l0&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.,cf.osb&fp=65b096aad3d8231f&biw=1639&bih=748
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― Albert Camus

“The way to love anything is to realize that it may be lost.”
― G.K. Chesterton

“The first duty of a man is to think for himself”
― José Martí

Não sou mais um marxista-stalinista: ../forum/topic=30157.0.html

Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #507 Online: 08 de Janeiro de 2012, 01:09:37 »
Se essa teoria aí for verdade,isso explicaria porque o Egito ainda permaneçe numa ditadura,que ainda reprime a população,apesar de todo aquele confete que os meios de comunicação em massa jogaram sobre essa revolta e ainda explicaria a complicada situação politica da Líbia .
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Offline Barata Tenno

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #508 Online: 08 de Janeiro de 2012, 01:20:24 »
Teoria da conspiração.
He who fights with monsters should look to it that he himself does not become a monster. And when you gaze long into an abyss the abyss also gazes into you. Friedrich Nietzsche

Offline Geotecton

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #509 Online: 08 de Janeiro de 2012, 08:47:43 »
Se essa teoria aí for verdade,isso explicaria porque o Egito ainda permaneçe numa ditadura,que ainda reprime a população,apesar de todo aquele confete que os meios de comunicação em massa jogaram sobre essa revolta e ainda explicaria a complicada situação politica da Líbia .

São situações completamente distintas. O Egito tem uma presença fortíssima, no poder, do setor militar desde a sua fundação como nação independente, ao passo que a Líbia, não.
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Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #510 Online: 08 de Janeiro de 2012, 09:32:28 »
Então os governantes no Egito sentem uma necessidade de manter o exército no poder desde que se tornou independente,enquanto que na Libía, o Exército servia para manter a ordem social?
« Última modificação: 08 de Janeiro de 2012, 09:39:40 por genjikhan »
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Offline Geotecton

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #511 Online: 08 de Janeiro de 2012, 11:58:16 »
Então os governantes no Egito sentem uma necessidade de manter o exército no poder desde que se tornou independente,enquanto que na Libía, o Exército servia para manter a ordem social?

Não.

A resposta é que o exército tem uma influência muito maior na sociedade egípcia desde que o Egito se tornou independente da Inglaterra. Só isto.
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Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #512 Online: 08 de Janeiro de 2012, 15:52:17 »
Se a situação política em Israel se estabilizasse definitivamente,existiria uma chance da influência do exército egípcio na política reduzir?
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Offline _Juca_

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #513 Online: 08 de Janeiro de 2012, 16:09:25 »
Então os governantes no Egito sentem uma necessidade de manter o exército no poder desde que se tornou independente,enquanto que na Libía, o Exército servia para manter a ordem social?

Não.

A resposta é que o exército tem uma influência muito maior na sociedade egípcia desde que o Egito se tornou independente da Inglaterra. Só isto.

Não siginifica que eles são donos do poder.

Offline Geotecton

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #514 Online: 08 de Janeiro de 2012, 16:39:07 »
Se a situação política em Israel se estabilizasse definitivamente,existiria uma chance da influência do exército egípcio na política reduzir?

Boa pergunta.

Eu acho que se Israel adotasse uma política de distensão com os palestinos (incluindo a formação do estado da Palestina) e a Síria, eu acho que a influência dos militares e dos terroristas seria reduzida em quase todo Oriente Médio, com a provável exceção do Irã.
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Offline Moro

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #515 Online: 09 de Janeiro de 2012, 22:44:30 »
Iria tirar uma das bandeiras dos fundamentalistas ao menos. A outra bandeira é lutar por um pais cada vez mais "puro", uma interpretação cada vez mais radical do Alcorão, culpando a sociedade por qualquer desgraça ao dizer que o problema foi causado porque nao estão seguindo as leis de deus
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Geotecton

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #516 Online: 09 de Janeiro de 2012, 23:18:28 »
Iria tirar uma das bandeiras dos fundamentalistas ao menos. A outra bandeira é lutar por um pais cada vez mais "puro", uma interpretação cada vez mais radical do Alcorão, culpando a sociedade por qualquer desgraça ao dizer que o problema foi causado porque nao estão seguindo as leis de deus

Pelas barbas de Odin, mude a frase supra para "... não estão seguindo as leis de Alah", por favor.  :P
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Offline Irracionalista

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #517 Online: 10 de Janeiro de 2012, 00:47:11 »
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Pelas barbas de Odin, mude a frase supra para "... não estão seguindo as leis de Alah", por favor.

Mas é a mesma coisa.  :)
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Offline Sergiomgbr

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #518 Online: 10 de Janeiro de 2012, 00:56:31 »
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Pelas barbas de Odin, mude a frase supra para "... não estão seguindo as leis de Alah", por favor.

Mas é a mesma coisa.  :)
Não é a mesma coisa. Se eu pergunto a fulano;- fulano, onde cê pôs o rádio? e ele me responde;- alah, em cima da mesa, é bem diferente de ele me responder;- deus, em cima da mesa! 8-)
Até onde eu sei eu não sei.

Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #519 Online: 10 de Janeiro de 2012, 07:58:38 »
Iria tirar uma das bandeiras dos fundamentalistas ao menos. A outra bandeira é lutar por um pais cada vez mais "puro", uma interpretação cada vez mais radical do Alcorão, culpando a sociedade por qualquer desgraça ao dizer que o problema foi causado porque nao estão seguindo as leis de deus

Se for nessa linha,quer dizer que a situação no Oriente Médio ainda vai continuar uma mer** pelos próximos séculos,à menos que o Islã perda influência?
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Offline Dr. Manhattan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #520 Online: 10 de Janeiro de 2012, 09:39:44 »
Iria tirar uma das bandeiras dos fundamentalistas ao menos. A outra bandeira é lutar por um pais cada vez mais "puro", uma interpretação cada vez mais radical do Alcorão, culpando a sociedade por qualquer desgraça ao dizer que o problema foi causado porque nao estão seguindo as leis de deus

Se for nessa linha,quer dizer que a situação no Oriente Médio ainda vai continuar uma mer** pelos próximos séculos,à menos que o Islã perda influência?

muçulmanos %5Cneq fundamentalistas muçulmanos. E não sei se você sabe, mas esse tipo de fundamentalismo muçulmano que vemos hoje é historicamente bem recente, coisa de século XX.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline genjikhan

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #521 Online: 10 de Janeiro de 2012, 10:39:36 »
Você está correto,mas o que eu quis dizer é que é mais fácil surgir fundamentalistas muçulmanos do que fundamentalistas católicos e é isso que faz o islamismo ser algo repugnante(É claro que isso não torna o cristianismo algo melhor) . É claro que isso depende da pessoa que está interpretando o livro,mas graças ao tratamento dispensado àqueles que desejam criticar o Alcorão por séculos,não me surpreenda que o fundamentalismo tenha mais adeptos daquele lado .
« Última modificação: 11 de Janeiro de 2012, 08:46:41 por genjikhan »
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Re:Revolta Árabe
« Resposta #522 Online: 17 de Janeiro de 2012, 03:33:19 »
A Primavera Árabe e a vitória dos partidos islâmicos

Vitorioso, o islamismo vira pragmático

As primeiras eleições livres da chamada "Primavera árabe" deram uma vitória esmagadora aos partidos islâmicos.

O pesquisador suíço Patrick Haenni relativiza os medos suscitados na Europa pela chegada ao poder dos Irmãos Muçulmanos na Tunísia, Marrocos e Egito.

Um ano após o início das revoluções democráticas que transformaram profundamente um mundo árabe ainda conservador, os partidos islamistas saem vencedores das eleições democráticas obtidas graças às ondas de protestos, cujos participantes eram, em grande parte, jovens, urbanos e pacifistas.
Pesquisador no instituto "Religioscope" de Friburgo, Patrick Haenni estuda há muitos anos o movimento islamista através de pesquisas realizadas diretamente nos países envolvidos.

swissinfo.ch: O medo ocidental dos islamistas justifica-se pelas suas vitórias eleitorais na Tunísia e no Egito?

Pierre Haenni:
O "medo ocidental" do islamismo deve ser analisado com cuidado.

Em primeiro lugar, frente ao islamismo, o campo ocidental também está dividido. O medo não é a única atitude e, nos círculos políticos, a disposição de testar os islamistas, analisar como eles participam da gestão do poder, existe igualmente.

Além disso, o medo não existe somente no Ocidente. Nos países árabes, os islamistas também inquietam uma parte da população e das elites. Há um ano, as divisões políticas aumentaram nos países liberados dos seus ditadores.

swissinfo.ch : De que maneira?

P.H.:
Na Tunísia e no Egito houve, primeiramente, uma divisão entre revolucionários que defendem uma mudança radical das instituições e um campo mais conservador militante por uma certa continuidade das instituições, unindo a Irmandade Muçulmana, os sobreviventes do antigo regime e, de forma geral, os militares. Na Líbia, esse polo conservador chegou até a receber o apoio militar dos países ocidentais.

Em um segundo momento, o campo político se polarizou nas questões de identidade e particularmente sobre o status da religião nas futuras constituições dos países liberados dos seus ditadores. Nessa segunda fase, os islamistas estão frente a quase todas as outras forças políticas e o exército, em oposição com os islamistas.

No entanto, é extremamente difícil de julgar movimentos que estão em fase de evolução muito rápida, confrontados com a prática do jogo político e do poder.

Na verdade, é quase impossível, no Egito ou na Tunísia, de sustentar a economia e o turismo com uma polícia moral circulando nas praias e a proibição da venda de álcool, como propõe alguns círculos salafistas.

Hoje em dia, o islã político deverá por vezes fazer compromissos entre o respeito de um certo dogma e os imperativos da boa governança econômica. A Irmandade Muçulmana escolheu se destacar no terreno da eficácia e da boa governança. Eles sabem que isso supõe concessões. E os salafistas, que víamos sob o prisma exclusivo da rigidez doutrinária, se acomodaram com o dogma.

swissinfo.ch: O grande desafio dos islamistas é, então, de estar à altura das expectativas dos seus eleitores, em particular no setor social e econômico?

P.H.:
Em ruptura com o pensamento islamista dos anos 1980, a Irmandade Muçulmana desenvolveu uma abordagem legalista bastante distante daquela época. Eles sabem que as urnas lhe são favoráveis, mas que serão julgados sobre aquilo que fazem.

Todos os partidos que se referem à Irmandade Muçulmana, como Ennahda na Tunísia ou o PJD no Marrocos, defendem o modelo turco, mesmo se eles o compreendem de uma forma diferente.

Em outras palavras, essas forças políticas estimam que o poder e a legitimidade sejam traduzidos pela eficácia na gestão do Estado.

O grande desafio, em particular no Egito, será de gerir um aparelho administrativo enorme e que continua funcionando na lógica do antigo regime.

swissinfo.ch: Os islamistas vão se aliar aos meios que controlam o essencial do poder econômico?

P.H.:
Existe uma diferença fundamental entre a Turquia e os países árabes que destronaram seus dirigentes. O AKP turco era a expressão política de uma pequena província burguesa, de uma classe de homens de negócios islamista, em rivalidade econômica com o grande capitalismo ativo na capital.

No Egito e na Tunísia não existe uma classe capitalista islâmica. Mesmo no Marrocos, o PJD representa uma pequena burguesia modesta, mas o essencial da economia continua sob o controle da monarquia.

As relações entre o novo poder e os meios econômicos ligados ou não aos antigos regimes irão forçosamente determinar suas orientações econômicas e sociais. Nessa perspectiva, é perfeitamente imaginável que surjam islamistas de esquerda ou de direita.

swissinfo.ch: A ascensão dos islamistas traduz também uma forma de se afirmar frente aos países ocidentais?

P.H.:
Os islamistas estão bastante conscientes que não podem administrar o poder em uma lógica de confrontação con o Ocidente. Todas as tomadas de decisão - tanto de forma privada como pública - mostram que eles respeitam os compromissos internacionais assumidos pelos governos precedentes. A ideia é de ser o mais dicreto possível.

Além disso, inúmeros eleitores desses partidos islamistas escolheram essas forças mais devido à sua novidade na prática de poder do que por razões religiosas.

As mulheres - bem engajadas nas revoluções - estão cada vez mais usando véus. Mas elas são mais livres para escolher seus maridos e ocupar postos de responsabilidade.

As sociedades árabes se modernizam mais rápido do que imaginamos e essa modernização ocorre, em parte, com os religiosos. Essa visão é mais conhecida nos Estados Unidos, mas muito menos na Europa.

No entanto, a questão das liberdades individuais será uma das próximas grandes polêmicas do mundo árabe. São questões como as conversões ou o destino das minorias religiosas.

Pois nesse domínio também, a carta muda com o quase desaparecimento dos cristãos em alguns países ou as inúmeras conversões ao protestantismo em outros como a Argélia, a ascensão dos xiitas nos países dominados pelos sunitas, as reivindicações da igualdade de tratamento dos coptas no Egito, os pedidos de casamento civil, o surgimento de tensões em torno das comunidades religiosas como os Bahais no Egito.

Os islamistas são pela democracia, mas contra o liberalismo entendido como projeto de extensão das liberdades públicas e religiosas. É nessa frente que haverá tensões com o Ocidente nos próximos anos.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-primavera-arabe-e-a-vitoria-dos-partidos-islamicos

"That's what you like to do
To treat a man like a pig
And when I'm dead and gone
It's an award I've won"
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Re:Revolta Árabe
« Resposta #523 Online: 14 de Fevereiro de 2012, 12:17:58 »
Amanhecer em Tahrir

Acampada na praça egípcia, historiadora brasileira descreve a vida nas tendas, o som das preces e a gritaria em torno da revolução

São quatro horas da madrugada. Uma neblina leitosa paira sobre a praça salpicada de barracas de todos os tamanhos e cores. Conto cerca de trinta delas, que se multiplicariam para mais de cem as vésperas do aniversário da revolução. À primeira vista até parecia um camping, porém estamos no meio de um dos mais congestionados e poluídos centros urbanos do planeta. Exatamente no coração nevrálgico do Cairo, na confluência de cinco largas avenidas que circundam um dos maiores símbolos da resistência do povo egípcio.

Caminho de volta à tenda de lona. Acostumados ao ruído infernal e vencidos pelo cansaço acumulado, lá dentro dormem a sono solto meus quatro companheiros de jornada. Hazim Ali, Hamadi, Marham e Mohamed têm entre 19 e 26 anos. Acampam na praça há três meses e só saem dali quando a Junta Militar, no poder desde a derrubada de Hosni Mubarak, deixar o governo. Assim como outros que encontro morando no local, não são organizados em nenhum partido, nem têm ideia clara do futuro que desejam para o país. Na verdade, permanecem ali como uma alternativa à falta de perspectiva espreitando os recém-saídos das universidades com um diploma debaixo do braço e chances próximas a zero no mercado de trabalho.

"É impossível conseguir qualquer tipo de emprego", queixa-se Hazim, num inglês fragmentado. Formado em engenharia, divorciado e com um filho de três anos, sonha em mudar-se para a "América", onde vive sua ex-mulher, na esperança de superar os salários que, quando existem, rendem em média menos de 100 dólares por mês. Por isso fizeram da Praça Tahrir a sua moradia provisória e recebem os estrangeiros com interesse e amabilidade. Não hesitou quando pedi para passar a noite na sua barraca, ainda que isso pudesse lhe trazer problemas, se descobrissem uma mulher sozinha no meio de quatro homens. Não falta quem procure difamar esta população que, em tempos de refluxo, flutua entre 120 a 150 pessoas. Quando a polícia resolve prender uma delas, usa pretextos arbitrários e quase nunca comprovados, acusando-os de drogadas e promíscuos. Ali, as esparsas figuras femininas que conheci eram sempre esposas dos acampados. De cabeça coberta com elaborados arranjos de lenços coloridos, elas ficam de dia e partem de noite para evitar suspeitas e críticas nesta sociedade conservadora e religiosa.

Horas antes, Hazim, que se tornaria meu protetor e amigo, repartiu comigo o almoço de falafel e um pouco do cozido de feijão pastoso chamado foul, vendido a 1 libra egípcia, equivalente a 50 centavos de real. O coucheri, prato popular nacional feito a base de macarrão, arroz, lentilha e parcas gramas de carne moída, custa cinco vezes isso e está acima de suas posses, assim como o Marlboro, substituído pelo congênere chinês a 5 libras o maço. Saco da bolsa o álcool gel comprado junto com toalhas perfumadas, guardanapos de papel, copos e garfos de plástico, além de outros apetrechos que despertam curiosidade e provocam sorriso nos rostos cansados desta gente disposta a enfrentar um inverno surpreendentemente rigoroso.

Ofereço pão árabe, fatiado de carne bovina, queijo, frutas e iogurtes para retribuir a hospitalidade. Tenho a impressão de que muitos deles comiam algo nutritivo pela primeira vez em muitos dias. A garrafa d'água passa de boca em boca e acaba em alguns minutos. Descubro que os cuidados com higiene perdem a importância diante da dura realidade. Poucos escovam os dentes e tomam banho só a cada semana em algum hotel das redondezas. Para ir ao banheiro, usam os cafés e bares dos arredores. O Kentucky, numa das extremidades em que tremula uma solitária bandeira brasileira entre as similares egípcias, tornou-se a escolha predileta. Trocam de roupa de raro em raro e não se dão ao trabalho de tirar os sapatos para entrar na tenda. Tampouco parecem se incomodar com as toneladas de lixo que se acumulam entre as barracas. Convivem com a sujeira que, segundo me dizem, simboliza o entulho do regime autoritário ainda presente no Egito, na figura da odiada Junta, conhecida pela sigla Sacaf - Supreme Council of the Armed Forces.

Por volta da meia-noite, exausta e agitada pela profusão de novidades e sensações desencontradas, procuro pegar no sono. Do chão de terra batida coberto com um tapete fino desprende-se uma umidade insuportável à qual credito a origem da tosse crônica de Hamadi. Encolho sob os cobertores para afugentar o frio, mas o cheiro azedo misturado à fumaça que ficou dos cigarros acesos uns atrás dos outros me dá náuseas. Fecho o olhos para barrar a luz que vaza pelo tecido claro, mas não consigo afugentar os barulhos que vêm de fora. O zunido do trânsito ininterrupto mesmo a altas horas da madrugada, as buzinas, o vozerio dos vendedores de chá requentado, as conversas a altos brados e os gritos de uma briga espocando num canto da praça me mantém em estado de alerta. Quando começo a relaxar, a melodia do muezim da mesquita chama para a reza. Arregalo os olhos e sento na cama improvisada. A praça não dorme, e muito menos eu.

Situada num descampado, tendo o sólido Museu do Egito de uma lado, o topo de hotéis luxuosos de outro e o maciço prédio de 14 andares do aparato de governo El Mogama fechando a lateral, a Midan at Tahrir, antes denominada Ismalia em honra a Khedine Ismail, conta com uma organização informal, mas eficiente nas horas de crise. Há uma barraca que recebe donativos, estoca e distribui comida em épocas de mobilização. Outra delas funciona como uma espécie de museu da memória das revoltas. Exibe fotos da repressão, cartazes e outros testemunhos do movimento revolucionário. Sobressai a imagem de Khalid Said, o rapaz de Alexandria morto após ter sido torturado pela polícia em 2010. Seu martírio inspirou a onda de protestos divulgados pelo Facebook, servindo de estopim para a construção do 25 de janeiro. Por estes acasos da sorte, tive a chance de conversar com seus familiares, no célebre Cafe Le Riche, reduto da vanguarda e da intelectualidade de esquerda do Cairo.

Em termos ideológicos, a Tahrir, que em árabe significa "Libertação", nome recebido em 1919 e oficializado em 1952, depois da revolução que converteu a monarquia constitucional em república, está dividida em zonas de influência bem demarcadas geograficamente. O cruzamento com a Talaat Harb concentra os trotskistas dos Revolucionários Socialistas. A esquina da Mohamed Mahmud, cenário dos sangrentos confrontos de 17 de novembro de 2011, é o palco central dos eventos unitários, reunindo diferentes correntes políticas e religiosas em datas comemorativas. Era ali, na porta do Hardees, um fast food local, que os militantes convergiam para os enfrentamentos com a polícia. Na vasta área defronte ao Mogama instala-se a esquerda mais organizada, tida como a vanguarda socialista. Ali também fica uma tenda para jornalistas. Um ou outro perambulava solitário até a véspera do último 25 de janeiro, quando a imprensa apareceu em peso, disputando os balcões do entorno. Na ocasião, hotéis modestos como o Maleya, subiram seus preços de módicos 50 libras para nada menos do que 2 mil dólares a diária.

O Mogama, de cujos telhados dizem que se escondem franco-atiradores, não fica longe do Ministério do Interior, depois da Universidade Americana do Cairo. Escondido atrás de uma gigantesca barreira de concreto de mais de três metros de altura, o ministério continua inacessível ao público desde que tentaram invadi-lo na batalha Mohamed Mahmud, quando incendiaram uma das saídas da estação Sadat agora interditada. Espiando através das fendas entre os blocos que formam a muralha vê-se uma fileira de trinta soldados vestidos de preto, protegendo a sede de cuja fachada pendem duas enormes faixas com as cores da bandeira. Igualmente pintados de vermelho, branco e preto estão os troncos das árvores semelhantes a fícus que flanqueiam a via de acesso para quem vem da ponte Qasr Al Nil. Lá perto da Liga Árabe há uma tenda dos sírios, que antes tinham os iemenitas como vizinhos. Já na ilhota cimentada não distante da Mesquita de Omar Makram, com uma estátua erguida em homenagem a este herói nacionalista da oposição a invasão napoleônica, agrupam-se os artistas e parte da intelectualidade. No centro move-se uma gama diversificada, incluindo membros da Irmandade Muçulmana a salafistas. Financiados pela Arábia Saudita, e até há bem pouco tempo fora da política partidária, estes últimos obtiveram em 6 meses a segunda colocação no Parlamento, no qual detém 20% dos assentos. São distinguíveis pela barba e ajoelham-se no meio da praça ao som da chamada para as preces. Dentre eles circulam candidatos independentes à presidência da República, e um ou outro turista disputado com avidez pelos guias em situação desesperadora devido ao refluxo dos visitantes. De repente, sem aviso prévio, dois homens sacam de suas facas e começam a brigar. Enquanto nos afastamos, Hazim conta que estes são os batalgueia, provocadores enviados pela polícia para causar confusão e justificar possíveis prisões. Em cima das grades de ferro verde retorcidas, os ambulantes esticam camisetas comemorativas, cujo preço começa nas 50 libras, e despenca ao final de uma cansativa barganha. Num dos cantos vendem haxixe, verdadeira mania nacional, consumido por todas as faixas sociais a qualquer hora do dia ou da noite como se tomam xícaras de café no Brasil. Por motivos que não sabem explicar, o preço da pedra que rende 30 cigarros subiu de menos de 15 dólares para quase 50 depois da revolução.

Interessante que a efervescência da praça transborda para os pequenos restaurantes e albergues da região, instalados em prédios que já viram dias melhores e hoje patinam numa decadência inexorável. Em um destes conheci uma figura das mais interessantes e emblemáticas dos ventos de mudança que começam a soprar. Nervine Al Seidi, que se auto-denomina doutora em economia e literatura, ocupa uma barraca no Mogama há dois meses. Com 50 anos de idade, deixou o filho único na terra natal, Alexandria, para assumir o papel de líder e protetora de parte da juventude acampada. Em um inglês refinado, conta que não tem coragem de se afastar, por receio de que venham prender ou perturbar seus jovens colegas. Por isso revezem-se para comprar comida ou buscar mantimentos doados por simpatizantes. Da mesma forma, diz, montam turnos de vigília para o caso de ataque da polícia sob as ordens do exército, ou dos arruaceiros.

Nervine deixou uma vida sem preocupações materiais para enfrentar uma rotina de noites em claro, falta de banho, fome e sede. As privações refletem-se nos seus olhos injetados e na fala entrecortada de choro ao recordar um episódio mais doloroso. "Estamos aqui pedindo transferência pacífica do poder dos militares aos civis". Relata que durante estes dois meses enfrentaram quatro batalhas com o exército, que os atacou com armamento leve e gás lacrimogêneo. "O exército não deveria ser a autoridade a dirigir uma eleição em nome do povo, já que o principal objetivo da revolução foi justamente desmantelar o aparato militar. Nos rebelamos contra eles, que não podem ser ao mesmo tempo nossos inimigos e comandantes", completa, afirmando que a maioria quer um país laico e democrático, ao contrário de um jovem da Irmandade muçulmana com quem conversei, que defende o Egito como uma nação fundamentalmente islâmica.

Neste espaço de batalhas simbólicas e concretas, moças e rapazes apaixonaram-se e se casaram: "Pela primeira vez, graças à revolução, o povo pode se conhecer e conversar, rompendo o imenso fosso que ao longo da história dividiu os egípcios, presos numa rígida divisão de classes". Outro fato interessante é que a praça Tahrir tem desempenhado não apenas um papel político-ideológico, mas também servido de palco para mudanças de costumes e de mentalidade que se irradiam para o restante da população. A mulheres que escasseiam à noite, retornam ao raiar do dia e lá permanecem como ponto de apoio e vanguarda no contexto de uma ordem social a questionar a opressão machista.

Dentro e fora das tendas, os debates acalorados agitam os grupos que se movimentam em todas as direções. Há uma enorme expectativa no ar. Na noite anterior ao 25 de janeiro uma chuva intensa castigou os ocupantes das barracas encharcadas. Sem escoamento, a água transformou a praça em um imenso lamaçal. Com espírito de solidariedade aguçado, fui com Hazim comprar colchões e plástico para minimizar o estrago. Por sorte, o dia seguinte amanheceu ensolarado. As manifestações ocorreram sem incidentes, mas depois veio a tragédia do estádio de Port Said e a luta continua em Tahrir. Meus jovens camaradas de barricada avisam que a revolução está apenas começando.

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,amanhecer-em-tahrir,834738,0.htm

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Re:Revolta Árabe
« Resposta #524 Online: 15 de Fevereiro de 2012, 12:02:54 »
Presidente sírio anuncia referendo sobre Constituição

O presidente da Síria, Bashar al-Assad, que há 11 meses enfrenta uma revolta contra seu governo, ordenou a realização de um referendo sobre a nova Constituição no dia 26 de fevereiro, informou a televisão estatal nesta quarta-feira.

"O presidente Assad emitiu um decreto para a realização de um referendo no 26o dia deste mês sobre um esboço de Constituição para a República Árabe Síria", disse a TV síria.

http://noticias.br.msn.com/mundo/presidente-s%c3%adrio-anuncia-referendo-sobre-constitui%c3%a7%c3%a3o

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