Sua última frase constitui-se no maior problema para mim. Eu não mudo minha "visão" previamente à leitura/observação de algo. Posso mudar minha visão após. Você está me *garantindo* coisas para as quais as evidências FÍSICAS demonstram o contrário. Eu só tenho as suas palavras de fé e as do autor de um lado e do outro lado uma realidade que parece contradizer tudo isso. Eu li muito bem; te 'asseguro' isso mas, como eu disse, não vou acreditar tão fácil. O que você está solicitando de mim é típico de metodologias para a adaptação a aceitações dogmáticas.
Eu não me defino ideologicamente/mentalmente ateu; apenas fisicamente ateu como tudo no universo (até crentes são ateus neste sentido), incluso ele próprio, o que torna o termo totalmente irrelevante na prática. E já tenho reservas em definir-me cético porque muitos dos que se definem assim não constituem elementos de um conjunto no qual eu possa estar contido. Eu não preciso descrer em deuses e coisas mágicas em geral pois tudo isso já inexiste por si só de modo que eu fico dispensado do trabalho da descrença. Por que o ateísmo é uma religião, de fato? Porque, realmente, semelhantemente ao crente direto, o ateu ideológico age de modo a parecer que sua ação de descrença é algo necessário para que deuses inexistam. Podería-se subentender daí que se ateus ideológicos militantes não existissem, deuses existiriam ou poderiam existir.
Também, para piorar, você afirma que ele antecipou a ideia da singularidade tecnológica como se isso fosse validação da ausência de religiosidade dele. Lamento dizer, mas isso evidencia a religiosidade, crença dele. Singularidade tecnológica é uma neocrendice. Uma equiparação forçada com um conceito matemático extrapolado para a física; um paralelo que tenta-se fazer com um conceito que não tem qualquer possibilidade de correspondência prática, não tem qualquer sentido. O que sobra é mais uma nova leva de neoprofetas vaticinando uma nova terra prometida que jorra leite, mel e maná, mais nada.
"Brincar" com ideias religiosas tão seriamente é sempre perigoso e/ou indicativo.
Quanto à possibilidade de armazenamento da consciência numa memória digital, você deve ter percebido que, segundo a proposta do Gilberto, a consciência é dinâmica e evolui, processa-se discretamente. Isto significa que não se pode guardar a consciência numa memória estática. Pode-se guardar um valor discreto do processo consciente; um instantâneo inconsciente da consciência. Aí já não há mais sentido em se falar de imortalidade porque não há vida num simples registro estático. Adicionalmente, isto tem o valor de mostrar quão elementares, simples e vulgares são estas coisas que chamamos vida, cognição e consciência.
Por fim, quero aproveitar para dizer que gosto muito dessa segunda frase da sua assinatura. Ela diz que eu não tenho a mais mínima obrigação de considerar a mais mínima possibilidade de algo que só me é apresentado por ser dito.
Me surpreende (ou já não mais) como muitos, inclusive vários que se declaram ateus, exclamam: como você pode ter tanta certeza de que deuses não existem?!!!!!!!!!!
Eu digo: tremam e pasmem, tenho muito maior certeza de que nenhum deus existe do que a certeza do maior de todos os crentes de que existe algum deus. E não tenho obrigação alguma de apresentar qualquer evidência para minha descrença, ou, ainda melhor, para minha certeza de que fantasias dos outros são só fantasias dos outros, não minhas.
Então, obrigado, Chris Hitchens!