Ateus agora aderiram até a espiritualidade. Ateus espirituais. Isso não me convence!
A Espiritualidade do Ateu
Acredito que por não ter religião o ateu não impõe dogmas ou fica seguindo mandamentos que ninguém sabe ao certo de onde vieram. Não falo só por mim e por meus amigos ateus, também por alguns artigos que leio, de outros ateus ou teólogos. Mesmo em pesquisas, que comprovam o que há tempos eu sabia: o ateísmo é uma espécie de evolução. Primeiro que em Países predominantemente ateus, como Dinamarca, há menos conflitos, pobreza e mais educação. Há evolução social e econômica.
A tolerância do ateu é quase infinita. Constantemente massacrado e sem muitas possibilidades de expressar suas opiniões, evita falar que não acredita em Deus. Em contrapartida tem amigos de várias “facções religiosas” e costuma respeitá-las. Digo por mim, que só não tenho amigos Testemunhas de Jeová, ainda assim conheci Evanize, a mãe de uma colega bailarina de Dora, enquanto a esperava sair de um ensaio no Teatro Municipal de Santos.
Uma mulher simpática, inteligente e falante. Ela não conseguiu me convencer o motivo de “obedecer a ordem” sobre não fazer transfusão de sangue. Depois me deu até uma revista, com uma carta linda, escrita por ela, com letra e ortografia perfeitas (tenho guardada). Respeitei ainda mais a consideração e devoção dessa mulher, mas não nos tornamos amigas. Mas tenho amigos e familiares evangélicos, espíritas, budistas, rastafáris, católicos, daimistas, muçulmanos e judeus. E posso citá-los e contar histórias ótimas sobre todos eles, mas fica para uma próxima parada *.
O que a maioria das pessoas com religiões definidas não compreende é que não ter religião é diferente de não ter espiritualidade. Ateu não é um ser que não acredita em nada e fica elucubrando sobre teorias do fim do mundo. Ao contrário, acredito em muita coisa que não vejo, como a velha máxima do “o ar está aí, todos sabem, mas ninguém vê “**. Acredito na vida em outras galáxias, cura da AIDS e do Câncer, telepatia (empiricamente), na energia solar como principal alternativa para desafogar o planeta.
Eu tive alternativa. Minha mãe é católica, meu pai era ateu. Casaram-se no civil. Fui batizada católica pelos meus avós maternos, Janguinho e Cida, mas não lembro de nada porque era bebê e nunca vi fotos. Aos 9 anos minha mãe falou para eu fazer Catecismo, já tinha até madrinha escolhida para a Crisma. As aulas seriam todos os sábados, durante um ano. “Mas e as competições nos finais de semana?”, desesperei. Então, sempre evitando o conflito, meu pai disse que eu fosse no primeiro sábado, se não gostasse poderia parar. A escolha era minha. E foi o que fiz, assim o “bonito” não ficou como máxima influência, na visão católica de minha mãe. A rebelde era eu, que não gostei da aula sobre Adão e Eva.
E assim, naturalmente, cresci sem religião. Por isso não entendo sonhar com uma vida divina após a morte, se o que temos é essa vida, que pode ser divina, aqui. Ou conformar-se com o sofrimento porque será recompensado após a morte. O que conhecemos de fato sobre o pós-morte é o enterro. A pessoa é enterrada e o que resta dela são as lembranças ou suas obras. Então, se for para fazer tem que fazer agora. O tempo é muito precioso para o ateu.
Mas eu entendo que pensar positivo nos faça sentir melhor, assim como praticar boas ações, ajudar os outros e não fazer nada que não queira que faça com você. E acredito num encontro com uma energia maior, momentos transcedentais, que dão sentido nessa vida tão sem sentido. Pode ser num mergulho no mar de águas cristalinas, em contato com a natureza, na linguagem universal da música (que faz todo o sentido), na hora de amamentar, ao salvar um animal abandonado, na cumplicidade do melhor amigo, no amor verdadeiro. Qualquer ser humano pode sentir isso e não precisa ter religião. O ateu não precisa ter Deus para amar o próximo.
*Vou escrever sobre experiências com religiões.
** Com exceção de cidades como São Paulo, Los Angeles e outras em que a emissão de gases nos permite ver o ar.
Fonte:
http://etudoverdademesmo.blogspot.com.br/2012/02/espiritualidade-do-ateu.html