Ué, mas o motivo de 99% das pessoas que querem aborto por razões não-médicas é justamente a vontade de não terem um filho vivo ao qual ficassem legalmente, emocionalmente ou moralmente obrigados. Um simples parto de um feto viável após as 20 semanas de gestação não é "problemático" em absolutamente nada e é feito rotineiramente por razões médicas. A questão é que quem não deseja a morte do feto não irá fazer parto prematuro sem motivo médico.
Verdade, mas isso não entendi como isso afeta a legalidade do aborto. Eu acho injustificável não usar uma técnica que permita interromper a gestação sem matar o feto, se eventualmente a desenvolverem. Se as mulheres abortam porque querem matar o feto ou porque simplesmente não querem carregá-lo por 9 meses não me diz respeito; o direito delas de abortar permanece, apesar das motivações.
Hein?
Eu não estava me referindo ao aborto legal*.
*Risco à gestante ou gravidez resultante de estupro.
Eu usei "corpo violado" no sentido que a mulher está tendo o seu corpo violado pela gestação, expressei-me mal.
De qualquer forma, como disse, o pai é irrelevante. Não cabe à ele nenhum direito sobre a mulher ou sobre o feto. O fato de ser seu filho não lhe dá qualquer direito sobre a gestante.
Por quê?
Porque o fato do homem não ter direito à palpite numa questão em que o cerne é o direito da mulher não o isenta das responsabilidades de ser pai. Não sei se estou me fazendo claro aqui.
O que estamos discutindo é o direto do feto à vida vs o direito da mulher à autonomia sobre o próprio corpo. O pai não entra na história porque nenhum direito dele está em jogo (bem, entra, mas é em um momento anterior

). De forma que, se a mulher quiser abortar, o que ao meu entender é um direito dela, o pai não tem que dar pitaco. No entanto, isso não o isenta das responsabilidades como pai, caso a mulher tenha o filho. São duas coisas diferentes.
É mais ou menos análogo a quando você quer votar em fulano mas alguém que quer você vote em sicrano; essa pessoa não pode te dizer o que fazer com o teu direito. Se eventualmente fulano for eleito, isso não isenta aquela pessoa de obedecer autoridade dele. É um analogia mais-ou-menos, mas espero que ajude a esclarecer o meu ponto de vista.
Mas isso é um erro lógico. Ter um filho é benéfico mas ter um filho fruto de estupro é outra coisa.
O seu raciocínio é mais ou menos assim:
A grama é verde.
Existe um elefante verde.
Então elefantes são gramas.
(...)
E daí? A questão é psicológica. Obrigar uma mulher a ter um filho fruto de estupro é a mesma coisa que obrigar alguém a passar o natal com um bandido que te assaltou de forma violenta (te espancando, te dando coronhadas, te ameaçando). Só que o "natal" seria todos os dias.
A questão nunca foi puramente psicológica, é um erro reduzí-la à somente esta dimensão. Aliás, eu jamais abordei a questão psicológica porque eu simplesmente desconheço as evidências a cerca do assunto. O máximo que posso fazer, e era o que eu estava fazendo, eram hipóteses. Intuitivamente é claro que é ruim, mas não só porque é intuitivo é verdade.
A discussão toda era sobre saúde da mulher, que envolve não só o psicológico, como o fisiológico, o social e demais áreas. Eu me abstive de comentários sobre a parte psicológica justamente por desconhecimento. Na parte fisiológica, há evidências dos benefícios de ter um filho. Por exemplo (se a minha memória não falha), há evidências que a amamentação pode reduzir o risco do câncer de mama. Talvez o mais certo seria falar que filhos podem trazer benefícios (ao invés de falar que são benéficos) à mãe. Obviamente, podem trazer malefícios também, nada é preto-no-branco.
O meu raciocínio é assim:
Filho pode trazer benefícios para a mulher.
Filho proveniente de estupro é filho igual.
Logo, filho proveniente de estupro pode trazer benefícios para a mulher.