Pode-se questionar a ética do capitalismo, mas, de um ponto de vista darwinista, as sociedades que mais progrediram foram as capitalistas. Elas são mais eficientes. Com ou sem desigualdades, produzem mais riquezas.
"O Globo" 11/07/11
Os dois grandes sistemas do mundo
Paulo Guedes
O registro é de Joseph Schumpeter, em “Capitalismo, socialismo e democracia” (1942):
“Marx era pessoalmente civilizado o bastante para não fazer como os socialistas
vulgares, que não reconheciam um templo quando o viam. Era perfeitamente capaz
de compreender os valores e realizações de uma civilização. Não pode haver melhor
testemunho de sua abertura intelectual do que sua brilhante descrição dessas
realizações do capitalismo no próprio Manifesto Comunista.”
As clássicas imagens de Marx a que se refere Schumpeter:
“O capitalismo realizou maravilhas muito além das pirâmides do Egito, dos aquedutos
romanos e das catedrais góticas... Atraindo todas as nações para a civilização...
Criando cidades enormes, resgatando partes consideráveis de suas populações da
idiotice da vida rural... Durante seu domínio de escassos 100 anos, criou forças
produtivas mais maciças e mais colossais do que todas as gerações precedentes
juntas haviam criado.”
O liberal austríaco Ludwig von Mises já alertava antecipando aos choques da
Internacional Socialista com o Nacional-Socialismo:
“A ideia de socialismo é a um só tempo grandiosa e simples... É uma das mais
ambiciosas criações do espírito humano... Tão magnífica e tão ousada que
despertou merecidamente a maior admiração. Mas se quisermos salvar o mundo da
barbárie teremos de refutar o socialismo.”
Adverte-nos Friedrich von Hayek, em “A presunção fatal: os erros do
socialismo” (1988):
“Nossa civilização depende de uma extensa ordem de cooperação humana,
equivocadamente conhecida como capitalismo. Essa rede de cooperação não foi
arquitetada intencionalmente. Surgiu espontaneamente, em conformidade com certas
práticas morais, que desagradam aos homens, e cujo significado eles não compreendem,
mas que apesar disso espalharam-se rapidamente por mecanismos evolucionários.
A adoção involuntária, relutante e mesmo dolorosa dessas práticas não só manteve
esses grupos humanos como fez crescer rapidamente suas riquezas e suas populações.”
A pretensão fatal do socialismo foi criar uma cultura e uma civilização alternativas
a partir de um ambicioso racionalismo construtivista. Um perambular experimental
muito além de nossos limites cognitivos. Pois, se a curto prazo os grupos humanos
escolhem suas práticas de coordenação econômica, a longo prazo as práticas mais
eficazes é que selecionam as populações bem-sucedidas.
É bobagem, no meu entender, colocar um sistema econômico, seja qual for, como um fenômeno natural e, pior, afirmar que não se pode escapar disto dado que somos simples humanos que fazem parte do meio natural, como qualquer outro animal do planeta.
Primeiramente, sabemos que o capitalismo foi possível, se tornando sucessor do feudalismo, devido às invenções humanas que facilitaram a produção de bens em grandes quantidades e de forma muito mais rápida. A invenção da locomotiva a vapor também ajudou, ao facilitar o transporte das mercadorias produzidas. Não foi simplesmente a evolução biológica casual que nos fez chegar ao capitalismo, mas a razão representada pela inventividade humana. Se notarmos, praticamente toda grande evolução ou revolução na história humana foi possivel graças a alguma nova invenção ou técnica. Primeiro o controle do fogo, depois a roda, depois a agricultura, depois a manipulação de metais para a fabricação de ferramentas melhores, o trem a vapor, motor a combustão, pílula anticoncepcional etc... O papel da evolução biológica foi somente de nos dar a noção (instinto) da necessidade de se viver em grupos e nos munir com alta capacidade de raciocinio. Estes grupos apenas tenderam a crescer em quantidade, aumentando sua complexidade, o que nos motivou a inventar novas coisas para solucionar o problema de gerenciá-los adequadamente. E a nossa ultima invenção que deu razoavelmente certo até agora foi o capitalismo/livre mercado e a democracia.
O fato de possuir razão, de raciocinar e poder criar ferramentas e planejar o futuro, definitivamente tira o ser humano do rótulo de "apenas mais um simples animal seguindo seus instintos e sendo levado pela evolução".
Assim como em toda a história, desde que controlamos o fogo, o que fará a diferença (ou PODERÁ fazer a diferença) mais uma vez será a inventividade humana (ciência e tecnologia), que irá fazer a civilização humana dar mais um salto à frente, o que dependerá não somente da existência da tecnologia, mas também de um novo pacto social que substitua o atual. Não há porque pensar que agora as coisas são diferentes, pois foi sempre assim durante toda a história no caso do homo sapiens: as grandes mudanças sociais e, consequentemente, economicas, vem de nossas próprias mãos (intelecto/raciocínio/inventividade).
Mas, infelizmente, tais mudanças costumam ocorrer somente em grandes crises. Só espero que a próxima grande crise da civilização não seja drástica demais a ponto de colocar fim ao próprio ser humano ou dizimá-lo por quase completo.
E só reforçando, é evidente os beneficios da fase intensamente capitalista da civilização humana. Quem nega isto não sabe de nada. Mas não anula automaticamente os pontos negativos e possíveis danos do atual sistema.